Visionária escrita por Jafs


Capítulo 8
Visionária


Notas iniciais do capítulo

No dia 15/10 faz um ano que eu comecei a publicar a fanfic 'Desconexão', antecessora a essa. Como forma de comemorar, nada como o maior capítulo já publicado até agora. Boa leitura!



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MITAKIHARA 02

Oriko leu o texto na parede assim que abriu os olhos. “Mais uma visão.”

“Mama, esse lugar me dá medo.”

Surpresa em ouvir aquela voz, Oriko se virou. O que testemunhou deixou ela ainda mais espantada.

Yuma estava ali e havia dirigido a palavra para Oriko, mas não ela exatamente, e sim para outra Oriko.

Kirika também se encontrava. “É verdade, esse lugar é bem sinistro.”

“Mas esse é o local, não há dúvidas.” A outra Oriko respondeu.

“Como?! O que é isso?” Oriko continuava com os olhos arregalados. “Estou vendo a mim mesma no futuro?!”

As três garotas passaram por ela sem que notassem.

“Isso nunca sucedeu. Eu já vi grandes eventos e catástrofes sem que eu estivesse lá, mas isso...” Então se deu conta. “É claro. Eu nunca estive, se eu estivesse...”

E adentraram no túnel que daria acesso para a próxima galeria.

“Então eu finalmente irei encontrar o lugar, talvez eu consiga mais informações se eu acompanhar elas.” Oriko as seguiu.

Durante a caminhada pelo túnel. Yuma voltou a falar. “Nós vamos encontrar o Kyukyu?”

“Acredito que sim.” A outra Oriko disse.

“Que lugar para ele se esconder.” Comentou Kirika.

Esconder? Kyuubey? Oriko se perguntou o que aquilo significaria.

A outra Oriko continuava a liderar o grupo. “Com todos aqueles soldados e blindados lá fora, esse lugar no limite da cidade é bem conveniente.”

“Blindados? Soldados?!” Oriko sentiu um arrepio. “Estamos em guerra?! Essa minha visão está quanto tempo a frente no futuro? Apesar que ao menos agora eu tenho uma noção de onde esteja esse local.”

Kirika deslizou os dedos pela parede, sentido a umidade do túnel. “Minha mãe deve estar louca atrás de mim agora. Espero que ela não morra do coração.”

“Não temos escolha.” Disse a outra Oriko. “Se falharmos, nós todos pereceremos.”

“Por que Kyukyu estaria fazendo isso...” Yuma ficou cabisbaixa e parou.

“Hmmm... Parece que cheguei a contar para Yuma sobre o envolvimento de Kyuubey.” Oriko falou consigo mesma.

“Por que mama? Por que ele teria uma garota presa?”

A outras duas garotas também pararam. Kirika falou. “Ei amorzinho, não fica assim.”

Yuma continuava a lamentar. “Ele não é do bem? Nós não somos do bem?”

“Eu sei como as coisas estão difíceis, mas não chore.” A outra Oriko se aproximou e abraçou Yuma, acariciando sua cabeça. “Por favor. Sabe como sua gema escureceu da última vez.”

Oriko levou a mão ao peito e suspirou. “Ela não recebeu isso muito bem...”

“Eu não deveria ter usado o termo ‘prisão’.” A outra Oriko continuou. “Pode ser que aquilo que eu vi seja para protegê-la. Nós iremos descobrir logo, ok?”

Yuma acenou com a cabeça.

A outra Oriko sorriu. “Bom. Vamos, temos um mundo para proteger.”

Oriko acompanhou a sua contraparte do futuro com a sua família até fim do túnel, onde enfim se depararam com o que antes apenas constava em suas visões.

Yuma foi a primeira a arregalar os olhos. “Nossa... quantos Kyukyus...”

Kirika levantou seu tapa-olho para ter certeza. “É exatamente como você descreveu.”

“Sim... eu não estava errada.”

Oriko notou a apreensão na voz da sua contraparte. Quem melhor para perceber isso do que ela mesma. Seu coração também apertou: era mais uma prova de que aquilo seria um fato vindouro.

E que o pior estaria por vir.

No entanto, dessa vez os Kyuubeys não ignorariam. Centenas, senão milhares, tinham seus olhares vermelhos fixos naquelas visitantes inesperadas.

“Ela é linda, não é mama?” Yuma observava o grande prisma e a garota que estava lá dentro.

“Sim e iremos ajudá-la.” A outra Oriko deu um passo a frente. “Kyuubey! Venha aqui!”

Dentre as inúmeras criaturas, uma delas se aproximou.

“O que significa isso?” A outra Oriko apontou para o grande prisma e para a esfera negra acima dele.

Kyuubey pendeu a cabeça para o lado.

“Eu estou aqui porque eu tive uma visão do futuro.” A outra Oriko então rangeu os dentes. “Agora que já sabe, vamos falar do que interessa. Você tem idéia do que vai acontecer?”

“Hã?! Kyuubey falou alguma coisa?” Oriko franziu a testa.

A criatura estava imóvel.

“Uma entidade de pura aflição... então você sabe.” Disse a outra Oriko, enquanto levava a mão até a sua gema da alma. “E pretende usar essa garota mágica para atraí-la. Isso é realmente necessário?”

Entendo. Oriko ponderou. Kyuubey usa da telepatia para se comunicar. Eu posso ver e ouvir em minhas visões, mas apenas minha contraparte e as outras garotas presentes receberão as mensagens telepáticas em suas mentes.

A outra Oriko ficou intrigada. “Flutuações?! Do que está falando?”

Até que ela e Oriko olharam para o prisma e disseram em uníssono. “Oh não...”

O prisma menor, que orbitava o maior, adquiriu um intenso brilho violeta.

Kirika ficou boquiaberta. “Amorzão...”

O violeta deu lugar para o preto e o pequeno prisma se quebrou. De dentro dele, tentáculos negros começaram a sair e se aglutinar, formando uma massa sem forma definida.

“Ah! Que coisa horrível!” Yuma trouxe a sua vara para mais perto de si.

Daquela massa, novos tentáculos se formaram. Alguns deles atacaram e fizeram vítimas entre os Kyuubeys, enquanto outros se agarraram ao grande prisma aonde a garota desacordada estava.

Kirika fez uma careta. “Eca! Essa coisa parece bem nojenta.”

Ao chegar mais próximo da esfera negra, o monstro começou a ser absorvido pelo mesmo e perder tamanho.

O Kyuubey perto da Oriko do futuro estava estático, observando aquilo tudo.

Até que ela falou. “Não Kyuubey. Isso não vai ocorrer conforme você espera.”

Entre fragmentos do prisma menor exalava uma essência escura, que alimentava aquela massa disforme, que voltava a crescer.

“É por isso que estamos aqui. Kirika.”

“Certo amorzão. Para cuidar dessa coisa aí, vou precisar dos grandes.” Kirika ergueu ambos os braços e por debaixo das mangas saíram longas garras de energia, com mais de um metro de comprimento.

“Foque nos tentáculos, mas cuidado para não atingir o prisma. Eu usarei meus raios contra o núcleo daquilo.” A outra Oriko começou a conjurar esferas. “Kyuubey, é melhor você se afastar.”

“Mama, e eu?” Yuma perguntou.

Oriko viu sua contraparte se virar e sorrir para menina ao dizer. “Fique afastada. Guarde sua magia para o caso de precisarmos de auxílio, ok?”

Yuma segurou sua vara com mais firmeza. “Certo!”

“Muito bem!” Kirika escancarou um sorriso. “É hora de salvar o mundo em câmera lenta!” E então no solo surgiu momentaneamente uma aura violeta que ocupou uma grande extensão da galeria.

Oriko já sabia o que estaria por vir: tudo que estava ali presente foi ficando mais lento, o monstro, Kyuubeys... exceto as três garotas mágicas. “Como eu não estou realmente presente, não sou afetada pela magia dela.” Concluiu.

“Lembre-se.” A outra Oriko disse. “O prisma.”

“Pode deixar amorzão!” Kirika mandou um beijinho antes de partir para cima do monstro. Aqueles tentáculos, que antes chicoteavam com uma força e velocidade espantosas, agora eram presas fáceis para as suas garras.

“Também devo tomar cuidado.” A outra Oriko comandou suas esferas para se posicionarem. “Preciso utilizar-me de rajadas precisas.” Gesticulando com os dedos, ela apontou para onde as esferas, então, disparassem raios de energia. A luz penetrou fundo naquela escuridão, resultando no respingo de gotículas viscosas que lentamente caíam até o chão, fazendo companhia aos tentáculos cortados.

“Isso parece com o jardim lá de casa, não é amorzão?” Disse Kirika.

Oriko, que observava aquela cena, tinha certeza que a sua contraparte não concordaria com aquela afirmação. Apesar dos esforços das duas em deter aquela abominação, a mesma continuava a crescer. Rachaduras começaram a se formar no prisma.

“Nós temos que pressionar mais!” Disse a sua contraparte, enquanto fazia com que as suas esferas disparassem raios de proporções maiores.

Mais e mais o chão era coberto por aquela gosma semelhante a um piche. Foi então que Oriko percebeu algo estranho. Aquilo está se movendo?

Ainda que lentamente, as gotículas começaram a se juntar, formando pequenas poças que depois diminuíam de tamanho, se concentrando em seus centros. Elas então se solidificavam, formando cubos negros.

Isso é...

Os cubos emitiram uma aura de pontos brilhantes, que acabou chamando a atenção da outra Oriko. A intensidade que os pontos piscavam aumentava, formando uma nuvem de estática que revelava a sua forma.

Demônios?!

Oriko viu aquelas figuras masculinas esbranquiçadas se erguendo, até serem atingidos por uma saraiva de esferas.

“KIRIKA!” A outra Oriko gritou. “Esse... ESSE ‘SANGUE’ NEGRO ESTÁ GERANDO DEMÔNIOS!”

Oriko também queria gritar, mas para avisar ela mesma. Ainda que eles estivessem sobre a influência da magia da Kirika, eram muitos e a sua contraparte não percebeu que um dos demônios havia se teleportado para atacá-la pelas costas.

A criatura revelou sua mão por debaixo do manto, as pontas dos dedos, um brilho mortal. Porém, antes que pudesse fazer algo mais, ele fora laçado por uma corda peluda.

Yuma, usando o rabo da bola que ficava na ponta da sua vara, puxou o demônio para si. “Toma isso malvadão!” Sua bola emitiu uma luminescência esverdeada quando ela o golpeou. Com o impacto, o demônio se fragmentou como um vitral e os pedaços se escureceram e aglutinaram em um cubo.

Enquanto o rabo voltava ao seu comprimento original, Yuma ergueu a sua vara e um círculo de luz verde se formou no chão a frente dela.

Ao mesmo tempo, círculos da mesma cor se formaram sob vários demônios nas proximidades.

“IIAAAAHHHH!” A garota mágica verde, então, acertou o seu círculo com toda a sua força com a vara que portava. Um estrondo, como um trovão, reverberou pelo ambiente.

Os outros círculos responderam com uma erupção de energia, que envolveu e consumiu os demônios sobre eles, deixando para trás apenas os cubos.

Yuma ficara ofegante, mas contente com o resultado. Sua alegria durou pouco, contudo, pois logo surgiram novos demônios, que haviam se teleportado e permanecido em pleno ar.

“Oh não!” Oriko nada podia fazer a não ser observar aqueles homens dirigirem a palma das mãos em direção a menina de olhos arregalados.

Felizmente, os primeiros raios de luz não partiram daquelas mãos, mas das esferas sob o comando da sua contraparte. Após abatê-los, ela se aproximou da sua protegida.

“Mama...”

“Obrigada minha querida.” A outra Oriko pôs uma mão sobre o ombro da menina. “Mas você sabe que esse seu ataque é muito custoso, deve se poupar.” Então ela se virou. “KIRIKA!”

“Eu sei! Eu sei amorzão!” Kirika fatiou um demônio que estava nascendo, para depois apontar com uma das suas garras. “Só que aquela coisa vai quebrar se a gente não fizer nada, não é?”

“Sim, mas...” De repente sua contraparte parou de falar. Oriko achou aquilo estranho, mas logo obteve sua resposta quando a outra voltou a proferir, agora em um tom mais desesperador. “Atrás de você!”

“Hã?” Kirika se virou e viu um tentáculo próximo dela. Ele não havia partido daquela abominação e sim de uma das poças negras no chão. “Eca!” Com uma das garras, aparou aquela ameaça. “Essa foi por pouco. Acho que aquilo queria alcançar meu pescoço.”

Ela então percebeu que estava perdendo a sensibilidade da mão.

Kirika retraiu sua garra e puxou a manga. “Mas o quê?” Sobre a mão havia gotículas viscosas, que ela logo concluiu que eram provenientes do tentáculo que acabara de cortar. As veias próximas estavam negras e aquilo estava se espalhando, trazendo consigo a perda de sensibilidade. “M-Merda!” Desesperadamente tentou remover as gotículas com a outra mão, mas não tardou em descobrir o erro que cometera: aquele líquido preto agora também estava na outra palma, infectando e tomando o espaço por onde seu sangue outrora corria. “Ah... AAAHHH!”

Oriko viu Kirika recuar e tropeçar. Tudo estava voltando a velocidade normal.

Algo que sua contraparte logo acusou. “Kirika! O que aconteceu? Você tem que manter sua concentração!”

Entre mais tropeços, Kirika caiu de bunda no chão. “Ah! Está subindo pelos meus braços!”

“Papa está ferido! Vou ajudar.” Yuma partiu.

“Espere!” A outra Oriko clamou.

No entanto Yuma estava determinada, indo em direção a Kirika, que já estava com os braços moles.

“Ah... Amorzinho...”

“Não se preocupe papa. Vou curar em um instante!” Yuma ergueu e balançou sua vara.

E um dos braços de Kirika se ergueu e apontou na direção dela. Garras de energia se estenderam, atravessando o torso da menina em três pontos.

Oriko levou a mão à boca.

A primeira expressão de Yuma foi de choque, seguido por uma de confusão. Ela tinha seus olhos vidrados em Kirika, como se a outra tivesse como esclarecer o que havia se sucedido.

Kirika escancarou sua boca, fazendo um longo ‘não’ com ela. Seu intuito real, porém, era de gritar, mas suas veias em seu pescoço estavam negras e já havia perdido a coordenação das suas cordas vocais.

Os olhos de Yuma reviraram-se, acompanhados pelo som de engasgo. Ela soltou sua vara, deixando cair no chão, e o seu corpo só não fez o mesmo porque estava pendurado nas garras do braço ainda firme de Kirika. Suas vestimentas estavam ensopadas em sangue, escorrendo pelas pernas e formando uma poça vermelha viva no chão.

“O QUÊ?! NÃO! NÃÃÃÃOOO!”

Estremecida, Oriko voltou sua atenção para sua contraparte que clamava desesperada, gritos que somente foram silenciados quando um feixe de luz atravessou seu corpo.

A primeira parte que caiu foram os braços, que rolaram pelo chão, mas a outra Oriko não esboçava reação alguma, nem mesmo para a linha chamuscada em seu busto. Apenas suas pálpebras moveram-se, fechando parcialmente, até que suas pernas amoleceram. Com a queda, o peito e o que estava acima se desprendeu do resto do corpo e caiu próxima da sua observadora.

A nossa morte é algo que vem em primeira pessoa e, se há algo que podemos agradecer dessa afirmação, somos poupados de seus detalhes a posteriori. Para Oriko, infelizmente, esse não era o caso. Ver sua contraparte cortada em duas no chão, a boca escancarando em espasmos erráticos, o som da carne chamuscada... aquilo fora demais para ela.

O terror possuiu seu corpo e sua voz. “KKKKYYYAAAAHHHHHHHH!”

/人 ‿‿ 人\

“E aqui estou...”

Oriko se viu dentro de um túnel, com paredes de concreto e tubos metálicos.

“Esse túnel aqui ainda deve ser o que vem depois daquela galeria. A cada vez que tenho essa visão, eu acordo mais próxima daquele lugar maldito.” Oriko ponderou em voz alta. “Minha janela de oportunidade está acabando.”

“E nada do Kyuubey.”

Aquela voz era familiar para Oriko, mas não pertencia a Kirika ou Yuma. Ao se virar, se deparou com Kyouko Sakura, caminhando junto com a sua contraparte do futuro e sua família, além de uma garota com grandes cachos loiros.

“Aquela deve ser Mami Tomoe, a garota que defende Mitakihara há anos. Sakura-san deve estar realmente vivendo com ela, conforme Kyuubey havia me dito.” As garotas atravessaram Oriko como se ela fosse um espectro. “Parece que encontrarei uma forma de convencê-las a me ajudar.”

“Isso aqui tem cada vez mais cara de armadilha.” Kyouko voltou a falar.

“Eu compreendo que esse lugar possa trazer tal sensação, Sakura-san.” A outra Oriko respondeu. “Mas logo irão ver o que eu vi e entenderão.”

“Na verdade é esse teu papo de ver futuro é que me deixa com a pulga atrás da orelha.”

Oriko viu sua contraparte parar, assim como o grupo.

“Eu avisei a vocês que algo de ruim estava para acontecer, não avisei?” A contraparte falou. “O desaparecimento de Kyuubey e as hordas de demônios, não é o suficiente?”

“Isso não quer dizer nada!” Kyouko bateu com a base da sua lança no chão. “Seu aviso foi muito vago. Você pode muito bem ter suspeitado de algo daquele safado branquelo e agora está se aproveitando da situação.”

“O que eu ganharia fazendo isso? Território? Kazamino já é mais do que suficiente para cuidar.”

“É.” Kyouko proferiu com rancor. “Depois de me expulsar de lá.”

“Hã?” Mami ficou curiosa.

Kyouko olhou de relance para a sua companheira. “Depois eu te conto.”

“Expulsar?” Disse a outra Oriko, incrédula, quase sorrindo. “Você foi embora por vontade própria. Eu até ofereci ajuda e devo lembrá-la que foi por pura boa vontade, pois você não é uma pessoa que faz por merecer.”

“Cuméquié?!” Kyouko apontou sua lança. “Vai! Repete o que tu falou!”

“Ei!” Kirika revelou suas garras de energia. “Ninguém ameaça o meuWHOOOAA!” Para logo então ser presa por uma série de laços vindo do chão e das paredes.

“Mama!” Yuma se agarrou a saia da garota mágica branca, assustada com tudo aquilo.

“Boa Mami! Agora... E-EI!” Antes que pudesse terminar sua frase, Kyouko sentiu laços serpentearem seu corpo e segurá-lo por completo.

“Nós não viemos aqui para se matar.” Mami cruzou os braços. “Não é mesmo, Mikuni-san?”

A outra Oriko acariciou Yuma, ajeitando a touca branca com orelhas pontudas. “Eu... sinto muito. Não tive cuidados com as minhas palavras e acabei assustando minha querida Yuma.”

“Onde tu arranjou essa coisa miúda, hein?” Kyouko continuava amarrada. “Você trata ela como se fosse sua filha...”

Sakura-san, como ousa... Oriko sentiu vontade de dar um tapa na cara daquela ruiva, mas sabia que não seria capaz disso, só poderia considerar se sua contraparte chegastes a sentir mesmo.

“Chega Kyouko!” Mami chamou a atenção. “A situação é grave e, a não ser que você tenha outra alternativa, ela é a nossa única chance de encontrarmos Kyuubey.”

Felizmente Mami Tomoe é uma pessoa sensata. Pensou Oriko.

Kyouko trocava olhares rancorosos com a outra Oriko. “Tá certo, mas só se elas voltarem correndo pra Kazamino quando isso acabar.”

“Eu concordo.” Disse a outra Oriko.

“Pois bem...” Mami desfez seus laços, libertando as duas garotas. “Vamos seguir em frente, sim?”

Contudo Yuma continuava agarrada a saia, receosa.

Oriko viu sua contraparte se abaixar e olhar bem nos olhos da menina, falando com voz mansa. “Desculpe pelo o que você presenciou, mas Mami Tomoe defende essa cidade há um bom tempo e Sakura-san está com ela. Elas são garotas mágicas experientes, podem nos ajudar. Devemos confiar nelas. Certo?”

Yuma olhou de relance para Kyouko, que estava com cara de poucos amigos, depois ficou olhando para baixo e balançou a cabeça de leve.

“Não se preocupa amorzinho.” Kirika se aproximou. “Qualquer coisa, papa está aqui.”

“É melhor não continuarmos esse assunto.” A outra Oriko respondeu secamente.

Que fez Kirika gesticular. “Ops! Foi mal, amorzão.”

“Vamos.”

Oriko acompanhou as garotas que seguiram caminho. “Vejo que haverá muita animosidade, mas preciso delas para enfrentar essa coisa. Se ao menos eu soubesse quando Kyuubey irá desaparecer...” Ela ficou observando as costas da sua contraparte, coberto pelo véu da sua mitra, um ângulo dela mesma que não se via todos os dias. Será que eu deveria tentar obter alguma coisa do Kyuubey antes que ele pare com as visitas? Ele vai desconfiar dos meus poderes... e eu ainda não tenho plena certeza das intenções dele. Ela então olhou para Mami. Tinha que concordar que as vestimentas daquela loira eram bem mais práticas para o combate. Mas esse aumento na população de demônios deve ter relação com o sumiço dele, se eu conseguir evitar isso, terei tempo para conseguir mais ajuda. Caso essas duas não sejam o suficiente, eu vou revelar tudo a ele.

Distraída com os seus pensamentos, Oriko tardiamente se deu conta que elas finalmente haviam chegado na galeria.

Yuma estava com os olhos arregalados. “Nossa... quantos Kyukyus...”

“E realmente tem uma garota dentro daquela coisa.” Kirika apontou para o prisma. “Bem como você disse.”

“Sim.” Respondeu a outra Oriko. “Tomoe-san, Sakura-san, eu devo instruir vocês sobre como devemos proce...”

“É a Madoka!” A súbita exclamação de Mami a interrompeu.

No qual Kyouko também participou. “É-É SIM! Madoka! Aquele cretino conseguiu! É por isso que a gente tá nessa merda.”

Oriko ficou surpresa com aquela reação. Madoka?

E sua contraparte idem. “Madoka?”

“Oriko, sua ordinária!” Kyouko avançou em direção a outra garota, furiosa.

Mami interviu. “Calma! Elas não devem saber.”

Oriko ponderou. Elas conhecem essa garota? Então Kyuubey não escolheu Mitakihara por acaso.

“Se quiserem explicar o que está havendo.” A outra Oriko apontou para os inúmeros Kyuubeys que estavam as observando. “É melhor fazerem isso agora.”

Enquanto observava a garota congelada dentro do prisma, Mami deixou um suspiro. “O nome dela é Madoka Kaname. Eu e Kyouko a conhecemos brevemente enquanto estávamos sob a mercê de Kyuubey.”

“O quê?!” Kirika ficou abismada. “Como assim?”

“Kyuubey é do mal, morou?” Kyouko já não tinha mais paciência.

“Como a minha companheira disse, Kyuubey, também conhecido como Incubator, é uma criatura vil.” Mami continuou. “Isso eu descobri graças a uma menina. Foi ela também que revelou que todas nós estávamos em um experimento nefasto dele, usando uma de nossas amigas...” Suas palavras foram ficando mais amargas. “...que não se encontra mais conosco.”

“Incubator...” Novos nomes, novas revelações. Oriko passou a mão na testa, estava suando frio.

“Não! NÃO!” Todas voltaram suas atenções para Yuma, que estava alterada. “Kyukyu jamais faria isso! Vocês são mentirosas, MENTIROSAS!”

“Bwahahahaha!” Kyouko jogou a cabeça para trás, balançando seu longo rabo de cavalo. “Vai se acostumando com a idéia. Nós só somos matéria prima pra ele.”

“Isso não faz sentindo!” A Oriko de futuro ficou entre Yuma e Kyouko. “Vocês agora estão falando aqui comigo. Ele conseguiu o que queria então? Por que ele fez tal experimento?”

“Ele quer Kaname-san.” Mami levou a mão até a sua gema da alma. “Ele quer se apoderar da Lei dos Ciclos.”

“Hã?!” Kirika ficou confusa. “Ele vai usar essa garota para obter a tal da Lei?”

“Imbecis!” Kyouko exasperou. “Ela É a Lei dos Ciclos!”

“Lei... dos Ciclos...” A outra Oriko pronunciou lentamente, procurando se lembrar. “Vocês estão falando daquele mito?”

“Tch...” Kyouko balançou a cabeça. “Esquece Mami. Não vai dar pra explicar pra essas aí.”

Oriko abaixou a cabeça, observando a sua gema brilhante. A Lei do Ciclos... é aquele mito que Kyuubey me disse, não? Que as garotas mágicas desaparecem quando suas gemas estão muito corrompidas. Algumas delas acreditam que serão salvas e irão para um algum tipo de paraíso. Uma fantasia para aplacar a dor...

“Pelo menos agora eu sei que elas são inocentes.” Kyouko deu um passo a frente, em direção ao prisma. “É hora de resolver isso.”

Mami franziu a testa. “Kyouko?”

Um dos Kyuubeys começou a se aproximar das garotas.

Oriko então viu Kyouko dar um salto e cair sobre a criatura. Esparramando uma pasta vermelha sob seus pés.

Yuma ficou boquiaberta.

“Ora Mami! O que se tem que fazer é óbvio!” Kyouko deu um novo salto, bem mais alto dessa vez, apontando sua lança em direção ao grande prisma. “Fim de jogo, seus safados!” E mergulhou. “IIIEEEEAAAHHHHH!”

Acertando com a ponta da sua lança com tamanha força, o prisma se partiu em dois. A garota de vestido branco e longos cabelos rosas fora libertada e iniciou sua queda, porém Kyouko, ainda no ar, a abraçou e trouxe ela em segurança ao chão.

A distância, Oriko observava os Kyuubeys evadindo do local, entrando no túnel que ela só podia imaginar que levaria para uma próxima galeria. “Será que é certo libertá-la assim? Hmmm... eu devia ter tentado isso.”

“Ei! Madoka!” Kyouko tentava acordar a garota em seus braços, chacoalhando ela de leve.

No entanto, a garota não esboçava muita reação. “Hmmmm...”

“Droga! Parece que vamos ter que carregar...” Kyouko parou ao notar uma forte luz violeta vindo pelas suas costas.

“Oh não!” As duas Oriko pronunciaram. “Saia daí!”

Quando Kyouko se virou, a luz já tinha se extinguido, mas ela tinha noção de onde fora a sua origem. Ela olhou para pequeno prisma que flutuava próximo dela, completamente negro.

Até que ele se quebrou.

“M-Mas o quê?!” Ao ver aqueles tentáculos emergirem, Kyouko não pensou duas vezes e saltou, carregando Madoka consigo, o mais longe que podia daquela coisa. Ainda assim, não fora rápida o bastante. Aqueles membros pretos envolveram suas pernas e seu corpo. Em um ato desesperado, ela arremessou Madoka, apenas para testemunhar um tentáculo atingir o peito daquela garota e carregá-la até dar de contra a parede da galeria.

“KYOUKOOO!” Mami gritou desesperada.

“Ahhhg... Ah...” Kyouko ergueu sua lança, mas logo se viu com os seus braços imobilizados. Aquela abominação estava levando ela até o seu núcleo disforme.

Mami pulou, conjurando um mosquete em sua mão apontado diretamente contra aquilo. Logo, mais laços começaram a envolver aquela arma, incrementando suas proporções... até que adquiriu o aspecto de um imenso canhão.

Oriko arregalou os olhos diante do cano daquilo, que deveria ter vários metros. Ela consegue fazer isso?!

“Tomoe-san! NÃO!” A outra Oriko estendeu sua mão.

Com um estampido, o canhão disparou, perfurando o seu alvo. Por um instante, o núcleo negro inchou, seguido então por uma poderosa explosão.

O que Oriko e sua contraparte temiam aconteceu: uma verdadeira chuva de gosma negra vinha em direção a elas.

Reagindo o mais rápido que podia, a Oriko do futuro conjurou inúmeras esferas, posicionando elas para formarem uma concha em torno da sua família

Oriko observou aquele escudo formado por sua contraparte resistir aquela saraiva. Quando a fumaça da explosão se dissipou, o monstro estava lá, ainda que apenas uma parte dele. Ela sabia que seria uma questão de tempo para ele recuperar o tamanho, já que a essência maligna que exalava dos fragmentos do prisma menor o alimentava. Também viu a garota de longos cabelos rosas, Madoka, ainda pressionada contra parede por um tentáculo, seu ranger de dentes e os olhos fechados com força indicavam uma expressão de luta.

Kyouko, no entanto, estava desaparecida.

A concha de esferas se expandiu lentamente, revelando as garotas dentro dele. “Yuma, Kirika, vocês estão bem?”

“Uhum...” Yuma estava toda encolhida.

“Sim amorzão!” Kirika olhou envolta. “Que meleca...”

“É melhor preparar sua magia Kirika, logo estaremos cercadas por demônios.” Disse a outra Oriko. “Mas antes precisamos encontrar as... outras...”

Aquilo era inesperado.

As gotículas negras começaram a se mover, mas ao invés de formarem cubos, elas seguiam para uma única direção, um único destino.

Tanto a contraparte quanto Oriko acompanharam aquele movimento com os olhos até uma garota ajoelhada.

Mami tremia, suas vestes estavam cobertas por aquele líquido viscoso preto. Sua pele clara contrastava com as veias enegrecidas, seu rosto de perfil tinha um sorriso.

“Tomoe-san...”

Mami se virou, atendendo ao chamado das três garotas.

“Kyah! Não!” Yuma se escondeu atrás da garota mágica branca.

Não por menos, a visão era pavorosa até mesmo para as outras garotas. Os olhos de Mami ainda continham seu tom amarelo dourado, mas sua esclera estava tomada por traços negros. Porém o mais aterrador era ver porções de gosma negra rastejando e adentrando em suas narinas, assim como visavam os ouvidos e a boca.

Kirika arregalou os olhos. “Não pode ser real...”

Notando a reação das garotas, Mami olhou para si própria. “Ah... compreendo. Não se preocupem, isso é passageiro.” Então se levantou. Mais gosma chegava até ela, subindo pelas pernas, procurando por uma forma de entrar.

Oriko do futuro ficou ainda mais espantada diante da calma da Mami. “Tem certeza que você realmente está bem?”

“Estou muito bem. Agora eu sei... que ficará tudo bem.” Disse Mami. “Pai, mãe, agora eu ouço vocês. Eu ouço Kyouko também.”

“Como é?!” Kirika semicerrou o olhar.

Mami estendeu a mão em direção a abominação de tentáculos. “Ela já está lá, junto com a sua família. Todos estão esperando por nós...”

“Ok. Já estamos indo também!” Kirika falou com sarcasmo enquanto tomava a frente das outras duas garotas.

Mami voltou a falar, revelando sua língua preta. “Kure-san, sinto certo desejo de violência da sua parte.”

“Nossa! Será que você acertou?” Kirika fez questão de revelar suas garras de energia. “E agora?”

“Papaahhh!”

Oriko testemunhou sua contraparte e Yuma serem presas juntas por laços saindo do chão.

Kirika chegou a olhar para trás, antes de laços também tentarem prender ela. Contudo, ela fora mais rápida com as garras. “Ah! Isso não vai dar certo duas vezes comigo!”

Enquanto Kirika lutava contra os laços, Oriko voltara sua atenção para Mami. A loira havia esticado seu braço esquerdo e uma porção de gosma estava aglutinando sobre seu antebraço, solidificando e ganhando uma textura metálica. No final, um disco se formou, com um desenho em baixo relevo do que seria um redemoinho, acompanhado de três círculos em alto relevo, sendo que o central era maior que os outros dois.

“Chega de brincar! Agora é a minha vez!” Fazendo a sua gema brilhar, Kirika formou uma aura no chão entre ela e Mami.

Oriko continuava a examinar aquele disco, até que os três círculos se abriram, revelando serem tampas. Nos círculos menores havia compartimentos de vidros contendo uma estranha areia violeta, enquanto que o maior tinha uma série de pequenas engrenagens que começaram a trabalhar, mas que logo desaceleraram.

A magia fez efeito. Oriko notou que além dela, apenas Kirika estava na velocidade normal. A garota de tapa-olho avançou a toda velocidade, com os seus braços com garras jogados para trás.

O disco da Mami começou girar, até que os três círculos ficaram alinhados horizontalmente...

O que houve?!

Oriko tentava processar o que havia acontecido. Mami havia mudado de posição em um instante.

Teleporte?

Ainda que fosse plausível, certas evidências não corroboravam com tal teoria. Como o fato de Mami ter em mãos um mosquete, em uma pose que indicava que ela havia acabado de dar uma coronhada na Kirika, que estava caída na frente dela. A velocidade havia retornado ao normal, assim como o disco para sua posição original.

A expressão da garota com tapa-olho não deixava dúvidas que estava tão surpresa quanto.

Mami continuava com um sorriso sereno. “Isso realmente não era necessário. Fufufu...”

Kirika contraiu sua face com raiva, enquanto erguia sua cabeça, mas então sentiu seu pescoço ser segurado.

Tudo aconteceu muito rápido para a Oriko que estava presa nos laços. “Kirika... não...”

“Ack...ugh” Com um tentáculo envolta de seu pescoço, Kirika foi puxada até a abominação, enquanto suas veias escureciam.

“NÃO!” Yuma gritou aos prantos.

Quando chegou ao núcleo negro, Kirika literalmente mergulhou nele. Os últimos indícios de sua presença foram o vão debater de seus braços e pernas antes deles serem absorvidos.

Tudo isso acontecendo sob a perturbadora calma de Mami.

Se esforçando para gesticular com as mãos presas, Oriko fez suas esferas dispararem um fino raio de energia para cortar os laços que as prendiam.

Não sem que Mami notasse. “Mikuni-san... eu espero que não tente o mesmo que a sua colega.”

“Corra Yuma, CORRA!” Oriko do futuro empurrou a menina assim que se libertaram.

Oriko viu Yuma olhar de relance para a outra Oriko, mas não deixou de obedecer. Correu em direção ao túnel.

Porém, uma parede feita de correntes vermelhas entrelaçadas surgiu entre ela e seu objetivo. “Hã?!”

“Não há o porquê de fugir.” Disse Mami para Yuma, antes de ser atingida pela primeira esfera, logo seguidas por outras. Voltando sua atenção para a atacante, Mami utilizava o corpo do seu mosquete com maestria para rebater as esferas, assim como o disco, que ela usava como um escudo. Mesmo assim, algumas esferas conseguiam passar por tais defesas.

“Ahh!” Apesar da pressão que exercia, motivada pela sua fúria por Kirika, Oriko do futuro não sentia nenhum contentamento a cada golpe, pois sua oponente não expressava dor alguma.

Yuma olhou para a cena de luta e então para aquela muralha, que parecia chegar até o teto daquele lugar imenso.

Oriko estava ao lado dela, impotente de fazer qualquer coisa por ela. Essa magia é... da Sakura-san. Vamos minha querida, você tem o poder.

Erguendo o braço, Yuma conjurou sua vara, apenas para ver a mesma ser arrancada da sua mão por um laço amarelo.

Oriko se virou para Mami, que estava com o braço esquerdo estendido para elas.

Com tal lado exposto, a perna da loira foi atingida por várias esferas, que a desequilibrou. “Ah... Mikuni-san. Chega disso! Não gaste as suas forças.” A única resposta que ela recebeu da sua oponente, porém, foi uma esfera direta em seu olho direito, arrancando-o fora.

Ferimento tão sério que Oriko notou que sua contraparte até hesitou em continuar o ataque.

Do lugar onde ficava o globo ocular, um piche vertia, manchando a camisa branca do uniforme da Mami. Ela não agonizava, ao invés disso ergueu o disco, fazendo novamente as tampas se abrirem.

“Não!” Oriko temia pelo o que viria a seguir.

Mas sua contraparte estava atenta. Ela lançou seus dois braços a frente, fazendo todas as esferas atingirem Mami de uma só vez.

Diante daquela saraiva devastadora, algumas esferas colidiram com o disco, travando seu mecanismo. Mami voou com o impacto e foi ao chão.

Oriko viu que sua contraparte aproveitou o momento para checar a sua gema da alma. Já estava corrompida pela metade. Foi então que uma aura violeta surgiu no chão. Essa magia...

“Papa?”

Oriko gostaria que Yuma estivesse certa, mas seus instintos diziam o contrário. Tudo ficou lento, exceto ela e Mami, que começou a se levantar.

As esferas, sob o comando da sua contraparte, começaram a brilhar.

Então ela percebeu! Ainda que não fosse Kirika que tivesse usado a magia, Oriko sabia que os princípios seriam os mesmos, assim como as suas fraquezas. Quando concentrada, sua companheira demonstrou ser capaz de quase parar por completo suas esferas, mesmo arremessadas em velocidades super sônicas.

Porém jamais seria o bastante contra a luz.

As esferas dispararam seus raios, e mesmo se estivessem sendo afetados pela magia que Mami invocou, não fora possível notar, pois atingiu ela de imediato, atravessando vários pontos de seu torso. Mesmo sob tal situação, ela não esboçou qualquer reação além de apontar seu mosquete sem pressa.

Quando a arma disparou, Oriko viu sua contraparte ser atravessada por uma bala na altura da barriga. Por um momento, a outra Oriko não reagiu ao ferimento, parecia que ela era capaz de fazer o mesmo que Mami, porém lentamente seu corpo se arcou, seus pés saíram do chão.

E o feitiço se desfez.

As esferas se apagaram e caíram, assim como a sua mestra, com o seu vestido branco manchado de vermelho.

Mami descartou seu mosquete enquanto examinava os buracos em seu corpo. Se não fosse pela gosma negra que saía por ali, facilmente se veria o outro lado através deles.

“Ah! Não, mama!”

Oriko viu Yuma correr em direção a sua contraparte, ela tentou impedir segurando-a pelo ombro, mas sua mão simplesmente a atravessou.

Antes que pudesse chegar até ela e curar, Yuma se viu presa novamente por laços.

Usando um deles, Mami, com um puxão, trouxe a menina até ela, segurando-a no ar com uma mão.

“Kyaahh!” Yuma se debatia, aterrorizada.

“Sinto muito pelo que vê.” Disse Mami, mais da metade do rosto ensopado por aquele líquido viscoso negro. “Isso é tudo culpa da sua mama.” Então, com pontas do dedo, pegou um pouco daquele líquido e levou até a bochecha de Yuma.

“Nã.. na... ah! AAAHHH!” A menina se contorcia, tentando se afastar.

“Hihi. Ora! Não vai doer, vai se sentir muito melhor, aliás.” Mami deslizou os dedos, espalhando o líquido e escurecendo as veias próximas. “Nunca mais vai precisar chorar.”

“NÃO!”

Um impacto, som de estilhaços. A esfera acertou a gema da alma de Mami, os fragmentos amarelos tocando o solo. Foi forte o bastante para fazer a loira baixar a sua cabeça, ficando parada.

Oriko voltou sua atenção para sua contraparte, que havia conseguido ficar de pé com dificuldade. O sangue escorria entre os dedos da mão sobre seu grave ferimento enquanto a outra estava estendida por executar seu último ato. O que mais chamou atenção, porém, foi vê-la arregalar os olhos e dizer. “Impossível...”

Mami ergueu a cabeça e olhou bem para a sua atacante. Sorriu. “Finalmente se deu conta.” Então lançou Yuma.

A menina estava catatônica, com a esclera dos olhos sendo tomadas pela escuridão. Ela nem reagiu quando os tentáculos da gigantesca abominação a seguraram e gentilmente a mergulharam para dentro do núcleo viscoso.

Yuma... Oriko não segurou suas lágrimas enquanto observava sua contraparte cair de joelhos, sem mais forças ou esperança.

“Kure-san está recebendo ela em seus braços agora.” Mami comentou. “As duas amam muito você, sabia?”

Arfando, Oriko do futuro só pode contorcer sua face para expressar sua raiva, até que uma luz verde a envolveu. A dor havia desaparecido e de imediato ela olhou para o seu ferimento, que não estava mais lá, até a roupa havia sido reparada.

“Elas não vão querer ver você assim.” Mami começou a se aproximar, seus ferimentos sendo restaurados também por aquela luz verde, inclusive seu olho.

Oriko viu então sua contraparte ranger os dentes e arrancar a gema da alma da sua gola, mantendo ela em sua mão com o braço esticado.

Mami parou, franzindo sua testa enegrecida. “A morte não significa mais nada.”

“IIIEEEAAARRGGGHHHH!”

Todas voltaram sua atenção para Madoka. A garota se contorcia na parede, ela revelou seus olhos completamente negros.

“Ela resistiu muito.” Disse Mami. “Porém, agora eu conheço a verdade. É uma grande ingenuidade por a esperança acima de tudo.”

“Quem é você?” Inquiriu a garota ajoelhada.

“Mikuni-san?!” Mami proferiu, incrédula. “Sou eu, Mami Tomoe.”

A garota voltou a perguntar. “Quem está por detrás dessa máscara?”

Mami ficou em um breve silêncio, antes de dizer. “Você tem o poder de ver o futuro, não? Você previu isso?”

“Não...” Oriko do futuro desviou o olhar. “...essa é a primeira vez.”

“’Primeira vez.’” Mami repetiu as palavras, um tanto confusa. “Diga-me Mikuni-san, o que vai acontecer de agora em diante?”

Oriko se aproximou das duas. O que você vê?

“Eu vejo...” Sua contraparte sorriu. “...que isso não é o fim.”

Mami compartilhou o sorriso. “Está certa. Isso é o começo.”

Então a contraparte fechou a mão com força, esmagando a gema. Oriko viu ela cair de cara no chão úmido, seu corpo completamente flácido. Suas vestimentas mágicas, em um flash de luz branca, deram lugar para vestes mais mundanas.

Mami suspirou decepcionada. “Oriko Mikuni-san...” Ela aproximou e se ajoelhou, trazendo a garota caída para o seu colo.

Oriko testemunhava mais uma vez a face de morte dela mesma, mesmo assim o que estava acontecendo agora era surreal para ela.

“Nós no conhecemos faz pouco tempo e parece que você tem um passado ruim com a Kyouko.” Mami ajeitou os cabelos da outra Oriko. “Mas eu gostei de você, posso ver que é uma pessoa responsável. É muito triste ter que lutar e agora vê-la assim.”

Oriko ficou surpresa ao ver Mami conjurar laços para formar um pequeno lenço e limpar o rosto sujo da sua contraparte.

“Tudo ficará bem. Ela salvará você.” Mami pressionou os dedos no pescoço da Oriko caída e as veias ali escureceram.

Oriko contemplou aquilo se espalhando rapidamente e tomando conta da face, escurecendo os lábios e os olhos. Logo, veias escuras também surgiram nas mãos. O que Tomoe-san está fazendo? Será que...

Com a boca e os olhos bem abertos, sua contraparte se ergueu em um sobressalto, seu corpo estremecido.

Não tanto quanto Oriko, que chegou a dar um passo para trás.

“Shhh... Shhh...” Mami abraçou. “Já passou, já passou, não precisa ter mais medo.”

Sua contraparte examinava as próprias mãos, nem sequer piscava o olho.

“Consegue ver? Ouvir? Elas esperam por nós... elas...” Mami se levantou e olhou para a outra assustada.

Oriko ouviu sua contraparte dizer. “Desculpe.”

“O quê? Como...” Mami, antes tão calma e confidente, agora aparentava estar desorientada e nervosa.

Enquanto sua contraparte estava triste. “Eu disse a você. Isso não é o fim. Eu saberei que isso irá acontecer e você não vai poder impedir. Me desculpe.”

“Por que continuar? Para proteger este mundo?” Mami abriu os braços, sua voz tomada pela raiva. “ESTE MUNDO?!”

“Desculpe... desculpe... desculpe...”

Oriko vendo ela mesma se lamentando daquela forma, ficou ainda mais confusa. “O que... ela fez comigo?”

“Você não é ingênua Oriko Mikuni-san, não...” Mami apontou com fúria. “É uma tola!”

De repente, uma onda de escuridão avançou pela galeria. Madoka havia sucumbido.

“UMA TOLA!”

A voz de Mami foi a última coisa que Oriko ouviu antes da cena diante dela desaparecer. Agora, mergulhada no vazio, seus pensamentos eram a sua única companhia.

Poderia ser? Proteger este mundo que sofre um erro? O sonho do meu pai uma tolice? Não...

Pensar estava ficando difícil. Oriko se concentrou em suas memórias.

Madoka.

Imagens da garota dentro do prisma, seu longo vestido e cabelos, seus olhos fechados em sua expressão congelada, tão serena que chegava a ser um pecado quebrá-la.

Madoka Kaname. Você acredita na esperança? Meu pai deixou de acreditar e se perdeu. Eu não posso desistir. Eu irei salvá-la das garras do destino, não importa quantas vezes eu precise ver para encontrar uma forma.

/人 ‿‿ 人\

Novamente eu posso ver.

O coração de Oriko apertou quando se viu diante da parede de concreto do túnel. A saída dele até a galeria estava próxima.

“Nenhum sinal do Kyuubey.”

Ouvindo Kyouko, Oriko se virou para o grupo de garotas mágicas lideradas por sua contraparte. As duas ficaram frente a frente, até ela ser atravessada por elas.

“Estamos chegando, Sakura-san” Disse sua contraparte. “Afirmo também que é bem cedo ainda. Só faz duas semanas que ele desapareceu”

“Mas os cubos já estão acumulando. Você disse que os demônios irão dominar as cidades, deveríamos ter vindo aqui antes.” Comentou Mami.

Acompanhando o grupo, Oriko ouviu sua contraparte exasperar. “Quantas vezes eu preciso explicar! O que enfrentaremos é algo extremamente poderoso e eu precisava expor todos os detalhes a vocês, pois qualquer erro é fatal.” Ela parou e se virou. “Até parecem que vocês não querem salvar Madoka Kaname.”

“Sabia que eu tô começando a odiar você chamar a rosinha assim?” Kyouko alisou o bastão da sua lança. “E se esse negócio é tão poderoso, perigoso e pá... então por que trouxe a menina?”

Sua idiota. Oriko rangeu os dentes.

Yuma chacoalhou sua vara, irritada. “Kyouko-neechan! Eu preciso proteger vocês e eu sei cuidar de mim mesma.”

“É isso aí amorzinho!” Kirika passou a mão na cabeça da menina. “Nós somos um super time de super garotas!”

A contraparte da Oriko não compartilhava do mesmo entusiasmo que a sua companheira. “Eu só inclui vocês nisso, pois eu sei que são as únicas que conhecem e querem salvar Madoka tanto quanto eu.”

“Heh.” Kyouko mordiscou o lábio. “Só nós iríamos arriscar a pele, né?”

Tem algo errado com a Kyouko, ela parece... hesitante. Concluiu Oriko.

Yuma fez alguns pulinhos. “Vamos! Temos que ajudar o Kyukyu com aquele monstrengo e salvar Madoka.”

“Sim, é melhor nos apressarmos.” A Oriko do futuro se virou e voltou a caminhar.

Kyouko e Mami se entreolharam, a ruiva deu de ombros antes de acompanhar o grupo.

Chegando na galeria, apesar de Oriko estar ciente que sua contraparte realmente havia informado sobre o que encontrariam, ela não deixou de ouvir a reação de estupefação das garotas.

“Nossa... quantos Kyukyus...”

Kyouko só tinha uma palavra para aquele ‘mar’ de Kyuubeys. “Merda...”

A outra Oriko apontou. “Como eu vi e agora vocês podem ver, Madoka Kaname está naquele prisma.”

“Essa Madoka até que é bonita, hum?” Disse Kirika. “Parece um anjo.”

“Ela mais do que um anjo.” Respondeu Mami.

“E agora?” Kyouko perguntou.

“Como eu disse, chegamos cedo.” A outra Oriko afirmou. “Devemos avisar Kyuubey sobre a nossa presença e planejarmos a nossa luta para o dia que aquela... coisa se libertar.”

“Eu tenho uma idéia melhor.”

Oriko viu Kyouko apontar a lança em direção a sua contraparte.

A ruiva continuou. “Que tal a gente tirar a rosinha de lá agora.”

“Ei! Abaixa essa lança.” Kirika fez menção de avançar.

Prontamente impedida pela Oriko do futuro. “Calma.” Apesar de pedir isso, ela disse em tom de irritação para Kyouko. “Eu não avisei que não se pode quebrar o prisma? Eu já vi você morrer assim.”

Kyouko manteve a sua lança erguida. “Ah tá. Conta outra.”

Oriko deu um tapa em sua própria testa. Sua imbecil.

“Kyouko?!” Mami chamou a atenção.

“Não acha isso tudo muito conveniente?” Kyouko falou para a sua companheira. “Ela vem nos avisar que Kyuubey vai desaparecer e logo depois isso acontece. Então ela diz que conhece Madoka, esse lugar e que tem um plano.”

“É claro sua imbecil!” Oriko do futuro exclamou. “É justamente porque eu posso ver o que vai acontecer!”

“Isso!” Oriko torcia pela sua contraparte. “Fala na cara dela!”

“Mama está certa!” Yuma apoiou.

“Tem certeza?” Kyouko deu sorrisinho de lado. “Pois eu só seria imbecil se eu acreditasse nessa historinha. Tudo o que tu falou para nós, Oriko, esse merdinha do Kyuubey poderia ter dito a você. Diz aí, qual é a jogada entre vocês? Hein?”

“O quê?!” As duas Orikos arregalaram os olhos.

“Isso é uma acusação muito grave!” Mami repreendeu. “Como pôde dizer isso...”

“Droga Mami! Nós temos que nos precaver!” Kyouko interrompeu, sua lança tremia. “Nós duas estamos envolvidas com a Madoka e esse safado não iria desistir tão fácil de ter nossas cabeças. É por isso que Oriko sabia que Kyuubey iria sumir, ele ameaçou ela quanto a isso. Esse lixo tem o mundo sob as suas patas e a usou para nos atrair aqui.”

Kirika fez uma careta. “Nossa! Que paranóica.”

“Kyouko!” Yuma gritou. “Kyukyu jamais faria isso!”

“Bwahahaha! Você não tem idéia alguma.” Kyouko balançou a cabeça. “Não posso dizer o mesmo quanto a sua ‘mama’. Ela não parece tão surpresa assim quanto ao que eu disse. Tu sabes bem com quem tá lidando, né?”

Oriko observava o desenrolar daquela cena. Yuma ficou olhando para sua contraparte.

“É... é claro que é tudo invenção dela!” A outra Oriko respirou fundo. “Como ousa trair a nossa confiança?”

“Confiança?!” Disse Kyouko com incredulidade. “Olha quem fala! Você nem acreditou na nossa história.”

História? Aquilo instigou a curiosidade da Oriko.

“Eu pedi que me contassem como conheceram Madoka e eu ouvi...” A outra Oriko abaixou a cabeça. “... mas... mas... chumaços de algodão?”

Chumaços de algodão?!

“Eu sei que você deve achar que isso parece ter vindo de um sonho, Oriko-san. Que a Lei dos Ciclos é uma mera invenção.” Mami olhou para Madoka. “Porém a prova está ali, dentro daquele prisma.”

“Vocês têm que entender!” A outra Oriko ergueu a cabeça, com um olhar de apelo. “Vocês estavam em um experimento. Kyuubey pode ter mexido com a cabeça de vocês. Ele pode...”

“Experimento? Mama, por que Kyukyu iria mexer com a cabeça delas? C-Como você sabe disso?” Yuma interrompeu, curiosa.

“Ah... hmmm... eu tive uma visão...” Oriko do futuro desviou o olhar para longe de Yuma enquanto balbuciava. “Eu suponho que Kyuubey fez isso para proteger o mundo...”

“O-Oriko-san?!” Mami ficou enojada.

Kyouko voltou a rir. “Hahahaha! Ela nem consegue mais esconder, essa mentirosa.”

Oriko botou as mãos no rosto, rangendo os dentes. “Não! Não! Não! Essas fanáticas estão estragando tudo!”

“Mama jamais mentiria para mim!” Yuma estremeceu os lábios de raiva.

“Que piada ruim, hein? Mami, acho que está tudo acert...” Kyouko virou a cabeça. “Olha só!”

Oriko notou que um Kyuubey havia se aproximado das garotas.

“Já vou avisando que não sinto nenhuma saudade de ti, mas me diz...” Kyouko franziu a testa. “Hum? Mami pediu pra tu não falar comigo e com ela? Eu sei disso, mas ela tá abrindo uma exceção, ok? O que tu pretende?”

Por um momento, Oriko só pôde presenciar o silêncio entre todos ali presentes.

Até que Mami ficou boquiaberta. “Kyuubey!”

“Ahá! É a mesma história de sempre.” Kyouko concluiu.

O que será que ele disse? É algo novo? Oriko se perguntou.

“Isso... eu preciso...” A outra Oriko começou a gesticular. “Esperem! Eu preciso avisá-la.”

“A-Amorzão?” Kirika não sabia se continuava olhando para o Kyuubey ou para a sua amada.

“Eu irei... iria ver isso, eu... ela deve estar vendo isso.”

Ela está se referindo a mim?

“Tch... Além de mentirosa, é pirada.” Kyouko trouxe a lança junto para si. “Olha, vou te dar o benefício da dúvida, pois parece que é mais uma vítima dele. Se não está junto com Kyuubey, então não nos impeça.” E então saltou em direção ao prisma.

“Espera! NÃO!” Desesperada, Oriko conjurou esferas e lançou.

“Agh!” Atingida, Kyouko foi empurrada para longe do prisma, indo ao chão.

“Hã?!” Yuma estava consternada com tudo o que presenciava.

“Desculpe Yuma, eu não queria fazer isso, mas foi necessário.” Oriko do futuro tentava acalmar sua protegida, quando passos sobre poças de água chamaram sua atenção. “Mami-san?”

Mami tinha um mosquete apontado diretamente para ela. “D-De que lado vocês estão?”

“Do lado daqueles que querem proteger esse mundo!”

Oriko viu Kirika avançar em direção a garota armada. “Não faça isso!”

A garota de tapa-olho estendeu seu braço, assim como suas garras. Esticaram tanto que ela conseguiu alcançar e desviar o mosquete...

A arma disparou.

Tudo fora muito rápido para Oriko e sua contraparte. Quando se deram conta, Yuma já se encontrava caída.

“Yuma?!” Sua contraparte foi até a menina e se agachou. A bala havia perfurado o pescoço, seus olhos já sem vida. “YUMA!”

Oriko notou que não vertia muito sangue pelo ferimento, mas qualquer esperança que pudesse obter nisso se perdeu logo que as roupas de garota mágica da Yuma emitiram uma luz verde e evaporaram. Pequenos fragmentos de cristais verdes confirmavam seus temores.

A bala havia atravessado o pescoço, até a nuca.

“Não...” Caindo de joelhos, Oriko começou a socar a própria cabeça repetidas vezes. “Isso não vai acontecer! Isso não vai acontecer! Isso não vai acontecer!” Ainda que haveria a oportunidade de impedir aquilo, ela não poderia deixar de compartilhar a dor da sua contraparte.

“YUMAAAAAHHH!”

Mami deixou cair o mosquete, ela mal conseguia construir uma sentença. “Não... eu... não queria fazer isso... eu...”

“Amorzinho?!” Com respiração curta, seu corpo se estremecendo, Kirika revelou seu olhar esbugalhado para Mami. “Morra!”

A loira se jogou, na tentativa de desviar, mas sua coxa direita não escapou daquelas garras. “Aaaahhh!”

O grito de dor chamou a atenção de Oriko, que então viu Kirika diante de uma coluna de fumaça preta que se formou onde Mami estava.

“O-O que é isso?!” Kirika recuou, até sentir uma parede de corrente em suas costas.

“Maldita!” Kyouko estava no ar, mergulhando com uma grande lança, energizada.

Kirika formou uma aura envolta dela, mas antes de tudo ficar mais lento, paredes de correntes vermelhas entrelaçadas se formaram envolta dela, formando uma gaiola. Era tão pequena, que ela mal podia se mover. “D-Droga!”

Oriko viu Kirika golpear seguidas vezes com suas garras aquelas correntes do jeito que podia, mas em vão.

Kyouko descia lentamente, sua expressão furiosa, ansiando pela destruição eminente.

Então Kirika parou e olhou para a Oriko do futuro, que ainda estava sobre a menina, se lamentando. “Amorzão... me desculpa.” Voltando sua atenção para sua oponente, ela cruzou suas garras e as reforçou o máximo que pôde para o que estava por vir.

A lança arrebentou as correntes facilmente, demonstrando o seu poder. Assim que tocaram nas garras, elas se desintegraram. Sem saída, Kirika se contorceu para evitar a lâmina, mas para o inevitável apenas lhe restara usar a magia para tolerar a dor. Quando começou a perfurar sua carne, ela olhou bem para Kyouko, a boca aberta da ruiva, que trazia um grito de raiva e força, mostrava seus dentes caninos afiados tão quanto os dela.

“Vaca.” Kirika sorriu. “Você me pegou desta vez.”

Sorriso que só se foi quando uma parte da lâmina cortou sua gema da alma em suas costas.

Com a velocidade retornando ao normal, Kyouko terminou de empalar sua vítima, fazendo uma cratera no chão.

O baque conseguiu chamar a atenção da contraparte da Oriko. “Hã?! Nãouuuhhh...”

Mais lamentações. Oriko ficou de quatro, seus braços apoiado no solo que, apesar de úmido, não molhavam suas roupas. Por quê? Quantas vezes eu já vi? Por quê? Quantas vezes eu terei que ver? Por quê? Por que eu não consigo proteger meu mundo?

Um estrondo e gritos fizeram Oriko erguer cabeça. A primeira coisa que viu foi Kyouko sendo arremessada longe, acompanhada de inúmeros Kyuubeys que tiveram o mesmo fim. Quando procurou por sua contraparte, ela já não encontrava, assim como corpo de Yuma, todas carregadas por aquela onda de choque.

Não foi difícil encontrar a origem daquilo. A nuvem de fumaça havia se expandido. Como trovões, flashes de luzes multicoloridos iluminavam a mesma.

Enquanto testemunhava aquele caos, pelo canto do olho ela percebeu: o prisma que orbitava o maior escureceu e se quebrou...

/人 ‿‿ 人\

“Tu, Kirika, eu vi tantas vezes, tantas vezes vocês perecerem.”

Morte. Para Yuma, o único significado concreto daquela palavra era um banheiro, gritos e pancadas violentas contra porta. O cheiro horrível e o medo. Tudo aquilo se foi em algo que a sua memória não registrou, mas ela acreditava que ia morrer. Foi naquele momento que descobriu que desejava viver mais do que nunca e a pessoa que estava abraçando ela aos prantos foi quem lhe deu esta oportunidade. “Mama, me desculpa...”

Oriko se afastou um pouco, segurando a menina pelos ombros. “Está tudo bem. Não precisa ter medo, pois eu encontrei uma maneira.” Ela abriu um grande sorriso. “Eu pedi a Kirika para manter as duas esperando, porque elas não vão entender o que eu vi agora. Quando eu lhe mostrar, saberá do que eu estou falando. Ok?”

Yuma apertou os lábios e balançou a cabeça, concordando, e então abraçou Oriko. Disse em tom choroso. “Eu duvidei de você, sou... sou a filha mais terrível deste mundo!”

Com lágrimas renovadas e boquiaberta, Oriko repousou sua cabeça sobre a da menina. “Filha... sim... você é a minha filha. É só isso que basta para te amá-la.” Ela gostaria de ficar assim, reconfortando ela, mas tudo era uma questão de tempo. Disse ao se levantar. “E eu te garanto que há coisas mais terríveis nesse mundo e nós temos que conviver com isso.”

Yuma viu Oriko estender a mão, ao mesmo tempo em que oferecia um lenço.

“Venha querida. Ainda que seja verdade o que eu disse agora, não significa que não devemos lutar para torná-lo melhor.”

Que ela segurou, enquanto secava suas lágrimas.

As duas então partiram, confiantes e unidas em sua missão.

Porém, a confiança de Oriko estava manchada pela culpa. Yuma... eu sinto muito que esse momento fora tão curto. Logo você dirá que não é minha filha. Você, Kirika... não vão poder me perdoar. Eu me tornei em algo horrível. Ainda assim, eu aceito meu destino, pela minha família e por Madoka.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Esperança quebrantada



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