Entrando em Apuros em Vegas escrita por LelahBallu


Capítulo 6
Capítulo 05


Notas iniciais do capítulo

Hey galerinha!!
Após algum certo (Muito) tempo de espera, eu estou trazendo esse capítulo para vocês. Espero que tenha valido apena, e quero agradecer a todos vocês por cada comentário e incentivo de continuar escrevendo essa fic (tt, wattpad, aqui, em fim). Obrigada pelo carinho e desejo a vocês uma ótima leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631505/chapter/6

POV FELICITY

— Não. – Murmurei para a garota em minha frente. – O que você quis dizer é que tem dois quartos disponíveis. – Falei mais calma o possível. – E eu vou ficar com um deles.

— Felicity... – Escutei a voz impaciente de Oliver atrás de mim. Ergui uma mão o parando e escutei o suspiro aborrecido que veio como resposta.

— Sinto muito, mas eu tenho apenas um quarto. – Deu de ombros. – Mas geralmente esse quarto é escolhido por famílias, tem duas camas de casal, uma televisão e...

— Você tem certeza de que não há mais nada? – Perguntei sequer tentando esconder meu desespero. – Qualquer coisa? – Ela me lançou um olhar inquieto e encarou Oliver atrás de mim, sua mão foi até meu ombro tentando fazer com que eu desse espaço para ele conversar com a garota e o olhar dela caiu rapidamente lá, um olhar de compreensão assumindo seu rosto.

— Nós vamos ficar com este. – Oliver murmurou ao meu lado totalmente alheio a forma que ela nos encarava.

— Obrigado, Deus! – Escutei Tommy exclamar. Ele estava jogado no sofá da recepção, ninguém se importou em reclamar de sua postura, por que pelo o que eu podia notar, não era como se esse fosse um hotel cinco estrelas, ninguém podia esperar muito de hotéis de estrada. Voltei meu olhar para a recepcionista que já entregava a chave a Oliver, ela me lançou um olhar solidário.

— Sinto muito. – Repetiu. – Eu entendo que você e seu marido gostariam de privacidade...

— Nós... – Comecei a interrompê-la, mas Oliver resolveu me interromper puxando meu braço e dirigindo um sorriso simpático a ela.

— Obrigado. – Murmurou antes de se afastar me puxando, eu lhe lancei um olhar confuso, mas ele o ignorou completamente. Tommy se ergueu de pronto e nos acompanhou. – Você não pode sair explicando para todo mundo que não somos casados “de verdade”. É uma longa história, confusa e acima de tudo, uma perda de tempo.

— Talvez eu esteja treinando para quando encontrar sua noiva. – Murmurei entredentes. Eu estava de mau humor, muito mau humor. Desde que eu percebi que de alguma forma eu tinha essa atração por Oliver, eu estava constantemente lembrando-me que não éramos casados, que eu não tinha direito de sentir qualquer coisa semelhante a ciúmes da sua verdadeira noiva e que no final dessa viagem eu estaria voltando para casa, sozinha.

— Huh Felicity está irritada. – Escutei a provocação de Tommy atrás de nós dois. Tentei devolver a frase com uma resposta nada delicada, mas Oliver continuou me segurando, tudo o que eu pude fazer foi pegar o sorriso insolente de Tommy.

— O que está errado? – Oliver perguntou no momento que entramos no quarto, sequer pude tomar meu tempo analisando o lugar. Ele me encarava com seus braços cruzados e rosto cansado.

— Nada. – Murmurei após um suspiro.

— Estávamos nos divertindo e você ficou de mau humor. – Deu de ombros. Com minha visão periférica notei Tommy se jogar em uma das camas de casal.

— Ei! – Protestei apontei para ele. – Uma dessas é minha! – Alertei.

— Pensei que você ia querer dormir com seu marido. – Mais uma vez desejei apagar o sorriso enorme que estava em seu rosto. Seus braços estavam cruzados atrás de sua cabeça, sua postura mostrando que ele estava mais do que a vontade.  – Mas não se preocupe, se você faz questão eu deixo você dormir aqui comigo.

— Tommy... – Oliver murmurou lhe lançando um olhar impaciente.

— Oliver fará as honras de dormir com você. – Murmurei trazendo um olhar de horror a cara de Oliver. Encarei Tommy que continuava inabalável.

— Eu não vou dormir com ele. – Oliver protestou.

— Eu não vou dormir com nenhum dos dois. – Ressaltei. De jeito nenhum que eu ia tentar minha sorte.

— É tão gratificante ver vocês disputando para compartilhar a cama comigo. – Escutei a voz de Tommy se elevar. Eu e Oliver o encaramos com olhares parecidos dessa vez, mas ele sequer se encolheu. Ele continuou com sua brincadeira.  – Enquanto vocês decidem entre si eu vou tomar meu banho. – Ergueu-se pegando alguns itens em sua mochila e nos lançando um olhar cheio de malícia. – Para quem ganhar eu aviso... Eu sou um grande fã de dormir de conchinha.  – Piscou e entrou no banheiro, eu não pude fazer outra coisa se não sorrir com o que disse, encarei Oliver que me lançava um olhar aborrecido e bati de leve em seu ombro com falsa camaradagem.

— Eu realmente espero que você goste de dormir de conchinha. – Falei pegando minha mochila aos pés da outra cama. Sem lhe dar atenção deitei na cama de barriga para baixo e encarei meu celular procurando por qualquer mensagem de Helena e/ou da minha mãe.

— Felicity...

— Não. – Meneei a cabeça sem encara-lo. – Eu não vou dormir com você.

— É apenas dividir uma cama. – Murmurou sua voz mais próxima. Senti o peso do seu corpo justamente quando o encarei deitar ao meu lado sua cabeça apoiada em seu braço, seu rosto de repente muito, muito perto do meu. – Está vendo? Estamos apenas dividindo.

— Você pode “Apenas dividir” a cama com Tommy. – Falei inabalável. – Qual o problema de vocês garotos? Vocês não vão se tornar menos homens por que dormiram na mesma cama. Você tem dúvidas quanto a sua masculinidade Oliver? – Perguntei erguendo uma sobrancelha, um sorriso sugestivo se formando em meus lábios. Em vez de desconcerta-lo, ou irrita-lo observei Oliver sorrir amplamente, meus olhos descendo até seus lábios.

— Diga-me você. – Murmurou me surpreendendo. Voltei minha atenção para os seus olhos, os encontrando quentes. – Eu lhe dei razões para duvidar da minha masculinidade?  - Não.  E é por isso que eu precisava dele em outra cama. Se possível em outro quarto.

— Oliver. – Murmurei séria, quebrando nosso pequeno flerte. – Você se lembra da última vez em que dividimos uma cama? – Ele deitou sua cabeça no travesseiro com um suspiro.

— Não aconteceu nada. – Retrucou cruzando os braços.

— Nós estamos casados! – Lembrei-o.

— Sim. – Concordou. – Mas tecnicamente foi antes.

— Nós t...

— Transamos. – Concluiu. – Eu sei. – Concordou. – Mas em minha defesa, tivemos muito sexo no sofá, na parede e no banheiro. Quando chegamos à cama desabamos.

— Eu... – Comecei a protestar novamente, mas parei me fixando em outra informação. – No banheiro também?

— Um dos momentos mais memoráveis. – Piscou. Dei-lhe um tapa no peito, fazendo com que ele risse e segurasse minha mão prendendo junto a seu peito. – Eu não vou lhe atacar Felicity.

— Eu sei disso. – Concordei. – Mas vamos ser sinceros aqui, ok? – Ele assentiu concordando. – Eu sei que você está ansioso para voltar para sua noiva, eu sei que esse casamento foi um erro e que você não é usualmente assim, o cara que traí. Mas eu também sei que estamos atraídos um pelo outro e amanhã quando você encontrar sua noiva essa camaradagem que existe entre nós deixará de existir. Eu só queria nos manter um pouco afastados, por que você não precisa me atacar.

— Eu sei. – Assentiu. – Eu não vou negar que a desejo, e que amanhã será outro dia, mas fora a atração... Eu gosto de você, e a respeito, eu já envolvi nesse grande erro que cometi, eu não faria novamente, fora que Tommy vai estar neste mesmo quarto, eu não sou do tipo que gosta que fiquem para assistir. Você pode ficar tranquila, nada acontecerá.

Suponho que eu deveria ter ficado mais tranquila, e não decepcionada com o que disse. Como se tivesse esperando por sua frase a porta do banheiro se abriu e Tommy saiu ainda enxugando seus cabelos, calça folgada e peito desnudo, um sorriso coquete em seus lábios.

— Então... Quem vai ter o prazer de dormir comigo? – Perguntou ainda mantendo o seu sorriso, eu segurei o meu enquanto observava Oliver franzir o cenho e Tommy quebrar seu sorriso ao nos observar atentamente. – Inacreditável. Oliver. Eu não acredito que você conseguiu convencer sua esposa de dormir com você e não comigo.

— Tommy. – Murmurei colocando o rosto mais sério o possível. – Vista sua camisa e, por favor, pare de me chamar de esposa/garota/mulher de Oliver. – Falei me levantando e realmente impregnando um tom irritado, por que eu realmente me sentia assim com relação a isso. – Eu vou ligar para minha mãe. É melhor vocês dois comportarem-se quando eu voltar. – Falei enquanto caminhava até a saída. Escutei Oliver resmungar para Tommy se vestir e meneei a cabeça enquanto impedia que um novo sorriso se formasse.

Tão logo eu me afastei do quarto eu soltei um suspiro e quebrei minha aparente leveza. Eu realmente havia entrado em sérios apuros, este não era o momento de desejar o que não pode ser seu. No colégio, durante o último ano, em que você sonha com o baile de formatura? O cara perfeito que anda pelos corredores e você se encosta contra os armários segurando aquele suspiro apaixonado? Tudo bem. Naquele momento ninguém te julgará por desejar o impossível, o cara que namora a outra garota, a garota popular. Agora, é ridículo, principalmente quando você está casada com ele, mas ela tem mais poder por que você não está realmente casada com ele.

Entrei em uma sala que provavelmente deveria ser uma ala comum e sentei em um dos sofás. Era muito tarde, Oliver realmente adiou nossa parada o máximo possível, mesmo após jantarmos continuamos por mais um par de horas antes de encontrarmos o primeiro hotel que aparecesse. Talvez minha mãe já tivesse dormido, mas ela não me perdoaria se eu não ligasse avisando que tudo estava indo bem.

Felicity?  - Escutei a voz sonolenta da minha mãe chamar meu nome. Senti-me mal imediatamente, eu deveria ter ligado antes de partirmos.

— Hey. – Murmurei em tom baixo, embora não houvesse ninguém por perto. – Eu só queria avisar que paramos para dormir e que continuaremos assim que amanhecer.

Você está bem?— Perguntou soando mais acordada, provavelmente havia percebido minha falta de animação. – Eu sei que encontrar a outra garota a deixa desconfortável... É compreensivo.

— Ela não é a outra garota mãe. – Eu não podia evitar ir à defesa da noiva de Oliver, no final das contas, ela era a mais prejudicada nisso tudo. – Eu sou. Mas eu estou bem, eu só quero que tudo termine logo. – Respirei fundo. – Em fim, eu só queria avisar sobre a parada e que está tudo bem, boa...

Espere!— Interrompeu-me com urgência.

— Calma. – Murmurei surpresa. – O que foi?

É apenas algo que eu e Helena estávamos conversando. — Murmurou parecendo hesitante. Helena e minha mãe conversando era algo suficiente para me deixar preocupada, minha mãe murmurando isso em tom hesitante teve o poder de me deixar completamente alerta.  – Só levamos o assunto em conta quando você já havia saído então não podemos conversar com vocês antes, e eu não queria que de alguma forma você surtasse agora, mas é algo que eu tenho que conversar com você, e que você tem que levar em conta antes de assinar qualquer papel ou anulação ou que quer seja aconselhado pela a outra garota, a advogada.

— Mãe...

Apenas me responda algo Felicity. – Pediu-me. – Essa noite entre vocês dois, foi algo completamente não planejado, vocês dois estavam bêbados, casaram-se e transaram certo?

— Mãe! – Protestei.  – Eu realmente não quero entrar em detalhes...

Certo?— Voltou a me interromper.

— Sim. – Confirmei. – Eu ainda não entendo aonde você quer chegar.

Corrija-me se eu estiver enganada, afoitos como vocês estavam, ao ponto de esquecerem que ele estava noivo e fazerem a grande loucura de se casarem...— Murmurou fazendo com que eu ficasse cada vez mais constrangida sempre que me lembrava de meu estado naquela noite. —... Vocês não se lembraram, ou tiveram o senso de responsabilidade de usarem camisinhas.

— Oh merda.  – Murmurei percebendo onde ela queria chegar. Onde ela havia chegado. – Oh merda, merda, merda. Grande merda.

Controle-se Felicity.— Minha mãe alertou, mais provavelmente pelo meu evidente desespero do que por eu estar falando tanto “merda”. Mas o que ela esperava que eu fizesse?

— Eu posso estar grávida e você quer que eu me controle? – Falei alto. – Grávida, mãe, grávida.  – A palavra acendia em minha mente como se tivesse em neon, eu passei da possibilidade de uma gravidez a imagem minha carregando um bebê no colo, um mini Queen, solteira, sozinha, em menos de um segundo. – Oh merda.

Felicity, é apenas uma possibilidade. – Murmurou com calma, como ela poderia estar calma? Ela poderia ser avó pelo amor de Deus. Sem contar que havia sido ela que havia trazido à possibilidade.

— Eu preciso fazer um daqueles testes. – Murmurei apressadamente. – Dez deles se for preciso.

É muito cedo para isso, querida. – Respondeu. — Depois da data de sua menstruação, se você estiver atrasada, você irá fazer esse teste, até lá você deveria conversar com Oliver sobre a possibilidade...

— Não. – Neguei prontamente. – Você está louca? Ele é decente, e um pouco louco, ele pode querer fazer algo louco e decente como não se separar por causa de um bebê. Não, eu não vou fazer isso com ele por causa de uma possibilidade. – Murmurei mais calma. – Após ajeitarmos essa bagunça e se eu realmente estiver grávida, eu falo com ele.

Isso não...

— É o certo a se fazer. – Falei não aceitando outra opção.

Está bem.— Concordou embora parecesse ainda estar contrariada. – Como você ainda não havia se questionado sobre isso? Você sempre foi tão responsável... – Mesmo sua pergunta não era bem um sermão, percebi tardiamente que minha mãe pela primeira vez se mostrava preocupada do tipo mãe preocupada mesmo.

Como?

 Eu também me perguntava isso, eu imagino que eu apenas empurrei a questão para o fundo do meu cérebro, me negando sequer cogita-la. Eu suponho que casar com Oliver tirou todo o meu juízo e minha coerência.

— Eu não sei. – Murmurei por fim. – Eu realmente não sei, mas agora existe essa possibilidade de que eu esteja grávida e... – Interrompi-me ao perceber um movimento com o canto de olho, observei a mesma garota da recepção passar por mim e me dar um sorriso alegre. Atônita eu observei ela formar com a boca a palavra “Parabéns” antes de se retirar rapidamente deixando-me sozinha, sua postura mostrando que lamentava ter me interrompido. Genial, tudo o que eu precisava no momento.

 Voltei minha atenção para minha mãe que me chamava preocupada através do celular, passamos apenas mais alguns poucos minutos conversando sobre besteiras e então nos despedimos sem voltar a tocar no assunto. Cheguei a procurar a garota para corrigir o que ela havia escutado, mas não a encontrei por perto, então optei deixar o assunto para lá.

Quando voltei ao quarto, tudo estava escuro, apenas as cortinas abertas me dava iluminação para observar a ambos, Oliver e Tommy que já estavam deitados cada um em sua cama. Encarei as costas de Oliver e pensei sobre a conversa que havia tido com minha mãe. Era apenas uma possibilidade, eu não devia e não ia surtar com isso, exceto que eu já estava surtando. Pensando em deixar isso pelo menos por esta noite de lado eu caminhei silenciosamente até minhas coisas e peguei algo confortável e discreto para dormir, fui até o banheiro e tomei uma rápida ducha, quando voltei para o quarto hesitei encarando as duas camas, de repente eu sentia uma vontade enorme de deitar no chão ou até mesmo encarar uma noite dormindo com um olho aberto ao lado de Tommy, mas eu não podia fazer isso, ficaria óbvio depois de nossa conversa mais cedo que eu ainda estava desconfortável e insegura de dormir ao lado de Oliver, então deixando a hesitação de lado eu me enfiei na cama em que ele estava, permaneci de costas para ele e me mantive afastada o máximo possível, fechei meus olhos e tentei normalizar minha respiração, demorou um pouco, mas aos poucos me senti relaxar, a névoa de sono me deixando ainda acordada, mas quase totalmente alheia à realidade, eu estava quase pegando no sono quando percebi Oliver se mover atrás de mim, e segurei um protesto de surpresa quando senti seu corpo se aconchegar ao meu com naturalidade, o braço envolvendo minha cintura de forma possessiva. Pelo modo que agia eu percebi que seguia dormindo.

Mas eu estava acordada.

Oliver podia muito bem não estar ciente do que fazia, ele podia muito bem em meio ao sono pensar que se tratava de sua noiva em seus braços, mas eu não. Eu estava acordada e cabia a eu afasta-lo, o que eu ia fazer. Logo. Ou seria se em meio a minha promessa eu não tenha abraçado a sensação de tê-lo junto a mim e meus olhos não ficasse pesados, eu deveria ter me afastado dele, mas eu temo que agora fosse muito tarde para isso.

POV OLIVER

Verifiquei o relógio mais uma vez enquanto esperava Felicity descer, dos três ela havia sido a última a acordar e por consequência a última a utilizar o banheiro, de forma que eu e Tommy estávamos sentados no restaurante do hotel esperando por ela para tomarmos café da manhã. Eu havia sido o primeiro a acordar, e para minha surpresa nós dois havíamos estado confortáveis um nos braços do outro, seu corpo estava voltado para o meu, sua cabeça sob meu queixo, nossas pernas entrelaçadas. Tanto para deixar ela a vontade e de alguma forma havíamos terminado abraçados durante a noite. Por sorte eu havia sido o primeiro a acordar e não Tommy, então ele não teve qualquer oportunidade de nos constranger com isso.

Quando percebi nossa posição íntima eu demorei alguns segundos a me mover e me afastar, quando o fiz foi o mais suave o possível para não acorda-la, apenas quando eu já havia tomado meu banho e me vestido que acordei Tommy e quando ele entrou no banheiro a acordei, para ser sincero eu não queria dar a oportunidade a Tommy de vê-la em seus trajes de dormir.

— Ela está demorando. – Resmunguei voltando a encarar o relógio. Tommy exibiu um sorriso matreiro, um sorriso do qual eu não gostei. Um que indicava que ele estaria aprontando em breve.

— Por que você está sorrindo? – Perguntei alerta.

— Por nada. – Negou dando de ombros colocando seus óculos escuros.

— Você sabe que isso cobre apenas parte do seu rosto e que ainda posso ver esse seu sorriso cretino? – Perguntei sem paciência. Ele apenas assentiu, seu sorriso conseguindo se tornar ainda maior. –Tommy...

— Dê um tempo para a garota. – Murmurou voltando-se para o meu comentário e ignorando minha pergunta. – Ela deve estar adiando sair do quarto o máximo possível. Em poucas horas ela conhecerá Laurel, mesmo eu preciso reunir um pouco de coragem para isso.

— Você sempre tem esses comentários. – Meneei minha cabeça em decepção. – Você poderia tentar gostar de Laurel.

— Ollie eu cresci com Laurel, assim como você. – Apontou. – Eu conheço muito bem Laurel, em alguns pontos eu acredito que bem melhor do que você. Eu tentei “gostar” de Laurel, ela nunca fez o mesmo por mim. – Franzi o cenho com o que disse. Tommy geralmente se relacionava fácil com as pessoas, e não costumava ser azedo com ninguém, mas com Laurel nos últimos meses ele vinha mantendo seus comentários cada vez mais ácidos.

— Laurel pode parecer um pouco fria, mas...

— Laurel é fria. – Cortou-me. – E mesquinha. Eu espero que você seja justo quando apresentar as duas, por que conhecendo sua noiva, ela vai querer fazer sua esposa de pano de chão e alguém terá que ir a defesa dela.

— Pare com isso. – Pedi rangendo os dentes, embora eu não soubesse ao certo o que eu estava pedindo. Pedia para que ele parasse de falar aquilo de Laurel? Para que parasse de chamar Felicity de minha esposa? Jogar na minha cara que um encontro entre as duas havia sido a segunda maior burrice que eu estava prestes a cometer?

— Ela está vindo. – Murmurou em tom baixo, girei meu pescoço para observar Felicity se aproximar, ela parecia mais contida, não havia sua habitual camaradagem quando se sentou. Isso me preocupou.

— Vocês ainda não comeram? – Felicity perguntou franzindo o cenho.

— Estávamos esperando por você. – Tommy falou voltando ao sorriso que ainda me incomodava. Ele ia aprontar algo. Felicity parecia alheia ao ar de malícia que dominava Tommy e meneou a cabeça.

— Vocês não precisavam. – Negou. – Eu não estou com fome e...

— Coma algo. – Intervi. – Eu não planejo parar mais e...

— Eu sei. – Assentiu.   – Eu apenas não estou com fome.

— Então tome um suco. – Dei de ombros.

— Oliver... – Murmurou em um protesto suave.

— Felicity... – Retruquei.

— Esse é o momento em que eu digo “Burro”? – Tommy perguntou fazendo com que Felicity risse de sua piada estúpida.  – Deixe a garota comer ou não comer o que quiser Ollie.  –Murmurou encostando-se e encarando-a atentamente. E por sua postura eu sabia que o quer que ele fosse aprontar seria agora. – Felicity?

— Sim? – Felicity deve ter notado algo no tom de Tommy por que ela o encarou com desconfiança. Tentei passar uma ordem por olhar para que ele a deixasse em paz, mas ele me ignorou. É claro.

— Espero que você não me julgue ousado, mas eu estava pensando...

— Isso não é bom. – Murmurei em tom baixo, mas que foi escutado pelos dois. Felicity exibiu um sorriso pequeno e Tommy me encarou aborrecido, mas voltou a encara-la como se eu não tivesse dito nada. – Você poderia me dar seu número?

— Meu número? – Felicity repetiu incerta de que havia escutado direito. Tommy assentiu confirmando, eu olhei de um para o outro segurando um comentário rabugento. Eu precisava parar com isso, Felicity não era minha para eu proteger de ser a mais nova conquista de Tommy. Ela provavelmente diria não de qualquer forma... – Claro. Passe-me meu celular. -... Ou não.

— Ótimo! – Tommy murmurou contente enquanto passava seu celular para ela.

— Mas por quê? – Felicity perguntou enquanto mexia no celular de Tommy.

— Por que enquanto Oliver ganhou e perdeu uma esposa, eu acho que ganhei uma amiga. – Piscou para ela. Mentiroso. Certamente havia outros planos por trás disso. – Vamos pedir? – Tommy murmurou me encarando dessa vez. Assenti ainda desconfiado.

Quando terminamos o café, Tommy sempre prestativo se ofereceu de imediato para buscar as coisas de Felicity que ainda estavam no quarto, deixando-nos sozinhos na mesa. Um silêncio irritante se instalou entre nós dois até que casando eu me ergui de repente, a surpreendendo.

— Eu acho melhor acertar a conta com a recepção. – Murmurei.

— Claro. – Ela assentiu se erguendo também e parecendo ansiosa. – Eu devo ir com você.

— Você pode esperar enquanto eu...

— Eu vou. – Murmurou decidida e com certa urgência. Eu me limitei a acenar concordando embora não soubesse o motivo de tanta urgência.

— O que está a incomodando? – Perguntei quando andamos lado a lado.

— Nada eu só...

— Está estranha.  – Interrompi. – Nós conversamos ontem à noite e parecia estar tudo bem, mas eu fui dormir e quando acordamos você está... Distante.

— Eu só não estou ansiosa pelo o que vem daqui em diante. – Explicou-me. – Só isso.

— Felicity, eu sei que isso tudo é demais. – Falei quando paramos em frente ao balcão e me apoiei nele. Nenhum sinal da garota de ontem. – Mas pode ter certeza que eu estarei do seu lado todo o momento e...

— Bom dia!! – Ambos pulamos assustados quando a garota surgiu de baixo do balcão, um sorriso enorme em seu rosto, ao perceber que havíamos nos assustado seu sorriso se quebrou e ela olhou arrependida para Felicity. - Eu não devia ter feito isso. – Murmurou aflita. – Dizem que nos primeiros...

— Eu estou bem! – Felicity interrompeu-a com desespero. Ela percebeu minha confusão e murmurou mais branda. – Eu estou bem.

— Que bom. – Jéssica, como eu pude ler pelo crachá, murmurou aliviada, ela me encarou com um sorriso genuíno. – Parabéns!!

— O quê? – Murmurei cada vez mais confuso pelo comportamento daquela garota estranha.

— Pelo casamento? – Felicity murmurou encarando Jéssica com um olhar esquisito. – Obrigada, mas...

— Eu quero fechar nossas contas. – Murmurei interrompendo aquela conversa maluca e tentando impedir o que eu imaginava ser mais uma tentativa de Felicity em explicar que estávamos casados, mas não estávamos. Ela não percebia que isso apenas ia deixar quem quer que escute confuso?  Jéssica olhou de um ao outro estreitando os olhos, e uma centelha de conhecimento brilhou em seus olhos quando voltou a encarar Felicity.

— Ahhh, eu entendo. – Ao que parecia eu era o único que não estava entendendo nada. – Sim, eu entendo. – Ela certamente deveria ser louca, por que piscou para Felicity que meneou a cabeça mostrando-se incrédula. A garota voltou a me encarar agora se endireitando. – Sem problemas, Sr. Queen, vamos fechar sua conta imediatamente, vocês trouxeram a chave? – Balancei a cabeça chocado com a súbita mudança em seu comportamento. Quando Tommy chegou com a chave ela não exibia mais nenhum traço de seu comportamento anterior, e parecia ser uma funcionária exemplar, mas quando nos afastamos eu notei ela erguer os polegares para Felicity e murmurar “boa sorte”, deixando-me ainda mais perplexo.

Quando entramos no carro dessa vez com Tommy assumindo o volante foi impossível não perceber que Felicity estava ainda mais reclusa, sempre virava minha cabeça procurando encara-la, e tentava iniciar uma conversa com ela, mas ela respondia com frases curtas, se não com apenas uma palavra sendo “sim” ou “não”. E durante o restante da viagem perdemos aquele humor e brincadeiras que havia se estabelecido ontem, mesmo Tommy não estava fazendo nenhum esforço para iniciar qualquer conversa. Quanto mais perto de Star City chegávamos, mais preocupado eu ficava com o que eu encontraria e o que aconteceria.

Nada de bom certamente.

Minha apreensão aumentou quando observei a placa que de boas vindas à cidade. Tommy não demorou a tomar o caminho que nos levaria para sua casa. Eu havia conversado com ele, e havíamos concordado que o melhor lugar para Felicity ficar seria em sua casa, por razões óbvias de evitar toda a minha família e a principio, Laurel. Quando estávamos entrando em sua rua olhei para trás e notei Felicity encarar a janela com expressão vazia.

— Felicity. – Murmurei chamando sua atenção. Ela me encarou de imediato, mostrando-me que ela não estava distraída, ela apenas me evitava. Mas, o que eu havia feito? Senti a velocidade do carro diminuir enquanto Tommy esperava o porteiro abrir os portões e ele entrar no pátio que conduzia a entrada de sua mansão. – Eu preciso que você fique com Tommy, em sua casa, mais tarde eu a encontrarei aqui, depois de ter falado com Laurel, então poderemos nos reunir os três. – Ela assentiu concordando. – Conversarmos como faremos isso.

— Quanto antes isso terminar, melhor. – Murmurou voltando a encarar a janela parecendo ciente do cenário que a circundava pela primeira vez. - Deus como vocês são ricos. - Deixou escapar em tom quase inaudível.

— Soa como um bom plano. – Tommy murmurou parecendo tenso. – Se não tivéssemos um pequeno problema, talvez grande. – Virei meu rosto voltando minha atenção para frente e percebendo de imediato ao que ele se referia.

— Qual problema? – Felicity perguntou ainda alheia.

— O tipo noiva traída parada em frente a minha casa. – Tommy murmurou vagamente enquanto eu encarava a figura feminina que saia do carro, sinal de que ela havia acabado de chegar.

Encarei absorto o olhar de Laurel encontrar o meu mesmo através do para-brisa, poderia haver um muro entre nós dois e eu seria incapaz de não perceber quão chateada ela parecia, mais do que isso... Laurel estava furiosa.

Não foi por acaso que a frase seguinte foi dita em um coro de três vozes.

— Oh merda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o grande momento chegou, e espero que tenham gostado. Como de costume estarei ansiosa aguardando o feedback de vocês, até lá... xoxo LelahBallu.