Visionária escrita por Jafs


Capítulo 5
Prenúncio da tempestade




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O vento estava implacável e levava consigo grandes nuvens de areia, que esculpiam as rochas daquele deserto.

Se houvesse algum ser vivo ali, ele jamais sobreviveria tempo bastante para descobrir que havia algo capaz de resistir aquela fúria.

Uma torre negra, em forma de uma ampulheta, se erguia imponente naquele cenário inóspito. A parte superior transparente da ampulheta revelava que estava com menos da sua metade preenchida com penas de puro branco. A muralha de tijolos negros de aspecto inviolável, que cercava a parte inferior, mantinha sua eterna guarda contra as aflições do mundo.

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A noz, em seu vôo efêmero, era um ponto solitário naquele mar azul do céu. Ela tocou o solo gramado verdejante e, quicando e rolando, se deslocou por vários metros até finalmente descansar.

Não por muito tempo.

“Encontrei! Está aqui!” Homura se deslocou com pressa até o local, segurando seu boné para que ele não caísse. Era preto, cor similar ao da sua camisa e mini-saia. Não usava meia e nem calçado, o solo agradável e macio não requisitava isso.

“E-Espera! Homura-chan...” Nagisa corria a toda velocidade, acompanhada de perto pelas bonecas da Homura. Ela portava um grande alfinete negro com uma cabeça esférica e suas vestimentas rosas eram similares ao da outra garota, exceto que não estava usando boné.

Algo que Homura notou. “Madoka. Onde está o seu boné? Deixou cair?”

Nagisa parou e logo levou a mão à cabeça. Arregalou os olhos. Continuou a passar a mão em suas mechas de cabelo branco até encontrar os laços vermelhos que prendiam suas pequenas tranças. Sentiu-se mais aliviada. “Ah... Homura-chan. Você não pode ir tão depressa! Minhas pernas são curtas.”

“Eu acabo me esquecendo desse detalhe.” Disse Homura. “Veja. Minha querida Okubyou está com o seu boné.”

A boneca, de um volumoso cabelo preto, colocou o boné cor rosa e o puxou para baixo com força, enterrando-o na cabeça da Nagisa. As outras bonecas começaram a bater os dentes afiados, rindo daquela cena hilária.

“Crianças!” Homura exclamou em tom de repreensão.

Nagisa ajeitou o boné. “Ugh... E na escola diziam que eu parecia uma aluna do primário por causa da minha altura. Eles não tinham idéia alguma.”

“Oh... Não fique assim Madoka.” Homura apontou para uma direção. “Nós estamos quase no buraco.”

No local onde Homura havia apontado, estavam duas bonecas. Manuke estava bem ao lado do pequeno buraco no solo, pulando e acenando, excitada em ver que a deusa olhava em sua direção. Usotsuki aproveitou que a outra estava distraída para dar um golpe na cabeça com o seu alfinete.

A cabeça da Manuke desconectou e caiu no chão. Desesperada, ela correu atrás e acabou tropeçando na mesma, para o delírio da outra boneca.

“Elas estão impossíveis hoje.” Homura comentou, voltando sua atenção para Nagisa.

“Pois é...” Nagisa estava olhando para a noz no chão e no alfinete em suas mãos. “Hmmm... Eu não acho que está tão perto assim.”

“Eu garanto que você vai conseguir colocar a bola naquele buraco na próxima tacada.”

“Eh?!” A forma segura como Homura falou espantou Nagisa. “Não diga bobagens, Homura-chan. Eu já dei tantas tacadas para chegar aqui que até perdi a conta.”

“Você deu sessenta e duas tacadas e perdeu a conta na terceira.” Homura respondeu.

“Perdi na terceira? Achei que tinha perdido lá pela décima.” Nagisa sorriu. “Ehihi. Agora eu sei que não fui feita para esse esporte.”

“Talvez seja apenas uma questão de detalhe.” Homura passou a mão em seu cabelo, fazendo com que penas pretas saíssem dele e fossem levadas por uma corrente de ar. “O seu alfinete por exemplo.”

“Tem algo errado nele?”

Uma das bonecas se aproximou de Nagisa. Ela carregava consigo um alfinete de tamanho menor.

“Já que me fez lembrar da sua nova estatura.” Disse Homura. “Experimente esse, Madoka.”

Nagisa trocou o seu alfinete com o da boneca. Passou a mão ao longo do corpo do objeto e sentiu seu peso. “É... não custar tentar, não é?” Sorriu.

“Ótimo.” Homura saiu do caminho entre a noz e o buraco. “Ela é toda sua.”

Nagisa se aproximou da noz e colocou a cabeça do alfinete no chão, se preparando para a tacada.

“Não.” Homura interveio, segurando a Nagisa. “Você deve alinhar seu pé da frente com a bola e tem que inclinar esse ombro.”

“A-Assim?” Nagisa ficou um pouco surpresa com aquilo.

Puxando, Homura ajeitou a posição da outra. “Na direção que você estava, mesmo se desse uma boa tacada a bola jamais chegaria no buraco.” Então ela se afastou. “Agora está bom. Apenas tome cuidado para não se furar.”

Nagisa olhou para ponta do alfinete. “Okay. Heheheeee...” Rindo nervosamente, ela mirou bem a cabeça do alfinete para acertar a noz.

Homura e as bonecas viram quando Nagisa ergueu o alfinete.

“Tóóóóóh!”

Com a tacada, a noz subiu aos céus. Durante sua trajetória, ela fora interceptada por um pássaro negro, que a segurou pelo bico. O pássaro carregou-a consigo até chegar no buraco, onde deixou cair. A noz entrou no buraco de uma vez só.

Homura e as bonecas bateram palmas em comemoração. “Excelente tacada, Madoka.”

“Mas...” Nagisa olhou para Homura, boquiaberta. “Mas isso é trapaça!”

“Ora! Ora!” Homura sorriu maliciosamente. “Regras existem para serem quebradas. Fufufu...”

Usando a cabeça do alfinete, Nagisa cutucou Homura. “Homuuuu~”

“E-Ei.” Homura crispou.

Nagisa estreitou o olhar e sorriu. “Sendo má novamente.”

“Acho que isso é uma parte de mim.” Homura respondeu melancolicamente, abaixando o olhar.

Notando a reação de Homura, Nagisa segurou a mão dela. “Mas para mim, Homura-chan sempre será Homura-chan, não importa como.”

Homura fitou aqueles olhos laranja, com traços amarelos. “E Madoka sempre será Madoka.”

“Aquela que sempre precisará de uma mãozinha no golfe.” Disse Nagisa, fazendo um beicinho.

“Eu acho que o termo ‘sempre’ é um exagero. Iremos praticar isso juntas por muito tempo, não é?”

“Com certeza!” Nagisa largou a mão da outra. “Vamos ver se eu faço melhor que você no próximo buraco e sem trapaças dessa vez.”

“Bom. Então vamos até lá buscar a bola.” Homura fez um gesto com a mão. “Vá na frente.”

“Hã?”

“Vou lhe dar uma vantagem, assim você não vai precisar correr.” Homura deu um singelo sorriso.

“Ah... Ehihi.” Nagisa ficou toda sorridente, um pouco embaraçada com o assunto da altura dela ter sido trazido à tona novamente. “Obrigada Homura-chan!” Por fim, ela partiu.

Enquanto Nagisa se encaminhava até o buraco, as bonecas ficaram na frente da sua mestra, aguardando.

Uma lufada de vento balançou as longas mechas negras de Homura, assim como levou embora o seu sorriso. Com a cabeça, acenou para as suas crianças.

As bonecas fizeram o sinal de silêncio uma para outras antes de voltarem a seguir Nagisa.

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Era uma bela manhã.

Kirika, carregando consigo um jornal, caminhava pelas ruas da parte antiga da cidade, com suas construções de pedra e alvenaria, de fina arquitetura e jardins bem cuidados. Era difícil de acreditar que aquele ambiente aconchegante pudesse existir na tão movimentada e moderna Mitakihara.

Contudo, o destino de Kirika era um lugar que ninguém consideraria que era aconchegante muito menos belo. Era uma mansão de pedra, onde seus muros tinham uma série de pichações:

LADRÕES

ONDE ESTÁ O NOSSO DINHEIRO?

MORRA MIKUNI!

CRIMINOSOS

Kirika passou por elas sem dar bola. Seguiu até a caixa de correio. Ao abrir, várias baratas saíram. “Eca! Xô!” Ela viu que dentro não havia nada, apenas lixo e restos de comida depositada por transeuntes.

O portão enferrujado emitiu um rangido quando Kirika entrou no quintal da mansão, tomado pelo mato e entulhos. As janelas da frente da mansão estavam todas quebradas, com tapumes de madeira no lugar dos vidros, transmitindo uma sensação de completo abandono.

Longe disso.

Antes que pudesse chegar na porta, Kirika ouviu ela ser destrancada.

“Bom dia.” Disse Oriko ao abrir a porta. Ela já estava com o uniforme da escola.

“Bom dia amorzão!” Kirika entrou e logo tirou os calçados. “Eu trouxe o jornal e já vi que ganhamos o segundo prêmio da loteria. Normalmente a gente ganha o terceiro ou o quarto. Está querendo chamar a atenção agora?”

“Podemos precisar do dinheiro quando a situação se agravar.” Oriko trancou a porta. “Apesar que eu ainda não enxerguei nós utilizando ele.”

“Se quiser, eu compro um belo presente para você. Kukuku...” Kirika acompanhou Oriko pelo salão. O lugar era amplo, com uma escadaria que dava acesso ao segundo andar. Infelizmente, A decadência que se apresentava na entrada se refletia no espaço interior da mansão. O assoalho de madeira há muito não via um polimento e algumas até estavam apodrecendo, pois as janelas próximas tinham perdido sua função de proteger contra vento e a chuva. A mobília acumulava pó e teias de aranha, assim como os balaústres e as balaustradas. Os papéis de parede estavam manchados e inchados por causa da umidade e do mofo. Era possível ver também as marcas nas paredes, onde ficavam os quadros, que foram levados junto com outras obras de arte quando a polícia invadiu o local. Tudo aquilo dava ares de uma casa mal assombrada.

Passando ao lado da escada, elas entraram pela porta que dava acesso a sala de estar. Comparado com o salão, estava em melhores condições. Tinha um grande sofá com uma mesa de centro de madeira e um televisor na parede. No espaço também havia um bar, mas as estantes onde ficavam as bebidas estavam vazias, resultado da invasão da polícia. No outro lado da sala ficava a porta de correr que levava para o jardim preferido delas.

Sobre a bancada do bar, um rádio anunciava as notícias.

“...as autoridades e os bombeiros ainda estão na linha férrea Joushin, local do trágico incêndio no trem sentido Shimonita. Testemunhas afirmam que um homem em um dos vagões ateou fogo em si mesmo e perseguiu as pessoas para abraçá-las, gritando a palavra ‘purificação’. Houve grande pânico e comoção, com pessoas pulando pelas janelas com o trem ainda em movimento. São doze mortes confirmadas até agora, ainda sem identificação.

Esse novo evento é mais um na lista que deve entrar em pauta ainda essa semana na Organização das Nações Unidas. O fenômeno está sendo chamado pelo codinome ‘haven’, em alusão ao recente massacre no Bridgehaven Memorial Hospital, nos Estados Unidos, onde uma mulher armada com pistolas automáticas matou sua própria mãe que estava em coma há anos e mais sete pessoas, a maioria pacientes da seção de oncologia, antes de matar a si própria. O caso é um dos mais notáveis, pois a mulher visitava sua mãe diariamente e tinha intimidade com os funcionários, o que facilitou a sua ação.

O mais perturbador é que novos casos estão sendo notificados no mundo e com mais freqüência. Apesar da hipótese de terrorismo não estar descartada oficialmente, não há nenhum grupo assumindo a autoria e não se encontrou nenhuma ligação nas pessoas envolvidas nesses ataques. A Interpol está há frente nas investigações e as suspeitas recaem em grupos anônimos na internet, que formam...”

Oriko desligou o rádio. “Os governos começaram a agir, mas eles não têm idéia com o que estão lidando. Muito menos recursos.”

“Isso não é nada bom.” Kirika deixou o jornal sobre a mesa. “O tempo está acabando, não está? Não é melhor a gente agir agora? Por quanto tempo vamos ter que ficar com aquelas duas ‘procurando’ por Kyuubey.”

Oriko se dirigiu até o sofá, enquanto arrumava o nó do seu laço preto em sua gola. “Eu ainda estou aguardando pela minha próxima visão.”

Sentindo a leniência na atitude da Oriko, Kirika respondeu. “Talvez se formos até onde o Kyuubey está agora, você consiga ver o que precisa ver.”

“Tenha paciência Kirika. Está tudo bem, só preciso enxergar mais alguns detalhes, apenas isso.” Oriko puxou as pontas do laço com tanta força que quase o rasgou. “Aliás, eu pedi para que você não tocasse nesse assunto, salvo por telepatia.”

“Ops! D-Desculpe amorzão!” Kirika disse com um olhar de pidão. “Onde está o nosso amorzinho?”

“No banheiro.” Logo após responder, Oriko enviou uma mensagem telepática. [Yuma, ainda está no banho?]

Logo veio uma resposta. [Oi mama. Eu já terminei, estou me secando.]

Oriko ficou olhando para Kirika enquanto mandava a próxima mensagem. [Não se esqueça de secar os ouvidos, sabe como eles estavam cheios de cera na última vez.]

Kirika ergueu as sobrancelhas ao notar que Oriko havia permitido ela ouvir a conversa. Não perdeu tempo para participar também. [Amorzinho! Seca esses ouvidos!]

[Papa?!]

Kirika continuou a conversa com a Yuma, fazendo uma piscadela para Oriko. [Isso mesmo! Se não fizer, eu vou abrir uma fábrica de velas e você vai ser a minha matéria prima.]

[Ah! Não faz isso! Eu vou usar até o secador de cabelo!]

“Secador de cabelo?!” Oriko murmurou, espantada.

Kirika ficou vermelha de tanto segurar uma gargalhada. [Nada de secador de cabelo! Eu quero ver você usando bem a toalha, hein?]

Oriko balançou a cabeça em negação pela conversa que acabara de ouvir enquanto se sentava no sofá.

Kirika se acalmou, sua pele voltando aos tons normais. “Eu até tenho jeito com crianças, não?”

“Não posso negar que ao menos você se esforça.” Oriko começou folhear o jornal, olhando de relance para as notícias. “Você não está de uniforme, devo presumir que não vai para escola hoje também.”

Kirika colocou as mãos atrás da cabeça. “Nah... Estou ainda cansada por ter andado em Kazamino atrás de novos demônios.”

“Pois muito bem.” Disse Oriko. “Supervisione a Yuma, ela deve terminar a lição de casa antes de eu voltar da escola.”

Kirika prestou continência. “Sim patroa!”

Passos apressados foram ouvidos e logo a porta da sala se abriu. Yuma, já vestida, trazia consigo uma toalha. “Olha papa! Vou secar na sua frente.”

“Yuma!” Oriko não gostou nada do que viu. “Seu cabelo ainda está molhado, você não deve andar pela casa desse jeito.”

“Mas eu enleei a toalha envolta dele.” Yuma respondeu, enquanto empurrava a toalha contra as orelhas. “Não se preocupa mama.”

Kirika sorriu. “Hmmm... Acho que vou desistir da idéia de abrir uma fábrica.”

Yuma respirou aliviada.

Enquanto isso, Oriko já havia se levantando do sofá. “Certo, eu estou partindo. Não se esqueça do que tem que fazer Yuma.”

“Eu vou terminar antes do almoço.” Yuma passava a toalha para secar as pontas verdes de seu cabelo. “Ei, vocês estavam falando do Kyukyu antes?”

A pergunta pegou Kirika de surpresa. “Ah... é... hum...”

“Sim estávamos.” Oriko falou. “Eu tive uma visão e sinto que estamos mais perto de descobrir o paradeiro de Kyuubey.”

“Sério!?” Yuma ficou excitada com a notícia. “Que bom! Nós já estamos procurando ele há tanto tempo...”

Oriko retornou aquela reação com um sorriso.

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Enquanto a escola de Mitakihara aposta na modernização da educação, Shirome mantém suas vigas e fundamentos fixos sobre a tradição. Seu suntuoso campus, que mais parecia um castelo, abrigava alunos do primário ao ensino médio. Políticos, empresários e outras pessoas de renome já se formaram nesse local. Apesar da fama e do custo alto, Shirome estava de portas abertas para qualquer um que conseguisse passar nos disputados exames.

Contudo, hoje seus grandes portões estavam fechados para Oriko Mikuni.

“Eu não previ isso. Hmmm... Vejo que o meu foco em obter mais daquelas visões tem me afetado e muito.” Falou consigo mesma.

“Olha só quem está aqui.”

Aquilo chamou atenção de Oriko para duas garotas que estavam ali próximas. A que estava na frente tinha um cabelo comprido, tão azul quanto os seus olhos. A outra era uma loira de olhos castanhos, de cabelo curto e usava óculos. “Bom dia Komaki-san, Miyuki-san.” Ela notou que as duas estudantes de Shirome estavam vestindo roupas casuais. “Parece que não haverá aula hoje.”

“Ooooohhh...” Komaki arregalou seus olhos azuis e ficou boquiaberta, fingindo surpresa. “A escola fechou até segunda ordem por causa desses atentados que estão correndo. Por que ninguém avisou você? Nossa querida Mikuni...” Sua voz e o seu sorriso que se sucederam exalavam malícia. “Talvez você devesse pagar alguém para isso, não era o que seu pai fazia?”

Oriko acenou com a cabeça, afirmando. “Foi um erro da minha parte, eu deveria ter prestado mais atenção no que está ocorrendo. Felizmente vocês acordaram cedo e chegaram até aqui para avisar qualquer estudante que viesse por engano. Obrigada.”

“Olha aqui sua pilantra!” Komaki explodiu em raiva. “Você só está se mantendo aqui em Shirome por causa do dinheiro que seu pai roubou e escondeu, nosso dinheiro!”

Miyuki segurou o braço da Komaki. “Chega! Nem devíamos ter passado por aqui. Akira-san está nos esperando.”

“Eu sei. Eu sei.” Komaki se acalmou, depois continuou a falar com um sorriso. “Só não resisti de vir aqui para ver a cara que essa ordinária iria fazer. Nosso passeio pelo centro e no shopping ainda está de pé, Miyuki-san.”

“Shopping?!” Oriko arregalou os olhos.

Komaki estranhou. “É... e você não está convidada.”

Oriko abaixou a cabeça e semicerrou os olhos. “Shopping... shopping... shopping...”

“Ei! Você está ouvindo?” Komaki tentou chamar a atenção.

Miyuki ficou assustada. “E-Ela está tendo um daqueles piripaques.”

“Mas que droga!” Komaki voltou a se irritar. “Além de ladra, ela é louca.”

Oriko ergueu cabeça e falou com naturalidade. “É melhor que vocês vão nesse horário.”

Komaki balançou a cabeça com uma expressão de desdém. “Vamos embora.”

“S-Sim.” Miyuki continuava horrorizada.

Antes das duas irem embora, porém, Komaki ainda dirigiu a palavra. “Mikuni, você já está cansada de saber que seu nome mancha a reputação dessa escola. Quer uma dica? Aproveita que escola fechou e faça um favor para todas nós: quando esses portões reabrirem, não pise mais aqui.”

Oriko continuou parada, observando as duas garotas distanciarem. Suspirou. Desde o escândalo envolvendo seu pai, sua vida na escola nunca mais foi igual. Contudo, ela não desistiria, jamais cometeria o mesmo erro.

Nesse momento ela sentiu seu celular vibrar.

“Kirika...” Oriko não precisava da sua clarividência para saber de quem se tratava. Logo ela viu a mensagem na tela.

S2S2S2 AMORZÃO! S2S2S2

Eu n consigo responder as dúvidas do amorzinho. >_

Quer que eu prepare o que pro almoço?

Eu trago aí correndo, bem quentinha. ^o^

Oriko sorriu. Ela não desistiria, mas teria sido muito mais difícil sem elas. Começou a digitar no celular, respondendo a mensagem.

Não irá precisar.

Eu estou retornando, pois Shirome está fechada.

Aproveite e avise Yuma que se ela terminar a lição, eu e ela iremos passear hoje à tarde.

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“Noooossa! Eu nem acredito que estamos entrando no shopping!” Yuma estava maravilhada.

“Eu gosto do parque, mas hoje vamos fazer algo diferente.” Oriko segurava a menina pela mão enquanto olhava envolta. Era o maior shopping da cidade, na forma de um grande domo de vidro, assim como o mais movimentado. Devido a isso, Oriko logo notou que não havia tantas pessoas quanto se podia esperar e até alguns estabelecimentos não haviam aberto suas portas.

Yuma puxou a mão da Oriko. “Olha mama! Eles têm peixinhos no chafariz!”

“Sim. Bonitos não?”

Com os seus cinco andares, ainda que houvesse os sinais da insegurança pública, não faltavam lugares para se visitar.

E foi em um deles que elas encontraram uma pessoa.

“Mama!” Yuma puxou a mão novamente. “Aquela não é a Mami-senpai?”

Através da vitrine, Oriko viu que Mami estava em uma loja de cosméticos. “Sim, é ela.”

Logo que as duas entraram, Yuma foi correndo para abraçar. “Mami-senpai!”

“Hã?! Yuma-san?”

“É uma grande surpresa encontrá-la aqui, Mami-san.” Oriko cumprimentou.

“Oriko-san.” Mami sorriu. “Eu devo dizer o mesmo.”

Yuma pulava de alegria. “Passear com mama e com senpai, esse é o melhor dia de todos!”

“Huhu. Isso dependerá se Oriko-san pretende me acompanhar.” Mami notou os pom-poms pendurados na gola da camiseta rosa que a menina vestia, aquilo lhe trouxe lembranças. “Vocês não estão indo para algum lugar em particular?”

“Não.” Respondeu Oriko. “Seria ótimo passearmos juntas.”

“Ah... nesse caso.” Mami então pegou um pote no balcão. “Eu estava experimentando esse creme para pele.” Ela levou a mão até o nariz e cheirou o topo da palma, depois a estendeu para Oriko. “Poderia me dar sua opinião sobre o perfume?”

Oriko sentiu aquele perfume. “É bom, apesar de que prefiro fragrâncias com um teor mais acre, doce demais me causa dor de cabeça.”

“Ele deve estar enjoativo agora porque acabei de passar.” Mami ficou olhando para o rótulo da embalagem. “Acho que vou levar um.”

Quando Mami havia acabado de passar pelo caixa, Yuma perguntou. “Você também não teve aula hoje?”

“’Também’?” Mami ficou curiosa.

Oriko falou. “Shirome está fechada, por causa dos acontecimentos recentes.”

Mami acenou com a cabeça. “A escola de Mitakihara também, pelo mesmo motivo.”

“Kirika vai gostar de saber disso.” Disse Oriko, sorrindo.

“Oi? Kirika-san estuda em Mitakihara?”

“Não a culpo por estar surpresa, Mami-san. Seria difícil tê-la encontrado lá, pois ela falta muito.”

As três garotas pararam em frente a uma vitrine de uma loja de roupas e calçados.

Enquanto olhava para o que estava em exibição, Mami voltou a perguntar. “É por causa que ela é uma garota mágica?”

“Essa é a desculpa que ela usa, mas a verdade é que ela não gosta de lá. Eu sempre questiono ela quanto a isso, porém não posso forçá-la a ir.” Oriko respondeu.

“Entendo.” Mami afirmou. “É difícil, mas não é impossível conciliar as duas coisas.”

“É por isso que eu sempre irei admirar você, Mami-san.”

“Mami-senpai é uma verdadeira heroína!” Yuma exclamou.

“Eu não consigo me ver como tal.” Mami ficou com um olhar perdido. “Apenas não tive escolha e abracei esse destino.”

“Eu não diria que ser uma garota mágica por tanto tempo seria apenas um capricho do destino.” Oriko olhou para Mami. “Para proteger o nosso mundo você faria qualquer coisa, não?”

“Eu...” Mami congelou por um momento ao se deparar com aquele olhar verde oliva, que parecia estar sondando muito além do que aparentava. “Eu acho que sim, eu daria a minha vida por isso.”

Oriko fechou os olhos, sorrindo. “Isso é ser uma verdadeira heroína.”

“Haha.” Mami ficou encabulada em ouvir aquilo. “Heroína ou não, eu ainda gostaria de ver mais algumas lojas.”

As três continuaram seu passeio, provando roupas, curtindo os lançamentos musicais e visitando exposições de arte aberto ao público.

Sentadas em um banco no corredor para descansar, Mami se deu conta de algo. “Por que Kirika não está com vocês?”

“Papa está cuidando do jardim.” Yuma respondeu.

“Hum?” Mami ficou curiosa.

Oriko explicou. “Ela está em casa. É algo que ela gosta de fazer.”

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“KUKUKUAHAHAHAHA!”

Com as suas longas garras, Kirika limpava o jardim. “Nenhuma erva daninha ficará entre o meu amorzão e suas flores! Tomem isso, e isso! HAHAHAHAHAHA!”

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“É uma atividade que exige delicadeza e calma, eu acredito que seja bom para ela.” Mami comentou.

Oriko acenou com a cabeça, concordando. “Deveras.”

Yuma cutucou Mami. “Como está a Kyouko-neechan?”

“’Kyouko-neechan’?!” Mami ergueu as sobrancelhas. “Ela está bem e pelo visto vocês andaram se entendendo.”

“Ah... hihi. Ela me disse que preferia que eu a chamasse pelo primeiro nome.” Yuma, sorrindo, olhou para o céu através do domo de vidro. “Ela me dava um pouco de medo, mas eu sabia que ela tinha um bom coração, pois lutava ao seu lado.”

Mami retornou aquele sorriso. “Você tem razão.”

Oriko passou a mão na cabeça da Yuma. “Ainda que ela evita falar comigo ou com Kirika, fico feliz que Sakura-san tenha se aproximado da minha querida. Eu acho que você conseguiu mudar ela, Mami-san.”

Mami negou. “Não. Eu não tenho mérito algum quanto a isso.” Fez uma pausa, deixando escapar um suspiro antes de continuar. “Kyouko... teve um passado difícil, mas é uma pessoa muito forte.”

Oriko assentiu. “Entendo. Você deve conhecê-la bem melhor do que eu.”

“Onde ela está agora?” Yuma perguntou.

“Ah.” Mami ficou cutucando queixo, pensativa. “Hmmm... Eu pedi para ela limpar o apartamento, ela estava me devendo isso ainda. Deve estar terminando agora.”

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“Isso tem que dar certo.”

Kyouko amarrou o espanador na base da sua lança. “Acho que está bom.”

Guiada por sua vontade, a lança ganhou vida e começou a limpar os vidros das grandes janelas da sala de estar.

Kyouko supervisionava aquilo, orgulhosa de seu feito. “Boa. Isso já deve dar uma enganada. Agora...” Com um salto mortal, ela pegou a vasilha cheia de salgadinhos sobre a mesa e caiu deitada no sofá. “É hora da TV!”

Ao ligar o televisor com o controle, surgiu no mesmo imagens de ambulâncias, assim como policiais e bombeiros.

“...um dia triste para os alemães e um novo alerta pra o mundo. Estamos ao vivo aqui em Essen, onde um atentado a um shopping ceifou a vida de cinqüenta e duas pessoas. Nossas fontes confirmam que um homem ainda não identificado entrou no local com uma sacola com armas e explosivos. Ainda não se sabe se ele foi capturado pelas autoridades ou...”

Kyouko começou a trocar de canais. “Só passa essas merdas agora. Eu já sei que o mundo tá mais ferrado do que já tava. Saco!” Até que um chamou a atenção. “Opa! Futebol feminino? Japão contra Estados Unidos? Tô dentro! Vai Japão!”

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“Eu sinceramente não consigo imaginar Sakura-san fazendo isso.” Disse Oriko.

“Huhuhu.” Mami riu. “Nem eu.”

Nisso um som de um ronco foi ouvido.

Mami ficou intrigada. “Yuma-san?”

A menina de cabelos verdes colocou a mão sobre a barriga, envergonhada.

“Oh... O passeio deixou você com fome.” Disse Oriko

“Isso é uma emergência!” Mami ficou de pé. “Ainda bem que a praça de alimentação fica nesse andar.”

“Praça de alimentação? Não.” Oriko se levantou do banco junto com a Yuma. “Eu acho que tem um lugar melhor. Nós passamos agora a pouco em um estabelecimento que tem parfait em seu cardápio.”

Parfait?” Yuma falou em tom de curiosidade.

“Nunca experimentou?” Mami questionou com um sorriso. “Então está decidido!”

As três entraram no local e escolheram uma mesa. O ambiente era pequeno, mas bonito, onde as vitrines foscas na entrada ofereciam uma maior privacidade.

Logo depois que fizeram os pedidos, Mami falou. “Oriko-san, eu iria falar contigo sobre isso na nossa próxima noite juntas, mas...”

“Se é algo importante.”

A loira estava com uma expressão mais séria. “Eu estou preocupada.”

Oriko concordou. “É claro, todas nós estamos. As escolas foram fechadas e os noticiários continuam relatar novos casos.”

“O exército já está nas ruas de Tóquio.”

“Isso é uma precaução.” Oriko sorriu levemente. “Lembre-se que tanto em Mitakihara quanto em Kazamino, apesar de tudo o que está acontecendo, não há relatos de problemas. Tudo isso graças aos nossos esforços.”

“Deveríamos nos esforçar mais.” Mami afirmou.

“Como?”

“Vai levar muito tempo para encontrar Kyuubey se continuarmos apenas agindo durante as noites, depois de caçar os demônios.” Mami continuou. “Agora nós temos o dia livre também. Eu creio que poderemos cobrir toda cidade em menos de um mês.”

“Ah sim...” Oriko abaixou o olhar, pensativa. “É uma ótima idéia, mas me fez lembrar de algo que eu havia ponderado.” Ela então voltou a olhar para Mami. “É possível que Kyuubey saiba que estamos procurando por ele.”

“Mama?!” Yuma ficou surpresa.

“Nesse caso, ele pode estar mudando de lugar, nos evitando.”

Yuma franziu a testa. “Por que Kyukyu faria isso?”

Oriko balançou a cabeça, sorrindo. “É claro que é uma especulação exagerada da minha parte, não é Mami-san?”

“Eu diria que sim...” Mami desviou o olhar. “Mas não custa nós revisitarmos alguns lugares.”

Yuma veio com uma expressão determinada. “Mami-senpai, não importa como, Mama vai encontrar Kyukyu, não se preocupe.”

Oriko trouxe Yuma para perto de si. “Nenhuma de nós aqui vai desistir. Somos garotas mágicas, somos todas sobreviventes.”

“Sobreviventes?” Mami murmurou.

“Hum?” Aquilo chamou a atenção de Oriko.

“Nada não.” Mami gesticulou. “É que o meu desejo tem muito haver com o que acabou dizer.”

“Desejou pela sua vida?” Oriko ficou interessada. “Pois eu desejei o mesmo.”

“Jura?!” Mami estava pasma. “E está contente pelo que pediu?”

Oriko acariciou Yuma. “Sim, estou.”

Mami sorriu. “É isso que importa.”

O garçom veio com uma bandeja com os parfaits. O da Mami era de maracujá, enquanto da Oriko era de limão e o da Yuma, kiwi.

“O meu é mais verde que o seu, mama.”

“Pois é.” Oriko concordou.

“Hmmmm!” Logo após experimentar o doce gelado, Yuma perguntou. “Mami-senpai, depois que a gente achar o Kyukyu, posso visitar você?”

Mami fez uma expressão de incredulidade e não tardou em dizer. “Claro que pode.”

Oriko parou a colher quando estava prestes a abocanhar e colocou de volta na taça. “Mami-san, não seria um incômodo grande demais?”

“Claro que não. Claro que não!” Mami balançou a cabeça. “Vocês tem nos ajudado muito aqui. Eu deveria fazer o mesmo por vocês em Kazamino.”

“Não é um lugar tão extenso como aqui, não seria necessário.” Respondeu Oriko. “E Sakura-san?”

“O apartamento é meu e vocês são bem vindas. Kyouko está se acostumando, eu acredito que logo vocês farão as pazes.”

“É...” Oriko suspirou.

“Sabe de mais uma coisa?” A loira voltou a falar. “Ano que vem começa o colegial e eu pretendo me matricular em Shirome.”

“Hã?!” Oriko arregalou os olhos. “Mas... mas lá é muito caro.”

“Eu sei. Por isso que tenho estudado bastante, eu quero tentar conseguir ao menos uma bolsa parcial.”

“Nossa!” Yuma ficou toda empolgada. “Vocês duas vão estar juntas!”

“Pode ser que nós não fiquemos na mesma sala de aula.” Mami sorriu. “Porém é bem possível que nós nos cruzaremos pelos corredores. Não é... Oriko-san?!”

Oriko, cabisbaixa e com os lábios contraídos, mal respirava.

Yuma ficou preocupada. “Mama?”

Contudo, a única resposta que veio foi na forma de um forte estrondo seguido de um tremor. Alguns dos vidros do local se estilhaçaram com a vibração, acompanhados por gritos de desespero.

Yuma tapou os ouvidos. “Ah! O que foi isso?”

“Isso me pareceu uma explosão.” Mami se levantou, trocando olhares com Oriko.

Oriko assentiu. “Vamos.”

Logo que sairão para o corredor do shopping, as garotas se depararam com a multidão correndo por suas vidas. Uma espessa fumaça negra já pairava próxima ao teto.

Mami fez uma observação. “Pela direção que as pessoas estão vindo, aconteceu lá na praça de alimentação.”

Elas se dirigiram para lá, procurando evitar as pessoas que vinham pela direção oposta. Oriko segurava a mão de Yuma com firmeza. A fumaça começou a tomar conta do local e o calor ficava mais intenso.

Então se encontraram com uma visão aterradora. Um rapaz corria desesperadamente, como se assim ele pudesse escapar das labaredas que consumiam as suas costas.

“Mami-san!” Oriko chamou a atenção. “Temos que derrubá-lo.”

Mami entendeu o pedido. Fazendo brilhar a gema da alma em seu anel, ela criou um laço no chão que prendeu o pé do rapaz, fazendo-o tropeçar e cair de bruços. Sem tardar, ela juntou as mãos e, quando abriu, já estava segurando um grosso cobertor feito de laços. Ela jogou sobre o rapaz, cobrindo e matando o fogo.

“Fique com Mami-san.” Oriko deixou Yuma e foi até o rapaz que agonizava.

Mami recolheu o cobertor e descobriu que o estado dele era grave. Do cabelo até as pernas estava chamuscado, era difícil discernir se aquilo que estava carbonizado era a roupa ou pele. Algumas partes estavam em carne viva.

Mami levou a mão ao nariz ao sentir aquele horrível cheiro familiar e então se deu conta que Yuma estava testemunhando a mesma coisa.

“Você vai ficar bem.” Oriko segurava o rosto do rapaz. “Só foram queimaduras leves.”

Quando Oriko trocou olhares com Yuma, a menina entendeu. Ela estendeu a mão esquerda em direção ao rapaz e a gema em seu anel começou a irradiar uma luz esverdeada sobre ele.

Mami não tirou os olhos daquele evento até que ele terminasse. As feridas do rapaz estavam curadas, ainda tinham alguns vermelhidões, mas nada comparado como antes.

“Ei vocês aí!” Um guarda do shopping apareceu. “Saiam! Venham por aqui.”

“Esse rapaz inalou muita fumaça, ajude ele, por favor.” Disse Oriko.

Mami olhou em direção de onde vinha toda aquela fumaça.

“Não podemos fazer mais nada, Mami-san.” Oriko voltou a segurar Yuma. “Vamos sair.”

Próximo da entrada do shopping, já havia vários carros da polícia, corpo de bombeiros e ambulâncias. Um cordão de isolamento estava sendo formado envolta do local. Os sons que reinavam eram das sirenes, tosses e choro.

Aproveitando o caos, as garotas evitaram serem abordadas pelas autoridades e se misturaram com a multidão.

“O que será que aconteceu?” Mami perguntou, notando que, sob a luz do fim da tarde, Oriko e Yuma estavam com sua pele, roupa e cabelos cobertos de fuligem. Logo constatou que isso se aplicaria a ela também.

“Ainda bem que corri.”

Próximas delas, dois homens conversavam. Eles estavam uniformizados, indicando que eram funcionários do shopping.

“Quando ouvi a gargalhada daquele cara, eu sabia que era coisa ruim. Quando eu senti o cheiro de gás, então...”

“Eu comecei a correr quando ouvi os gritos.” O outro homem comentou. “Eu o conhecia. Ele tinha sido demitido daquela lanchonete semana passada.”

“Os supervisores daquele lugar sempre trataram mal o pessoal. Eu sabia que um dia alguém iria querer se vingar.”

“Porra, mas bem que ele podia só ter matado os caras. Agora vou perder uns dias de trabalho por causa de um pavio curto.”

Ouvindo aquela conversa, as garotas se entreolharam entre si.

Até que Oriko se manifestou. “Custe o que custar, nós iremos superar isso.”

/人 ‿‿ 人\

Deitada sobre a várzea, Nagisa apontou para o céu estrelado. “Aquelas estrelas parecem formar um cabrito.”

“Onde?” Homura, que estava deitada ao lado, apontou. “Aquelas?”

Nagisa segurou o braço da Homura e o ajeitou. “Não. Mais para cá.”

“Ah sim. Tem razão Madoka, parece mesmo.”

“Na verdade só tem a cabeça ali. Ehihi.” Nagisa soltou o braço. “Homura-chan, conseguiu encontrar alguma constelação também?”

“Uhum...” Homura voltou apontar. “Eu estava vendo aquela ali, parece uma janela, vê?”

“Ah.” Nagisa forçou a vista, fazendo umas caretas. “É, eu acho que estou vendo. Ela está fechada, não está?”

“Sim, mas não trancada.” Homura respondeu.

“Uhum...” Nagisa fechou os olhos. “Sabe, quando faço assim, eu consigo me lembrar de todas essas estrelas a minha volta.”

“Eu sei como é.” Homura colocou ambas as mãos sobre o peito. “Eu estive lá por um momento... com você.”

“Eu vi tantas vidas serem banhadas pela luz dessas estrelas.” Nagisa continuou. “Para cada garota mágica que resgatei, eu pude enxergar seu mundo, seu tempo, suas motivações que levaram ao seu esperançoso desejo. Eu vi muitas coisas boas, mas também vi muitas coisas ruins.” Então ela se virou para Homura. “Seria possível?”

Homura olhou de relance. “O quê...”

“Se você tivesse o poder, você criaria um paraíso para cada ser vivo?” Nagisa deslizou sua mão sobre a mão esquerda de Homura. “Assim como fez aqui?”

“Não.” Homura balançou a cabeça. “Eu fiz esse lugar para mim. Cada um tem seu ideal, seu paraíso. Se eu criasse para os outros, seria a partir de pura presunção.”

“E se esse problema não existisse?” Nagisa insistiu.

“Não é possível.” Homura respondeu secamente, desviando o olhar.

Em resposta, Nagisa rolou e se pôs sobre Homura.

“M-Madoka?”

Nagisa tinha um sorriso, mas seus olhos expressavam preocupação. “Homura-chan, apesar de estarmos um tempo juntas, eu ainda continuo sentindo uma aflição em você.”

Homura permaneceu em silêncio.

Nagisa recostou a cabeça sobre peito da outra. “É porque você ainda não me vê como Madoka, não é?”

Homura balbuciou. “Não... eu...”

“Desculpa... desculpa...” Nagisa disse em tom de choro.

“Madoka, você está enganada.”

Nagisa ergueu a cabeça.

“Não é culpa sua. É que...” Homura passou mão para remover as mechas de cabelo branco que haviam grudado no rosto de Nagisa devido as lágrimas.

Nagisa segurou a mão de Homura, que havia começado a tremer.

“É que as lembranças da minha vida que eu tinha se resumiam a um labirinto. Eu acreditei que ela iria terminar lá dentro, mas eu saí e não sei para onde ir agora.” Homura suspirou. “Madoka, não importa como terminemos juntas, eu acho que estou quebrada por dentro. Não há nada que se possa fazer.”

“Não!” Nagisa exclamou. “Não é verdade!”

Apesar da energia naquela reação, Homura continuava impassiva.

“Eu vou consertar você, Homura-chan! Eu estou aqui para isso.” Nagisa apertou a mão da outra. “Eu vou fazer você feliz.”

Aquelas mãos não eram da Madoka, mas Homura conseguia sentir em Nagisa a mesma força. A forma como a menina se expressava lembrava muito a Madoka com o qual ela lutou lado a lado. Isso de certa forma ajudou, pois chamá-la por aquele nome soava natural.

“Eu irei arrancar essa... essa praga dentro de você!”

O difícil era controlar suas emoções. Era uma farsa, tudo uma farsa. Mas por quê? Por que seu coração teimava em bater naquele ritmo?

“Eu vou fazer você abrir um sorriso todos os dias, começando agora!” Nagisa se levantou. “Tenho uma surpresa para você.”

“Oi?” Por estar perdida em seus pensamentos, Homura achou que tinha deixado de prestar atenção em algo.

“Eu estava guardando isso para um futuro próximo, mas eu vou mostrar o que já consigo fazer.” Nagisa ergueu seu braço esquerdo e entre os dedos da mão irradiou uma forte luz rosa.

Era tão forte que Homura colocou a mão na frente dos olhos. Quando a luz diminuiu, ela não acreditava no que via.

Na mão de Nagisa havia um arco com o aspecto de um galho, decorado com gemas cor de rosa. Na ponta superior do arco desabrochava uma rosa.

“Hmmm... e é isso! Ehihi.” Nagisa ficou encabulada. “A verdade é que eu não consigo fazer muita coisa ainda, mas a minha magia está mais forte a cada dia. O que achou?”

Homura estava boquiaberta.

“Homura-chan?”

Sentiu seus olhos umedecerem. Era uma farsa, tinha que ser uma farsa, mas naquele momento seu sorriso e suas palavras não eram. “É lindo...”


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Fantasmas e os condenados



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