Kitty's Pride escrita por Bree


Capítulo 10
Uma reação espontânea




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— Estava questionando a gentil Srta. Bennet sobre a região de Derbyshire. – Mentiu o cavalheiro.

— Ora, Sr. Höwedes, a Srta. Kitty se mudou há apenas quatro anos. Eu e minhas irmãs por outro lado, nascemos aqui. Seria um prazer poder sanar suas dúvidas. – Comentou impropria e irritantemente a mais velha das Bolton, Amélia. Ela sequer imaginava como aquelas palavras poderiam ser interpretadas da forma errada, fazendo-a parecer leviana. Kitty procurou o olhar de Georgiana, e o encontrou divertido, olhando diretamente para ela. Antes que Sebastian tivesse a oportunidade de formular uma resposta ou que uma das Bolton dissesse algo mais, Audrey interveio.

— Ora, que mente a minha. Quero lhe apresentar Georgiana Darcy, primo. – Começou ela, com uma verdade no olhar que Kitty não soube decifrar. Georgiana fez uma reverencia curta ao cavalheiro que respondeu com igual polidez. Mal parecia o homem insensato com quem Kitty conversava minutos antes.

— Encantado, senhorita. Todos os bons comentários se confirmaram. – Observou ele, o que fez Georgiana sorrir gentilmente. Kitty teve de concordar com o homem, pois sua amiga estava radiante.

— Transmita meus agradecimentos aos portadores de tais comentários. – Disse Georgiana. Kitty deu alguns passos quase imperceptíveis para se colocar ao lado da amiga, já mais calma. Naturalmente, logo estavam agrupados em um círculo animado, que deu as Bolton a oportunidade de afogar o Sr. Höwedes com as mais variadas perguntas, as quais ele respondia com atenção e aparente sinceridade. Kitty observava atentamente sua expressão e era pega duas ou três vezes pelo olhar do cavalheiro. Sem se deixar intimidar, ela continuou atenta, mais que contente por ele ter sido vitimado pelas Bolton. Aquilo era uma forma de castigo pertinente e proporcional.

— Então o senhor também trabalhar com comércio? Que atividade desgastante deve ser. – Quis saber Amélia, com um lamento fingido na voz. Aquela era claramente a noção que a Srta. Bolton mais velha tinha da conquista. Mas Kitty duvidava muito que ela fosse conseguir atingir Sebastian.

— Sou um administrador. Um péssimo administrador. Meu tio cuida da maior parte do trabalho. – Respondeu ele, de forma reservada e modesta. O comportamento fez Kitty querer socar seus ombros.

— Não seja tão severo com suas habilidades, primo. – Pediu Audrey, e a Srta. Bennet notou que não havia um pingo de ironia em sua frase. – Sebastian é muito inteligente. Formou-se com honras em Berlim.

— Senhoritas, por favor. Eu sou um assunto muito enfadonho. Agradeço as palavras de minha prima mas peço que não se torturem mais falando sobre um infeliz como eu. – Pediu ele, fazendo Kitty pigarrear. A moça não sabia dizer qual parte daquilo era verdadeiro, ou mesmo se alguma parte era.

— Já que insiste, primo. – Observou Audrey com divertimento.

— Que oportunidade fantástica temos hoje, conhecer pessoas fascinantes e rever boas amigas. – Começou Amélia Bolton, o que fez Kitty ter um mal pressentimento. – Srta. Kitty por exemplo, que esteve reclusa desde o baile que oferecemos em nossa casa.

— As pessoas podem pensar que não as considera dignas de sua presença. – Provocou Susan, a irmã do meio.

— Essa jamais seria minha intenção. Tenho um grande apreço pela sociedade local. – Kitty disse, visivelmente desconfortável, controlando uma reação exagerada. Sentiu mais uma vez que Sebastian a avaliava.

— Não tenho dúvidas quanto a isso, minha querida. Uma pena que a evite sempre que possível. – Disse Amélia, fazendo com que Georgiana soltasse um longo suspiro de irritação.

— Gosto de estar onde me faço necessária, Srta. Amélia. – Respondeu Kitty, enquanto Audrey escutava a troca de gentilezas com vivo interesse.

— Maravilhoso. Quantos de nós tem a oportunidade de ser tão oportuno? – Disse Amélia. – Pobre Sra. Bingley, que será dela quando sua boa irmã finalmente se casar?

— Jane tem um talento incrível para superar adversidades. Não se preocupe com ela, Srta. Amélia. – Disse Georgiana, quando percebeu que a amiga estava à beira de um ataque de nervos e incapaz de responder algo que não fosse extremamente indecoroso. Os olhos de Sebastian viajaram de Kitty para Georgiana e de volta para Kitty, onde pousaram novamente sem a menor intenção de deixa-la. Com a tensão palpável o ambiente se tornara inesperadamente um pote de pólvora, o que sempre acontecia quando as três Bolton se uniam contra Kitty.

— Certamente ela não terá de se preocupar com isso tão cedo. Uma sorte, eu diria. – Observou Susan, como um golpe final que fez com que a Srta. Bennet tivesse pena dela. Os músicos pararam por poucos segundos e o silêncio invadiu a mente de Kitty. Quando a música voltou a tocar, Kitty teve apenas uma reação.

— Gosta de dançar, Sr. Höwedes?- Perguntou, sem medir as consequências, ignorando Susan e vendo a moça tremer de irritação.

— Muitíssimo. – Respondeu o homem, dando-lhe um meio sorriso ao compreender a estratégia de Kitty. – Me daria a honra da próxima contradança?

— Seria um prazer. – Respondeu, já erguendo a mão esquerda, que Sebastian capturou entre os dedos imediatamente. Com uma reverência curta, os dois deixaram o grupo para trás, mas não antes de Kitty poder contemplar a ira estampada nos olhos de Amélia Bolton, certamente frustrada por ver seu possível pretendente conduzir outra.  

— Foi uma reação estúpida. Peço desculpas. – Kitty se apressou em explicar, enquanto tomava seu lugar ombro a ombro com as outras damas. Sebastian ficou a sua frente, a um passo de distância. Por cima do ombro dele, a moça podia ver a movimentação do grupo que haviam deixado. Lara parecia indignada e ultrajada, falava com Audrey sem poupar gestos e Kitty logo deduziu que a jovem tecia ofensas a ela.

— Não precisa se desculpar, Srta. Kitty – Começou Sebastian, destacando o apelido como quem saboreia um doce, enquanto imitava os outros cavalheiros e fazia uma reverência longa que iniciava a dança. – Foi uma saída inteligente.

— A Srta. Bolton mais velha me perturba os nervos! – Comentou Kitty, reprimindo as palavras odiosas que realmente desejava falar.

— Seria grosseiro da minha parte concordar, suponho. – Respondeu ele, dando um passo à frente e tomando a mão de Kitty para um rodopio. Os pés machucados da moça protestaram, mas ela seguiu firme.

— Muito grosseiro. – Concordou ela com uma risada curta que dissipava seu incomodo. Kitty notou atordoada que Sebastian Höwedes possuía um perfume muito bom, com algo que lembrava madeira nobre envelhecida. A moça apoiou a mão em seu ombro e ambos giraram 180º, acompanhando os outros casais com passos lentos. Kitty havia dançado aquela canção por inúmeras vezes, mas naquele momento algo a deixou nervosa. Ela apertava o tecido do vestido com a mão livre, pedindo aos céus que não a deixassem cair. Foi abruptamente arrancada de seus devaneios pela voz de Sebastian.

— Permita-me. – Disse ele, com seu hálito quente assustando Kitty ao tocar a pele do pescoço da moça. O braço firme do cavalheiro envolveu a cintura dela e com um impulso calculado ele a ergue do chão para que voltassem a posição original. Kitty pousou sem ar e à beira de uma síncope, mas a não ser por suas bochechas coradas, soube disfarçar brilhantemente. Permaneceu em silêncio vendo um casal se desentender bem na sua frente, pelo cavalheiro não ter conseguido executar o passo.

— Ela parece interessada no senhor. – Informou Kitty, em uma frase desconexa que Sebastian não compreendeu no ato.

— Perdão? – Questionou ele.

— Amélia Bolton, quero dizer. – Continuou ela. – Seu pai é um dos maiores produtores de chá da Inglaterra, pelo que soube.

— Tive a oportunidade de conhece-lo. – Disse Sebastian. Agora, todos os casais estavam ombro a ombro, voltados para lados opostos, enquanto as damas esticavam o braço para tocar o ombro mais distante dos seus pares. – Acha que ele seria o tipo de sogro ideal para mim?

— Não sou capaz de formar uma opinião sobre isso. Mas é um homem distinto, lhe garanto. – Prosseguiu Kitty, enquanto a dança mudava mais uma vez, dessa vez perdendo a sincronia e deixando espaço para uma simples valsa.

— Então entraríamos em conflito. Olhe só para mim, uma alma mal educada. – Colocou Sebastian, mantendo a voz em um sussurro que apenas Kitty podia ouvir.

— Porque faz tanto esforço para se denegrir? – Quis saber ela, enquanto tomavam posição e Sebastian novamente lhe segurava pela cintura. Kitty desejou poder parar com aquilo, mas se lembrou que a dança havia sido sua ideia. Infeliz e inebriante ideia.

— Não gosto de iludir as pessoas. É um costume traiçoeiro. Prefiro deixar as claras minha essência. – Respondeu ele.

— Mesmo se quisesse fazer isso, não seria capaz. A essência humana é complexa demais. – Devolveu Kitty, erguendo os olhos para poder ver o rosto de seu par. Sebastian possuía uma expressão serena e curiosa.

— Você superestima os seres humanos. – Começou ele, se aproximando mais uma polegada da moça, uma proximidade inviável. – No fim somos tão simples e fáceis de ler.

— Quer mesmo discutir filosofia aqui, Sr. Höwedes? – Perguntou Kitty, prendendo a respiração por alguns segundos. Tudo ao seu redor cheirava a Sebastian.

— Definitivamente não. Talvez no futuro. – Disse ele, se afastando e voltando a distância adequada. Kitty percebeu que eles atraíam muitos olhares, mas para sua tranquilidade, a atenção se devia apenas a Sebastian e a curiosidade local a respeito do recém chegado.

— Talvez no futuro. – Repetiu ela, imitando seu tom e notando que o cavalheiro usava a expressão com frequência. Uma risada fez o corpo do homem vibrar e ele logo a conteve.

 


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