Pelos Olhos da Loucura escrita por Scout caramel


Capítulo 6
Novos rumos


Notas iniciais do capítulo

Eu tô postando ele sem conferir se há erros, então se encontrarem alguma coisa podem me avisar, ok? Boa leitura!



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“Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado.”
Clarice Lispector

O relógio do meu celular marcava uma e trinta e sete no que seria a quarta ou quinta vez que eu olhava pra ele; Talvez tivesse sido um erro fazer isso, pensei.

Sentada no banco da pracinha na frente de casa, toda aquela teoria envolvendo o governador praticamente entrando em ebulição na minha cabeça e nada de Edgar chegar... Olhei para os lados, procurando por algum movimento estranho ou pessoa desconhecida, mas só via as crianças da rua correndo e brincando de pique-esconde. À minha esquerda dona Neves, uma senhorinha de uns 70 anos, regava as flores do jardim comunitário na pracinha, e a vizinha do 482 levava o chihuahua pra passear na calçada, fingindo não ver que ele havia deixado uma surpresa não muito agradável bem perto da portaria do prédio. Parecia que eu havia entrado numa dimensão paralela, onde não havia espaço pra nenhuma espécie de esquema escuso ou conspirações mirabolantes, apenas para o regador e as margaridas da dona Neves.

Suspirei fundo, olhando pro celular; Se toda aquela minha teoria estivesse correta, e eu suspeitava que sim, precisaria de um canal pra me expressar. Talvez contando com as provas que tínhamos isso pudesse ser feito. Procuraria o delegado de uma unidade, uma que não estivesse com o rabo preso com o governador, o que seria difícil, mas só assim, talvez conseguíssemos alguma atenção maior e levar o caso adiante. Suspirei pesadamente, meu estômago embrulhado. Mesmo que não conseguisse, valia a pena tentar, pensei. Afinal, não era a primeira investigadora a encontrar tais obstáculos na minha frente. E agora, mais do que nunca, estávamos perto de nos infiltrar em território inimigo... Sabia dos riscos ao fazerem isso, mas meu senso de moral não me deixava recuar diante disso, nem mesmo pensando nos riscos que meu parceiro se sujeitava.

Por fim, Edgar apareceu. Veio a pé, usando a camisa pólo azul listrada que manchara de catchup na vez que comemoraram o aniversário dele numa pizzaria. A mancha ainda era levemente perceptível. Me levantei, ainda sem saber ao certo o que falaria, ou se falaria, observando os arredores, procurando algum possível espião. Ele se aproximou bastante se dirigindo a mim, sem jeito:
— Oi, Jô, você queria me ver...

Não respondi de imediato, pois a alguns metros um rapaz de boné e óculos escuros parecia nos observar de trás de uma árvore; Desviou o olhar quando o encarei, fingindo mexer no celular. Também havia um carro com os vidros escurecidos estacionado próximo, quase não dava pra ver o motorista.

Me virei para Edgar, sentindo minhas mãos tremerem conforme murmurava a ele: —Eddie, me escuta! Precisamos sair daqui, agora. Tem alguém nos espionando. — Edgar espiou por cima dos ombros, procurando.

Olhamos onde o estranho se escondia e vimos que ele ainda estava ali, nos encarando.
—Acha que ele me seguiu até aqui?
—Não sei; Melhor voltarmos pro apartamento... —Dizia, quando dois homens encapuzados desceram a rua numa moto, armados com pistolas e fuzis. Meu coração acelerou ouvindo os disparos e senti um empurrão forte nas costas, caindo rumo ao chão. Pessoas gritavam ao meu redor, e eu virei o rosto, procurando meu parceiro; Para meu horror, ele havia caído sobre mim, a face encarando o chão, paralisado. Chorei, temendo o pior, mas controlando minha respiração e minha expressão. Ouvi quando eles gritaram algo ao outro homem, largando a moto de qualquer jeito e sumindo dentro do carro.

Eu ainda tremia, as lágrimas escorrendo sem trégua pelo meu rosto, quando me levantei, minhas mãos cheias de poeira dos paralelepípedos. Olhei para o meu lado e levei um susto quando Edgar se levantou também, limpando a poeira da calça.
—Edgar! — Gritei, em desespero. Ele amparou-me, igualmente preocupado.
—Filhos da puta! Você tá bem?
— Tô... Pensei que eles tivessem te acertado...
— Não, mas foi por pouco; Vem, vamos sair daqui. — Ele disse, me guiando de volta ao prédio.

Josué veio apressado até nós, e depois de explicarmos o que acabara de acontecer, me deixou sentar na guarida e me deu um copo de água com açúcar, enquanto Edgar ligava pra polícia. Me endireitei na cadeira, imaginando o que faria a seguir: Era evidente que quem quer que fosse o mandante do atentado, queria a gente morto. Edgar deixou o telefone na mesa e veio até mim, me encarando:
—Precisamos ir até a D.P. daqui, Joana. Vem, vamos falar com o Noronha...

Suspirei, devolvendo o copo ao Josué. —Se não tem outro jeito. Vamos...

Telefonamos pedindo um táxi, e depois de dez minutos chegamos na Delegacia, onde prestaríamos o boletim de ocorrência. Kelly, a secretária, e alguns dos nossos antigos colegas nos saudaram, com um abraço: — Meu Deus, Joana, tudo bem? Assim que a gente soube ficamos aflitos aqui. O Noronha tá ali na sala dele, mas parece que tá uma fera com tudo isso...
—É, precisamos falar com...— Edgar dizia, quando o tal apareceu ali.

Mal olhei pra cara dele, quando ele acenou, pedindo que entrássemos:
—Oi, já sei por que estão aqui; Vamos, entrem... — Ele disse, parecendo tão atarantado quanto no dia em que recebemos o caso. Edgar foi na frente e eu o segui até a sala, quando Noronha pediu que fechássemos a porta e a cortina.
—Sentem-se, por favor...— Ele pediu com gentileza, o que não muito próprio dele. Nos sentamos e ele, que estava com a cabeça baixa, por fim a ergueu nos encarando seriamente:
—Joana, Edgar... Eu quero que saibam que eu lamento mesmo que as coisas tenham chegado a esse ponto. Vocês são... Foram os melhores detetives que eu já tive o prazer de conhecer e trabalhar. Se em algum momento isso deixou de ficar claro, eu peço perdão. —Balancei a cabeça suavemente, concordando enquanto Edgar cruzou os braços, fazendo o mesmo. O velho rei Netuno entrelaçou as mãos, pensativo, falando com a voz embargada:
—Eu sei o que acabou de acontecer e vocês também devem estar cientes, eu imagino, que o Rio de Janeiro não é mais uma cidade tranquila pra vocês... — Dizia, levando então as pontas dos dedos à testa gordurosa, como sempre fazia quando ficava nervoso: —Eu realmente sinto muito em pensar no que poderia ter acontecido, então eu peço a vocês que por favor, tomem as devidas providências.

Apesar de ainda me sentir um pouco furiosa com ele, ao ouvir aquelas poucas palavras de consideração, percebi que sua preocupação conosco era genuína. Ainda assim, não podia perdoá-lo por ter nos atrapalhado logo no começo do caso, quando ainda tínhamos chance de atrair uma atenção maior para o problema. O nosso chefe continuou:
—Isso não é mais um problema do Estado, entendem? Está fora das nossas competências.
—Ao que parece, não é um problema do Estado, mas é um problema do Governador, não é? — Falei, já sem paciência pra tradicional forma do Noronha de botar panos quentes no assunto. — Eu sei que o Governador está envolvido, eu pesquisei! Ele era um dos sócios da transportadora. Então, será que isso explica o porquê de tanta pressão pra encobrir esse acidente todo? —Estapeie a mesa dele num baque, enraivecida com tudo que havíamos passado até então.

Edgar arregalou os olhos se levantando surpreso, tanto com a minha ação quanto com os detalhes que ele desconhecia, e adicionou:
— Além disso, nós temos as fotos do mar naquele dia, aquela coisa brilhava mais que Las Vegas à noite. Não vai ter como esconder isso por muito tempo, Noronha, mesmo que ele quisesse.

Noronha permaneceu sentado, os dedos entrelaçados, balançando a cabeça calmamente, olhando para baixo. Murmurou: — Eu esperava que dissessem isso, conhecendo vocês como conheço. — Ele pousou o olhar para nós, então e se virou, retirando uma série de envelopes de papel pardo do arquivo dele e os depositando sobre a mesa.
— Querem sentar, por favor? Eu não estou recebendo vocês aqui pra discutir o quanto vocês estão certos e eu errado. — Ele pigarreou, arrumando os envelopes e nos entregando: — Como eu disse, isso não é mais problema do Estado.

Edgar os apanhou, abrindo, descobrindo folhas e mais folhas de relatórios e informações sobre o caso. Nem eu ou ele pudemos evitar olhar pra aquilo com espanto, boquiabertos. Franzi a testa, ainda sem acreditar: — Espera aí, você tá nos dando isso?

Ele balançou a cabeça, os cotovelos apoiados sobre a mesa como se aquilo não fosse nada: — Como eu disse, não tenho por que segurar esses dados aqui, afinal, os donos da transportadora não deram queixa do acidente e não quiseram prosseguir com as investigações, ainda mais com todo o encobrimento feito dos tais detalhes que vocês já sabem. —Franziu a testa em várias pregas: — Oficialmente, é como se nada houvesse ocorrido. O meu conselho é que vocês fiquem longe dessa sujeirada toda, mas como eu sei que é inútil, só posso confiar que farão bom proveito disso.

Sorri um pouco, segurando o maço de papéis, emocionada com aquela atitude vinda de eu menos esperava: — Obrigada, Noronha. Nós vamos fazer bom proveito, pode deixar.

Ele deu um sorriso discreto de volta, se levantando: —Eu sei, Joana. Agora vocês dois, tratem de sumir daqui! Agora! — Ele gritou brincando, como costumava fazer, e nós o obedecemos de pronto, como de costume.

Descemos a escadaria, os relatórios escondidos na minha bolsa. Logo ao descer encontramos um táxi passando e acenamos pra ele, entrando. O motorista se virou com a pergunta costumeira:
—Pra onde?

Nos entreolhamos, até que Edgar disse: — Pra minha casa.

Sorri, concordando. Mal podia esperar pra examinar aqueles papéis.


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Notas finais do capítulo

Então, comentem suas impressões, palpites e surpresas, vai, comenta o que quiser! E até o próximo capítulo! (Que eu ainda não sei quando sai, acho que semana que vem...)