O Olho da Tempestade escrita por Eye Steampunk


Capítulo 2
Dias de Glória


Notas iniciais do capítulo

Layer tem algumas "pequenas" pedras no sapato, o perfeccionismo de sua mãe, as atitudes desorientadas de Spencer e a seleção do Escolhido. Ao segundo capítulo introduzimos a vida e história de Layer e seu relacionamento com a família e amigos.



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Na manhã seguinte, acordei ao som dos gritos da minha mãe.

— O que houve? — perguntei.

Levantei a cabeça da mesa de trabalho, a luz do sol artificial invadia o cômodo, e me cegava completamente. Todos os dias minha mãe vem ao meu quarto me acordar e abre as cortinas, provavelmente se assustou com o corpo de um estranho ao chão.

— Tem um estranho em seu quarto e... — continuou berrando, por fim observou o meu estado; absoluta certeza ela notara algo no meu rosto, provavelmente olheiras da noite mal dormida. — O que já falei sobre virar a noite acordado! Olhe o seu estado, todo amassado e desarrumado...

— Mãe! A senhora falava do estranho em meu quarto! — digo encostando a cabeça na costa da cadeira em que sentava.

Típico da minha mãe, se nós estivéssemos em meio a um incêndio e cobertos de fuligens, com toda certeza ela começaria a me limpar em meio ao fogo. Sempre questionando a minha aparência, se estou apresentável como meu pai foi um dia. Talvez esta seja sua maneira de superar a perda do mesmo.

Meu pai era cientista-engenheiro, assim como quero ser, morreu quando eu tinha apenas três anos terráqueo de idade, em um acidente nas minas de cobre e magnetita (mineral magnético). Ele tinha projetado uma nova fonte renovável de energia baseado na força de atração entre imãs de polos oposto.

No entanto as consequências foram enormes, o gerador sobrecarregou e explodiu, liberando uma alta sobrecarga de energia, derrubando os corredores de túneis em que se encontrava o meu pai e mais três operários. Tal explosão recebeu o nome de “A Tragédia da Mina 7” e foi considerado o segundo pior momento da história.

O primeiro... Não é algo que os adultos costumam lembrar, para muitos foi tratado como covardia; e o Governador Pitchwar, que está a vinte e seis anos terráqueos no poder, torce para que não se repita.

— Ah... — Provavelmente minha mãe estaria calculando se a invasão de um intruso em nossa casa seria mais importante que o meu bem-estar — Quem é ele?

— Spencer, colega de classe. — respondi — Ficou bêbado ontem, não teve condição de ir para sua casa, então... Acomodei-o aqui esta noite.

— Spencer? O maltrapido?

— Sim! Lembra-se dele, meu amigo de infância, costumávamos brincar com a lama no quintal quando tínhamos sete anos. O mesmo desleixado que fez acidentalmente eu engolir 500 gramas de barro, que também apostou corrida de bicicleta comigo quando cai e quebrei o queixo. — haveria muitos momentos de acidentes para relembrar, conviver amigo do Spencer é como andar com uma faca na mão.

— Então esse é o meu adjetivo? — perguntou Spencer, ainda deitado no chão com os olhos fechados.

— Pois... — minha mãe constrangeu-se, uma expressão bem observada pelo o quanto seu rosto ganhou tons de vermelhos. — Guie seu amigo ao banheiro, empreste roupas novas a ele e... Se prepare para o discurso do governador hoje à tarde! — ordenou.

Ela me lançou um olhar furioso, como se aquilo fosse a última atitude que ela imaginaria que eu faria. Apenas curvei os ombros em resposta. Depois que saiu, pude ouvir as suas tentativas falhas de sussurros.

“Onde se imagina uma atitude desta, trazer um mendigo para dentro de nossa residência” — “sussurrou”.

— Sua mãe é bem legal! — disse Spencer ainda no chão, mas de olhos semicerrados. — E bonita!

A reação a aquele comentário foi atirar minha lapiseira em sua testa.

Bati constantemente na porta de mogno do banheiro. O vapor causado pelo aquecimento da água escapava pela estreita abertura da porta como uma chaminé. Spencer não poderia está demorando tanto para um banho, estava apertado e com fome.

— Ande Spencer! Está dormindo dentro da banheira? — gritei irritado já com toalha e escova em mão.

“Aguarde”, o escutei, a voz abafada pela composição da madeira. Quando a porta se abriu, Spencer saiu impecavelmente arrumado, camisa de botão manga comprida, terno cinza, calça social e sapatos lustrados.

— Estas são minhas roupas para o encontro com a Anne amanhã! — exclamei furioso.

— Eram suas! Srta. Esperanza entregou-me estas roupas... — disse enquanto olhava-se para o espelho do banheiro e ajeitava a gravata borboleta.

Minha mãe produziu o meu melhor amigo era sinal de questionamento, e quais são as intimidades de Spencer chama-la pelo seu nome de solteiro, estava começando a pensar que ter o deixado pernoitar esta madrugada foi uma péssima ideia.

— Mãe! — gritei. — Você entregou ao Spencer as minhas roupas para o encontro de amanhã!

Ela veio correndo com um prato e um pano de enxugar da cozinha. Ela me olhou cética e depois se virou para Spencer, vislumbrou-o dos pés a cabeça, e fez um sorriso de satisfação do tipo: “fiz um excelente trabalho neste jovem!”.

— Ah, por favor, Layer, meu filho! Você tem muitos ternos e calças para ir ao encontro de amanhã! — admirou Spencer. — o seu amigo está encantador, digno de andar ao lado do meu filho!

Não queria escutar aquilo novamente, adentrei ao banheiro e tranquei a ferrolho e fechadura a chave. Ótimo, um momento a sós; com a toalha de mão pendurada ao gancho do banheiro, limpei o espelho embaçado pela condensação do vapor.

Observei o meu reflexo. Os cabelos castanhos escuros enrolados caindo ao pescoço, as costeletas descendo pela maça do rosto, algumas acnes juvenis, olhos castanhos escuro e pequenos pelos no queixo formando um recém-formado cavanhaque.

Com toda certeza minha aparência não estava entre as melhores, me perguntava diariamente no que Anne sentia atração por mim. Depois que me barbeei a navalha, e do banho de água quente encanada, comecei a vestir as roupas que foram deixadas ao lado de fora, perto a porta do banheiro pela minha mãe.

Vestido a tendência vitoriana. Uma camisa de manga longa branca, colete de couro, terno risca giz marrom, calça social, sapato social engraxado e uma gravata borboleta preta. Não muito formal, mas apropriado ao momento da seleção do Escolhido.

— O que temos hoje para o café? — pergunto a caminho à mesa da cozinha. Quando chego à entrada do cômodo, encontro minha mãe e Spencer sentados e rindo. O que estariam conversando enquanto estava fora?

Minha mãe então se virou para me receber.

— Meu filho, está tão encantador, como o seu pai! — ela levantou para ajeitar a minha gravata.

— Sorte tem o meu pai que não participou desta missão suicida! Com toda certeza não haveria probabilidade de está na berlinda em que estou!

—Layer! — interrompeu minha mãe — Seu pai tinha trinta anos quando... Quando houve aquele acidente nas minas!

— Então... — Tentei raciocinar.

— Vamos Layer, matemática sempre foi o seu forte!

— Se meu pai ainda estivesse vivo, ele teria quarenta e cinco anos terráqueos, a Grande Tempestade ocorre a cada vinte e sete anos, como este ano teremos o fenômeno, meu pai tinha dezoito quando ocorreu pela última vez. — calculei.

— Idade do último ano escolar! — disse Spencer.

— Então ele é um sobrevivente da berlinda!

— Sim! E espero que a sorte também esteja ao seu favor, como esteve com o seu pai! — disse acariciando as mãos em meu rosto. Pude observar que ela continha o choro, o medo de me perder para sempre.

Mudamos de planetas, mas muitas unidades de padrões mantinham-se intactas, não teríamos como viver num astro em que um dia durasse apenas nove horas, por isso o céu artificial da estufa foi implantado para nos adequamos ao fuso, seguindo o mesmo padrão: às seis horas da manhã o sol nasce ao leste, às seis horas da tarde o sol se punha ao oeste.

— Ande, venha e coma algo, o anúncio será a daqui algumas horas!

Sentei-me a mesa e vi que estava repleto de aperitivo: uma cesta com biscoitos, uma cesta com torradas, um bule com chá-inglês, algumas frutas, geleia e manteiga. Muitos dos produtos vieram diretamente do antigo planeta Terra, houve um período em que a estufa vivia uma crise de seca, pois o solo tornava árido e inútil, mesmo com a irrigação constante e uso de adubo orgânico.

A partir de 1987 da Nova Era, as sementes passaram a ser cultivados em um solo artificial desenvolvido pelo primeiro botânico Greoff Mendel, que adicionou um adubo potente a terra, tornando extremamente rico em sais minerais e substâncias orgânicas. Infelizmente seu experimento teve consequência, uma delas é o desenvolvimento das pragas resistentes.

De algum modo, algumas ovas de insetos e seres do subsolo vieram com as sementes e desenvolveram em nosso solo, então podemos ser surpreendidos por uma minhoca de um metro de comprimento ou alguma toupeira com dentes. Por sorte, os avanços da medicina desenvolveram antídotos a tais doenças que estes seres repugnantes possam trazer.

Como o tempo voa, a tarde chegou e iniciamos a nossa caminhada, seguindo os habitantes do vilarejo que se dirigiam a praça central, que começava a encher lentamente. Cadeiras foram colocadas em frente ao grande palco, algumas estavam reservadas. As pessoas que sentariam nas marcadas seriam: grandes engenheiros, cientistas, botânicos, químicos e físicos, como militares, professores ou apenas operários.

Nas fileiras seguintes sentavam as famílias das classes do último ano, alguns pais começavam a chorar, mesmo o Escolhido ainda não ter sido pronunciado. As caixas de som instaladas pelos pedestais de luz da praça entoaram o som do hino da Ilha Nemo.

O Governador Pitchwar caminhou em direção ao palanque acompanhado de sua esposa, Srta. Pitchwar. O palanque montado no palco bem ao centro, ironicamente tendo o formato do Sol, como se nós fossemos o planeta que gravitavam em torno dele. Governador é apenas uma menção “figurada”, pois nossa vila não segue uma política democrática como na Antiga Era, basicamente somos “governados” pelos intelectuais que elegem o mais sábio a patente de Governador.

Era um plano político agradável baseado na sofocracia reformulada, não prejudicava os ricos e nem os pobres, o governado era sábio e não contrariava ao que era melhor ao povo. Assim se constituiria um regime ideal, e a divisão de classes igualitárias e que cooperam entre sim.

— Nobres cientistas, engenheiros, físicos, médicos, botânicos e as diversas áreas das ciências... — iniciou a pronunciação.


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Notas finais do capítulo

Sentiu dúvida em alguma palavra ou sobre algum cunho cientifico no livro, pesquise, busque resposta, ou deixe seus comentários abaixo. Espero que tenha gostado do segundo capítulo desta aventura... Nos vemos nos próximos capítulos *-* By: Eye Steampunk