Visionária escrita por Jafs


Capítulo 9
Esperança quebrantada




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“Eu tenho que admitir. Nunca vi alguém se dar tanto ao trabalho pra me fazer de otária.” Kyouko conjurou sua lança, em um flash de luz avermelhada que refletiu nas poças do chão da galeria onde as três garotas estavam.

Kirika deu de ombros, ainda sorrindo para as outras duas. “Posso dizer que isso não é nada pessoal.”

Rangendo os dentes, disse Kyouko quase cuspindo, tamanha era sua raiva. “Vou enfiar esse ‘pessoal’ no teu cu!”

“Não Kyouko! Espere!” Mami impediu a ruiva colocando um braço na sua frente. Ela mantinha os olhos fixos na garota de tapa olho. “Isso não faz sentido.”

“Ah Mami Tomoe-san...” Kirika fazia estralos enquanto alongava os pulsos de seus punhos cerrados. “Esse é o seu grande problema.”

“Como?”

“Sempre quer achar um motivo em tudo, não é?” Kirika deu uma piscadela, infelizmente fez isso com o seu olho tampado, ela logo tratou de corrigir isso. “Tem certas coisas em nossas vidas que não tem explicação. Quando mais cedo você aceitar isso, será um fardo a menos para carregar, não concorda?”

“Esquece Mami. Com essa aí não tem argumentos.” Após dizer para a sua companheira, Kyouko pendeu sua lança em pé em direção a Kirika. “E seu ‘amorzão’ deve tá com um parafuso a menos se ela acha que você dá conta de duas veteranas sozinha.”

[Se ela realmente pretende lutar, não acho que você devesse ficar tão confiante.]

[Ela com certeza vai lutar.] Kyouko respondeu a telepatia da Mami. [Mas relaxa. Eu só estou mexendo um pouco com ela.]

“Kukuku...”

A risadinha chamou a atenção das duas.

“Vocês não tem noção alguma. Kuku...” Kirika abriu um pouco seus braços e fez surgir suas garras. “Eu já VENCI!”

Kyouko franziu as sobrancelhas. “Ok... Você continua sendo a mais louca. Seu ‘amorzão’ ainda não roubou seu título.”

Mami estendeu sua mão, da palma da luva brotaram laços que se enrolaram formando uma bola. “Kirika-san, nós lutamos lado a lado contra os demônios, não faça isso. Se foi Oriko-san que pediu isso para você, nos conte, podemos entrar em um acordo.”

“Ah! Aí seria muito chato!” Kirika fez uma cara de sono. “Não gostam de mistérios?”

Um desenho circular de cor violeta surgiu, ocupando uma boa extensão do chão da galeria.

“Bem... para onde vocês vão, não precisarão saber mesmo.”

Mami, não vendo escolha, jogou a bola que segurava contra o chão. Ela estourou, liberando uma cortina de fumaça branca.

Para a surpresa de Kirika. “Eu nem comecei ainda e já vão correr?” Logo ela descartou tal suspeita, porém, diante de um súbito brilho amarelado vindo da fumaça.

“Ninguém aqui vai correr não.” Saindo da fumaça, Kyouko portava uma lança com duas pontas, uma vermelha e a outra amarela.

“Kuku. Eu ainda tenho mais lâminas que você...” O sorriso confiante de Kirika desapareceu ao notar uma nova silhueta em meio aquela fumaça.

“Tem certeza disso?” Outra Kyouko surgiu, também portando uma lança de duas pontas.

O espanto de Kirika era evidente. “Como...”

Mais uma Kyouko apareceu. “Mágica, ora bolas...”

“Sabe, Mami até inventou um nome para isso.” E outra.

Rosso fantasma.” E continuavam vindo.

“Isso.” Parecia não ter fim. “Só que eu prefiro chamar de...”

“’Você tá ferrada!’”

“BWAHAHAHAHA!” A gargalhada das sete Kyoukos ecoou pela galeria.

“Hmmm... vejo que não vão querer brincar um pouco.” Ainda que surpreendida, Kirika não se intimidou. “Certo. Então vamos para o prato principal!” A energia em cada garra ondulou e um par de novas lâminas vieram fazer companhia para as três já existentes. As cores delas mudaram, passando do violeta para um roxo escuro, enquanto ficavam mais compridas.

As Kyoukos trataram de oferecer uma resposta à altura. Suas lanças se subdividiram e as pontas voaram em direção ao seu único alvo rapidamente.

Até Kirika usar sua magia. Oriko, meu amor, parece que a nossa cabeça quente aprendeu alguns truques novos com aquela loira. Aproveitou para examinar as ponteiras das lanças que ainda levariam um tempo para alcançá-la. Seria isso alguma espécie de ilusão?

Com as suas garras, ela aparou uma das pontas. Ela sentiu o vibrar do impacto, as faíscas, a ponta da lança rodopiando lentamente, perdendo sua trajetória original. Ela caminhou até outra ponteira e fez o mesmo. Essa também é real. Testou novamente com uma das ponteiras com a base da lâmina de cor amarela. É tudo real.

Kirika então percebeu o movimento das Kyoukos, algumas estavam buscando seus flancos, outras saltaram para ficarem acima dela. Revirou os olhos. Elas pretendem me cercar. Que surpresa... Ela deu um passo de lado para deixar passar uma das lanças. Essa ruivinha sabe usar mais de uma lança, mas os corpos têm que ser falsos.

Só haveria um jeito de descobrir e tal conclusão levou Kirika a voltar a sorrir. Melhor ainda que ela poderia escolher por onde começar! Decidiu em atacar uma das Kyoukos que estava no ar. No trajeto, ela girou seu corpo para desviar de algumas subdivisões interconectadas com correntes, como uma dança mortal onde o último passo seria o saciar das suas lâminas.

Se era uma dança, porém, deveria se dizer que o salão do baile estava ficando cheio. “O quê?” Novas subdivisões se encaminharam para bloquear o caminho entre Kirika e seu alvo. “Andou melhorando seus reflexos, minha vermelhinha?”

Demorou, mas a resposta veio. “Esqueceu? Essa não é a primeira vez que luto contigo, minha falsa caolha.” A voz da Kyouko estava distorcida, sob o efeito da lentidão.

“Kuku. Você só se safou daquelas vezes porque meu amorzão foi muito piedosa e pediu para deixar você escapar. Hoje será diferente.” Kirika pôs seus pés sobre uma das subdivisões, usando como apoio para a sua próxima investida. Kyouko não iria ficar na defensiva. Essas duas devem ter algum plano.

Ela então olhou para a fumaça. Enquanto a minha magia estiver agindo, isso nunca vai se dispersar e a loira deve estar lá ainda... Será que descobriram como funciona? Pelo meu amorzão, tenho que terminar isso logo.

Saltando a partir da subdivisão que estava, Kirika usou suas garras como ganchos e forçou uma pequena abertura naquele emaranhado de correntes. “Eu devia começar a fazer Yoga!” Se contorcendo como pôde, ela passou pela abertura e, com um novo salto, alcançou uma das Kyoukos.

A ruiva lentamente erguia a ponta dos seus lábios, revelando os seus dentes.

“Você deve ser falsa, não é?” As garras rasgaram aquela Kyouko. Como Kirika já esperava, não saiu sangue daqueles cortes, mas seus olhos não deixaram de crescer diante do que veio a seguir.

O corpo da ruiva começou a se desmanchar em um turbilhão de laços multicoloridos, ávidos em capturar sua agressora.

Kirika se deixou cair para evitar ser presa. Ela só descobriu que isso não fora uma boa idéia quando passou próxima da ponta de uma lança, o suficiente para rasgar o seu uniforme. “Ah! Droga!” Procurava chegar ao chão, mas para onde via só havia subdivisões.

“Quer continuar a brincar de adivinhação? Ainda faltam seis. Hahaha!”

Enquanto a gargalhada distorcida da Kyouko vinha de todas as direções, Kirika lutava para encontrar um espaço em meio aquele domo de lanças e correntes. Elas não são ilusões, mas um maldito truque daquela loira! Porém, mesmo se eu conseguisse eliminar esses clones, Kyouko ainda vai ter controle sobre as lanças e ela está restringindo cada vez mais meus movimentos. O que o meu amorzão diria agora? Pensa, sua tansa, pensa! Ela apertou seus punhos fechados. Claro! A fonte da magia!

Após jogar seu quadril para o lado para desviar de uma lança, a garota de tapa olho começou a se concentrar em sua gema da alma, buscando sentir a magia a sua volta. Vejamos... aha! Ela então olhou para uma das garotas mágicas vermelhas, que estava atrás de outras duas e de uma muralha de correntes. É isso! Amorzão, você é um gênio! Mas chegar até ela vai ser chato...

Ela então sentiu outra fonte, uma maior, que estava atrás daquela cortina de fumaça bem menos guarnecida por aquelas lanças.

Se eu pegar aquela loira, aposto que a outra vai fazer algo estúpido. “Kukuku...” Kirika cruzou suas garras. “É hora de torrar a magia, baby!”

A aura no chão reapareceu e brilhou com mais intensidade. Em resposta tudo ficou ainda mais lento. Sem perder tempo, a garota usou suas garras para abrir caminho em meio à selva de madeira e metal, evitando as ponteiras. Ainda que estivessem quase paradas, elas atravessariam a carne dela com violência se oferecesse a oportunidade.

“Ah... Enfim o ar livre!” Kirika escapou daquela verdadeira prisão, voltando a pisar no chão úmido da galeria. “Bem... metaforicamente falando. Eu preciso checar a minha gema.” Assim que se desfez das garras, ela levou uma mão fechada até as suas costas. “Ah é... eu não posso ainda. Foi mal amorzão, quase me esqueci. É melhor eu economizar o que resta.”

A velocidade de tudo voltou a ser um pouco maior. As Kyoukos começaram a virar a cabeça, ao perceberem a fuga da sua presa.

Kirika trouxe de volta as suas garras de três lâminas. “Isso aqui é mais do que suficiente para cortar aqueles cachos, hehe.” Partindo em direção a nuvem de fumaça. Assim que entrou, o chão brilhou em amarelo. “Olha! É uma cobra amarela? Não! É papel higiênico molhado com mijo? Não! São os laços da Mami!”

Assim que os laços brotavam do chão, Kirika os cortava sem esforço enquanto avançava. “Mami-san! Por favor! Assim você me mata de tédio!”

Logo veio uma série de estampidos e flashes de luz na fumaça.

“Lá vem a artilharia!” Para desviar das balas a caminho, Kirika deu um salto. “Você deve conseguir me sentir também! Já estou chegan...”

Quando se deu conta, a ponta de uma baioneta estava quase em seu olho.

Kirika afastou o perigo com uma das garras. “Opa! Opa! Opa!”

Dezenas de mosquetes com baionetas voavam em direção a ela com a intenção de empalá-la.

“Mami-san e seus truques.” Kirika abria caminho por eles. “Quase me pegou, continua tentando!”

Voltando ao chão e dando impulso para mais um salto, Kirika chegou ao outro lado da nuvem de fumaça.

Mami estava no chão, no lado de fora. Sua expressão de surpresa indicava que ela havia avistado sua oponente, mas não que isso bastasse para ela poder reagir.

“Aí está a fonte e aí está você!” Kirika pousou nas costas da Mami. “Meu amorzinho ficaria muito desapontada em ver essa sua performance, senpai.” Em um giro, ela rasgou a loira com as suas lâminas.

Literalmente.

“Hã?!” Grande foi a surpresa de Kirika ao ver sua oponente se tornar uma mero monte de tecido. “Como...” O som distorcido de um tiro e a dor lancinante em suas costas a silenciou. Com o olho que não estava tampado, ela testemunhou seu abdômen explodir em um jato vermelho, acompanhado de uma pequena esfera amarela. Ela fixou o olhar naquela esfera se afastando até seu nariz e boca se encontrarem com o chão duro e úmido.

/人 ‿‿ 人\

Oriko parou de repente.

Para a confusão de Yuma. “O que foi mama?”

Oriko olhou para trás por um momento, até onde o túnel fazia a curva. “... nada. Vamos, estamos quase lá.”

Elas voltaram a andar depressa, até alcançarem a saída para a galeria.

E lá estava.

Sua visão.

Seu pesadelo.

Oriko foi tomada por um súbito mal estar. Aqueles inúmeros Kyuubeys, a maioria conectados com aquela grande esfera negra. O prisma pequeno, a origem de todo o mal, orbitando o grande prisma com a garota, o símbolo de toda a sua esperança.

Era tudo tão igual e ao mesmo tempo tão diferente. O ar úmido e frio, o chão duro que incomodava sob a sola de seu calçado e, especialmente, a luva quente e confortável de Yuma.

Oriko sentiu seu corpo mais pesado. Afinal, esse era peso do presente. Era isso que todas as suas contrapartes passaram? Essa mesma sensação? Esse... medo?

“Nossa... quantos Kyukyus...”

Ela apertou a mão de Yuma. Se ela viu todas aquelas vezes a menina perecer, foi para que isso não ocorresse. “Você deve estar chocada, não é minha querida?”

“V-Você viu tudo isso?” Yuma olhou bem para Oriko. “Por que... essa garota está pre...?

“É isso que eu queria dizer!” Oriko se abaixou, sua expressão conturbada. “Aquela garota não está presa, aquilo é para protegê-la!”

“Hã?!”

Notando o susto da menina, Oriko procurou se acalmar. “Kyuubey enfrentará algo terrível que quer ela e o nosso mundo. Não podemos tirá-la de lá, não agora.” Apertou bem os lábios e suspirou. “Mami-san, Sakura-san, eu vi que não conseguirei convencer elas disso, mas você confia em mim, não confia?”

“C-Claro mama!” Yuma balançou cabeça, confirmando. “Eu nunca mais vou duvidar de você.”

Oriko desviou olhar, sua face e pescoço se contraíram.

“Mama?”

Uma singela lágrima desceu sobre seu pômulo, que ela logo tratou de remover. “Isso minha... filha. Isso...”

[Oriko Mikuni.]

As duas garotas voltaram sua atenção para o Kyuubey que se aproximava.

[Yuma Chitose.]

“Kyukyu!” Yuma estendeu os braços em direção a criatura, que logo pulou em seu colo. “Essa é toda a sua família?”

[Família?] A cabeça de Kyuubey estremecia com o acariciar da menina. [Pode se dizer que somos da mesma espécie.]

Yuma passava a mão por aquele corpo felpudo. “Sabia que eu estava com saudades? Então estava todo esse tempo protegendo essa garota e nosso mundo de uma grande ameaça?”

[Não somente este mundo, mas todo o universo.] Os olhos vermelhos e imóveis de Kyuubey estavam focados em Oriko.

A garota mágica branca fazia o mesmo, com a respiração presa e um sutil movimento em suas têmporas.

“Kyukyu!” Yuma segurou o corpo de Kyuubey e o fez ficar face a face. “Tem muita coisa ruim acontecendo lá fora, gente se machucando! Por que não avisou? E são tantos de vocês... não podia enviar alguns para coletar os cubos?”

[Isso tudo é para poder garantir o sucesso. Não queríamos o envolvimento de garotas mágicas.]

“Yuma, ele tem razão.” Oriko interveio. “Lembre-se do que eu disse, do que eu vi. Mami-san e Sakura-san. Tem que entender.”

“Uhum.” Yuma abaixou a cabeça. “Eu entendi.”

“Contudo.” Dessa vez, Oriko dirigiu a palavra para a criatura. “Sem a nossa ajuda, você não vai conseguir.”

“O que devemos fazer?” Yuma inquiriu.

“Por enquanto.” Oriko ficou olhando para a garota dentro do prisma. “Apenas esperar.”

/人 ‿‿ 人\

Com as mãos fechadas, Kirika ergueu seu corpo com dificuldade. Perdendo a concentração, tudo havia voltado a velocidade normal e suas garras desapareceram. O sangue se misturava com a água.

“Quando alguém consegue se fazer mais rápido que seu oponente, eles buscam atacar pelas costas. É uma tática plausível, porém previsível.”

Já de joelhos, Kirika se virou para responder. “Ah... Olha quem... fala.” Contudo ela não encontrou Mami, a dona daquela voz, mas apenas parte de um cano de um mosquete flutuando em pleno ar.

“Esse não foi o seu maior erro.” Então laços, com um arranjo de cores que mimetizavam perfeitamente o espaço a sua volta, começaram a cair, revelando a loira segurando a sua arma.

Em seguida, Kirika testemunhou um laço amarelo, antes invisível, surgir. Ele conectava Mami com o monte de laços que outrora fora a sua imitação.

Mami usou o laço para puxar algo daquele monte, que foi parar direto na palma da sua mão. “Localizar seu adversário através da origem da sua magia é bem conveniente, mas jamais deve ser usado como único método.” A gema da alma dela estava bem escurecida.

Os laços do monte saíram voando, passando por Kirika, alcançando e sendo absorvidos pela gema, trazendo de volta um pouco do seu brilho. Enquanto isso, Mami fez seu mosquete se desfazer e reformar em um novo.

“Camuflagem?! Você é um canivete suíço ou o quê?” Kirika fechou os olhos e desatou a rir. “KukukuaaaaAAAARRGGH!”

Até que Mami enterrou a baioneta de seu mosquete no lado direito de seu peito.

“Vadia... eu... ah”

“É melhor conservar seu ar, eu perfurei seu pulmão.” Mami falou sem demonstrar um traço de compaixão. “Você consegue deixar mais lento o movimento e a noção do tempo dos outros, não é? Eu conheci uma pessoa com habilidade similar a sua e tenho certeza que nessa situação você não vai conseguir escapar. Se tentar usar qualquer magia, eu não vou hesitar em puxar o gatilho.”

“Droga Mami! Por que não matou ela ainda?” As Kyoukos vinham através da fumaça que se dissipava. Assim que chegaram mais perto das duas garotas, os clones se desfizeram em um amontoado de laços.

Nos quais foram absorvidos pela gema da Mami, que ela levou até ao centro da jóia em forma de flor em sua cabeça. “Eu disse a você! Isso não faz sentido! Elas tiveram melhores oportunidades para nos liquidar antes e por que não atuaram juntas?” Ela segurou o mosquete com as suas mãos, voltando sua atenção para Kirika. “Se fosse para fugir e proteger Yuma-san, ela teria voltado e não adentrado ainda mais pelas galerias. Tem algo muito estranho aqui.”

“Kukugh...” A risada de Kirika fora encurtada pela dor. Partindo do grave ferimento em seu abdômen, um líquido vermelho escuro de aspecto grosso escorria até as suas pernas.

“Eu acertei seu fígado.” Mami dizia com frieza. “Você deve ter alguns minutos antes de perder consciência.” Então ela arregalou os olhos, enfatizando. “Quando isso acontecer, eu irei destruir sua gema, EXCETO se você me contar o que Oriko-san está planejando.”

Kirika sorriu. “Mesmo se eu soubesse... ah... eu não contaria.”

“O quê?!” Mami franziu a testa. “Você obedece a ela cegamente?”

Kyouko se manifestou. “Ela é louca, eu já falei.”

“Ah... Loucura seria duvidar da minha Oriko.” Sangue vermelho vivo banhava a língua da Kirika. “Seria... o mesmo que duvidar o que eu sinto por ela...” Ela então olhou nos fundos dos olhos da Mami. “Se isso acontecer... minha vida não teria mais sentido, nem como pessoa, nem como garota mágica.”

“Você... fez o contrato por ela.” Mami piscou seguidas vezes, surpresa com a sua própria conclusão.

“Kukugh... Eu vou até o inferno, é só ela pedir.” Kirika cerrou seus punhos com mais força. “Porque eu sei que ela sempre estará certa.” E então, ela jogou para o alto o que havia em suas mãos.

Mami viu aqueles cubos negros subirem até a altura de seus olhos.

“Mami!”

O chamado da Kyouko a alertou da sua breve distração. Uma aura violeta já havia se formado e não havia mais nada a se fazer além de seguir seus instintos e cumprir a sua ameaça.

Kirika já estava com as suas garras quando o mosquete disparou, explodindo o peito da mesma.

Ainda assim, para Mami, o que veio seguir foi um rápido movimento das lâminas de energia, cortando os cubos que estavam no ar. Eles então estouraram, espalhando uma densa fumaça negra.

“Droga! Para onde ela foi!”

Em meio aquela fumaça, Mami só podia ouvir a ruiva. Kirika havia desaparecido e ela não conseguia sentir sua magia. A loira tinha certeza de tê-la acertado, deveria estar fraca, mas não era uma certeza se estaria inconsciente. [Kyouko. Você me ouve? Temos que tomar cuidado.]

A sua companheira não respondeu.

“Kyouko!” Os olhos de Mami ardiam, a fumaça tinha um intoxicante cheiro de borracha queimada. “Cof! T-Temos que sair daqui!” Com os olhos fechados, ela correu em linha reta até sentir um familiar calor vindo do alto.

Ao abrir os olhos, Mami teve que protegê-los da luz cegante. Ainda que entre nuvens, o sol anunciava o dia. Se acostumando com a luminosidade, ela foi descobrindo aonde se encontrava.

Era uma cena de destruição. Em meio a estrada se encontrava vários veículos envolvidos em um gravíssimo acidente.

Mami arregalou os olhos. “Onde?” Então percebeu a arma que carregava e a roupa que vestia. “Como?” Aquele espartilho, a saia amarela, suas longas botinas... a mistura de amarelo, branco e marrom era tão estranha, mas ainda fora capaz de acender fagulha em sua memória. “O contrato...” Que trouxe consigo uma grande aflição.

Algumas dezenas de metros dela se encontrava um veículo capotado, no qual ela logo reconheceu. “Mãe... Pai!” Mami correu até lá, passando ao lado de um caminhão destruído e pedaços de outros veículos.

Chegando mais perto, seu desespero cresceu. O carro estava com uma lateral e o topo completamente amassados com os impactos. “Mãe! Pai!” Não havia resposta, apenas um silêncio mortal. “Por favor! Não!” Com as pernas bambas, seu coração pela boca, Mami usou o corpo da sua arma, numa vã tentativa de abrir caminho entre as ferragens.

[Eles já estão mortos.]

Aquela súbita voz em sua cabeça trouxe uma mistura de susto e raiva. Em um ato instintivo, ela se virou e apontou a arma para a criatura que estava no asfalto. “Você...”

Kyuubey estava estático. [Essa arma está descarregada, Mami Tomoe.]

Mami puxou o gatilho algumas vezes para ter certeza. Vendo que aquela criatura disse era verdade, ela descartou a arma e formou uma nova com os seus laços. “Por que não me disse que eu podia salvar eles?” Disse enquanto apontava contra Kyuubey.

[É contra nossa política oferecer sugestões, você sabe disso, assim como você sabe que nessa época você não seria capaz de fazer o que fez agora.]

“Hã...?” Mami olhou para o mosquete que estava segurando.

[A mente e a alma são elementos intrigantes. Unidos, trazem resultados completamente ilógicos.] Kyuubey se enrolou em sua própria cauda [Por exemplo, o fato dessa ilusão fabricada por você ser tão perfeita, detalhista e coerente quanto as minhas faculdades lógicas e senso crítico.]

“Ilusão?”

Kyuubey continuou. [Ao mesmo tempo em que fora tão imprecisa quanto ao cenário. Olhe em sua volta.]

Mami seguiu o conselho. A estrada seguia em linha reta em ambas as direções até desaparecer no horizonte. Além da mureta de proteção nas laterais havia apenas o céu. Nenhum morro, construções, não havia nada que indicasse que haveria algo além daquele asfalto.

O chão começou a estremecer.

[Se atirar em mim, estará tudo acabado. Tente se lembrar. Onde você estava antes disso?]

Mami baixou a arma e levou a mão à cabeça. Tateou sua jóia e apressadamente retirou a gema que estava ali. Logo descobriu que estava completamente escura. Os músculos de seu corpo perderam força, como se aquela realização fosse um veneno debilitante.

O chão balançou violentamente, fazendo a loira desequilibrar e cair de joelhos. Ao longe ela viu o que havia causado aquilo: na lateral da estrada se erguiam gigantescos laços amarelos, com dezenas de metros de largura e mais de uma centena em altura. Aquelas toneladas de tecido caiam sobre a estrada, esmagando tudo o que estivesse abaixo. Cada vez eles se erguiam mais próximo dela.

[Você deve ser rápida, Mami. A ilusão está se estilhaçando, o que estava escondido fora revelado.]

Em um esforço, vasculhando a sua memória, Mami soltou sua arma e levantou sua saia. Amarrado na coxa direita estava uma pequena bolsa feita de laços. De lá, ela pegou alguns cubos. “Aahh!”

O tremor foi tão forte, que jogou Mami no ar, fazendo ela deixar cair a sua gema. Um laço gigante havia caído a poucos metros de onde ela estava, pedaços do caminhão que fora prensado rolava pelo asfalto. Então uma sombra se formou sobre ela.

Um novo laço se erguia, pronto para cobrir o espaço da estrada onde exatamente ela estava.

[Mami.]

Sob os apelos de Kyuubey, a loira, ainda deitada de bruços no chão, arremessou os cubos da aflição até onde a sua gema da alma havia rolado. Assim que chegaram próximos o suficiente, os cubos começaram a purificar.

O laço inclinou, desabando como uma torre.

Mami tentou se levantar, mas suas pernas não conseguiam sustentar seu peso. A sombra fora ficando mais escura, próxima. Ela fechou os olhos, aguardando o pior.

A força esmagadora, porém, não veio, apenas o frio do chão molhado.

Quando voltou a enxergar, Mami viu que estava de volta a galeria. Ainda caída e zonza, ela examinou a manga de seu suéter amarelo com estampas de flores brancas, longe de ser suas vestimentas de garota mágica. Logo a frente dela estava a sua gema da alma com os cubos negros envolta ainda absorvendo sua corrupção, fazendo a gema acender lentamente como uma lâmpada incandescente. Olhando envolta, ela constatou que a fumaça negra se fora.

Nessa hora encontrou Kyouko, também caída e sem seu vestido vermelho mágico. Estava tremendo, uma expressão de dor estampada em sua face.

“K-Kyouko...” A voz saiu na forma de um suspiro. Mesmo fraca, Mami se esticou e pegou um punhado dos cubos que estava no chão. Com toda a força que tinha no momento, ela os arremessou para a sua companheira. “A-Aqui...”

Infelizmente, uma mão os interceptou. “Obrigada! Kuku...” Kirika levou os cubos até suas costas. Seu uniforme de garota mágica estava banhado em sangue, o vermelho vivo do rombo em seu peito misturando com o escuro em seu abdômen.

Mami arregalou os olhos. “Como...?”

“Conseguiu se recuperar... ah... deveras, você não absorveu tanto quanto aquela ali.” Kirika apontou para Kyouko. “Você chegou a imaginar isso? Que esses cubos não serviam só para purificar? Uh... Meu amorzão sim... Kukugh”

“Como...”

“Hã...” Kirika franziu a testa, depois sorriu. “Ah sim... como eu posso estar de pé... e... ah... falando com esses... buracos que você botou em mim.”

“Sua magia...” Mami desviou o olhar, contemplando tal possibilidade.

“Corretíssima! Não esperava... menos da nossa querida senpai! Kuku...” Kirika abriu um sorriso ainda maior. “Minha magia não... ah... se aplica apenas aos outros. Eu posso, por exemplo, reduzir minha freqüência cardíaca e a... ah... velocidade do meu fluxo de sangue. Eu vou durar bem mais que alguns minutos. Kukuh...”

Mami percebeu, ainda que Kirika estivesse confiante, que a garota realmente estava gravemente ferida. Seu ombro direito estava caído, graças a escápula fraturada.

Enquanto a garota em pé, ainda que lentamente, continuaria perdendo sangue e magia, ela já sentia bem mais forte.

A gema da alma brilhava uma intensa luz amarela.

Assim que conseguiu algum apoio com as mãos e pés, Mami se jogou.

Uma aura violeta se formou.

Ela estendeu a mão até o seu objeto vital, no qual segurou firmemente. Tão firme quanto o pisar em seu pulso feito por uma bota. “Ah!”

“Eu posso estar devagar... ehh... mas posso deixar você muito mais!” Kirika estendeu uma garra, quase tocando a mão da Mami. “Vamos brincar disso de novo? Se você... usar sua magia... uhg... eu corto sua gema em duas!”

Mami olhou com raiva para a sua agressora.

“Meu amorzão pediu encarecidamente que eu... e... eu... não matasse vocês duas.” O sangue da Kirika pingava sobre o braço que ela pisava. “Não faça isso ser mais difícil.”

“O que ela quer então?”

Kirika voltou a sorrir, sua voz menos ameaçadora. “Ei. Sabia que eu nunca vi uma... ah... garota mágica desaparecer?”

“UUhhhhgg... AAAhhgg...”

As duas olharam para Kyouko, que agonizava.

“Vocês duas desaparecendo juntinhas. Uh... Como seria romântico, né? Mas agora... que você estragou tudo... ah... vai ter que presenciar isso.” Disse Kirika. “Aposto como você vai querer ir logo atrás. Kuku...”

Mami apertou a gema em sua mão. Kirika seria rápida demais se ela tentasse qualquer coisa. Sua única esperança estava em sua companheira. Kyouko... eu sei que você é forte...

/人 ‿‿ 人\

“Irmãos e irmãs!”

Kyouko sentiu estar amarrada em algo duro antes mesmo de abrir os olhos. Logo constatou que estava em um grande tronco. Apesar de estar usando seu uniforme de garota mágica, seu corpo estava muito fraco.

“Alegrai-vos, pois chegou o dia que a justiça divina prevalecerá!”

Ela estava sobre um palanque de madeira. Em volta dela havia uma grande platéia de pessoas, usando máscaras de papel, a observando.

“O dia que essa bruxa pagará pelos seus pecados!”

A familiaridade daquela voz chamou a atenção de Kyouko para o padre que estava em frente ao altar. Ele também usava uma máscara de papel, mas as feições da face que estavam representadas nela fez a garota reconhecê-lo de imediato. “Pai...” Então ela também reconheceu onde estava. O hall da igreja estava mal iluminado, a única fonte vinha da luz tremulante e quente dos vitrais, anunciando que lá fora ocorria um grande incêndio.

“Vejam e ouçam!” O padre apontou para Kyouko. “Como o diabo fala por ela! Ainda ousa dizer que é de meu sangue. Aquele que vende a sua alma, não é um de nós!”

A platéia, ensandecida, clamava. “Queime a bruxa! Queime a bruxa! Queime a bruxa!”

Ouvindo aquilo, Kyouko estremeceu. Onde ela estava não era uma plataforma e sim uma grande fogueira preparada para ela. “Não... pai! Por favor! Ouça a minha confissão!”

A igreja ficou em silêncio, apenas se ouvia o som das grandes chamas lá fora.

“Eu sei que pequei. Eu me deixei cair tentação.” Kyouko deixou cair um par de lágrimas. “Mas eu estou arrependida pelo mal que eu fiz, realmente estou. Eu não sou digna, eu sei, mas peço pela misericórdia e graça de nosso Senhor.”

“É muito tarde para isso, Ko-chan.”

Kyouko olhou para baixo, para platéia, e encontrou aos pés da fogueira uma menina com cabelos cor de pêssego. Sua máscara apresentava um semblante sorridente. “Mo-chan... Mo-chan!”

“Ko-chan.” A menina pendeu a cabeça para o lado. “Você não ouviu as palavras do nosso pai? Suicidas não vão para o céu.”

Os vitrais da igreja estouraram e as chamas ardentes invadiram, incinerando o altar e seu padre.

Kyouko ficou boquiaberta. “Não...”

Na platéia, um a um, as máscaras de papel começaram a pegar fogo. Eram como velas que se acendiam, cada vez mais próxima da fogueira.

“Eu, mãe, pai... você nos condenou e agora vamos compartilhar isso, assim como sempre fazíamos, né? Você está em casa agora, Ko-chan.” Assim que terminou de dizer as últimas palavras, a máscara de papel da menina se incendiou.

“Não! Mo-chan!”

A menina cambaleou e caiu, ateando fogo na fogueira. A platéia, como zumbis, marchava para o mesmo fim.

Kyouko contorceu-se em desespero. “Eu sinto muito. Eu sou um monstro.”

QUEIME!

BRUXA!

QUEIME!

A voz da multidão ecoava pela igreja em chamas.

“Oh Deus...” Kyouko olhou para o alto, suor e lágrimas lavando a fuligem da sua face. “Me destrua, por favor. Aniquile meu ser completamente.”

QUEIME!

“Mas não deixe a minha família aqui!”

BRUXA!

Quando as línguas de fogo começaram a lamber sua carne, ela então viu algo se formar em pleno ar. Feito de brasas e cinzas, era um cavalo que soltava fogo pelas ventas ao relinchar, como se fosse um dos quatro do apocalipse.

Em meio a dor absoluta, Kyouko presenciou a criatura cavalgando até ela, até que seus olhos derretessem.

/人 ‿‿ 人\

Entre os Kyuubeys abaixo e a esfera negra, em sua posição fixa no ar, o grande prisma contrastava com o menor que o orbitava.

A garota que residia nele, Madoka, era como uma estátua, um símbolo de paz, ignorante aos eventos além da fronteira de cristal.

Ledo engano, no entanto, pois para um atencioso observador, que estivesse próximo o suficiente, constataria algo muito sutil neste exato momento.

O leve tremor de suas mãos.

/人 ‿‿ 人\

“Homura-chan! Não se mexa tanto!”

Era mais um belíssimo dia no campo florido. Enquanto suas crianças brincavam ao longe, Homura, sentada sobre a relva, se esforçava em terminar sua obra. “Madoka, eu estou quase terminando a coroa de flores. Se puder esperar um pouco.”

“Ah... mas eu queria terminar junto contigo.” Nagisa, em pé, entrelaçava ramos e encaixava flores naqueles longos cabelos negros para formar um véu. “Seu cabelo é muito liso. Se ficar mal feito, vai se desmanchar assim que você se levantar.”

“Então eu não me levanto, oras.” Respondeu Homura.

“Hmmm... Assim vai ser ruim também.” Nagisa resmungou. “Você não pode ficar aí parada o tempo todo. Eu queria ver você dançar com isso, rodopiar, fazer fetes.”

Fouettés.” Homura corrigiu.

“Isso... ehihi.” Sorrindo, Nagisa continuou. “Homura-chan, você bem que podia me ensinar.”

“O quê...”

“Alguns passos.”

Homura deixou cair a flor que estava prestes a colocar na coroa. “Eu sei mais os nomes deles do que executá-los.”

“Não é verdade!” Nagisa retorquiu. “Eu vi como você dança. É maravilhoso!”

“Madoka.” Homura respirou fundo e disse em tom sério, pausado. “Eu realmente não posso te ensinar isso.”

Nagisa sentiu o peso daquelas palavras, ao ponto de tirar as mãos que manejavam o cabelo. “Desculpa...”

Houve um breve silêncio entre as duas, antes que Homura se manifestasse. “Fui rude. Eu que devo pedir desculpas.”

“Não! Não!” Nagisa gesticulou. “Foi um pedido bobo de minha parte. Ehihi.” Puxando seu cabelo branco para esconder parcialmente sua própria face, ela disse, hesitante. “Porém... eu ainda quero que você jogue esse seu cabelo florido.”

Homura acenou com a cabeça, com uma voz mais tranqüila. “Já está florido então?”

“Oh não!” Nagisa se apressou em mexer no cabelo. “Ainda tenho que colocar mais algumas flores nesse lado.”

“Uhum.” Homura voltou a focar em na sua coroa de flores coloridas. “É que eu praticamente terminei, mas ainda preciso ver se vai encaixar na sua cabeça. Já que não quer que eu me mexa, poderia vir aqui na minha frente para nós vermos isso?”

Apesar de esperar, Homura não recebeu nenhuma resposta. “Madoka?” Nem sequer seu cabelo estava sendo mais puxado. Ela se virou, deixando cair algumas flores do seu véu.

Nagisa estava olhando para algum ponto distante, apreensiva. Seus longos cabelos brancos e seu vestido cor de rosa balançaram com uma súbita rajada de vento.

“O que foi?” Homura perguntou.

Com a respiração curta e rápida, Nagisa respondeu. “Sofrimento...”

/人 ‿‿ 人\

Fortissimo.

Imersa a música da orquestra, coberta pela sua capa branca, Sayaka estava sentada em uma posição de lótus em meio ao seu grande anfiteatro.

Meditando, ela se concentrava no objeto sobre a palma da sua mão esquerda. Uma esfera negra envolto por adornos metálicos, com alusões de uma pauta musical e um símbolo, semelhante a uma nota, em forma de ‘C’. Tal símbolo também se encontrava no topo da esfera, enquanto no pólo oposto havia um fino pino de metal por onde o objeto se equilibrava.

Aquela era sua semente da aflição, sobre a mesma mão que ela curou daquele ingrAto.

kYoUSuKE KAmIJoU.

Como ele não percebeu? Éramos amigos de infância, podíamos ser muito mais. Era certo que sim. Eu arrisquei minha vida por isso.

iNGrATO!

Então aquela garota, que se dizia ser minha amiga, o tirou de mim. Sua voz NoJenTa! Sua risada nOjEntA! Sua respiração NoJEnTA!

hITomI sHiZUki.

tRaIDoRa NoJenTA!

Sim! Como hOMuRa, NaGIsa, MADoKA. Todos MeNTEm, todos tRAem.

Por quê? Porque eles me acham fEia, FrAcA. Todos se aproveitam daqueles que não tiveram uma vida jUSTa.

Mas iSsO POdE Mudar!

Tremendo, Sayaka estava ensopada, a água escorria por sua capa azul marinho. Os seus pensamentos vinham do chão, das paredes, do sibilo dos violinos. Sua identidade se afogando, sendo dominado pela sua própria barreira.

Um dos seus lacaios se aproximava. Uma imitação barata daquela tRAiDOrA NoJEnTa! Em seu eterno choro, ela se ajoelhou diante da sua mestra e abaixou a cabeça. Puxou seu cabelo comprido verde para deixar exposta a sua nuca.

Eu não sou mais humana. Não preciso seguir as leis dos humanos, ainda assim anseio pela eXeCuÇÃo!

Pela JUsTIÇa!

Sayaka apreciava o reflexo metálico de suas manoplas. Ela era forte agora.

Posso trazer aquele iNGrAtO aqui. Quero ouvir ele tocar para mim, enquanto eu trespasso a minha lâmina nessa tRaIDORa NOjEnTa na frente dele. Ele vai sorrir. Ele tERá que sorrir. É JuSTo assim.

Um sabre conjurou na mão direita da Sayaka. Seria tão fácil. Contudo, uma parte de si ainda clamava por dentro da armadura.

Uma recompensa efêmera.

Aquilo jamais a saciaria, apenas instigaria a voracidade da sua ira ainda mais.

Viver sob meus impulsos e vontades, onde isso seria justo para os outros? Isso só levará para um caminho solitário.

Sayaka fechou sua manopla, pressionando sua semente. Ela se lembrava de alguém que já tomou esse caminho uma vez e retornou para buscá-la. Alguém que descobriu que não valia a pena viver assim.

Kyouko...

De súbito, uma cacofonia de sons estridentes tomou conta do lugar. “aAaAAAaHHhhHh!” A armadura e a espada de Sayaka se liquefizeram enquanto ela se levantava assustada.

Um tremor atingiu a barreira. A superfície líquida do qual os músicos da orquestra eram compostos vibravam de forma errática. Seus movimentos perderam a harmonia necessária para tocar seus instrumentos.

Sayaka estremeceu também. Engoliu seco realizando o que aquilo significava.

/人 ‿‿ 人\

aaaaAAAHHHH! IIIAAAHHH! AAARRHH!” Kyouko se debatia violentamente sobre o concreto úmido.

“Nossa! Que escandalosa!” Kirika ficara surpresa ao ver aquilo. “Eu achei que... ah... desaparecer fosse algo mais tranqüilo.”

“Então por favor! Faça parar!” Mami clamou.

“Relaxa.” Kirika voltou a olhar para Mami. “Quando ela sumir... você não vai mais ouvir os gritos dela. Você vai...”

Mami não conseguiu ouvir o resto, pois Kirika foi arremessada para longe por uma lufada violenta acompanhado de um estrondo. Quando percebeu, a loira viu seu mundo girar enquanto voava sem rumo. Nessa situação, a única atitude que ela conseguiu pensar foi fazer sua gema brilhar.

Um baque atrás da sua cabeça e tudo desapareceu.

/人 ‿‿ 人\

“O que foi isso?!” Yuma sentiu o solo estremecer.

Kyuubey pulou de seu colo e olhou em direção ao túnel.

“Atrás de nós.” Oriko se virou para o túnel também. Dentro dele começou a se formar uma neblina.

Yuma levou as mãos ao peito. “Mama, aconteceu alguma coisa com elas?”

“E-Eu não sei!”

“Hã?!”

“Eu não cheguei prever isso!” Oriko se virou para Yuma, seus olhos arregalados. “Kirika... ela está correndo perigo!”

“Oh não!”

“Ela precisa de tu!” Oriko disse em tom de apelo. “Eu ficarei com Kyuubey. Agora vá!”

Yuma olhou de um lado para o outro, aquilo tudo aconteceu tão de repente. Não, ela não podia hesitar. Acenou. “S-Sim mama!” E saiu correndo.

Enquanto Oriko via a menina, com o seu pisar apressado e apreensivo sobre as poças de água, indo em direção ao túnel, suas feições, outrora de preocupação e surpresa, ficaram impassivas.

Vá Yuma. Salve Kirika e a si mesma.

Se virando novamente, ela olhou para garota dentro do prisma e para os Kyuubeys, seus olhares vermelhos brilhando no ambiente escuro da galeria. Não faltavam testemunhas.

[Esse pico de energia...]

Ouvindo o Kyuubey distraído que estava na frente dela, Oriko desviou seu rosto dele e falou consigo mesma. “Você tinha razão Sakura-san, somos somente matéria prima para ele. Porém, você fora enganada, todas nós fomos. Não há Lei dos Ciclos, nem sequer desaparecemos em paz. Ele mentiu para nós, com fantasias para esconder nossos cruéis destinos.”

Ela então abaixou a cabeça, olhou de relance para sua gema brilhante. “O pior é que eu não sou diferente dele, eu não consegui ser. Sinto muito, Mami Tomoe-san, mas existem momentos em que precisamos ser heróis e outros em que precisamos fazer o que é necessário. Isso é algo que aprendi desde cedo.” Pequenas gotículas se formaram no canto de seus olhos. “Afinal, eu sou uma Mikuni.”


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: O caixão do diabo



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