O Olho da Tempestade escrita por Eye Steampunk


Capítulo 1
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Layer não acredita em destino, e eu também não! Como primeiro capítulo desta crônica da Ilha de Nemo, dou início a vida do jovem Layer, sua paixão e sua amizade e seu receio a Grande Tempestade!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628699/chapter/1

O destino não é cruel...

Aliás, eu nunca acreditei em que minha vida fosse determinada pelas leis naturais, pela sorte ou mesmo pela sina. Reformulei o “destino” baseado num infinito labirinto, repletos de encruzilhadas e corredores. Cada indivíduo deve escolher o seu caminho em sua encruzilhada, opinar as suas escolhas; e este caminho pode lhe levar a outras encruzilhadas, outros obstáculos, ou a um corredor sem volta, a morte plena.

Eu estou em frente a uma encruzilhada agora...

Meu nome é Layer, estudo na Instituição de Ensino e Graduação Verne III — Júpiter — Estufa três. Em plena manhã de sexta-feira terráquea, realizávamos o teste de aptidão às Ciências Naturais. O som do Tic-Tac do relógio animava alguém ao meu lado.

— Só mais alguns segundos! — sussurrou Spencer, que estava sentado a minha direita, com os olhos estampados no visor do relógio de parede.

Olhei para o professor que fiscalizava o nosso teste. Ele lia uma edição de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, publicação rara em nosso planeta. Virei-me para Spencer furioso.

— O que esta fazendo? — sussurrei.

— Eu não sei nada da prova! — disse em resposta, exibindo um sorriso como se aquilo fosse algo natural. — E você não me passa nenhuma das respostas, então o que eu vou ficar fazendo além de olha para o visor do relógio e esperar sair desta sala monótona?

— Que tal se você estudasse mais, do que farreasse? — perguntei.

O sino tocou, olhei para minha avaliação. Uma questão sem resposta, droga.

— Todos larguem os lápis e deixem suas avaliações em cima da mesa. — ordenou o professor se levantando de sua cadeira.

— Droga!

Do lado de fora do prédio da instituição, encontrei Anne esperando na base da escadaria. Ela observava a estatua de uma mulher com arco, lembro-me dela ter mencionado que se referia a Ártemis, uma deusa idolatrada na mitologia antiga. Muitas partes da Ilha do Capitão Nemo, local onde habitamos, ainda preservam características da Velha Era, tanto na arquitetura como nas artes, principalmente aos modelos vitorianos e clássicos greco-romanos.

Um exemplo é nossa instituição que foi projetada ao modelo Neoclássico baseado no Cenotáfio de Newton, um grande projeto idealizado por Ettiénne-Louis Boullée, e foi considerado utópico, pelo menos há dois milênios atrás. Meio mórbido pelo ponto de vista de que seria um mausoléu ao corpo de Newton, mas foi uma homenagem a um dos grandes pais das Ciências.

— Depois que o Governador Pitchwar selecionar o Escolhido, vamos à Taverna Baú do Pirata? — perguntou Anne virando-se para me receber, logo se prendeu aos meus suspensórios e me agarrou para um beijo.

Um beijo sabor doce coberto por canela. Nós terminaríamos o ensino regular juntos. A família dela é a mais decente do vilarejo, e quando digo decentes, quero dizer ricos e refinados. Os meus pertencia à classe média, trabalhando como engenheiros no vilarejo. Nossas famílias não tinham intriga entre si, entretanto o pai dela acredita que estou seguindo maus caminhos, principalmente quando meu melhor amigo é o Spencer.

— Você não pensa que eu posso ser “O Escolhido”? — perguntei.

Anne em seu vestido longo de listra marrons com bolero preto de manga e espartilho. Linda e radiante com seus cachos ruivos e covinhas na maça do rosto, carregando ao braço uma sombrinha e livros de romance. Ela olhou para o céu artificial da estufa, que protegia a Ilha Nemo; pensando na minha pergunta, seu olho se entristeceu por um momento, mas voltou a sorrir, estava pronta para responder quando foi interrompida.

— Escolher o idiota aqui? Eles deveriam está bastante malucos! — disse Spencer. Havia mudado seus trajes subitamente, trocando o seu uniforme de escola para algo mais formal a um encontro.

— Sapatos engraxados, colete, camisa de botão e manga comprida. — listei. — Você não escutou o meu conselho e está indo se encontra com as garotas da Taverna!

Ele confirmou com um movimento de cabeça.

— É disso que estou falando, do que adianta nos gradua este ano, se um de nós pode morrer impedindo a Grande Tempestade? Não! Se eu for escolhido quero me divertir antes de morrer! — respondeu Spencer.

A Grande Tempestade é um evento que acontece a cada 27 anos, uma tempestade jupteriana formada pelo aquecimento e resfriamentos de gases na atmosfera. Tal tempestade é de categoria seis, um anexo a Escala de Saffir-Simpson, concentrada de descargas elétricas, ventos superiores a 400 quilômetros por horas e constantes variações de temperatura e pressão.

— Boa sorte garotos! — disse Anne. — Theodor também esta na berlinda com vocês!

— Theodor?! — perguntou Spencer surpreso. — Ele é seu irmão, da família mais rica do vilarejo, com toda certeza seu pai já pagou para ele não ser sorteado!

— Espero o mesmo! — respondeu ela.

Quando a família é poderosa, podem muito bem livrar os seus filhos de ser sorteado para enfrentar a Grande Tempestade. Spencer e eu não tivemos a mesma sorte.

— E os pais de vocês? Eles... Conseguiram fazer alguma negociação?

Não sei bem o porquê o seu rosto corou-se momentaneamente, mas talvez, Spencer e eu exibimos para ela, a nossa comum face de “você perguntou isto mesmo?”.

— Me desculpa! — retrucou sem esperar por nossa resposta. — Bem! Eu tenho que ir meninos... E nosso encontro amanhã está confirmado?

— É claro! — respondi.

— Eu posso ir? — perguntou Spencer.

— Não! — respondemos em uníssono.

— Ok, pombinhos! — disse magoado.

— Ótimo, tenho clube de leitura hoje! — disse Anne, me beijando no rosto. — Lhe vejo amanhã na cerimônia de escolha, estarei na plateia... Torcendo por você!

— Vão falar sobre garotos por toda à tarde! — disse Spencer, ainda frustrado.

— Se quer saber Sr. Spencer, as meninas do clube não se interessam apenas por garotos, principalmente garotos mimados como você! — disse ela com um pouco de raiva na voz.

— As que dançam na Taverna me amam! — respondeu ele com um sorriso debochado.

Segundo Newton, toda ação há uma reação, isso aplica àquele instante. Foi merecida a dor de Spencer entre as pernas, causada pela sombrinha de Anne, não pude resistir a conter o riso.

— Do que você esta rindo, idiota? — disse ele agonizando de dor e andando mancado.

— Nada! — sorri.

— Sua namorada é meio esquentadinha!

— Ela é encantadora!

A noite caiu, estava sentado a minha mesa de trabalho, medindo o diâmetro da circunferência em um papel vegetal com o compasso aberto sobre a planta de uma engrenagem. O projeto era moldar um novo modelo de engrenagens para os moinhos.

O moinho triturava os grãos colhidos da área de colheita, mas ultimamente havia problemas em suas engrenagens. Tenho suposição que o calor esteja dilatando o metal, aumentando o seu comprimento e causando atritos que prejudiquem o funcionamento das máquinas, como colisões entre peças em um quebra cabeça que não se encaixam.

A porta se abriu.

— Layer! Você precisa dormir para amanhã! — disse minha mãe surgindo de supetão em meu quarto.

— Claro! Mãe! — respondo — Mas preciso ficar mais um tempo acordado, somente... Para concluir este projeto. Eu posso?

Minha mãe olhou para mim com uma expressão de preocupação, que abriu em um sorriso. Aproximou-se ao meu lado e colocou as mãos em meu ombro e beijou-me na bochecha, o que achei desnecessário.

— Você faz-me lembrar do seu pai! — disse afagando suas mãos nos meus fios de cabelos negros lisos e caminhou de volta para a porta. — Está bem, mas nada de ficar até tarde acordado! Boa Noite!

— Boa noite!

Fechou a porta em seguida. Não prometi nada, ela sabia que eu passaria a noite acordado em meu projeto. Já eram quase três horas da manhã terráqueas quando começava a bocejar de sono, ouço passos no teto de tijolos.

— Spencer! — sussurro para não acordar a minha mãe.

Quem mais saberia da entrada secreta ao sótão além do meu melhor amigo, boas parte das nossas brincadeiras e missões secretas se passara naquele local que chamávamos de Q.G. — Quartel General.

Levanto da mesa e abro a janela, caminho até o parapeito e olho para cima, na direção da janela do sótão que ficava a um andar, lá estava ele sentado com uma garrafa na mão, provavelmente bebida alcoólica.

— Isto é lindo, pelo menos isto não é totalmente artificial! — disse ele admirando o céu, as luas (inclusive uma representação holográfica da nossa antiga Lua da Terra), o anel principal de Júpiter, e as estrelas.

— Na verdade... Isto tudo também é uma projeção, estamos em temporadas de tempestade gasosa, provavelmente fora da estufa esta acontecendo uma grande anomalia de descargas elétricas e gases! — o corrijo.

— Até isso a ciências estraga. — queixou-se, ele se arrastou pela amurada da janela do sótão, apoiou seus pés na encanação e começou a descer ao meu andar — Sai da frente! — gritou pulando, e pousando a minha frente.

— Shh! — cochichei — o que esta fazendo aqui? Você está maluco? Quer acorda a minha mãe? E por favor, faça menos barulho!

— Calmo amigão! — exclamou exibindo um sorriso — São muitas perguntas!

— Pensei que estaria na Taverna divertindo-se com as dançarinas?

— E eu estava, mas o Sr. Thopperheads me expulsou como um cão vira-lata! Jogou um balde de água em mim e os rapazes da taverna.

— É como esta agindo! — cruzei os braços — Mas isso ainda não explica porque você esta aqui!

— Sabe que minha casa fica a nove quadras da Taverna, então decidi dormir aqui na casa do meu grande amigo e companheiro de vida — balbuciou bêbado tudo isto, enquanto colocava o braço em torno do meu ombro como se fossemos velhos amigos, e éramos. Ele ofereceu a garrafa de cerveja.

— Dispenso — digo me soltando dos seus braços — ok, você pode dormir, mas não no meu quarto...

Enquanto falava ele caminhava em direção ao meu quarto e caiu no chão, feito pedra, ao lado da minha cama.

— Ele não escutou nenhuma palavra minha! — digo com raiva, entrei em meu quarto, fechei a janela e as cortinas. O que pude fazer foi voltar a minha mesa de trabalho e continuar meu projeto até cair no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sentiu dúvida em alguma palavra ou sobre algum cunho cientifico no livro, pesquise, busque resposta, ou deixe seus comentários abaixo. Espero que tenha gostado do início desta aventura... Nos vemos nos próximos capítulos *-* By: Eye Steampunk



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Olho da Tempestade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.