No Universo de Anna escrita por Red Queen


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês!!!
Capa nova galera, e vou adorar saber o quê acharam desse capítulo.
BOA LEITURA!!!! ^.^



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Capítulo 4 - O Estágio

Hoje de manhã, quando minha mãe foi me buscar na escola, ela meio que sugeriu que estava na hora do primeiro emprego...

“Sabe eu estava olhando uns estágios no jornal, e encontrei um perfeito pra você, filha”, ela disse isso com um sorriso enorme no rosto em meio às buzinas.

“Não estou interessada. Não é você mesma que diz que devo me concentrar ao máximo nos meus estudos? É o que vou fazer. Um emprego iria me deixar cansada e indisposta para os estudar”, digo triunfante. Isso que eu disse não é história, tem uma pesquisa que comprovou que estudantes que trabalham ficam mais cansados na hora dos estudos. Eu só usei os dados ao meu favor...

“Não se preocupe com isso. Esse estágio vai ser apenas nos períodos de férias. Então não vai interferir nos seus estudos”

Que droga! Como assim eu vou ter que trabalhar nas férias? Tudo bem que eu sou uma filha pidona, mas, isso já é demais. TRABALHO INFANTIL! Tudo bem, eu não sou crianças, mas, TRABALHO ADOLESCENTE!

“Mãe? Pirou? Eu não vou trabalhar, muito menos nas férias! Férias é pra descansar, descansar entende? Trabalhar não! Dormir sim! Assistir séries sim! Trabalho não! Entendeu a diferença?”

“Filha vai ser bom pra você! Vai ganhar o seu próprio dinheiro! Comprar o que quiser sem precisar pedir”, até parece que o meu pai vai me deixar comprar o quê eu quiser. Quando eu quis comprar o pomo de ouro que estava na promoção para enfeitar a minha estante, ele dize que não ia deixar eu gastar dinheiro com bobagens, “ Eles pagam meio salário e o expediente é de terça à sábado das 17:00 às 21:00 horas”

“O quê meio salário?!”, eu grito.

Já estava com vontade de chorar e bater o pé no chão, mas infelizmente não dava pra fazer isso dentro do carro.

“Isso é mais que o suficiente para uma adolescente de 16 anos. O quê vai fazer com um salário inteiro? Você tem uma família pra sustentar? Não! E não é emprego é estágio! É uma lei que não se paguei mais de meio salário para estagiários menores de idade. E também depende do estabelecimento, a maioria não quer pagar para um estagiário um salário inteiro.”

“Aí que saco mãe! A senhora me coloca em cada uma! Nas férias mãe.... NAS FÉRIAS?!?!”

“Sim, nas férias. Você não faz nada de útil nas suas férias: dorme o dia inteiro, não sai do zapzap, só levanta pra comer e reclamar que não tem nada pra fazer. Acho que cumpri o meu papel de mãe e arrumei algo pra você fazer”

“Mãe aquilo que eu dizia sobre nada pra fazer era brincadeira, não acredito que levou a sério!”

“Já chega Anna! Eu e seu pai já decidimos!”

“Ótimo... vocês decidem e eu trabalho. Nada mais justo.”, digo com um tom sarcástico.

“Vai trabalhar só cinco dias por semana. Acho que é muita folga. Além do mais são só 4 horas por dia, não é como se fosse trabalho escravo e você nem me deixou terminar...”

“Claro que não deixei, mãe! Eu não vou. Não podem me obrigar!”

“Podemos sim.”, eu reviro os olhos. Aquilo era muito injusto.

Ok? Colocar as informações em ordem. Faltam duas semanas para acabar as aulas e chegar as férias do meio do ano (saudades das férias que o maior trabalho que eu tinha era levantar da cama e ir para a geladeira). Então eu tenho duas semanas INTEIRAS para convencer os meus pais que sou uma pessoa madura e que não preciso de um estágio para provar a minha responsabilidade! Perfeito!

“Quando eu chegar no escritório vou ligar para o teatro para te inscrever”

“Teatro? Vou ser atriz agora? Nossa tudo que eu sonhava”, digo zangada.

“Se você deixasse eu terminar de falar saberia que não é no teatro. É no planetário. Que está sob a responsabilidade do teatro que também está responsável pelas inscrições dos estagiários”

“Não venha tentar me subornar. Se você acha que só porque é no planetário, você está muito enganada. Eu gosto de ir pra lá como observadora: olhar o céu com o telescópio, ver os mesmo filmes repetitivos, olhar os mapas que ficam colados no teto como se estivéssemos vendo o céu estrelado que não existe aqui na cidade. SÓ! E não ir pra lá como uma trabalhadora disposta a ganhar um meio salário”

Quando terminei de dizer isso, chegamos na frente do nosso condomínio.

“ Não quero que faça isso pelo salário, e sim pela experiência. Bom almoço filha. E diga pro seu pai que mandei um beijo”, desço do carro e bato a porta com força. Não olho pra trás.

Como ela podia fazer aquilo comigo? Será que eu estava sendo punida por algo que agora eu não lembro? Sei lá, mas eu não iria trabalhar nesse planetário nem se me pagassem um salário completo!

O Seu Toninho, o porteiro, assim que me viu abriu os portões e disse um bom dia.

Desde quando às 13:05 ainda é dia?

Será que duas semanas são suficientes para eu conseguir convencê-los?

Acho que sim... com a minha simpatia e disposição creio que vai dar tempo. TEM QUE DAR!

Abri a porta do apartamento com as minhas chaves e fui recebida pela minha cadelinha a Sunny, ela é a Pug mais fofa dessa terra.

*

Ganhei a Sunny no dia das crianças quando eu tinha doze anos. O meu tio Afonso chegou com um caixa colorida e uma enorme fita no centro. Eu esperava uma Barbie, mas a minha surpresa ao encontrar uma filhotinha de Pug bem pequenininha lá dentro. Desde pequena eu sempre quis criar um cachorro, mas meus pais vinham com aquela velha história “Moramos em um apartamento, aqui é muito pequeno pra se criar um cachorro!”.

Quando o tio Afonso trouxe a Sunny pra mim foi amor à primeira vista. Ela pulou da caixa para o meu colo e começou a me lamber. Seus pelos eram macios e seu focinho geladinho. Simpática que só ela nunca havia visto, por isso o nome Sunny (ensolarado, radiante).

Minha mãe não aceitou de primeira. Assim que o meu tio foi embora ela disse pro meu pai tratar de encontrar um lugar pra aquela cadelinha morar. Comecei a chorar e peguei Sunny no colo e me tranquei no quarto.

Fiquei repetindo “Não vou deixar que te levem embora. Nunca”, repetia isso embaixo dos lenções.

Após passar um tempo chorando e Sunny dormindo, meu pai bate na porta e diz pra que eu não me preocupasse. Tinha convencido a minha mãe a aceitar a pequena em casa. Com algumas condições que fiz questão de anotar e pregar com ímã na geladeira:

1 – Levar pelo menos cinco vezes por semana a Sunny para passear.

2 – Adestra-la (sentar, se fingir de morta, dá a batinha)

Obs: Meu pai comprou uns livros de adestramento pra mim, e foi bem fácil adestra-la, Pug tem temperamento calmo e dócil, então não tive problema.

3 – Ensina-la a não latir para as visitas.

Obs: A Sunny não teve esse problema, nunca teve mania de latir pra ninguém.

4 – Limpar xixi e cocô dela.

Obs: Esse tópico eu não gostei muito, mas depois dos meses quem limpava era quem avistou os detritos primeiros. Isso teve problema... Quem via fingia não ver.

5 – Ensina-la a não morder sandálias, chinelas, sapatos, meias, o pé do sofá. (a única coisa que a Sunny nunca parou de morder foi as sandálias da minha mãe, algo que minha mãe usa até hoje para me chantagear...)

Após concordar com todos os itens da lista, meu pai disse que a Sunny podia ficar.

*

Entro no apartamento e jogo a mochila em cima do sofá, coloco aquela peludinha nos meus braços e procuro meu pai no apartamento. Sinto um cheirinho bom vindo da cozinha.

Meu pai estava mexendo em algumas panelas no fogão e estava suando com aquela situação. Na verdade meu pai gosta de cozinhar, ao contrário da mamãe que não gosta (mas quando cozinha fica uma delicia.)

“Oi pai! Que história é essa de planetário?”

“Boa tarde filhinha. Sua mãe já te contou foi?”

“Já. Já contou sim”, falo com raiva, “E não gostei nem um pouco”

“Sério? Pois eu jurava que você iria adorar por ser no planetário”, ele diz surpreso tirando as luvas com desenhos de galinha.

“Pai eu gosto do planetário, mas eu gosto de ir pra lá olhar os mapas, ver as simulações e os vídeos e ir embora. Só. Não trabalhar nas FÉRIAS” , digo a última palavra com um tom mais alto, “Cinco dias por semana!”

“Vai ser bom pra você”

“Está parecendo a mamãe falando...”

“Veja isso como uma oportunidade! Vai aprender muito mais sobre astronomia. Vamos lá Anna, você não faz nada de útil nas férias. Vai trabalhar com algo que você gosta”

“Porque será que eu acho que esse papinho de ‘Anna é no planetário. Você AMA astronomia’ é apenas uma desculpinha besta para me convencer a trabalha? E eu não vou aprender nada! Já sei as legendas dos vídeos de có de tanto ouvir aquilo!”

“Eu realmente achei que você ficaria animada com a ideia”

“Pois não fiquei e não vou trabalhar lá. Vou logo avisando....”, digo enquanto abro o móvel que tem a ração da Sunny. Coloco no seu pratinho rosa cintilante. “Almoço, Sunny”, grito.

“Não vai atrapalhar a sua programação das férias”

“Pai são cinco dias por semana com duração de 4 horas. 4 horas. Isso é o suficiente para eu desistir. E isso não é uma oportunidade para adquirir conhecimentos como você tanto fala! Vou apenas colocar aquele maldito vídeo pra tocar e ajudar aquele cara que provavelmente é o faxineiro a explicar os mapas”

“Que cara?”, meu pai pergunta meio confuso.

“Um que sempre repete o mesmo texto decorado antes do filme”

“Aquele é o faxineiro?”

“Acho que é. Enfim, isso não vem ao caso”, digo, “Você e a mamãe só querem se livrar de mim nas férias. E MEIO SALÁRIO, PAI? MEIO? Eu não estou de esmola não”

“Não queremos que faça isso pelo dinheiro, filha...”, eu o encaro horrorizada. Ele coloca dois pratos na mesa da sala de estar e eu o sigo.

“O que vocês querem que eu faça pra não fazer isso? Tirar dez em todas as provas? Se for isso é só me dizer, a semana de provas já é nessa semana”

“Você deve tirar dez em todas as provas, não faz mais que sua obrigação. Você só estuda, o que falta pra tirar todos esses dez?”

Reviro os olhos.

“Quem me dera fosse fácil assim...E pelo visto agora não vou só estudar não é? Faço parte da casta trabalhadora agora.”, aquilo doeu nos meus ouvidos.

“Então como foi o seu dia?”, ele pergunta feliz. Mas eu conheço essa estratégia: tentar desviar o rumo da conversa para eu esquecer o motivo das discussões e BUM ele ganhar o que quer.

“Estava tudo normal, até que apareceu uma Cumulonimbus* e acabou com o meu dia”, digo tentando me distrair com o sarcasmo, as vezes ajuda.

Após almoçar fui tirar minha soneca diária, mas antes verifiquei o whasapp, mas nada de interessante.

13:55 – Marina: Me passa o roteiro de história e sociologia pf!

14:03 – Eu: História caps 11, 13, 14 e 17.

Sociologia caps 3, 4 e 5.

Antes de dormir lembrei-me do sábado que acordei às seis da manhã no ano passado.

Eu e a Micaela tínhamos tomado o nosso café da manhã e enquanto ela tomava banho pensei em olhar a foto que o tal Harry W tinha me dado.

Porém não ousei olha-la. Estava receosa, com medo. Talvez até chateada, analisei os fatos:

1 - Qual a chance de o ver novamente? Nenhuma! E também não estava interessada. Eu nem sequer o conheço. Na certa é um playboyzinho metido a fotógrafo que estava precisando descolar uma grana para bancar uma festa.

2 – Se eu pesquisei ele no Google e não o encontrei, só tem uma razão: Destino! (não acredito em destino, mas naquela manhã estava rezando pra que ele existisse).

Como pode ver... Eu nunca mais o veria. Estava tentando acreditar naquilo com todas as minhas forças...

Andamos de bicicleta durante uma hora. Não estava acreditando que iria passar quase uma semana sem ver a Micaela.

Minha mãe foi me buscar no apartamento umas duas horas da tarde. Me despedi da Micaela com uma abraço forte, porque certamente não iriamos nos ver pessoalmente até o retorno do cruzeiro.

Quando cheguei em casa naquele dia corri para o meu quarto para olhar melhor a foto. Coloquei minha mochila em cima da cama e abri o zip dela procurando desesperada a fotografia.

Quando a achei no mesmo lugar que a tinha colocado na noite passada, não sei por que pensei que ela não estaria lá. Peguei a foto com a maior delicadeza.

Observei cada detalhe: o sorriso dele, a forma como os olhos dele brilhavam (talvez fosse só o flash), as suas roupas...Estava usando uma xaqueta de couro, cachecol com listras horizontais (vermelhas, cinzas e pretas), e blusa branca. Estava com tanta raiva por ele ter sido meio que metido, que nem notei muito como ele era. Reparei mesmo só no rosto superficialmente.

Mas consegui ver melhor naquela foto e nossa, ele era mais bonito do que eu me lembrava.

Sorriso de basta de dente, o cabelo meio despenteado (mas tenho certeza que foi bem ele foi bem escovado).A sua mão no meu ombro, enfim estávamos felizes. Pelo menos na foto.

Sorri com a lembrança daquele rapaz.

Mas o meu problema era outro: onde colocar a foto?

Queria em algum lugar que eu conseguisse ver sempre, mas que passasse despercebido pra qualquer um que entrasse no quarto. Se minha mãe visse aquilo iria fazer um monte de perguntas, para evitar isso é melhor procurar um cantinho discreto. Adoraria colocar no meu mural de fotos mas, minha mãe parece que trabalha no F.B.I, qualquer coisinha fora do lugar ela percebe.

Peguei um porta retrato vazio e tirei a foto que tinha nele e coloquei essa minha com o Harry.

Não me pergunte por que tanto carinho com essa foto, eu também não sei. Só não queria que ela amassasse ou que ficasse empoeirada. Coloquei o porta retrato com a foto na gaveta da cômoda. E sempre evitava olha-la. Até que raramente ou quando eu lembrava da existência dela eu a tirava da gaveta e a admirava. Pra ser sincera, eu só evita-la olhar mesmo, quando mais cedo eu esquecesse aquilo, melhor seria.

Acordo dos meus pensamentos com os aranhões da Sunny na porta. Levanto e abro pra ela sair. Ela corre em direção à cozinha onde meu pai estava com um petisco pra cachorro na mão. Eu o encaro meu pai enquanto Sunny saboreava aquele petisco em forma de osso.

Eu não iria fazer aquele estágio, só por cima do meu cadáver. Volto com passos pesados para o meu quarto e começo a ler o paradidático de onde parei, Memórias póstumas de Brás Cubas. Só uma leitura mesmo pra me tirar daquele pesadelo.

E não pense que estou sendo mimada ou chorona. Aquele estágio com certeza iria acabar com as minha férias. Mas não vai mesmo. Tentei voltar à leitura me esforçando ao máximo não me lembrar a minha situação atual...

*Cumulonimbus: É uma nuvem mais escura formada por grandes gotas de água e granizo, podendo conter cristais de gelo no topo. Está associada a tempestades fortes com raios e trovões.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostando! Próximo capítulo em breve!



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