Kitty's Pride escrita por Bree


Capítulo 9
Um homem infeliz




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Uma série de situações hipotéticas flutuaram pela mente de Kitty naquele momento. Jane poderia aparecer a qualquer momento com seus olhos inquisitivos e animados e isso seria o fim. Mas, para sua tranquilidade e sanidade, Jane estava entretida dançando com o marido.

— Posso me atrever a perguntar se procura alguém em especial? – Questionou Sebastian, que parecia rodeá-la de todas as formas. Kitty correu as pontas dos dedos enluvados pelos lábios antes de responder, movimento que foi milimetricamente acompanhado pelo cavalheiro.

— Minha irmã e cunhado. E talvez minha boa amiga Georgiana Darcy. – Revelou ela, atenta a reação de seu interlocutor, que no fim não lhe revelou nada demais.

— Está tentando se livrar de mim? – Perguntou ele, sem rodeios, parecendo ignorar a menção do nome de Georgiana, o que deixou Kitty confusa e se perguntando se ele compartilhava ou não do encantamento da tia.

— Em absoluto. Jamais teria tal intenção. – Devolveu Kitty, fitando-lhe o rosto diretamente pela primeira vez.

— Sabe que é mentira. As pessoas dizem isso e forjam o espanto que a senhorita demonstrou agora só para serem gentis. – Observou ele, fazendo Kitty franzir o cenho por um instante.

— Fala como se passasse horas estudando as reais intenções das pessoas. – Disse ela.

— E passo. Realmente. É uma atividade revigorante. – Respondeu ele, sorrindo para ela como uma criança. Kitty não pôde evitar sorrir de volta, mesmo que levemente e disfarçando em seguida.

No salão, os convidados trocavam seus pares para mais uma dança, e Jane avistou a irmã mais nova, erguendo a cabeça em reconhecimento. Pareceu curiosa, mas não fez qualquer menção de ir até ela.

— Aquela deve ser sua irmã, suponho. – Disse Sebastian.

— Sim. Jane. Hm. – Começou Kitty, desconfortável o suficiente para chorar. – O senhor...tem irmãos? – Prosseguiu, tentando fazer aquele diálogo parecer normal.

— Não fui agraciado com tal sorte. – Respondeu ele, reservado e sucinto quanto ao assunto. – Mas penso que seria um péssimo irmão. Assim como sou uma péssima pessoa.

— Acredito que esteja sendo muito cruel consigo mesmo. Por acaso é uma tática para conquistar minha piedade? – Devolveu Kitty, em um comentário espontâneo.

— Que homem infeliz eu seria se tudo que desejasse conquistar de uma dama fosse sua piedade. – Comentou ele, fazendo com que a moça corasse ligeiramente. – Sou sincero, senhorita. Não tenho mais que meia dúzia de qualidades que me recomendem. Prova disso é sua resistência a minha companhia.

— Minha resistência nada tem a ver com suas características, cavalheiro. – Começou Kitty, parecendo um pouco revoltada e controlando sua voz antes de continuar. – Minha oposição é exclusivamente causada pelas circunstâncias em que nos conhecemos...

— Pelos céus! A senhorita é ótima com as palavras! – Interrompeu ele, de uma forma que a moça considerou descortês.

— Como eu dizia... – Continuou ela, quase estreitando os olhos para destacar a falta cometida por ele, mas percebendo que não surtiria efeito. – Suas característica em nada influenciaram meu receio. Mas estou curiosa quanto a sua meia dúzia de qualidades. É muito vaidoso de sua parte enumerar tantas, quando a maioria das pessoas não tem mais que duas.

— Agora a senhorita é que está sendo cruel com o resto do mundo. – Apontou ele.

— Sou sincera. – Devolveu ela, usando o mesmo tom de voz que o homem havia usado para proferir a frase antes.

— E atrevida. – Observou ele, com um sorriso largo. Kitty respirou fundo e sentiu a ira tomar suas entranhas, mas não recuou. – Não se irrite. Para mim essas são qualidades.

— Como suas seis? – Perguntou ela, tomada de coragem.

— Permita-me enumerá-las e dar fim a sua curiosidade. – Começou ele, deixando Kitty ainda mais ofendida, mas não menos decidida. – Lealdade, sinceridade, inteligência, bondade e boa aparência.

— São cinco. – Observou Kitty, pouco surpresa por humildade não estar na lista do cavalheiro.

— Seria um tanto ousado da minha parte revelar a sexta. Talvez no futuro. – Respondeu ele, o que Kitty não compreendeu bem, mas sentiu que não precisava, pois certamente se tratava de algo impróprio para os ouvidos de uma dama.

— O senhor é uma criatura...extremamente...conscientemente...revoltante! – Disse ela entre os dentes, tentando não transparecer sua revolta. Sebastian Höwedes era o tipo de pessoa que ela tentara evitar durante os últimos anos. Certamente não era como sua irmã Lydia, mas em muito lembrava o seu hábito de não medir palavras. Só então a moça percebeu que tinha os punhos cerrados. Uma reação involuntária que fez ela sentir vergonha de si mesma e de seu parco controle sobre o próprio corpo. Ele era um de seus anfitriões no mal fadado baile, então não podia simplesmente lhe dar as costas, mas desejava isso mais que tudo. Enquanto Kitty tinha sua pele indo do vermelho ao roxo, Sebastian parecia se conter para não gargalhar. A moça percebeu com desgosto que o homem jogava com palavras, e que tinha escolhido justo ela, uma desconhecida, como sua vítima desavisada.

— Queira me desculpar se foi eu o causador de sua descompostura. – Pediu ele, com polidez fingida.

— Não estou descomposta! – Respondeu Kitty.

— Olhe os rostos ao redor, Catherine, qualquer deles que olhe pra você verá que está descomposta. – Continuou ele, usando seu primeiro nome em claro tom de provocação, ao que Kitty não deu ouvidos. Ela jamais imaginara que encontraria alguém tão invasivo.

— O senhor estava certo. – Começou ela, olhando para o chão e abraçando a si mesma.

— Perdão, sobre o quê? – Quis saber o cavalheiro.

— Sobre ter me escolhido indevidamente como sua ouvinte. – Respondeu ela, e se agarrando ao pouco de decoro que lhe sobrara, ela se preparou para abandoná-lo ali. Mas antes que seu movimento fosse concluído, foi novamente interceptada pela figura de Audrey Höwedes, que trazia consigo as três Srtas. Bolton e sua boa amiga Georgiana. As Bolton formavam um trio perfeito, com vestidos do mesmo corte, cabelos em penteados muito parecidos e feições igualmente deslumbradas. Amélia já completara os vinte e um assim como Kitty, era a mais corpulenta delas, tinha uma postura muito mais altiva que a Srta. Bennet e um rosto descente. Susan tinha dezenove anos e era franzina, embora fosse atraente, parecia não prestar atenção em nada do que era dito ao redor, fazendo comentários pouco inteligentes e lançando olhares de desprezo a Kitty. Lara era a mais bonita delas, e a única que ainda estava longe de ser taxada como solteirona, com seus dezessete anos.

— Ai está você, Srta. Kitty! – Cumprimentou a contente Audrey. – Vejo que já conheceu meu primo. Ele já a enfureceu com suas teorias?

— De modo algum. – Respondeu Kitty em um sussurro quase inaudível. Sem sequer olhar para trás, ela pode sentir o contentamento do homem fluir pelo ambiente.


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