Tunnel Of Love escrita por vegadelira


Capítulo 3
Capítulo 3 - Incêndio


Notas iniciais do capítulo

Tenho certeza de que muita gente vai querer abandonar a fic depois de ler este capítulo, e eu entendo o motivo. O título e o primeiro capítulo indicam que vai ser um daqueles romances clichês, mas não. Infelizmente, eu não sou boa com romances (GENTE, O MARSHALL VAI PEGAR ALGUÉM, NÃO SE PREOCUPEM AJSKAJDISA). Vou me calar, senão irei dizer o que vai acontecer >.
Vou deixar bem claro que escrevo porque gosto, ou seja, sempre estarei postando capítulos. Mas, também, adoro incentivos! Não fiquem com vergonha auheh



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Segunda-feira, 30/03/2015, 03h12min. – Londres, Sudeste da Inglaterra.

O jovem abriu os olhos, mas a visão estava distorcida. O cérebro latejava, atrapalhando o seu raciocínio. Segundos depois, percebeu Mr. Alfred o abanando com um jornal. Sentado sobre uma cadeira acolchoada do bar, recompunha as forças do corpo. Finalmente concluiu que havia desmaiado em cima da moto, porém não sabia se era devido à bebida ou ao mau pressentimento. Ele ficou cerca de uma hora inconsciente após o ocorrido. Deveria agradecer, pois não girou a chave ao subir na garupa: as consequências poderiam ser piores.

O ambiente estava vazio e escuro, o aroma a essência de cerveja permeava as paredes. Nuvens de fumaça de cigarro pairavam sobre as mesas verdes, espiralando na luz fluorescente. O ar não circulava mais naquele horário: era arriscado manter as janelas e portas abertas.

O velho perguntou ao Marshall se tinha melhorado. Este se levantou e assentiu com a cabeça, todavia comprimindo os lábios, demonstrando incerteza. Agradeceu pela preocupação do conhecido, tomou sua guitarra e foi embora do estabelecimento.

Marshall segurava o guidão com as mãos trêmulas e pisava no acelerador cautelosamente. A cada centímetro percorrido, o cheiro de sangue tornava-se mais real. A velocidade ia diminuindo conforme o olhar do moreno esquivava-se para os cantos da rua estreita. Em uma de suas distrações, avistou um semblante no beco. O jovem permitiu a moto cambalear, e não caiu. Ele parou o trajeto enviesado e resolveu ir até o local, largando seus pertences para trás.

Era possível ouvir o atrito dos sedimentos do concreto na borracha do calçado. O clima estava tenso, as lâmpadas dos postes falhavam, e no bairro não havia ruídos — diferente de um tempo atrás.

Adormeci somente uma hora?”, impressionou-se com o silêncio. Marshall sentia-se corajoso por arriscar a sua vida anódina, entretanto apavorado pelo o que poderia encontrar no lugar. Algo era comum. O jovem transpirava, quase tendo um colapso nervoso. Ele esperava não ser quem pensava. Acabara de conhecer a garota e ficou boquiaberto com a sua elegância. Várias frustrações iriam domá-lo a partir dali? As conclusões precipitadas o faziam ter remorso. Deveria ter ido atrás de Marceline?

O moreno dobrara a esquina do beco e permaneceu à frente do morto. A escuridão predominava, mas era irrelevante para quem havia adquirido habilidades diabólicas. Um lampião, bem antigo, luziluzia ao lado da figura inanimada, jogada no chão. Marshall enxergava muito bem o corpo. A sua força de pensamento interferiu na realidade. De certa forma, surpreendeu-se. Não era Marceline, e sim seu melhor e único amigo. Uma onda de ódio e tristeza atingiu o rapaz, pois ele deparou-se com Lump segurando o próprio coração em dois pedaços, na palma da mão esquerda. O sangue fluía por todo o organismo: desde a boca até entre as falanges que estavam à mostra. A roupa, na qual ele trajava ao sair do bar, ganhou tons avermelhados por todas as partes — especialmente ao redor do abdômen, onde um ferimento profundo mostrava os órgãos e tecidos amolambados. A carne viva exposta e as artérias do pulso, ainda jorrando líquido, eram os componentes de uma das cenas mais traumatizantes que já presenciara. As bochechas de Lump estavam pálidas, os lábios róseos adotaram um aspecto seco e arroxeado, e os olhos cor de mel ficaram opacos, com as pupilas dilatadas. Um “simples recado”, escrito em sangue seco na parede de tijolos, desviou a atenção de Marshall.

Não queira reencontrar-me.”

Ele recuou um passo, utilizando um poste atrás de si como apoio. Minutos antes, pensava que o assassinato não tinha relação consigo, mas aquela mensagem mudou o jogo. Não havia somente um suspeito no topo de sua lista.

Ajudei-te nas dificuldades, fui teu amigo e dei minha vida por ti. Por que me deixou ir?”, era a interpretação de Marshall ao fitar o coração partido do amigo. A culpa e raiva preenchiam o lado obscuro do jovem. Numa atitude impetuosa, discou para o número da polícia:

— Gostaria de informar sobre um crime que aconteceu na Ronald Ross Street, próximo ao bar do Alfred.

...

Pela manhã, encontrava-se no minúsculo sofá do apartamento. Observava deitado o teto branco. Não conseguira dormir depois de tudo o que aconteceu.

Qual era o nome completo, a profissão e o endereço dele?”, era uma lembrança que tinha do policial o questionando sobre Lump. Marshall não disse nada de mais, mas fez o suficiente para bagunçar não só o seu futuro, como também o dos círculos amistosos.

O pior de tudo era que, em aproximadamente uma semana, receberia um retorno da polícia. Esta informaria do procedimento que foi tomado em relação ao crime. Marshall estava muito encrencado. Notou a imensurável estupidez cometida ao ter feito a ligação, pois a vida do amigo se revelaria. Drogas, roubos, homicídios. Esse era o resumo. O corpo de Lump, de qualquer maneira, seria descoberto, logo o moreno devia se calar, caso desejasse manter-se livre de acusações que o apontariam como uma espécie de comparsa.

Marshall ficou exausto de tanto imaginar seu rumo, e ainda usufruiu de seu raciocínio para tentar descobrir o assassino. A mensagem na parede já era uma pista. Ele começou a desconfiar de Marceline quando o seu mestre estava quase ganhando a culpa. Não era loucura ficar em dúvida. O que uma estudante fazia todas as noites em uma periferia? Brincava com unicórnios? Ela só podia ser uma drogada psicopata que decidiu se vingar do traficante. Pouco importava o motivo. Se Marceline também quis traumatizar uma pessoa, acabou saciando seus distúrbios. Essas atitudes doentias davam repugnância a Marshall, sendo que ele era capaz de fazer semelhante.

Assim como não há uma gota de água no inferno, não haverá mais os que te amam. (...) Aprenderás a matar e a viver com o ódio e rancor.

Lump conviveu com o moreno desde a infância e soube do incêndio na casa dele, que não poupou os pais e a irmã. O amigo era querido por Marshall, porém só servia para conseguir empregos temporários a este. Se ele fosse um obstáculo para o mestre, teria sido eliminado no mesmo ano que a família do jovem, e não naquela madrugada.

A injustiça incomodava mais do que a saudade. O incêndio foi dado como um descuido, ou seja, um vazamento de gás esclarecia o acidente. Marshall não se maravilharia com as respostas do novo crime. Querendo ou não, era à hora de perder o medo e fazer a sua própria justiça.

...

Marshall Lee compunha canções melancólicas, no chão, enquanto ouvia batidas na sala. A insistência, de quem estava fazendo barulho, irritou o moreno. Calmamente, ele trocou de roupa, foi ao banheiro, escovou os dentes, fez a barba e penteou o cabelo. Em seguida, abriu a porta.

— Marshall Lee? — indagou o policial. — Eu quero que me acompanhe até a delegacia.

— Por que eu tenho que te acompanhar? Não era mais fácil ligar para mim? Eu poderia ir por conta própria. — sorriu.

— Você não precisará gastar mais a sua gasolina. De acordo com as investigações, você está envolvido no tráfico da região, então, estarei o levando agora. — disse ríspido.

O jovem cruzou os braços e encarou o policial. Este cerrou os olhos. Num movimento rápido, virou Marshall e prendeu suas mãos com as algemas.

...

O moreno estava em pé, escorado na parede bege. Havia criminosos do seu lado, e um vidro os separava da sala dos policiais, que mexiam no computador, comiam rosquinhas, bebiam café, preenchiam fichas e discutiam entre si.

Marshall foi levado até o delegado e teria que responder a um interrogatório. Olhava atentamente para os detalhes do escritório. A mesa de madeira sustentava um notebook coberto por papéis. O homem negro a sua frente bebia chá, mexendo no aparelho eletrônico. Ao ver o jovem, comentou:

— Em tantos anos de trabalho, nunca conheci alguém como você.

— Em poucos anos de vida, nunca conheci um senso de justiça tão excepcional. — retrucou irônico.

— O que quer dizer com isso?

— Não viu a minha ficha? Não viu meu histórico familiar? Não, espere... Este é o seu trabalho: não buscar informações do suspeito, prender – em algumas vezes – um inocente e montar uma justificativa qualquer para um crime, com o objetivo de fechar o caso para receber o dinheiro que você compra suas rosquinhas e coloca créditos nessa merda de celular, que deve ser uma das razões para deixar de fazer o certo.

— Como ousa falar assim comigo?! Eu li a sua ficha. Realmente, é uma pena perder os pais, mas como tudo o que presenciei, alguém, que se denomina sofredor, cai no submundo para preencher o vazio. Achei interessante você nos ligar por causa do seu amigo e acabar se entregando. Enfim, as coisas não são bem assim, meu jovem. Além disso, desvendamos com paciência o incêndio envolvendo a morte de seus pais...

— Você não sabe se participo do submundo! Você não desvendou nada! Eu que desvendei a verdade: não se confia em pessoas como você. — berrou para o delegado e bateu as mãos presas na mesa. — Pergunte para o primeiro jogador de pôquer que ver na RR Street onde eu estava. E, se não for um incômodo para você, conte-o que comecei a fazer novas composições.

— Se a sua versão for real, ainda irei acusá-lo de desacato à autoridade.

— Desde quando falar a verdade é crime? Estamos tão acostumados com as ilusões, que até quem fala sobre a realidade é tratado como louco pelos céticos. — suspirou. — Por favor, quero ir para a minha cela.

O delegado assentiu e chamou os policiais. No momento em que Marshall iria se retirar, aquele perguntou:

— Tem ideia de quem são os culpados por ambos os crimes? — ergueu-se da cadeira.

— Oras, vai tratar o inocente vazamento de gás como crime? — riu.

— Sei que errei contigo, mas isso é sério.

— Acredita em Glob? — o delegado oscilou a cabeça positivamente. — Eu acredito em demônios.

...

Um criminoso tatuado olhava para Marshall. Ele questionava o que houve para o moreno estar ali, todavia conversava sozinho. O jovem só prestou nas sábias palavras ditas:

A esperança para crer que neste mundo ainda existe o amor é quando um desconhecido te ajuda.

Por enquanto, aquilo não fazia sentido para ele.

Um policial o tirou da cela, removeu as algemas e o levou à saída da delegacia. Marshall permaneceu calado e encontrou-se com Alfred e o homem negro. Ambos esboçaram uma expressão alegre no rosto ao assistirem o retorno do garoto.

— Peço perdão pelo inconveniente. Alfred esclareceu tudo e... — gaguejou, procurando palavras coerentes. — Bem, eu me chamo James. Se precisar de ajuda ou quiser me ajudar, é só vir aqui. Pode deixar que nenhum policial será mandado para sua casa.

— Obrigado, Mr. James.

Marshall entrou no carro de Alfred. Aquele não hesitou ao perguntar por que havia sido libertado. O velho gracejou da dúvida do jovem e, em seguida, respondeu que deu um álibi ao delegado. O moreno tentou contar quantas vezes Alfred o ajudou, logo o agradeceu, novamente.

O carro parou em frente ao prédio de Marshall. O jovem sentiu um aroma ácido invadir o olfato. Percebeu que tudo estava em chamas, inclusive a moto estacionada. Os dois saíram do veículo depressa. Ele passou as mãos pelo volumoso cabelo, não acreditando na visão. As composições, as fotos, as roupas e a guitarra estavam virando cinzas. Os bombeiros pareciam alimentar ainda mais o fogo.

Alfred falou que poderia abrigar Marshall, e este não aceitou. Estava com medo de causar danos ao velho, que por sua vez foi embora. A tática do jovem era permanecer o menor tempo possível com os outros.

O moreno pôs as mãos no bolso. No lado esquerdo, tocou os dólares. No lado direito, o pingente prateado.


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Notas finais do capítulo

Abraços e até a próxima!