Vocal Harmony escrita por hrhbruna


Capítulo 2
01


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que é muitas vezes difícil trabalhar com musica em fanfictions ou livros, mas vou fazer o possível para que vocês possam sentir a música e se encantarem!



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– Diretora McGonagall, diga-me que os boatos são falsos. Diga-me que isso tudo não passa de uma brincadeira muito, muito sem graça!

Pela cara da diretora, presumi que talvez o melhor foi que eu tivesse me anunciado antes de sair abrindo a porta de seu gabinete particular. Normalmente eu até ficaria preocupada em incomodá-la ou até mesmo em manchar meu imaculado histórico com uma detenção, mas eu estava nervosa demais para me importar com qualquer uma dessas coisas.

Aquilo não podia ser verdade! Simplesmente não podia!

A diretora me encarava sob seus óculos de grau, com a expressão dura e séria como de costume. Ela não era muito amigável e definitivamente não era de muitos sorrisos e chamegos com nós, suas alunas, mas ela sempre foi uma mulher justa e sábia que sempre procurou dar o melhor para nós.

Eu estudava aqui desde meus onze anos de idade e a mulher diante de mim nunca em nenhum desses anos havia me desapontado. Só esperava que ela não começasse agora.

– Sente-se senhorita Evans. – secamente ela disse e fez um sinal para que eu fechasse a porta que havia esquecido aberta atrás de mim.

Senti borboletas no estômago. Aquilo não podia ser bom.... Não, não pense assim. Vamos lá Lily, feche a porta, sente-se e relaxe. Tudo será esclarecido! Provavelmente a diretora vai até mesmo rir de você e irá querer repassar suas obrigações com a monitoria e mais nada!

– Houve um corte no orçamento das Artes, senhorita Evans. – ela começou e eu já senti o chão embaixo de mim sumir. – Não pense que eu não estou aborrecida. Estou tão aborrecida quanto você, como sabe eu sempre fui uma das maiores incentivadoras do setor artístico neste colégio, mas o Conselho e a Superintendência chegaram à conclusão que o incentivo a arte não é bem o objetivo primordial da St. Mary School.

O quê?! Ah meu Deus, alguém me tire deste pesadelo. Isso só pode ser um grande e terrível pesadelo.

– Eles acham que é mais pertinente investir em laboratórios de química, computação. – explicava a diretora, olhando-me atentamente nos olhos. Eu acho que ela temia que eu fizesse um escândalo e eu realmente estou agradecida por ela ter o bom senso de estar apavorada, porque eu estava a ponto de fazer um escândalo. – Então é claro que o clube de teatro, pintura e o coral sofrem consequências quanto a isso.

Fechei os olhos e escondi o rosto em minhas mãos. Eu não iria chorar, até porque eu estudava aqui há tanto tempo que a professora McGonagall nem mesmo se comovia mais com meus dotes artísticos, mas eu tenho certeza que se o superintendente estivesse aqui eu teria o convencido com cinco minutos – homens detestam ver mulheres chorarem e eu felizmente sou provida de uma grande profundidade teatral. Ah, mas não pense que eu sou do grupo de teatro, eu sou do glee club. Ou simplesmente, coral.

De qualquer forma, eu estava tentando pensar. Tentando pensar se havia alguma coisa que eu pudesse fazer (sem ser me vender, claro) para que o glee club não acabasse.

– Nenhum dos clubes foram cortados.

Ergui a cabeça no mesmo momento, abrindo um sorriso e sentindo os olhos de Madame McGonagall me julgarem.

Ainda. – ela completou e eu fiz uma careta. – Mas bem, eu receio que talvez o único que se salve seja o de pintura.

– O quê? Mas como assim se salvar? – repliquei frustrada.

Além do mais, por que ela acreditava mesmo que o clube de pintura iria se salvar?

– A condição para que os clubes não sejam cortados é que eles ganhem prêmios, senhorita Evans. – ela arqueou as sobrancelhas significativamente. – Tem cerca de cinco anos que o nosso coral não ganha nada.

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e baixei os olhos para encarar meus sapatos de boneca perfeitamente lustrados. Eu não me culpava por naqueles cinco anos nunca termos passado das regionais, mas me sentia um pouco triste sobre isso.

Sou suspeita pra falar, mas nosso coral era ótimo. Eu sempre escolhi músicas ótimas, sempre procurei incentivar e estimular as meninas o máximo possível! Apesar do professor Flitwick ser o encarregado, ele dificilmente aparecia para os nossos ensaios – na verdade, nós nem costumávamos avisa-lo a data ou o horário – e ele não tem boas ideias. Quero dizer, no primeiro ano quando perdemos nas seletivas para um coral de surdos, ele havia nos feito cantar God Save The Queen e não me entenda mal, eu acho a Rainha uma dama primorosa, mas eu não acho que os juízes estavam querendo ouvir o ‘hino’ do nosso país quando entramos no palco.

– Eu faço o melhor que posso, senhora. – eu disse verdadeiramente, tomando coragem para encarar a diretora. – Mas fica difícil trazer troféus pra casa quando as outras meninas não se dedicam ou são tão boas quanto eu. O orçamento que tínhamos para manter o clube já não era grandes coisas! Os outros colégios fazem figurinos para seus artistas e nós tínhamos que cantar com o uniforme. Isso tira pontos do lado artístico sabia? E o timbre ruim daquelas idiotas também não ajuda em nada.

– Senhorita Evans!

Eu dei de ombros, porque não era mentira. Poucas no nosso coral sabiam realmente cantar. Algumas cantavam bem, como minha amiga Dorcas, mas ela é simplesmente tímida demais para fazer solos e se contenta em ficar balançando atrás de mim e sendo backing vocal.

Como a nossa reputação no colégio não era das melhores, eu era obrigada a aceitar qualquer menina que quisesse entrar e a cada ano nós diminuíamos mais. Quando eu entrei começamos em vinte e cinco e agora éramos dez! As novatas não se inscreviam porque as veteranas diziam que ‘era coisa de idiota’ e que ‘éramos lesadas e perdedoras’ e as alunas que nós perdemos foram por um dos três motivos: Primeiro, se formaram. Segundo, são agora alunas college e estão sobrecarregadas com estudo. Terceiro, começaram a concordar com as outras pessoas.

Eu não me importo, pra ser sincera. Podem me chamar do que quiser, quero dizer, eu cresci com a Petúnia, tá bem? Os apelidos mais carinhosos que ela me deu nos meus dezesseis anos de vida são ‘aberração’ e ‘taquara rachada’. Entretanto essa má reputação do nosso coral tem afastado o interesse das meninas cada vez mais!

Diante de mim a diretora soltou um longo suspiro impaciente e por fim cruzou as mãos uma na outra sobre a mesa e me encarou atentamente e num tom ameno falou:

– Eu sei que nem sempre as coisas são fáceis pra vocês do coral, Lily. Eu sei que as alunas pegam pesado de vez em quando e que você faz o melhor que pode como capitã delas.

– Professora, por favor, não deixe que acabem com nosso coral. – choraminguei. – Eu duvido que eles acabaram com o coral da Eton.

– Não, não acabaram. Mas os meninos da Eton ganharam as nacionais no ano passado e o retrasado. – ela me disse significativamente.

Argh, ela tinha que esfregar isso na minha cara. Eu odiava aqueles playboyzinhos metidos a realeza que estudavam lá. Tá certo, minha escola também é cheia dessas meninas metidas a realeza, mas eles são piores, muito piores!

A Eton e a St. Mary ficam há apenas 1km de distância uma da outra, aqui na cidade de Windsor. São dois colégios internos que pertencem à mesma família, portanto, são os mesmos donos. Mas o primeiro é um colégio para meninos e o segundo, que no caso é o meu, para meninas.

Os meninos da Eton até cinco anos atrás não costumavam ganhar nada. Quem ganhava era o St. Mary! Andromeda Black, minha maior inspiração para me juntar ao coral do colégio, era uma soprano lírica fabulosa. Desde pequena ela tinha aulas de canto e sapateado junto com suas irmãs, Bellatrix e Narcissa.

Eu sempre ia assistir as competições de coral junto com meus pais, embora eles não gostassem, eles me levavam porque queriam me agradar. Eu sempre, sempre torcia para as Rouxinóis e sempre ficava ansiosa pelos solos da estrela do grupo. Infelizmente quando eu cheguei ao colégio, Andy, como ela era carinhosamente chamada por todos, já havia se formado e sua irmã Bellatrix era uma formanda que não tinha o menor interesse em participar do grupo do coral. A única que estava era Narcissa, mas ela era muito metida e parecia querer estar em qualquer lugar menos ali conosco.

Enfim, as Rouxinóis sentiram muito com a ausência de Andy. Nós fomos massacradas aos poucos. Eu me lembro até hoje do duelo anual entre os rapazes da Eton e as moças de St. Mary. Eles esmagaram a nossa dignidade e cuspiram em cima e foi naquele dia que as Rouxinóis e os Troublemakers deixaram de ser concorrentes amigáveis e eu receio dizer que a culpa foi meio que minha, porque eu dei o grito de guerra contra James Potter, o atual líder daqueles arruaceiros.

– Senhorita Evans, você está escutando?

Sobressaltei-me na cadeira ao perceber que eu havia me perdido nos meus próprios pensamentos. Eu provavelmente estava com uma expressão assassina e os nós das minhas mãos estavam brancos porque eu agarrava os braços da cadeira com força.

– Sim, senhora. – eu disse, endireitando-me.

– Bem... – ela pigarreou. – Como você sabe, os meninos no ano passado foram para as mundiais de corais representando o país e até mesmo cantaram para a Rainha.

Contive a vontade de revirar os olhos. Ela era tão puxa saco deles, nem mesmo escondia que preferia aqueles pivetes à nós que éramos suas alunas. E daí que James Babaca Potter era seu afilhado?!

Mas eles perderam. De fato, ficaram em décimo segundo lugar, mas eles chegaram longe senhorita. – dizia a diretora, provavelmente sentia prazer em me lembrar que no ano passado nós havíamos perdido nas seletivas. – Se você quer salvar o coral, é melhor que comece a vencer senhorita.

– E quanto ao orçamento cortado, madame? Não se esqueça que para preparar um grande show exige muita coisa!

Ela levantou a mão a me impedindo de continuar. Provavelmente imaginava que eu ia começar a apontar as falhas técnicas da produção de nossas apresentações.

– Eu cuidarei disso tudo e se preciso arcarei com as despesas. Eu fui do coral e eu ficaria muito satisfeita em ver as Rouxinóis tirarem a coroa da cabeça dos Troublemakers, mas eu preciso que vocês cheguem as Nacionais pelo menos.

Engoli em seco. O mais longe que eu havia conseguido chegar até agora eram as regionais.

As seletivas eram dali cinco semanas. Se nós ensaiávamos duas vezes por semana, então ensaiaríamos quatro. Se o tempo era três horas, então ensaiaríamos seis. Eu não sei como faríamos aquilo e ainda daríamos conta de respirar, fazer deveres de casa e comer, mas se fosse preciso eu manteria todas nós acordadas a base de Red Bull porque aquele coral era minha chance, minha única chance.

Grande parte dos nomes que eu admiro começaram do mesmo lugar que eu: o coral do colégio. Eu não estava disposta a abrir mão do meu grande sonho eu era lotar os teatros e arenas com minha voz.

Eu chegaria as nacionais esse ano!

– Você tem minha palavra, diretora.

XXX

Mas que péssimo dia para não ser surdo.

– Hum... Obrigado Dean. Nós entraremos em contato, ok?

O garoto ruivo e sardento no palco encolheu os ombros chateado e então caminhou para fora do meu santuário, digo do auditório do colégio. Balancei a cabeça negativamente e escrevi na frente do nome dele ‘merda/nunca escutei nada tão horrível assim’.

– Você não acha que está muito exigente, James?

Ao meu lado um de meus melhores amigos, Remus Lupin, perguntou. Ele tinha as sobrancelhas grossas e meio loiras arqueadas para mim, contemplando-me com seus orbes cor de âmbar.

– Exigente? – respondi com outra pergunta. – Aluado, não somos qualquer grupinho por aí. Não somos uma banda de garagem, pelo amor de Deus.

– Eu sei que não, mas dez se apresentaram até agora e você os avaliou como... – ele tomou a minha lista e leu. – Merda, horrível, gostaria de estar morto...

Tomei a prancheta de volta, temendo que talvez alguém tivesse escutado Remus ler as minhas anotações sobre a performance de cada um. Soltei um suspiro cansado e percebi que eu tinha uma longa lista – eu tinha sessenta candidatos para fazer o teste! E eu estava desesperado porque nós já éramos um grupo pequeno e um grande número dos nossos se formou ano passado, além de Amus Diggory que havia mudado de colégio.

De acordo com as regras do show de corais, eu precisava ter pelo menos doze membros e atualmente eu só tinha cinco contando comigo. Perdemos dez membros porque como eu disse Amus havia mudado de colégio e nove se formaram.

– Olha, você esteve aqui o tempo inteiro. – eu disse baixo. – Você viu esses nomes, certo? Maioria são calouros e eles estão naquela fase terrível da transição vocal, ora falam fino e ora falam grosso. E o resto são juniores, sêniores ou colleges que fizeram o teste antes e levaram não, mas eles mantém as esperanças e acreditam que fazendo exercícios vocais que veem no YouTube irá melhorar alguma coisa.

Remus suspirou e rolou os olhos e então chamou o próximo. Eu não dei muita atenção, simplesmente comecei a fingir que estava prestando atenção e deixei aqueles idiotas iniciarem o show de horrores.

Por Deus que eu gostaria de ter um tampão. Eu nem mesmo erguia o rosto, estava ocupado desenhando estratégias para o primeiro jogo da temporada de rugby, enquanto Remus ministrava as audições. Até agora nenhuma daquelas vozes havia sido digna da minha atenção.

Sei que a maioria das pessoas me acha um verdadeiro babaca, mas não é bem isso. É que cantar não é como rugby. Quando eu vejo um cara ruim, mas com potencial, eu simplesmente não o dispenso e pronto. Eu treino o cara e deixo-o em forma, mas quando se trata de canto, não importa quantos exercícios de respiração o cara faça. Se ele não tiver o talento, aquela coisa que vem lá de dentro, não adianta.

Quem canta, nasce cantando. Quem sabe cantar, nunca foi ensinado. É um dom que nasce dentro de você! Não é habilidade, porque habilidade se conquista, por isso eu falo ‘dom do canto’.

Suponho que eu realmente seja muito exigente, mas você também seria se estivesse na posição que eu estou e carregasse as responsabilidades que eu carrego. Eu não dispenso as pessoas só porque elas não prestam, é porque também sei que elas não vão aguentar a pressão. Eles não vão aguentar os treinos e a pressão! Eu vivo dizendo que só somos tão imbatíveis no rugby porque Sirius, Frank e eu estamos acostumados a agir sob pressão sem perder as estruturas.

Não vou mentir, estou preocupado. Ano passado estávamos com nosso time mais forte e inclusive fomos para as mundiais, mas perdemos de lavada para aqueles Filipenses. Entretanto, nós os Troublemakers, éramos quase celebridades no colégio. Todos queriam andar conosco, éramos uma constelação e perdemos dez das nossas estrelas!

‘Ah, mas são sessenta inscritos e você só precisa de sete. Não é impossível’. Há! Acredite, é sim. Tanto é possível quanto é real. Não há nenhuma grande voz, quase me entristece porque nos últimos anos Diggory e eu éramos concorrentes árduos se tratando dos solos das competições – eu não vou mentir, ele era bom, se ele estava nos Troublemakers é porque ele era bom. Mas eu acho que agora a única concorrência que eu tenho é Sirius, meu melhor amigo, mas nossos estilos são completamente diferentes e ele sempre faz os solos quando cantamos rock, porque ele não gosta de clássicos como eu. Então nós dificilmente brigamos por solos.

Sabe o que é isso? Praga! Praga da Evans, aquela soprano metida a Barbra Streisand. Alguém devia avisa-la que a única coisa que ela e a senhorita Streisand têm em comum é o nariz horrível – eu ainda não perdoei a Evans por ter tido a audácia de cantar ‘Hello, Dolly!’ com seu grupinho de virgens desprovidas de talento. Aquilo foi no mínimo ofensivo!

Primeiro de tudo: Evans como a mera amadora que é, não está autorizada a cantar uma música daquelas. Eu não sei o que me deixou mais indignado, se foi a Evans ter cantado aquela música e ter colocado uma de suas subordinadas desafinadas para fazer a voz do eternizado Louis Armstrong ou se foi o fato da minha mãe ter gostado!

Minha mãe é Dorea Anstruther-Potter e quando mais jovem costumava ser atriz. Ela interpretou Dolly na Broadway e as críticas na época disseram que ela foi tão boa e talvez até melhor que a atriz original, Barbra Streisand. Ela estava no seu maior auge quando conheceu meu pai – ele estava em NYC na época e aproveitou para assistir à peça que todos falavam aqui na Inglaterra, porque uma atriz legitimamente britânica estava interpretando Dolly na Broadway. E bem, ele se apaixonou por ela.

Quando os dois se casaram, minha mãe decidiu que largaria os palcos porque aquilo requeria muito do tempo dela e ela precisava ser esposa e aristocrata, fazer caridade, frequentar eventos com meu pai, viajar e ela também queria ser mãe. Eles demoraram um pouco para conseguirem me ter e também quando o fizeram já estavam um pouco mais velhos e o médico recomendou que eles parassem, porque minha gestação já havia sido demasiada complicada.

Enfim, eu acho que ela ficou triste. Acho que ela sempre quis uma garotinha para que ela ensinasse balé, a cantar e todo esse tipo de coisa. Creio que ela não imaginasse que eu acabaria me tornando melhor e mais interessado nesse tipo de coisa que maioria das meninas que eu conheço.

Quero dizer uma coisa: eu não sou homossexual. E também não tenho problemas com quem é, que fique claro.

Como disse Hugh Jackman: “Eu tenho esposa e filho, mas as fofocas sobre eu ser gay já começaram. Acho que isso é um sinal que eu comecei a fazer sucesso”.

Imagino que eu seja um grande sucesso desde os meus três anos de idade, porque os meninos da Ludgrove School, a escola primária que eu frequentei, viviam me chamando de baitola só porque eu gostava de musicais e fazia aula de sapateado. Mas bem, eu dei meu primeiro beijo antes de todos eles quando interpretei Peter Pan e a menina que interpretou Wendy me beijou – podem ir dormir com essa, otários.

Mas eu realmente gosto de mulheres. Muito. Eu tenho essa fantasia louca de um dia fazer um dueto com uma garota que tenha tanto potencial quanto eu e que ela seja minha namorada, mas o mais próximo que eu cheguei disso foi no meu primeiro ano quando tive que “duelar” com a Evans.

Nós cantamos Summer Nights de Grease. Será que não poderia ser mais embaraçoso? Quero dizer tínhamos 11 anos e éramos recém agregados no coral! Duas crianças cantando uma música ‘suja’ de ‘amor’.

E o pior!

HAHAHAHAHA.

Tive que fazer uma pausa para rir, porque eu sempre me contorço em gargalhadas quando me lembro da cara de mosca morta que a Evans fez na hora e quando ela saiu correndo e chorando do palco.

Foi o seguinte, estávamos cantando e eu estava claramente no total controle da situação. Minha voz madura para a idade e juntamente ao meu olhar de menino inocente havia conquistado o coração dos jurados, pois criara um efeito de equilíbrio tão grande que surpresa seria se não encantasse a todos. A Evans (invejosa, como eu disse) se desesperou por isso e esqueceu a letra daquela música estúpida e quando meus colegas e eu começamos a rir da cara de idiota que ela fez, acabou saindo correndo do palco e chorando.

O pior de tudo foi depois, quando eu estava celebrando com meus amigos e fazendo um brinde de refrigerante – hoje em dia nós contrabandeamos champanhe e dispensamos aquele veneno para as cordas vocais – e a Evans louca da vida invadiu o camarim para gritar comigo que era minha culpa que ela tivesse esquecido a letra da música!

Eu mereço, né?

– Mas espera aí, quem esqueceu a letra mesmo? – na época eu perguntei, fazendo minha melhor cara de desentendido, como se eu não me lembrasse exatamente que era ela quem estivera no palco comigo.

Mas eu sabia, óbvio. Porque com um nariz daquele tamanho e um cabelo daquela cor, ficava difícil de se esquecer a Evans.

– Eu! – ela gritou comigo. Lembro-me de seu rosto sardento ficar quase roxo.

– Ah é mesmo? – respondi na mesma tranquilidade de sempre. – Por um segundo pensei que eu tivesse esquecido a letra.

Meus amigos riram ainda mais e eu também estava rindo. A Evans era como um balão na minha frente, eu estava vendo a hora dela explodir. Enfim, ela pegou o copo de refrigerante da minha mão e jogou na minha cara.

A guerra estava armada! Eu não dei paz pra Evans daquele dia e até hoje. Assim como ela também não me dava paz. Eu não tinha nada contra seu bando de desafinadas, eu já havia inclusive saído com algumas – mas elas pediam para manter segredo, porque se a Evans soubesse faria um escândalo e drama enorme – e mantinha maioria delas adicionadas no meu Facebook (mantenha os amigos perto e os inimigos mais ainda, e atualmente tem forma melhor de espionar o inimigo que senão pelas redes sociais?).

Mas a Evans não me aceitou no Facebook. Inclusive, eu era bloqueado e Sirius também! O único que a tinha adicionado era o Frank porque ele era namorado da Alice, que era a menos desafinada do bando de subordinadas da Evans – que o Frank não me escute dizer isso, não que seja mentira, mas eu não sei que diabos a Evans estava pensando ao dar um solo pra Alice na última competição.

Aliás, nenhuma delas é digna de um solo. Com exceção da Evans.

Eu sei, eu sei. Ela é insuportável e me faz ter vontade de atear fogo em mim mesmo, mas a garota sabe cantar.

E ok, esquece isso.

Enfim, a Evans não me aceita no Facebook e eu tenho que vigia-la através do perfil do Frank que namora a Alice, que por acaso é a única que tem autorização para namorar um Troublemaker porque eles estão juntos desde sempre e provavelmente devem se casar depois da faculdade.

Eu não quero parecer precipitado, mas eu já montei uma lista que nós, os Troublemakers, iremos cantar na festa dos dois. Sei que parece clichê, mas Marry You do Bruno Mars tem uma vibe bacana e alegre para a entrada dos noivos e eu estou pensando em Heaven do Bryan Adams, versão acústica claro, para ser a música dos noivos e...

(N/A: Recomendo que escutem https://www.youtube.com/watch?v=J4jG8cR7y9c)

– My lover's got humour
She's the giggle at a funeral
Knows everybody's disapproval
I should've worshipped her sooner
If the heavens ever did speak
She is the last true mouthpiece
Every sunday's getting more bleak
A fresh poison each week

Espere. Será que eu estou acordado ou acabei dormindo de tédio na cadeira e estou sonhando?

Lentamente ergui a cabeça da prancheta que era para onde eu ficara olhando durante a última hora e quase senti meu queixo cair.

Take me to church
I'll worship like a dog at the shrine of your lies
I'll tell you my sins
So you can sharpen your knife
Offer me that deathless death
Good God, let me give you my life

Eu não tinha a menor ideia de quem diabos era aquele gordo com cara de rato que estava no meio do palco. Ele até podia não ser um tenor, ele até podia ter desafinado duas vezes, mas aquilo não importava. Não realmente!

Estava bastante óbvio que o gorducho era um barítono. Ele não era perfeito, mas com um pouco de treino alcançaria as notas que eu queria. Dali de onde eu estava era quase como escutar a versão mais desafinada e obesa do John Mayer cantando a música mais tocada do meu iPod atualmente!

– No masters or kings when the ritual begins
There is no sweeter innocence
Than our gentle sin
In the madness and soil of that sad earthly scene
Only then I am human, only then I am clean
Amen, amen, amen

Verdade! Glorifiquemos, Senhor! Amém, amém, amém. Juro que eu posso até mesmo fazer um mashup de Take me to church e Hallelujah.

Nós ainda não estávamos completamente salvos. O gordo era bom, claro, mas eu precisava de mais seis para completar o número necessário para que sequer pudéssemos chegar a competir nas seletivas. Entretanto, saber que pelo menos uma pessoa dessa lista era capaz de alcançar um A3.

Take me to church
I'll worship like a dog at the shrine of your lies
I'll tell you my sins
So you can sharpen your knife
Offer me that deathless death
Good God, let me give you my life

Os últimos acordes da música soaram e eu me vi de pé, Remus ao meu lado também estava, e nós dois aplaudíamos John Mayer Obeso – eu provavelmente deveria perguntar o nome dele. Honestamente, eu não costumo aplaudir amadores de pé, a última vez que fiz isso foi quando assisti uma filmagem de mim mesmo aos 13 anos de idade alcançando uma F#5 – só pra constar, eu deixe de ser considerado amador aos quinze anos.

Mas sério, esse menino, seja lá quem ele seja, merece minhas palmas. Ele pode ter potencialmente me salvado de cair numa depressão profunda, provocada pelo desgosto e pela falta de talento nos meus colegas de colégio.

Enfim, hora de conhecer o herói da pátria.

Broadway... Saiba que se um dia eu chegar aos seus palcos, deve-se exclusivamente a este indivíduo dez quilos acima do peso ideal que está parado com cara de tacho no meio do meu templo, digo, do palco do colégio.

– Wow! Isso foi... Isso foi incrível. – eu disse. – Olha, raramente eu fico sem palavras. Eu te classificaria como mediano, cantor de YouTube, com violão e convidados especiais, mas você definitivamente salvou o dia, amigo! Ouch!

Senti a pisada que Remus deu em um dos meus pés e o acotovelei para descontar.

Eu hein. Se ele pelo menos polisse meu sapato depois da mesma forma majestosa que eu o faço, nem reclamaria. Mas tenha respeito, é Valentino.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que vocês tenham gostado :)



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