Vocal Harmony escrita por hrhbruna


Capítulo 3
02


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, obrigada a Mary e a Fernanda que comentaram o capítulo e obrigada também ao pessoal que favoritou e que está acompanhando :) espero que o novo capítulo esteja a altura das expectativas de vocês e espero também que continuem acompanhando a história.
Vou dedicar o capítulo ao Cory Monteith, ontem fazia dois anos desde que ele se foi... E as vezes ainda parece mentira.
Para o querido e amado Cory "seu olhar ensina as estrelas a brilharem!"



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– É uma conspiração do universo contra mim, Dorcas. Não tem outra explicação. Querem destruir minha carreira!

Eu juro que estava a ponto de chorar. Dificilmente eu o faço, que senão para fins meramente dramáticos e teatrais, mas eu estava com uma grande vontade de chorar naquele momento – vontade de sair correndo, vontade de me esconder. Eu sentia que meu coração ia sair pela minha boca a qualquer momento. Eu estava tão, tão triste.

– Ah Lily, não fique assim. Nós vamos dar um jeito. – minha amiga disse afagando minhas costas e eu a vi esticar um lenço pra mim.

Peguei-o e percebi que as lágrimas escorreram sem que eu sequer me desse conta. Enxuguei-as, mas ao ato chorei mais ainda.

As coisas já não estavam fáceis. Por que tudo tinha que caminhar em retrocesso? A tendência não era o oposto? Não era por isso que as pessoas sempre diziam ‘as coisas vão melhorar, tudo dará certo no final’. A essa altura, eu já não estava mais tão certa se acreditava nessas pessoas ou em finais felizes.

Tudo estava dando errado. Tudo.

– Dorcas está certa, Lils. – Mary, que estava sentada no outro espaço ao meu lado, disse. – Nós vamos conseguir mais integrantes para o grupo. Podemos fazer uma apresentação de boas-vindas para as calouras, o que acha?

Eu ri sem humor e assoei o nariz – pobre Dorcas, pobre lenço da Dorcas. Um dia quando eu for muito famosa esse lenço com rastros do meu DNA valerá milhões e provavelmente deverá ser mantido em segurança máxima, porque até lá a ciência terá avançado e as pessoas podem querer usar meu catarro para gerar clones de mim. Afinal, isso aqui é DNA purinho, certo?

Acho que é melhor manter isso comigo.

– A essa altura, Mary, já nos difamaram para as calouras. – funguei. – Nenhuma delas entra no grupo há anos. Por que entrariam agora?

– Ela está certa.

– Alice! – brigou Dorcas.

– Não adianta fingir. – Alice, que era conhecida por ser duramente franca com todas nós, disse. Ela deu de ombros e completou. – Nós estamos ferradas. É o fim do glee club.

Chorei mais ainda e enquanto Mary ralhava com Alice por sua falta de tato, minha amiga Dorcas tentava me consolar. Nossa, eu sei que pode parecer exagero, mas eu estava completamente arrasada.

Hoje mais cedo eu havia invadido o gabinete da Diretora McGonagall exigindo explicações sobre os boatos do corte de orçamento e o fim do coral. Após ela me explicar toda a situação, eu me comprometi em treinar as meninas e dei a minha palavra para a diretora que ela veria as Rouxinóis nas Nacionais! Como se já não difícil cumprir minha promessa, agora se tornara completamente impossível porque não tínhamos membros o suficiente para competir.

Nós tínhamos exatamente doze meninas, na conta certa. Eu imaginava que teríamos que suar um pouco porque duas das Rouxinóis do ano passado haviam se formado, então precisaríamos substituí-las, mas agora eu precisava de oito meninas!

Eu não acredito que elas fizeram uma coisa tão horrível dessas comigo. Nós todas sempre fomos amigas, fazíamos festas do pijama aqui na sala do coral, trazíamos colchonetes e escutávamos juntas músicas bregas que tínhamos vergonha que os outros soubessem que gostávamos

Não estou me sentindo apenas magoada e traída, mas também estou preocupada. O St. Mary School é um internato privado, com gente da alta sociedade e definitivamente não é lugar para uma simples Evans como eu.

Consegui essa bolsa com a ajuda da minha voz. Minhas notas são boas, claro, mas havia meninas muito mais inteligentes que eu e que talvez precisassem muito mais dessa bolsa e elas só não conseguiram porque o professor Flitwick pressionou a diretora e o conselho a darem-na pra mim, porque nas palavras dele ‘precisavam de uma sucessora para Andromeda’ e eles confiaram em mim a tarefa de levar as Rouxinóis para a vitória e até hoje o mais longe que havíamos chegado eram das regionais.

Com o fim do glee club poderia ser também o fim da minha bolsa.

–... Você espera o quê, Mary? Que eu minta e diga que vamos conseguir oito garotas? Acha que eu também não estou chateada? Eu vou ter que entrar em outra droga de clube pra dar peso pro meu histórico, porque não temos mais o coral. E além do mais, era minha parte preferida do dia, você sabe que eu amo cantar, mas eu não posso fingir que está tudo certo, porque não está! É o meu último ano. Vocês têm mais dois anos para fazerem as coisas acontecerem.

– Eu sei que você tem toda razão para ficar preocupada Alice, mas nós temos que nos unir e pensar positivo nesse momento. Sei que estamos todas arrasadas, mas precisamos umas das outras para resolver essa situação.

– Resolver como, Mary? Ninguém entra no nosso grupo!

– Vamos fazer com que entrem, ora.

Eu queria permanecer positiva como Mary havia dito, mas eu não conseguia. Simplesmente não conseguia, porque aquilo era demais pra mim. Além do mais, eu concordava com a Alice! Nenhuma menina na St. Mary School entra no coral

– Ah é? Vamos colocar uma arma na cabeça delas e obriga-las a assinarem a lista de inscrição? – debochou Alice e eu percebi que ela estava ficando com raiva.

Não consegui me entristecer com a atitude dela, eu sabia que minha amiga também não vinha de uma família cheia da grana. A diferença é que ela era filha única e quando o pai morreu deixou um seguro de vida bem gordo pra mãe dela e expressou no testamento que sua vontade era que fosse investido nos estudos da Alice, que ela frequentasse uma escola particular que a desse base suficiente para conseguir pelo menos uma bolsa parcial numa faculdade de renome como a Cambridge ou Oxford.

Nós dois dependíamos dos feitos que faríamos naquele colégio, só que como Alice havia dito, eu tinha mais dois anos de atividades extracurriculares para colocar um pouco mais de relevância no meu histórico caso o Glee Club acabasse. Ela gastara a vida acadêmica praticamente inteira aqui e não tinha sequer um prêmio para colocar na estante ou para dar peso ao currículo.

– Alice, acho que o que a Mary quer dizer é que nós não podemos nos desesperar. Precisamos começar a agir e a recrutar o maior número de meninas possíveis. As seletivas são daqui cinco semanas e... – Dorcas tentou ajudar. Ela era geralmente muito passional e tranquila.

– Não vai haver seletivas, Dorcas. – Alice revirou os olhos, bufando. Eu a vi se agachar para pegar a mochila que tinha sido largada no chão e jogá-la sobre o ombro. – Não estou dizendo que estou fora, mas me desculpem, eu tenho muito trabalho pra fazer. Não posso perder mais tempo, me entendem? Boa sorte. Se arrumarem as oito meninas me avisem.

Senti-me mal quando escutei a porta bater. As pessoas sempre gostavam de me lembrar o quanto muitas vezes eu podia ser individualista, mas infelizmente é o mal de uma estrela – por mais que todas elas sejam responsáveis por iluminarem o céu a noite, cada uma brilha por si só. Entretanto, naquele momento eu não podia me dar ao luxo de pensar como uma estrela. Tínhamos que pensar como uma equipe, uma constelação, tínhamos que salvar o nosso grupo.

– Chega de lágrimas, meninas. – eu disse respirando profundamente, ainda limpando o resto da água salgada que escorrera dos meus olhos. – Temos que dar um jeito, garotas. Não é só porque é o nosso amado glee é porque há muito em jogo. Minha bolsa, a faculdade da Alice...

Por um momento senti uma pontinha de inveja de Dorcas e Mary. Nenhuma delas precisava daquilo.

Só pelo nome Dorcas e seu sobrenome Meadowes é possível dizer o que ela é: aristocrata. Alguns professores se referem a ela como Lady Dorcas. Ela inclusive foi no Casamento Real em 2011. Lembro-me que ela foi a única do colégio cuja família foi convidada e olha que temos muitas filhas de aristocratas por aqui... Todos ficaram em cima da Dorcas querendo saber dos detalhes.

Mary pode até não ser sangue azul como Dorcas, mas ela tem dinheiro também. O pai dela é reitor da Universidade de Londres. Quero dizer, já dá pra imaginar pra onde ela vai depois daqui, certo?

Sacudi a cabeça tentando espantar aqueles pensamentos. Eu estava perdendo o foco.

Mais cedo naquele dia eu havia feito uma promessa a McGonagall e essa promessa em especial eu levei muito a sério, porque ela significa tudo pra mim. Tudo que há de importante na minha vida está agora em jogo por causa desse clube e eu preciso salvá-lo. A pergunta é: como?

– Mary, você é a mais popular e menos odiada de nós três. Não conhece ninguém que se juntaria?

– Tenho uma prima caloura. Posso perguntar a ela se teria interesse, mas de resto não. – ela deu um sorriso triste.

– Dorcas? – olhei para ela.

– Eu não sei de ninguém em particular, mas suponho que possamos tentar um recrutamento? – ela arriscou.

Balancei a cabeça, concordando e soltando um suspiro meio frustrado. Porque era como eu me sentia: completamente frustrada e chateada.

– Olha, antes de qualquer coisa, acho que deveríamos ir até as meninas pergunta-las o que as levou a sair e poderíamos tentar recrutá-las de volta. Não acho que todas concordarão, mas não faz mal tentar. Se pelo menos alguma delas concordar, já é vitória nossa, certo?

As meninas acenaram com a cabeça concordando comigo. Eu me senti meio ridícula por estar correndo atrás dessas mal agradecidas, mas não tinha outra opção.

Não era hora para ser orgulhosa, eu tinha que dar um jeito de salvar o coral e consequentemente salvar minha carreira acadêmica e a de Alice.

– Vou imprimir mais folhas de inscrição e coloca-las no vestiário, no estúdio de dança, nos dormitórios e nos quadros de aviso de cada sala. Talvez não tenham visto a que colocamos no quadro principal... São tantos clubes. – eu disse tentando passar um pouco de otimismo para elas, mas tanto quanto eu, elas não se sentiam nem um pouco otimistas com nossa situação.

Afinal, o que de bom havia acontecido até agora? As coisas davam cada vez mais errado desde o ano passado!

Primeiro que nosso orçamento sempre foi mínimo, mas cortaram ele no meio.

Segundo, nos tiraram do prédio principal e nos mandaram para esse prédio xexelento e abandonado no meio do campus – pra ter noção, era tão abandonado que a equipe de limpeza nem mesmo vinha aqui limpar. Toda sexta-feira quando as aulas acabavam mais cedo, as meninas e eu vínhamos com balde, esfregões e sabão para faxinar a sala que usávamos.

Terceiro, levaram a única coisa que nos restava dos tempos de glória das Rouxinóis: o piano. Levaram o piano, então tínhamos que trazer nosso notebook e nos virarmos com caixas de som de iPod.

Como se já não fosse ridículo o bastante cantarmos com esses uniformes horríveis, haviam nos tirado tudo e inclusive o direito de usar o auditório para ensaiarmos – porque nunca podíamos usar! Estava sempre ocupado pelo pessoal da banda da escola, o pessoal do teatro ou tendo encontro de Alcóolatras Anônimos.

Enfim, como podem perceber, ser uma Rouxinol de uns tempos pra cá ficou cada vez mais sofrido. Não é à toa que o número diminui todo ano, ninguém tem força para lidar com tantas perdas assim – diabos, até as partituras de música essa gente está tirando de nós. Todos os dias some uma diferente.

– Meninas, há uma coisa que vocês precisam saber. – eu disse. Fiz uma pausa e respirei profundamente.

– Parece ruim. – disse Mary num gemido.

– Não só parece como realmente é ruim. – eu disse enquanto puxava meus cabelos para fazer um rabo de cavalo. Prendi minhas mechas ruivas e pesadas no elástico que eu sempre carregava no pulso e então soltei a bomba em cima delas. – Nosso único problema não é a perda de membros no clube. Houve um corte no orçamento de artes e quando eu fui tirar satisfações com a diretora, ela disse que o grupo de teatro, pintura e o coral estão por um fio. A única forma de mantermos o clube é se pelo menos chegarmos as nacionais.

Eu não vi porque ser sutil. Estávamos na merda mesmo... Como diz o ditado: se está no inferno, abrace o capeta.

As meninas pareciam, se possível, ainda menos esperançosas. Eu até pensei em esconder isso delas até que resolvêssemos toda a situação, mas seria injusto. Elas têm direito de saber qual a nossa verdadeira situação neste momento.

XXX

Quando eu adentrei o dormitório que eu dividia com Sirius não me surpreendi ao sentir o terrível odor de cigarro. Reflexivamente levei a mão ao nariz e marchei na direção da janela para abri-la.

Bitch, don’t kill my vibe. – ele tinha seu inseparável violão sobre o colo e um monte de papéis espalhados pela cama. Imagino que estava compondo.

– Eu vou ignorar o fato que você está citando um rapper americano e vou logo dar as boas notícias. – eu disse enquanto arrancava a gravata borboleta branca que nos faziam usar.

O uniforme da Eton College era uma das coisas que eu mais repudiava neste colégio. Esses trajes são bregas e medievais, além de não serem nem um pouco práticos! Eu entendo que o objetivo deles é preservarem essa tradição arcaica e aristocrata que eles tanto se orgulham, mas eles podiam facilitar a vida dos alunos e se espelharem na Harrow School – calça cáqui escura, camisa de botão, blazer e uma gravata comum.

Eu estudo aqui há anos e até hoje tenho que acordar mais cedo pra fazer o nó da gravata corretamente. Sem falar que ninguém fica bem nesse uniforme, com exceção do Sirius porque por algum motivo tudo fica bom nele.

– O Filch morreu?

– Não. – franzi o cenho.

– Malfoy morreu?

– Não. – bufei.

– Minha mãe morreu?

– Sirius! – bradei desabotoando a camisa. – Ninguém morreu.

– Ah, então não podem ser tão boas notícias assim.

Revirei os olhos e escutei os acordes do violão retomarem. Às vezes Sirius conseguia ser extremamente intransigente, mas ainda assim ele era meu melhor amigo.

Olhando superficialmente, Sirius parecia ser só mais um adolescente de dezesseis anos, sofrendo uma crise existencial e bancando o enraivecido com o universo inteiro. Enfim, eu sabia que a parte do enraivecido era verdade, porque ele sempre estava de mau humor, mas eu não acho que Sirius esteja sofrendo uma crise existencial – apesar de as vezes eu ter a impressão que ele quer se matar, principalmente escutando e compondo músicas tão depressivas.

Mas também, imagino que seja só consequência das férias que ele passou em casa. Não tem como ser filho de Lady Walburga e não ficar pra baixo – aquela mulher é o satã na Terra, juro! A família do Sirius em si já não é muito agradável, mas a mãe dele consegue ser muito pior que todos que eu já conheci.

O único que se salva ali é o Sirius, a prima mais velha dele Andromeda e de vez em quando o irmão caçula do meu amigo – de vez em quando porque Regulus só é simpático quando está longe daqueles idiotas da Harrow que é onde ele estuda.

– Tenho duas boas notícias pra você: A primeira é que encontrei um novo integrante para os Troublemakers. – anunciei orgulhosamente.

Olha, vou ser completamente honesto, eu estava muito satisfeito com meu achado. O nome de John Mayer Obeso era na verdade Peter Pettigrew e ele veio transferido de outro colégio cujo nome me esqueci no momento. Ele disse que lá não tinha um clube de coral e que na verdade ele sempre gostou de cantar, mas para si mesmo e quando soube da oportunidade decidiu tentar a chance. Também mencionou que não tinha muitos amigos na outra escola e que a mãe dele incentivou-o a entrar em todos os clubes possíveis para conseguir se enturmar e também para melhorar as notas.

Enfim, pouco me importa se ele sofria bullying, se ele precisa de amigos ou melhorar as notas. Eu estava muitíssimo mais aliviado por saber que eu tinha um integrante a mais no grupo. Restava-me peneirar os menos piores para encontrar membros honorários do Troublemakers.

– Você encontrou um novo integrante numa lista de sessenta alunos? – Sirius arqueou as sobrancelhas, encarando-me com um pouco de descrença. – James, cara, você tem que levar isso a sério. As seletivas são daqui cinco semanas.

Revirei os olhos. Ele estava mesmo preocupado com as seletivas?

– Sirius, nós cantamos para a Rainha. – eu o lembrei enquanto me sentava na cama e arrancava os sapatos sociais que já machucavam meus pés. – Sinto muito, mas eu não posso simplesmente colocar qualquer idiota para cantar conosco no palco. Nós temos uma reputação a zelar.

– Nem todos precisam cantar. – lembrou-me, arqueando as sobrancelhas. – De fato, a maioria não canta. Eles fazem o apoio vocal.

– Um apoio vocal muito afinado e de alto potencial. – reforcei. – Mas de qualquer forma, eu não neguei nada e nem afirmei que eles entraram no grupo. Eu disse que colocaríamos os resultados na sexta-feira no quadro de avisos. Eu gravei os testes e você vai ter que assistir comigo... Você sabe como eu posso ser crítico, então é preciso uma segunda opinião.

Sirius soltou um gemido e eu sabia que ele odiava ter que participar das audições. Mas eu precisava dele ao meu lado, porque Sirius era crítico, mas não tão crítico quanto eu. Já Remus, ele era o jurado bonzinho... Se eu era Simon Cowell, ele devia ser a Britney Spears ou a Paula Abdul – se dependesse do Remus, aceitaríamos aquela lista inteira porque na opinião dele ‘o glee club é um lugar para se divertir, pois a maioria dos jovens têm aspirações musicais e a maioria deles também nunca terá chance nos palcos, então o coral é o único lugar que eles podem se expressar’.

– Ele acha que nós estamos aqui pra fazer caridade. – revirei os olhos. – Eu não estou com paciência para treinar e afinar esses meninos.

– Mas esse garoto novo que você encontrou... Ele é bom?

– Ele é realmente bom, Sirius. – garanti. – Fiquei tão feliz por termos encontrado Peter que nem consegui criticar nada na performance dele.

– Nossa...

– Sim, não pense que não fiquei surpreso, eu também fiquei! A última vez que eu aplaudi alguém de pé, eu estava na verdade aplaudindo a mim mesmo...

– Na verdade, você aplaudiu Elton John de pé ano passado na festa de natal dos seus pais.

– Sirius, nós já estávamos em pé. – revirei os olhos. – Enfim, tudo que eu sei é que ele é realmente bom e que já está dentro dos Troublemakers. Mandei Remus e ele irem até a secretaria para providenciar que mude de quarto.

– Por quê?

– Remus está dormindo com Benjy Fenwick e aquele idiota fez o teste de novo.

– Argh...

– Sim. – acenei com a cabeça e soltei um longo suspiro. Às vezes as pessoas tinham dificuldade em aceitar que não significa não. – Ele deve se achar o máximo cantando Bon Jovi porque ele canta uma música deles todo maldito ano que faz uma audição. Eu não sei mais quantas vezes terei que reprova-lo.

– Levando-se em conta que temos mais dois anos na Eton... Eu diria que mais duas.

Fiz uma careta e me joguei na cama, respirando profundamente e fechando os olhos pelo que parecia ser a primeira vez em dias. Honestamente, as vezes era muito estressante ser James Potter.

Ser o capitão do time de rugby e do coral muitas vezes parecia demais pra mim. Eu construí um legado nesse colégio... Ainda me lembro quando cheguei ao colégio e Ted Tonks incumbiu a mim a missão de garantir que os Troublemakers e o time de rugby fossem imortalizados.

Conseguia me lembrar perfeitamente do olhar de inveja no rosto de Lucius Malfoy. Ele era o mais velho e tinha esperanças de comandar os Troublemakers depois de Ted, então não aceitou muito bem quando ficou sabendo que o comando foi dado a mim.

Malfoy não foi o único a se revoltar. Quando eu cortei mais da metade dos membros do velho Troublemakers, eu me senti como Hitler, como se eu tivesse iniciado uma guerra naquele colégio. Lucius pronunciou abertamente sua opinião ao dizer em alto e bom som que ‘não seria comandado por um pivete com síndrome de estrelismo’ como eu. Bem, eu disse a ele que a porta era serventia da casa e que ele poderia deixar a equipe quando quisesse e junto com ele foram outros dos poucos Troublemakers que eu havia mantido.

Pois é, eu poderia ter me abatido. Mas é como dizem na Broadway ‘não importa se é um coração partido ou um ataque cardíaco, o show tem que continuar’. E foi isso que eu fiz.

Sei que eu estou muito feliz por ter encontrado Peter, mas meu maior achado foi Sirius porque consequentemente nos tornamos melhores amigos. Nós já dividíamos o quarto naquela época, mas nunca havíamos nos falado – eu tinha ficado chateado por ele estar debochando do meu cabelo e dos meus óculos com os outros garotos da turma. Eu não tinha muitos amigos quando entrei, porque as pessoas diziam que ‘meu ego, qualquer dia desses, iria esmagar alguém’. Achei ofensivo, mas enfim, eu estava fazendo meu dever de casa no quarto, quando escutei Sirius cantar no chuveiro.

Gravem o que eu vou dizer agora: O escol da música se revela sempre na hora do banho.

Enfim, eu consegui convencer Sirius que o glee club seria o grupo mais popular do colégio e ele se juntou a mim numa caçada em busca de novos talentos.

Conseguimos encontrar! Nós tínhamos os nossos Troublemakers e mais que isso, tínhamos uma vitória em cima das Rouxinóis chatíssimas e o melhor ainda, um baita bônus de uma humilhação sem igual da Evans, a capitã delas e que tinha minha idade.

– Ah! Eu não te contei a segunda boa notícia! – eu me lembrei abrindo um grande sorriso, enquanto me sentava.

Juro que eu tinha pulado de alegria quando recebi aquela notícia há uma no máximo. Fiquei até um pouco aborrecido com Remus por não ter me dito antes, porque teria me dado um outro ânimo para fazer os testes e talvez eu não tivesse reprovado tanta gente ou dito a Adam Spielberg que assisti-lo fazer aquele teste, lembrou-me do fiasco que foi Katy Perry cantando Firework ao vivo.

É o fim das Rouxinóis! – eu disse e gargalhei alegremente. – É o fim, Sirius! Acabaram!

– Quê? – ele arregalou os olhos e abriu um sorriso.

– Sim, sim, sim! – eu me coloquei sentado, ainda rindo. – Houve um corte no orçamento de artes do colégio delas e a condição para que o coral não acabe é que Lily e suas desafinadas cheguem às nacionais!

– Elas mal passam das seletivas. – gargalhou ele.

– Exatamente. – eu disse sorrindo. – Com um pouco de sorte, nós seremos a concorrência delas nas seletivas e teremos o prazer de derrota-las. Apenas para ver Lily Evans sair correndo e chorando do palco outra vez.

XXX

Querido diário,

Armaram contra mim, me boicotaram! Humilhada, traída, ultrajada e agora eu devo ser uma piada para todas as garotas desse colégio.

As seletivas do show choir são daqui cinco semanas e praticamente todas as integrantes das Rouxinóis decidiram sair do grupo com a desculpa que ‘estavam cansadas de serem meras perdedoras’ e que ‘provavelmente nunca chegariam a ter a chance de cantar de verdade ou profissionalmente, tanto porque não ganhávamos quanto porque eu não as dava uma chance’.

Ingratas, é isso que todas elas são.

Quando perguntei a Beth Cooper o motivo de ela ter desistido, disse-me que as Rouxinóis eram uma piada e que ela não voltaria para o grupo nem que fosse paga por isso.

Helena e Savannah Hastings deram uma desculpa ridícula de precisarem se concentrar em tirar notas boas, porque esse ano elas se formam.

Meg, Natalie, Amber, Leslie e Mackenzie disseram exatamente o que foi citado em cima! Que elas estavam fartas de serem perdedoras e de mim! Disseram que eu ‘deprimo as pessoas ao meu redor com minha personalidade irritante’.

Em resumo, nenhuma delas vai voltar para as Rouxinóis. Portanto, somos só quatro – Alice, Dorcas, Mary e eu.

Eu gostaria de me manter positiva e acreditar que tudo pode dar certo no final, que eu vou conseguir encontrar as oito integrantes que faltam, mas seria ilusão demais...

Ao que parece terei que viver com a culpa de ter assinado o fim do glee club no colégio. Eu não honrei a coroa que me foi dada pela rainha dos corais em pessoa, eu não honrei a soprano mais fantástica que já caminhou por estes corredores. Eu desapontei a senhorita Andromeda e isso é imperdoável.

Eu aceito minha punição. Eu reconheço meus erros e meu fracasso. Por isso, ficarei cinco semanas (resumindo, até o dia das seletivas) sem escutar qualquer canção dos meus musicais favoritos e também estarei proibida de cantar – terei que poupar minha voz, afinal de contas, porque para aliviar a dor do meu coração nesse dia, apenas Celine Dion ou Whitney conseguem alcançar e sentir toda a profundidade do meu sofrimento.

Sempre sua,

Lily.

Escutei batidas na porta e não pude evitar o gemido. No momento eu gostaria de ser deixada em paz para curtir minha dor sozinha, mas me obriguei a levantar da cama e ir atender as batidas – eu só esperava que não fosse supervisora querendo saber porque diabos eu não estava na educação física, porque senão ela provavelmente me levaria ao Guinness Book com a menstruação mais longa do mundo, já que eu falei na semana passada e retrasada que eu estava com cólica.

Mas quando eu abri a porta, não me deparei com a supervisora. Diante de mim estava uma garota alta, magra, loira e com olhos azuis. Ela tinha uma enorme mala der rodinhas parecida com a que a maioria das meninas carregava e aquilo só podia significar uma coisa.

Minha nova colega de quarto havia chegado.

– Você deve ser Marlene... – eu disse e dei passagem para ela entrar.

Não vou mentir, eu estava muito aborrecida por ter que dividir meu quarto com uma estranha. Eu sempre dividi o quarto com a Dorcas, mas esse ano fizeram uma nova distribuição e nem mesmo com todo meu drama e meus lenços charmosos e bordados consegui convencer Madame Hooch a me trocar de dormitório.

O pior de tudo é que eu deveria adequar minha rotina para essa novata. Por exemplo o meu ritual noturno de banho, hidratação no meu cabelo, depilar, exercícios vocais antes de dormir e religiosamente uma colher de mel ao me deitar e ao acordar. A Dorcas é muito mais compreensiva e de fato ela me ajuda, mas essa garota nunca entenderia.

– Você não devia estar em aula? – ela me perguntou após longos minutos que eu me mantive quieta, deitada na minha cama e adiantando a tarefa de Biologia.

– Devia. – respondi curtamente.

– Hum... Está se sentindo mal? – arriscou.

– Não, mas se alguém te perguntar, diga que sim. – revirei os olhos.

Diabos, aquilo era um interrogatório? Era só o que me faltava. Ter que me explicar pra uma estranha e o pior é que a bendita agora seria minha colega de quarto.

– Ah, sabe de uma coisa? Eu acho que vou me poupar do trabalho de arrumar minhas coisas e tomar um banho primeiro. Eu estive num longo voo de dez horas e num carro por duas! – ela deu uma risadinha e eu contive a vontade de revirar os olhos.

Eu não sei o que me irritava mais, a simpatia forçada e o claro desespero em tentar se enturmar e se encaixar ou se era aquele sotaque terrível.

Dispensei-a com as mãos e apontei rapidamente a porta do banheiro quando ela perguntou e respirei aliviada quando escutei o barulho do chuveiro. Não me importava nem sequer se ela acabasse com toda a água quente, eu só queria um pouco de silêncio.

(N/A: Recomendo que coloquem a música para tocar https://www.youtube.com/watch?v=RUv7R7_yYeI)

Provavelmente eu devia procurar um novo refúgio para estudar, porque essa doida simplesmente parece incapaz de calar a merda da boca.

– She's just a girl, and she's on fire...

Eu estava àquela altura com a mão na maçaneta, entretanto me virei lentamente dando uma boa olhada no meu aparelho de som com a intenção de me certificar que ele estava realmente desligado, mas a música não vinha dele.

– Hotter than a fantasy, lonely like a highway

She's living in a world, and it's on fire

Feeling the catastrophe, but she knows she can fly away

Apurei bem os ouvidos. A voz estava baixa, mas eu podia sentir o timbre. Lembrava-me um pouco Amy Winehouse, mas que eu me lembre a senhorita Winehouse já havia partido dessa pra melhor há um bom tempo – uma lastimável perda para a música britânica, que Deus a tenha.

– Oh, she got both feet on the ground

And she's burning it down

Oh, she got her head in the clouds

And she's not backing down

Não podia ser, pensei comigo mesma, não podia ser.

Encarei a porta do banheiro e lentamente fui me aproximando. Algumas pessoas se deixam conter quando recebem aplausos, algumas pessoas têm medo e tentam esconder o próprio talento, mas eu tinha quase certeza que ela não. Havia muita técnica em sua voz... Ela não era perfeita, até porque as únicas pessoas com o timbre e a afinação perfeita que eu conhecia que já haviam pisado nesse colégio era Andromeda Black e euzinha aqui.

– This girl is on fire

This girl is on fire

She's walking on fire

This girl is on fire

Ah Deus, o que eu fiz a seguir foi estranho e eu provavelmente me arrependeria pelo resto da minha vida, entretanto eu já estava na merda. Não podia piorar, simplesmente não podia – entretanto, eu suspenderia minha maratona de The Voice por um tempo.

Eu escolho você!


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem suas críticas e elogios nos comentários. Significaria muito pra mim. Beijos pessoal.



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