Vocal Harmony escrita por hrhbruna


Capítulo 4
03


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Mais um capítulo, espero que gostem (: Neste capítulo eu vou tratar de um assunto mais delicado e as Rouxinóis infelizmente não apareceram. Mas eu fiquei bastante feliz com o que eu fiz. Espero que vocês também! Beijos.



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– Sabe, eu detesto ter que concordar com o James, mas Remus até mesmo você tem que reconhecer que fora o novato, todo o resto é bem péssimo. Deus, eu quis morrer quando eu vi Benjy Fenwick na filmagem. – dizia Frank Longbotton. – Esse cara já deve ter cantado a discografia do Bon Jovi inteirinha para nós. Alguém devia avisá-lo que ele é uma droga, independente da musica que escolha.

Olhei significativamente para Remus e apontei a mão para Frank, o quinto e último membro dos Troublemakers. Já havia passado de meia noite e estávamos reunidos no dormitório que Sirius e eu dividíamos assistindo a filmagem das audições para o nosso grupo.

Parecia ainda pior nas gravações, muito pior do que havia sido ao vivo. Eu estava boquiaberto, porque imaginei que talvez eu tivesse sido duro demais, afinal ao vivo e acapella aqueles jovens estavam muito mais sujeitos a erros e a serem pegos desafinando, mas nossa... Eles realmente eram muito ruins.

– Eu acho que vocês estão exagerando. Stebbins não foi tão mal assim. – insistia Remus e eu revirei os olhos. Às vezes ele conseguia ser irritante.

Stebbins não havia se saído tão mal? Ok, ele alcançava uma nota muito alta, mas ele não tinha técnica, não tinha treino e o timbre dele era muito arranhado. Nós não tínhamos tempo para afiá-lo, eu não precisava de um ‘regular’, eu precisava de um ‘excede expectativas’ ou um ‘ótimo’. Era a única coisa que eu podia me dar ao luxo de aceitar nos Troublemakers.

– Não foi tão mal assim? – Sirius repetiu. Meu amigo estava na mesma posição que eu havia o encontrado há horas atrás, estendido na cama, com a camisa completamente desabotoada, a guitarra no colo e pitando um cigarro. – Ele conseguiu estragar uma das músicas mais tocadas do meu iTunes.

Deus ajude aquelas cordas vocais, pobre de Sirius se aparecesse com problemas vocais em dia de competição, eu iria mata-lo com minhas próprias mãos e depois teria o prazer de me livrar de seus cigarros.

– Eu estava a ponto de ligar pra polícia. – completei, encarando Remus seriamente. – Stebbins devia ser preso pelo crime de assassinar Paradise do Coldplay. É a música de ninar do Príncipe George, você sabia disso? Que espécie de patriota é você? Imagine se a Rainha nos convidar de novo para cantar pra ela, como podemos levar o assassino da música favorita do futuro Rei?!

Ao nosso lado, Remus bufou e resmungou algo sobre sermos dramáticos demais, mas eu decidi não escutá-lo. Procurei com os olhos por Peter e o vi sentado praticamente no outro lado do quarto e percebi que ele parecia alheio a nossa discussão e ao atual drama que os Troublemakers estavam passando.

Bem, ele era um Troublemaker agora e todos os rapazes tinham voz nesse grupo, todos aqui tinham solos, todos aqui faziam por merecer o posto que tinham. Era hora de fazer Peter se envolver e se sentir incluído.

– Ei, Pettigrew... – chamei-o e ele levantou a cabeça para me encarar. – O que achou das audições?

– Hum... Quando aquele garoto ruivo, Dean, tentou aquela nota alta, eu achei que a janela fosse quebrar.

Nós rimos e ele sorriu, ficando um pouco vermelho. Ele parecia ser um garoto meio sozinho, sem muitos amigos.

Eu sei que às vezes a Eton College pode ser horrível com seus uniformes arcaicos e regras rígidas, mas aqui dentro nós todos temos o mesmo valor – com exceção de mim, já que sou claramente um indivíduo altamente capacitado e superior e com um timbre que provavelmente faz o Fred Mercury se contorcer em seu caixão, então eu meio tenho uma autorização para descriminar quem eu quiser. De qualquer forma, aqui na Eton nós nos tratamos como irmãos e os Troublemakers em especial sempre protegem os seus.

Sei que posso parecer um babaca na maior parte do tempo e diabos, até meu melhor amigo diz que eu sou um babaca, mas eu tinha um voto com esse grupo. E eu cumpria a minha parte. Eu não permitiria que Peter se sentisse por fora e também não permitiria que nada o atingisse.

A parte boa de ser um Troublemaker é que na Eton nós somos celebridades, portanto somos inalcançáveis. Mas sempre tem um idiota invejoso (cof cof Snape) que tenta denegrir nossa imagem.

Bem, embaixo da minha asa Peter estaria seguro. Até porque eu logo daria um solo de iniciação para ele – faz parte do processo – e ele também seria querido e amado por todos os caras da Eton.

– Pete, escute... – comecei lentamente. – Eu sei que no seu outro colégio as pessoas podiam ser bem horríveis com você. Não estou dizendo que a Eton é livre de imprestáveis, pois não é. Em breve você terá a infelicidade de esbarrar com o Ranhoso por aí... Mas nós cuidamos uns dos outros aqui, entende? A parte boa de ser um Troublemaker é que você geralmente nunca está sozinho.

Fez-se silêncio. Eu não sei exatamente o que me levou a dizer isso, mas a parte de ser tão envolvido com artes é que se fazia possível que eu lesse as emoções das pessoas e eu podia ver em Peter que ele era tão calado e tímido porque tinha sofrido.

Talvez por ser acima do peso? Talvez ele fosse bolsista? Talvez fosse...

– Eu sou gay.

As três palavras simplesmente pareceram escapar dele, logo em seguida colocou a mão sobre a boca e eu percebi que os olhos castanhos amendoados estavam cheios de lágrimas. Senti-me logo complacente com sua situação.

Mesmo em pleno século XXI há ainda um longo caminho a ser percorrido na luta contra a homofobia. Eu podia imaginar o que esse garoto passava porque mesmo que eu não fosse gay, eu já havia sido chamado disso. Demorou um longo tempo para que as pessoas parassem de me enxergar superficialmente – o garoto que cantava notas altas e dançava balé e sapateado.

Às vezes as pessoas podem ser muito más, talvez por isso eu também tenha ficado assim. As pessoas na minha jornada até o que eu sou hoje, foram muito, muito más comigo. As crianças me evitavam, fazendo com que eu crescesse cercado dos amigos dos meus pais e não de pessoas da minha idade.

Eu sabia e provavelmente compreendia mais que qualquer um naquele quarto.

– Não é só sobre isso... – ele encolheu os ombros. – Eu sei que posso ter feito coisas ruins. Sabe, eu fui expulso do meu outro colégio pra ser sincero. Só me aceitaram aqui porque meus pais fazem parte... Bem, eles fazem parte da roda.

Sirius e eu acenamos com a cabeça. Nossa família em si fazia parte da roda de aristocratas que Peter se referia.

– Eles eram tão ruins e aquilo me chateava tanto. – explicava-nos. Àquela altura eu sabia que ele estava se controlando para não chorar. – Sabe, muitas vezes eu pensei em simplesmente acabar com aquilo. Acabar de vez com o meu sofrimento, se é que me entendem...

Senti meus pelos se arrepiarem e ao olhar ao redor percebi que eu não era o único que parecia comovido com o que Peter nos confidenciava. Sirius estava impassível, mas engolia em seco o tempo inteiro. Remus dava tapinhas nas costas de Peter tentando confortá-lo, enquanto Frank pela primeira vez naquela noite havia parado de trocar mensagens com sua namorada Alice, para escutar o que Peter dizia.

– Por que você foi expulso, Peter? – perguntei.

Eu talvez estivesse cruzando aquela barreira chamada ‘limites’, mas eu não me importava. Não se existiam segredos entre nós, aqui sabíamos cada coisa suja e ruim que o outro havia feito.

Nenhum de nós aqui era santo. Quero dizer, eu admito ter furado os pneus da van das Rouxinóis só para ter o gosto de vê-las perderem as regionais, mas aquelas desafinadas infelizmente apareceram para a competição – não que a presença delas tenha sido relevante, porque nós as massacramos.

Sirius já havia roubado a lista de músicas do coral da Harrow na época das seletivas – o irmão dele estudava lá – e embora eles não fossem competir conosco, tivemos a felicidade de dar a lista deles para os outros corais que iriam competir. Então não era nossa culpa que a Harrow tivesse perdido, nós apenas nos certificamos que os outros corais tivessem meios para derrota-los.

O Frank aqui também, embora namorasse uma Rouxinol, na época que ele estava revoltado que Alice tivesse terminado com ele, havia nos ajudado a jogar ovo nelas – é quase tradição gente, o que me deixa triste é que com o fim do grupinho da Evans e suas desafinadas é que não terei mais a felicidade de jogar ovo nelas.

Remus gostava de bancar o santo, mas ele já fingiu vários ataques de asma para nos livrar de problemas – como quando Filch nos pegou surrupiando comida da cozinha de madrugada, porque estávamos fazendo treinamento intensivo.

Enfim, vê? Ninguém aqui está em posição de julgar – com exceção de mim, por motivos que eu expliquei antes. Eu sou incrível, pois é, desculpa.

– O nome dele era Austin Abraham. – murmurou. – Na outra escola nós tínhamos um chat e ele descobriu meu login de alguma forma. Usou outra foto, outra conta e basicamente ficou dando em cima de mim e nos aproximamos. Eu estava verdadeiramente feliz, porque éramos próximos e eu... Eu...

– Você se apaixonou. – amigavelmente Remus disse.

– Sim. – Peter acenou com a cabeça, evitando nos encarar e ficando sem graça obviamente. – Eu achava que era o único gay no colégio. Ao menos eu era o único assumido e conhece-lo fez com que eu me sentisse mais seguro e na verdade, nos dávamos tão bem e tudo mais. Quando eu o questionei se podíamos nos conhecer pessoalmente, assegurei-o que independente da aparência dele eu não iria julgá-lo, porque ele sabia quem eu era e eu não sabia quem ele era. Marcamos o encontro e foi então que o Austin apareceu.

Peter não mais segurava as lágrimas. Eu me sentia levemente desconfortável, porque embora eu seja artista, eu não sei lidar bem com pessoas chorando – felizmente Remus está aqui, esse cara é mestre de lágrimas. Eu mesmo já chorei no ombro do Aluado, assim como Sirius e Frank e provavelmente todos os caras da Eton. Porque todo mundo gosta do Remus e concorda que ele é a melhor pessoa daqui.

Depois de mim, só pra constar.

– Eu estranhei, porque ele particularmente sempre havia sido terrível comigo. Mas daí, não só ele apareceu, o resto do time de rugby foi aparecendo e eu queria não acreditar... Mas logo ficou bastante óbvio.

Catfish. – murmurei.

– Sim. O autor da brincadeirinha tinha sido Austin, mas ao que ele explicou eu havia conversado com todos eles. – chorava Peter. – Eles estavam me filmando e eu me sentia tão mal, tão humilhado. Todos rindo e lendo histórico das minhas conversas, das coisas que eu disse, coisas pessoais que eu confidenciei acreditando que fosse uma pessoa real.

“Quando eu contei aos meus pais, eles foram ao colégio no mesmo dia e relataram tudo. Disseram que estavam cansados, que eles pagavam por um quarto individual pra mim porque o meu outro companheiro de quarto me ridicularizava para meus colegas, mas o diretor disse que depois de analisar o vídeo, ele não via como se os rapazes tivessem me ridicularizado. Nenhum deles me bateu ou me xingou no momento, apenas riam de mim e na concepção do diretor nós ‘éramos jovens e eu provavelmente nem mesmo era homossexual, só estava me rebelando porque é isso que jovens fazem’”.

– Isso é ofensivo! – eu bradei um pouco revoltado. – Ninguém se torna homossexual. As pessoas nascem assim!

– Foi isso que tentei explicar e ele não me deu ouvidos. De qualquer forma, meus pais tentaram me transferir para cá, mas como já havia começado o ano letivo, não havia a possibilidade e nem vaga. Colocaram meu nome na lista e disseram que correndo tudo bem, eu poderia me transferir no segundo semestre. – prosseguiu Peter. – Mas eu estava tão triste, tão irritado com todos. Eu sabia que iria me arrepender depois, mas na hora parecia tão certo.

Havia tanto ódio e dor nas palavras dele que eu senti meus pelos se arrepiarem.

– Abraham sempre era o último a sair do vestiário porque ele é o capitão do time. E ele sempre fica até mais tarde organizando tudo, mexendo com a tesouraria e etc. – Peter fungou limpando o nariz e as lágrimas na manga do uniforme. – Eu era do time de golfe... Peguei meu taco e o esperei na porta. Quando ele passou eu...

Eu já podia imaginar e fechei os olhos tentando evitar que a cena me cruzasse a cabeça.

– Eu bati nele. Muito. Eu berrava e gritava com ele. Bati nele até me dar conta que ele havia apagado e logo quando eu percebi o que havia feito e também o sangue no chão, eu fui atrás de ajuda.

Há uns anos atrás havia acontecido algo assim aqui no colégio. Homofobia não era tolerado na Eton desde que um aluno em 1997 havia se suicidado por ter sido feito de chacota pelos colegas.

O diretor do nosso colégio, professor Dumbledore é homossexual. Ele é muito discreto e também é solteiro, porque segundo ele seu compromisso amoroso mais sério é em moldar nossas mentes. Ele era provavelmente o homem mais sábio que eu conhecia e havia recebido uma medalha da Rainha por contribuições históricas e culturais.

A Eton não é famosa apenas por termos tido vários grandes nomes estudando aqui. A política daqui é extremamente rigorosa, em particular com relação a homofobia.

– Ele não morreu. – completou Peter. – Nem passou perto, mas eu o machuquei muito. Com muito custo os pais dele não prestaram queixa, mas foi por um fio. Entretanto eu fui expulso ou como eles dizem fui convidado a me retirar.

– E aí? O que você fez? – replicou Sirius.

– Terminei o ano estudando em casa com um tutor porque nenhum outro colégio queria me receber. Não surgiu a vaga na Eton no segundo semestre e eu só entrei aqui esse ano com muito esforço dos meus pais. – finalizou. – Minha mãe foi a que teve mais receio em me deixar vir pra cá, ela queria que eu continuasse em casa, mas meu pai disse que me isolar não era a saída.

– Não mesmo. – Remus almejava se especializar em psiquiatria então ele adorava bancar o terapeuta. – Não é você que tem que mudar e se enquadrar nos padrões da sociedade, eles é quem têm que aceitar você como verdadeiramente é, Peter.

– Olha, eu não posso falar pelos outros, mas aqui eu posso garantir que você não será menos que extremamente bem tratado. – dizia Sirius. – Sério, eu sei que tenho cara de cu, mas pergunte pra quem quiser, ninguém vai te chamar de ‘veado’ na minha frente sem levar um soco.

O irmão mais novo de Sirius é homossexual. E na metade do tempo Sirius está preocupado com o preconceito que Regulus sofre na Harrow e na outra metade está se certificando de socar qualquer um que ouse tentar machuca-lo.

Como o próprio Sirius disse, ele tem mesmo essa cara de cu terrível e ele consegue ser mais arrogante que qualquer um de nós, porque cá entre nós simpatia não é mesmo a praia dos Black, mas ele não é um cara ruim. Ele também é um dos melhores caras que eu conheço, não é à toa que é meu melhor amigo.

De qualquer forma, o comentário de Sirius fez Peter rir e todos nós estávamos meio que rindo. Eu estava pensando ainda no que dizer para Peter...

Eu não era bom com palavras de conforto. Tudo o que eu sei é que eu queria que ele se sentisse bem no meio de nós, que ele soubesse que nós não o julgávamos e que aqui na Eton bastava para nós que ele fosse ele mesmo.

Geralmente quando eu não sei o que dizer... Eu canto.

(N/A: https://www.youtube.com/watch?v=Th5VrhJffic)

– Made a wrong turn

Once or twice

Dug my way out

Blood and fire

Dei uma olhada para Sirius, Frank e Remus. O último foi o primeiro a sorrir e dar sequência na música que eu cantava – até porque se dependesse de Remus nós faríamos um tributo a Pink em toda competição que participávamos, ele era sempre o primeiro a sugerir uma música dela.

– Bad decisions

That's alright

Welcome to my silly life

Fiz sinal com a cabeça para que ele prosseguisse, enquanto olhei para os rapazes. Fiquei feliz que Sirius estivesse com o violão em mãos ainda, pois ele agora nos dava suporte musical – mas sem dúvidas dentro de algumas estrofes ele iria reivindicar a parte ‘falada’ da música.

– Mistreated

Misplaced, missunderstood

Miss know it, it's all good

It didn't slow me down

Olhando para Peter, percebi o quanto aquilo significava para ele. Em todos os sentidos.

– Mistaken

Always second guessing

Underestimated

Look I'm still around

Ao chegar o refrão com os olhos eu disse a ele que devia cantar conosco.

– Pretty pretty please

Don't you ever ever feel

Like you're less than, less than perfect

Pretty pretty please

If you ever ever feel

Like you're nothing

You're perfect to me

Sem querer parecer sentimental, mas eu amava estar ali. Eu amava estar ali com aqueles caras fazendo o que eu mais gostava no mundo que era cantar. Se há uma coisa que unia as pessoas era a música... Eu não conseguia entender porque tanta gente enxergava o glee club como algo ruim, quando o que fazíamos ali era algo tão bom, tão puro.

Quando cantávamos expúnhamos nossa alma. Quando cantávamos, embora eu passe a maior parte do meu tempo chamando as pessoas de desafinados e taquara rachada, eu não estava julgando nenhum deles.

– The whole world is scared

So I swallow the fear

The only thing I should be drinking

Is an ice cold beer. – como já era esperado, Sirius reivindicou a fala da música e tentou dá-la uma pegada mais rap. Deus, não funcionou, deviam proibir britânicos de cantarem rap.

– So cool in lying

And we tried tried tried

But we try too hard

It's a waste of my time

Done looking for the critics

Cause they're everywhere

They don't like my jeans

They don't get my hair

No fundo, Sirius reivindicou essa parte porque ele se identificava. Ele se identificava porque em casa ele se sentia como Peter no seu antigo colégio. Como se não se encaixasse, porque não importa o quanto ele tentasse, ele não era bom o suficiente.

A família dele não entendia seu comportamento rebelde. E Sirius só continuava lá porque sentia que tinha que proteger Regulus, porque se eles soubessem... Deus, se os Black soubessem sobre Regulus, eu não sei o que fariam.

Minto, sei o que fariam. Mas não quero sequer imaginar.

– Stringe ourselves

And we do it all the time

Why do we do that? Why do I do that?

Why do I do that?

Por quê? Por que fazíamos aquilo?

Yeah! – minha especialidade, notas altas. - Oh pretty pretty pretty!

Cabia a Remus então finalizar a música. Eu sabia que cantar Pink não resolveria os problemas do mundo, mas eu esperava que pelo menos fosse capaz de resolver parte dos problemas de Peter Pettigrew.

– Pretty pretty please

If you ever ever feel

Like you're nothing

You're perfect to me...

XXX

Após fazer meu sagrado desjejum, eu tenho hábito de passar na cozinha e convencer a senhorita McGuire a me dar uma colher de mel – faz bem para as cordas vocais e eu sou uma pessoa precavida, nunca se sabe quando vai ter que fazer uma performance de última hora. Anotei mentalmente que fazia bastante tempo que Sirius e eu não interrompíamos a aula para cantar alguma coisa para nossos colegas e que provavelmente devíamos dar uma animada na aula de História hoje.

No meio do caminho para as classes eu fui notificado que o professor Dumbledore queria me ver em seu gabinete. Olha, eu achei aquilo estranho. Tipo, eu juro que não aprontei nada ainda! Tenho andado tão ocupado com o glee club nos últimos dias que apenas hoje, depois de três semanas após o início das aulas, que eu marquei o primeiro treino de rugby – graças aos céus não precisamos de novos integrantes, eu não preciso de mais dor de cabeça.

De qualquer forma, fui para o gabinete do diretor na cara e coragem. Bati na porta e escutei o suave ‘entre’ do velhote barbudo que me aguardava.

– Bom dia, professor. – eu disse dando meu melhor sorriso.

Minha mãe vive dizendo que a minha maior arma é meu sorriso de dez mil libras – acredite, um sorriso tão perfeito, reto e branco como o meu custa caro. Especialmente se você tinha dentes iguais aos meus antigamente. Um artista como eu não pode ter dentes menos que esplêndidos, por isso minha mãe convenceu meu pai que valia a pena pagar um bom tratamento ortodôntico pra mim, embora na verdade ela tenha o dito que ‘o futuro duque de Clarence’ não pode ter dentes feios.

Bem, o atual duque de Clarence tem dentes horríveis. Pois é, desculpa pai.

– Bom dia, senhor Potter. – o professor sorriu de volta e aquilo me deixou muito mais aliviado. Ele mostrou a cadeira que eu geralmente ocupava quando os professores se cansavam da minha cantoria e me mandavam ‘ir cantar para o Dumbledore’. – Sente-se, por favor, meu jovem.

Acenei com a cabeça e tirei a alça lateral da minha bolsa de colégio e caminhei até cadeira, sentando-me elegantemente e colocando a bolsa no chão. Depositei as mãos no meu colo e aguardei a espera que o diretor falasse algo.

– Senhor Potter, como anda o coral? Eu ouvi falar que o senhor estava fazendo as audições e nós sofremos grandes perdas neste ano. – começou ele.

– Ah... – eu dei de ombros. – Bem, nós precisamos de mais seis integrantes, diretor. Até agora em sessenta inscritos, eu consegui apenas um novo integrante para completar o número requerido para as competições do show choir.

– Um, senhor Potter? – o diretor me olhou aturdido.

– Um. – acenei com a cabeça e suspirei. – Professor, eu sei que posso ser um pouco exigente e difícil de ser impressionado, mas eu não gosto de intermédios. Comigo ou é oito ou oitenta. Ou você não presta ou você arrasa no que faz. Eu tenho cantando comigo os melhores e apenas eles.

Sei que na maior parte do tempo eu ajo como um prepotente e arrogante, mas naquele momento eu não estava sendo nada mais que sincero. Eu não diria ao Dumbledore que estava satisfeito e que tínhamos bons cantores, porque senão eu estaria mentindo.

Na noite de ontem após todo aquele falatório emocional sobre Peter e etc, nós chegamos à conclusão que iríamos fazer uma segunda seleção. Começando do zero! Colocaríamos a folha de inscrição no quadro de avisos e pediríamos que as pessoas se inscrevessem, esperávamos que isso encorajasse alguém que nunca tivesse feito um teste para os Troublemakers. Eu tinha esperanças de que talvez algum calouro se interessasse, embora não estivesse tão certo de que qualquer um deles estivesse com a voz e afinação no ponto certo.

Que dor de cabeça, que problemão. Eu sei alguns colégios costumam oferecer bolsa para pessoas com talentos como o meu, mas estava muito em cima da hora para ficar procurando garotos promissores e afinados na internet e convencê-los que estudar num colégio interno só para meninos era uma boa ideia!

Ah céus, não é à toa que Simon Cowell tem aquele péssimo humor. Escutando tanta gente ruim todo dia, todos eles pensando que sabem cantar e que podem ser estrelas do rock um dia, deve ser baita estressante. Eu já estou precisando de um chá de camomila e olha que tem três dias que estou lidando com a politicagem do coral.

– Senhor Potter, você é líder do coral há muitos anos. De fato foi o líder mais jovem do coral que já houve neste colégio e tem feito um excelente trabalho. Eu confio no senhor e sei que em breve terá a solução para os problemas dos Troublemakers.

Sorri amarelo. Eu não estava nem perto de achar a solução para os problemas de caspa do Frank. Que dirá dos Troublemakers...

– Estou dando meu melhor professor. – eu disse, pigarreei logo em seguida. – Então, chamou-me aqui apenas para discutir sobre as audições terríveis de ontem?

– Ah, eu já ia me esquecendo. – o diretor começou a rir e eu dei uma risadinha só pra não deixá-lo sem graça. – A cabeça de um velho, James. Desculpe-me.

– Sem problemas. – assegurei.

– Então, os acionistas da Eton College e da St. Mary School, junto com investidores, patrocinadores e enfim, toda essa gente requintada e importante que você já conhece, eles virão este final de semana para a cidade. Nós, junto com a St. Mary School estaremos fazendo um coquetel no Teatro Rei Henry VI e nós gostaríamos que vocês, os Troublemakers e as Rouxinóis se apresentassem.

Prendi o riso quando o diretor as mencionou. Eu ainda estava gargalhando de alegria pelos cantos desde a notícia que aquele era provavelmente o fim delas.

– Claro, senhor. – sorri. – Vai ser um prazer. Escolheremos uma música bem alegre, é sempre uma honra nos apresentarmos para as meninas da St. Mary School e também para os superintendentes.

– Tenho certeza que sim. Enfim, vocês fariam a abertura, as Rouxinóis entrariam em seguida e pra fechar queríamos que vocês fizessem um número juntos.

Senti meus olhos saltarem pelas orbes e meu queixo atingir o chão quando o diretor proferiu aquelas palavras.

MAS QUE DIABOS ESTAVA ACONTECENDO COM O UNIVERSO?!

– Desculpe? – eu perguntei rindo.

– Uma performance, senhor Potter. Os Troublemakers e as Rouxinóis irão fazer a performance de uma música juntos... Sabe, desde que essa ridícula rivalidade entre os dois grupos começou com o senhor e a senhorita Evans, pôs-se fim a tradição de ambos corais dos colégios irmãos de fazerem números juntos. Era sempre muito agradável, lembro-me de Andromeda Black e Ted Lupin terem uma química fantástica em palco, os dois inclusive estão casados hoje em dia. Eles eram os líderes de seus respectivos corais.

Eu gargalhei. Seja lá o que Dumbledore quisesse dizer com aquilo, eu só consegui me lembrar do fiasco que foi cantar Summer Nights com a Evans e dela sair correndo do palco. Enfim, seja lá o que houvesse entre mim e ela definitivamente não era uma química fantástica.

Ela era insuportável e nariguda. Além de que ela tinha 1,55 dá pra acreditar? Você pode me imaginar dançando com uma garota desse tamanho? Claro que não! É totalmente desproporcional!

– Senhor, olha, eu detesto desapontá-lo ou aos investidores, mas é que está meio em cima da hora, sabe? – desconversei, rindo nervosamente. – Digo, o final de semana está aí, até colocar os dois grupos em perfeita harmonia...

– Senhor Potter, saiba que não é uma sugestão. – ele me encarou daquele jeito e eu senti como se estivesse tendo minha alma completamente despida e arrancada do meu corpo. – Eu estou lhe comunicando assim como a diretora McGonagall está fazendo o mesmo, dizendo as meninas dos planos para este domingo.

– Domingo, é? – eu ri coçando a nuca. – Mas não é dia de louvar o senhor Jesus? Não é dia pra descansar e ir à igreja? Eu sempre vou a capela do campus.

– Para sua sorte, senhor Potter, o coquetel será a partir das seis horas da noite e a missa aos domingos é as dez da manhã. Não será problema.

– E o coquetel não terminará muito tarde...? Podendo prejudicar meu rendimento em sala de aula? – fiz uma última tentativa.

– Senhor Potter, sinta-se livre pra tirar a parte da manhã de segunda-feira de folga. – o professor Dumbledore soltou um longo suspiro cansado. Ele provavelmente percebeu que eu queria me livrar daquele grande problema que ele havia jogado pra cima de mim.

Cantar com a Evans e o bando de desafinadas. Era só o que me faltava.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Não se esqueçam de deixar a opinião de vcs, significaria muito pra mim. Beijos.



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