Visionária escrita por Jafs


Capítulo 4
Um nome inesquecível




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/627460/chapter/4

“Bosta de chuva!”

No topo de um estacionamento multinível, as garotas mágicas se abrigavam da tempestade em um grande toldo feito com laços.

“Eu tinha visto os avisos sobre a mudança do clima que ia ocorrer hoje.” Disse Mami para a Kyouko irritada.

Yuma também estava presente, juntamente com a sua família. “Mama também já sabia.”

Oriko tinha um guarda chuva desarmado consigo. “Eu vim preparada, mas Tomoe-san me impressionou novamente com esse toldo.”

“Eu já perdi a conta de quantas vezes cacei demônios sob climas menos agradáveis.” Mami respondeu enquanto prestava atenção no curioso objeto que Yuma portava. Era uma vara com uma bola peluda branca na ponta, quase tão grande quanto a cabeça da menina, com um longo rabo. “Toda essa água não seria boa para o meu cabelo. Huhu.”

“Heh. Que piada ruim Mami.” Kyouko deu um leve sorriso antes de retornar para um semblante mais sério. “O problema não é se molhar. Com essa chuva, durante a noite, mal dá pra enxergar algo. Normalmente, daqui daria pra ver a extensão do miasma.”

“Sim.” Mami apontou para uma direção e começou a instruir. “Atravessando a rua há um ferro velho, é onde estamos colocando os cubos usados. Era para ser uma solução temporária, mas agora há tanto cubos e demônios lá, que não consigo imaginar outro lugar para depositar eles com segurança.”

Kirika se aproximou daquela muralha de água. “É isso? Bem... então aguardem o meu retorno.”

“O quê?” Mami se assustou. “Você pretende ir sozinha?”

Kirika estendeu o braço para sentir a chuva. “Olha,já estou acostumada com isso. Eu não disse que a gente já faz isso em Kazamino?”

“Isso aqui não é Kazamino.” Kyouko retrucou.

“Demônios, miasma, é tudo igual, não é?” Kirika deu uma piscadela para Kyouko.

Nessa hora, a ruiva notou algo. “Ei... Seus dois olhos são bons, não são?”

“Sim, e?”

“POR QUE DIABOS VOCÊ USA UM TAPA-OLHO?”

Kirika ergueu o tapa-olho. “Porque é legal oras.” Depois mostrou a língua. “Aposto que eu só preciso de um olho para ganhar de você.”

“Ah é?” Kyouko sorriu, sentindo o gosto do desafio. “Que tal nós vermos quem de nós duas acaba com mais demônios?”

“Está brincando? Você não dá nem pro começo.” Kirika disse em completa descrença.

“Kyouko! Isso aqui não é uma competição.” Repreendeu Mami.

“Agora é.” Kyouko respondeu. [É melhor assim.]

A mensagem telepática da Kyouko deixou Mami intrigada. [Como?]

[Confia em mim.] Kyouko sorriu para Mami. “Não queria que eu ajudasse? Então vai ser do meu jeito. Fica fora disso.”

“Certo...” Disse Mami, nem um pouco contente. [Espero que tenha um bom motivo.]

“Legal, então vai ser como nos velhos tempos.” Kirika alongou o pescoço. “Pronta para perder?”

Kyouko rodopiou sua lança seguidas vezes antes de segurar ela com ambas as mãos. “Heh. Continua acreditando que vai ser fácil.”

“Se está tão confiante, vamos logo então, quero terminar isso ainda hoje.” Kirika se preparava para partir, porém logo teve um sobressalto. “Ah não! Eu já ia me esquecendo!”

“Hã?! Esquecendo o quê?” Perguntou Kyouko.

Kirika não respondeu aquela pergunta, ela apenas se virou para Yuma com um sorriso, se agachou e ficou com os braços abertos.

Yuma partiu em direção a ela alegremente. “O beijo da sorte!”

Kyouko ficou boquiaberta. “Como é?!”

“Beijo da sorte...” Mami murmurou.

“Um bem aqui, meu dengo. Smooch!” Kirika apontou para uma das suas bochechas. Depois que Yuma deu um beijo, ela apontou para a do outro lado. “Mais um porque hoje está chovendo.”

Yuma obedeceu. “Toma cuidado, papa!”

“Aqueles malvadões não vão nem saber o que os atingiu.” Kirika se levantou e olhou para Kyouko. “Quer um também?”

“O quê?”

“Beijo da sorte.”

Kyouko olhou para Yuma, que havia ficado inibida. “Sem chance.”

Kirika sorriu. “Tem certeza? Talvez vá precisar...”

“Não.” Kyouko disse, não gostando do tom de voz que a outra garota havia utilizado.

“Ok. Yuma é melhor você se afastar.” Após a menina recuar, Kirika abriu um pouco seus braços. Então surgiu por debaixo de suas mangas garras composta de três lâminas feitos de uma energia escura, onde as pontas delas tinham o formato de foice.

“Tenha uma boa caçada.” Disse Oriko.

Kirika olhou uma última vez para trás, sorrindo, antes de correr e desaparecer por debaixo de toda aquela chuva.

Kyouko ainda não havia partido, ela estava com a sua atenção voltada para Mami. [Você viu aquelas garras?]

[É como você tinha descrito.] Respondeu Mami, ciente da conversa que elas tiveram durante a tarde. Claro que somente depois da Kyouko ter passado aspirador na sala de estar.

A ruiva então perseguiu sua adversária chuva à dentro, mas a conversa não havia terminado. [Ela é muito rápida também, você teria muita dificuldade com ela.]

[O que você tem em mente?] Perguntou Mami.

[Essa Kirika eu considero a mais perigosa das três, então eu vou ficar de olho nela...]

“Bem... agora somos apenas nós.” Disse Oriko.

“Oi?” Distraída com a voz da Kyouko, Mami não entendeu o que Oriko havia dito.

[...ela pode tentar alguma coisa. Tá escutando?]

O comportamento incomum da Mami chamou a atenção de Yuma. “Algum problema Mami-senpai?”

“Ah... Não nenhum problema.” Mami forçou um sorriso. [Estou escutando, mas eu não acredito que você mentiu para mim quando disse que ia dar uma chance para elas.]

“Ela deve estar conversando com a Sakura-san por telepatia, Yuma.” Oriko pegou na mão da menina. “Acho melhor nós não incomodarmos.”

[Você não vive falando sobre cautela? Então.]

Vendo que Oriko já havia descoberto, Mami confessou. “Sim. Ela está falando sobre como está o miasma e... sobre os demônios...”

“Não precisa se explicar.” Oriko gesticulou. “Você e ela já atuam juntas há um bom tempo e eu não pretendo me intrometer. Com licença.”

[Olha, o esquema é o seguinte: você cuida da Oriko e da Yuma.]

“Desculpa Mami-senpai.” Yuma se inclinou em sinal de respeito antes das duas se distanciarem.

Mami levou a mão à cabeça, desnorteada com a situação e principalmente pelo o que Kyouko havia acabado de dizer. [Como assim ‘cuidar’ delas?]

A resposta de Kyouko veio logo. [Se Kirika me atacar, eu aviso você. Aí você usa seus laços pra prender as duas garotas...]

Mami olhou de relance para Oriko e Yuma, que estavam de costas, próximas da chuva. Yuma estava brincando com o rabo da bola peluda.

[...como te falei, Oriko usa umas bolas voadoras, ela não vai conseguir cortar seus laços, mas ela vai tentar acertar sua gema, então cuidado. Ela tem bons reflexos também, mas não acho que ela possa desviar dos seus mosquetes, mete um balaço nela se a coisa ficar feia. Eu não sei quanto a Yuma, mas...]

[Kyouko!] Mami apertou as suas mãos, que estavam trêmulas. [Você... Você tem consciência do que está me pedindo? Prender elas, atirar na Oriko... ainda mais na frente da Yuma!]

[Cai na real Mami! Yuma é uma garota mágica e ela provavelmente tem poder pra matar você. Não baixe a sua guarda só porque ela parece inocente.]

[Eu não vou fazer isso!] Mami foi resoluta em sua resposta, tanto que houve uma pausa na comunicação, onde ela só ouviu o som da chuva caindo sobre o toldo.

[É apenas cautela, Mami. O problema é que tu não tens idéia dos riscos. Se essa Kirika me atacar, eu posso até segurar as pontas por um tempo, mas eu não vou conseguir escapar. Eu preciso de um trunfo. Se acontecer isso, eu vou dizer pra ela que você tem as duas aí como reféns, tu querendo ou não.]

[Kyouko!]

[Cacete! Ela é muito rápida! Olha, eu estou perdendo a outra de vista. Tenho que me concentrar, então volto a falar contigo pra dar o aviso se precisar.]

[Kyouko...] Mami mandara mais uma mensagem, consciente de que não iria obter uma resposta.

...dar o aviso...

Ela sentiu um arrepio. Kyouko mencionou sobre cautela, mas aquilo era assustador. A qualquer momento ela poderia receber uma mensagem e ter que decidir sobre ameaçar a vida das outras duas que estavam com ela. Mami olhou novamente para Oriko e Yuma. “Mikuni-san...”

Oriko atendeu. “Olá?”

Quando Mami notou, já era tarde. Mami chamou Oriko sem ter idéia do que falar, por que ela tinha feito isso? Não... Ela sabia o porquê de ter feito. Era para acalmar suas inquietações, que ela também agora precisaria esconder. “... é... sobre a Kure-san...”

“Kirika?”

“Sim.” Mami procurou as palavras. “Pelo que entendi, parece que ela sempre caça sozinha.”

“Oh.” Oriko sorriu. “Kirika é muito eficiente e ela diz que se concentra melhor sabendo que não estamos correndo riscos desnecessários. Contudo, devo ressaltar que ela nunca está exatamente só.”

“Como assim?”

Yuma ergueu sua vara. “Nós somos os reforços!”

“Isso mesmo Yuma.” Afirmou Oriko. “Como você deve saber Tomoe-san, há uma distância máxima para telepatia. Nós sempre procuramos estar próximas o suficiente no caso de ela ter problemas. Felizmente, é algo raro.”

“Sim, entendo...” Aquela informação deu à luz a uma idéia perturbadora na mente de Mami. Assim como Kyouko conversou com ela telepaticamente, Kirika poderia ter feito o mesmo Oriko. Ontem já havia ficado claro que elas a conheciam muito bem, era de se esperar que isso incluísse as suas capacidades de combate. Kyouko não havia pensado, mas era possível que Kirika também estivesse interessada em obter um trunfo.

O ar ficara mais frio. Mami notou que as sombras projetadas pelo toldo pareciam estar mais escuras. Elas tornaram o semblante outrora educado da Oriko em algo ameaçador, assim como o sorriso de Yuma, com um ar maligno ao invés de mera simpatia.

Oriko voltou a falar. “Tomoe-san, eu pergunto se você está ciente que Kyouko se encontrou comigo hoje?”

Yuma olhou para Oriko, surpresa em ouvir aquilo.

Havia algo por trás daquela pergunta? Estaria Oriko desconfiada da sua recente conversa telepática? Mami já não tinha mais certeza de nada. “Sim, eu estou.”

“O que ela disse a respeito?”

“Ela disse que vocês duas discutiram e que ela estava decidida em ajudar.” Era exatamente isso que Kyouko mencionara, Mami sentiu que não havia nada a esconder.

“Sim, nossa conversa foi muito boa, a relação entre nós ficou mais transparente. Devo admitir que foi uma grande evolução, eu acredito que ela confia mais em nós agora.” Disse Oriko com um fundo de alívio e contentamento. “Foi você que pediu para ela me ver? Se for este o caso, estou muito agradecida.”

Não. Kyouko não tinha nenhuma confiança nelas e agora ela também tinha perdido isso. Mami procurava entender aquele medo que estava sentindo no fundo de si mesma. “Eu, não...”

Oriko aguardou que Mami completasse sua resposta, mas isso não aconteceu. “Entendo. Ainda assim, mesmo que ela tenha feito isso por conta própria, você deve ter contribuído para a atitude sensata dela.”

Paranóia.

Esse era o veneno que Kyouko havia destilado nela, que fez ela esquecer que aquelas garotas mágicas tinham um propósito e um problema em comum. Ainda que fora uma fraqueza momentânea, Mami se sentiu envergonhada.

“Você acredita na Lei dos Ciclos?”

A pergunta da Oriko pegou Mami de surpresa. Contudo, não era a primeira vez que ouvira essa questão. “Eu? Sim, acredito.”

“Uhum...” A resposta sucinta de Mami não deixara dúvidas para Oriko quanto a fé daquela garota. Ela procurou fazer o mesmo. “Eu não acredito, isso seria um problema?”

Mami, quando ouviu pela primeira vez sobre a Lei dos Ciclos durante uma de suas conversas com Kyuubey, também não considerou aquilo como verdade. Eram dias em que ela era mais amarga e cínica, pois tinha acabado de perder sua família. Apenas com o passar do tempo, enquanto defendia Mitakihara do fruto das maldições da humanidade, é que ela considerou que, diante de todo aquele mal, haveria uma fonte de esperança em algum lugar também. Naquele momento, ela percebeu que Oriko era uma imagem escarrada de seu passado. “Não há problema, Mikuni-san. Não vou tentar convencê-la. Um dia, quando chegar a hora, você saberá.”

“’Quando chegar a hora’.” Oriko deu um singelo sorriso. “Tomoe-san, eu lhe afirmo que se a Lei dos Ciclos existisse de fato, você seria uma das poucas pessoas que eu conheço que mereceria ir para lá.”

Mami não sabia que expressão fazer diante daquela frase, optou por sorrir também. “Aha... Eu agradeço, mas não pretendo ir para lá tão...”

Como vaga-lumes, pequenos pontos luminosos e piscantes surgiram no ambiente.

“Mama.” Yuma ficou preocupada.

As luzes da cidade começaram a perder suas cores. Tudo começou a desbotar, exceto as garotas mágicas e o toldo.

Mami já sabia do que se tratava. “Isso é...”

“Miasma.” Oriko também. “Será que Kirika e Kyouko deixaram alguns demônios escaparem?”

“É bem possível.” Mami concluiu. “E eles devem ter sentido a nossa presença aqui.”

Sem tardar, esferas surgiram envolta da Oriko. “Yuma, fique perto de mim.”

Mami notou o medo em Yuma na forma como ela mexia a cabeça de um lado para o outro e em sua respiração presa. Aquela menina não devia ter muita experiência em lutar, considerando que ela apenas atuava quando necessário.

Era hora de dar exemplo, como uma boa senpai.

Mami pegou sua boina com a mão e estendeu o braço. De dentro da boina caíram vários mosquetes com baionetas, que fincaram no chão envolta dela. “Ok! Mantenham seus olhos abertos e concentrem-se em suas gemas. Temos que localizá-los o quanto antes.”

“Escute ela, Yuma.” Disse Oriko. “Faça como eu ensinei, é como um eco, sinta a magia em sua volta ressoar e...” Ela arregalou os olhos. “Tomoe-san... eles... eles estão perto!”

“Sim, eu senti.” Mami nem estava mais piscando o olho. “Eles estão abaixo de nós...”

Um feixe de luz surgiu próximo da Mami através do chão, atingindo e queimando o toldo. Antes que a garota tivesse notado, novos feixes se sucederam.

“Tomoe-san!”

Quando Mami ouviu Oriko, ela já estava cercada por aquelas luzes. O toldo se arrebentou e a chuva invadiu, molhando ela, arruinando o seu cabelo. Foi então que o chão fugiu ao seus pés e ela mergulhou no escuro.

Somente quando sentiu o forte impacto em suas costas contra uma superfície dura, que ela viu o buraco no teto por onde a água caía sem cessar. Aqueles feixes de luz causaram um colapso na laje, fazendo ela cair no pavimento abaixo.

Seus instintos já alertavam que os demônios estavam escondidos atrás daquele véu negro a sua volta. Felizmente, alguns mosquetes a acompanharam na queda. Usando um laço que saíra da sua luva, ela puxou a arma mais próxima. Nesse mesmo instante, ela notou pelo canto do olho uma fonte de luz. Sem hesitar, ela disparou naquela direção.

A bala atingiu em cheio o demônio, destruindo a mão e o braço da criatura. Contudo isso não trouxe alívio para Mami, muito pelo contrário: o flash gerado pelo disparo revelou a horda que a cercava.

Usar apenas os mosquetes no chão não era mais uma opção, muito menos continuar caída ali. A única e óbvia chance de escapar que havia era o buraco logo acima.

Mami, com um gesto, fez surgir vários mosquetes em pleno ar, que disparam, oferecendo a cobertura que ela precisava. Então a garota se levantou e começou tomar impulso para o salto...

aaaaAAAARRRRGGGHH!!

Uma dor excruciante nas pernas e logo Mami se viu no chão novamente. O cheiro de carne queimada invadiu suas narinas e a dor terrível persistia, mas o mais aterrador era que ela não estava sentindo nem sequer seus joelhos. Ela ergueu a cabeça e um calafrio tomou o seu ser ao ver seus membros inferiores decepados.

De repente um demônio se teleportou quase em cima dela. A adrenalina que corria em seu corpo ajudou na reação, fazendo ela levantar a mão pronto para invocar uma arma. No entanto Mami não conseguia se concentrar com o pânico, com sua magia fora de controle, inúmeros laços saltaram da sua mão sem rumo. No fim, o melhor que conseguira produzir foi uma pistola improvisada. Apertando o gatilho, o cano da arma explodiu e os fragmentos apenas acertaram o demônio de raspão, mas foi o suficiente para fazê-lo fugir.

Uma sombra caiu sobre o rosto de Mami. A garota voltou sua atenção para aquilo, já esperando por aquelas criaturas. O que de fato ela viu foi um anjo vestido de branco.

Mas aquele anjo não tinha asas.

Com a ponta dos pés sobre uma esfera, Oriko descia lentamente pelo buraco no teto. Várias outras esferas, que compartilhavam a mesma órbita envolta dela, rodopiavam em grande velocidade. Suas mãos estavam cruzadas junto ao peito, próximo da gema, que começou a brilhar. Como uma mímica, a parte cristalina das esferas também se iluminaram.

Aquilo chamou a atenção dos demônios, que concluíram que aquela garota era uma ameaça maior em relação aquela que estava caída.

“Que essa luz purificadora traga o devido destino para esse mal!” A gema de Oriko brilhou ainda mais, ela abriu os braços e clamou.

ORACLE RAY!

O que Mami testemunhou foi uma verdadeira demonstração de poder. As esferas dispararam raios de energia azulados tão intensos que mais pareciam ser brancos. Os demônios ali presentes foram engolidos por aquela luz cegante e foram vaporizados.

Quando a luz se dissipou, Oriko já havia chegado ao solo tão molhado quanto ela. Descendo da esfera aonde ela estava se equilibrando, fez com que as outras se espalhassem pelo ambiente. Emitindo uma luminescência, elas revelaram o resultado daquele ataque.

“Acho que está seguro agora, você pode se levan...” Oriko olhou para Mami. “Tomoe-san?!”

Mami ergueu seu corpo com ajuda dos braços. Com o fim do susto, seus sentidos voltaram a alertar de seu gravíssimo ferimento.

Oriko se apressou e foi até onde estavam as pernas. Colocou uma embaixo de cada braço. A saia molhada que ela usava ficou manchada em vermelho, mas a garota continuava com uma expressão inabalável. “Você perdeu muito sangue.”

Ao ouvir aquilo, Mami olhou para o chão a sua volta e percebeu que estava sobre uma grande poça avermelhada. Estava muito frio.

“Rápido! Faça um torniquete!” Oriko demandou.

Com esforço, Mami usou um dos braços de apoio para invocar um laço, que enfaixou coxas, logo acima do ferimento. Ao puxar para apertar, ela contraiu a face em dor.

Então Oriko se abaixou e fez o melhor que pôde para encaixar as pernas.

“Ah... Vai ser muito... difícil de curar isso...” Disse Mami com dificuldade. “...ah.. vamos precisar de bastante magia e... tempo.”

Oriko se levantou e olhou para o buraco no teto. “Yuma!”

“Não!” Mami estendeu a mão em direção a Oriko. “Não deixe ela ver isso!”

No entanto, Oriko não atendeu ao pedido. “É justamente por isso que a estou chamando.”

Yuma desceu através do buraco no teto, completamente ensopada. “Mama, está tudo bem com a... Mami-senpai!”

Mami virou o rosto para não continuar vendo a expressão de susto da menina.

Passado o susto inicial, porém, Yuma sorriu. “Não se preocupe, Mami-senpai, eu vou cuidar disso.”

Mami voltou a olhar para Yuma, surpresa.

Rodopiando a sua vara, Yuma cantarolou. “PURU PURU PURURIN! A dor some assiiimmmm!”

Mami viu seu corpo sendo tomado por uma luz verde e, como se respeitasse as palavras da Yuma, a dor desapareceu. Quando a luz diminuiu, ela começou a sentir a meia e a sua botina.

As paredes começaram perder foco, assim como o teto, onde buraco começou a desaparecer. Como local era escuro, foi difícil notar as cores ficando mais vivas. Até o chão ficou seco.

Oriko, assim como as outras duas garotas, no entanto, continuavam molhadas. “O miasma se foi.”

Mami nem prestara atenção nisso, apenas nos dedos do pé que ela conseguia mexer. Suas pernas estavam de volta no lugar e era como se nada tivesse acontecido.

“Mami-senpai, ficou bom? Ou ainda está doendo?” Perguntou Yuma, bastante atenciosa.

Mami somente balançou a cabeça para negar. Ainda não tinha palavras para aquele milagre.

“Yuma, me deixa ver a sua gema.” Disse Oriko

“Sim, Mama.” Yuma ficou de costas e encostou o queixo no peito.

Mami viu quando Oriko levantou o cabelo da menina, revelando uma gema verde claro no formato de uma cabeça de gato estilizado na nuca.

“Acho que só vai precisar de um cubo.” Comentou Oriko. “Fez um ótimo trabalho.”

“Apenas um cubo?” Mami ficou ainda mais estupefata. “Essa foi a magia de cura mais poderosa que eu já testemunhei.”

“Isso não foi nada!” Yuma respondeu. “Eu só precisei reconectar a sua perna. Uma vez papa perdeu uma mão inteira, isso sim foi bem difícil de tratar.”

“Nem me lembre.” Gesticulando com os dedos, Oriko trouxe para si as esferas que estavam espalhadas. “Naquele dia, Kirika fora muito imprudente contra os demônios.”

Mami continuava admirada. “Mikuni-san, a forma como você lidou com os demônios... Vocês são incríveis!”

Oriko deslizou os dedos sobre a sua gema. “Não é um ataque que costumo fazer...” Então ela sorriu. “...mas não pude hesitar quando vi que estava correndo perigo. Ouvir isso de você me deixa lisonjeada.”

/人 ‿‿ 人\

Kyouko atravessou um demônio com a sua lança. “175!” E decapitou outro com a lâmina da mesma. “176!” A chuva castigava aquele ferro velho. O longo rabo de cavalo pesava enquanto a garota mágica escalava uma montanha de entulhos. Do topo ela avistou seu novo alvo e deu um salto.

No ar, Kyouko mergulhou com a sua lança, não querendo oferecer qualquer chance para aquele demônio distraído.

“177!” Uma outra voz foi ouvida e demônio foi despedaçado em várias partes, antes das mesmas se transformarem em uma geléia escura e se aglutinarem em um cubo.

“Quê?!” Kyouko recolheu a lança e pousou no solo enlameado. Ao procurar a dona daquela voz, encontrou Kirika sobre a carroceria de um carro abandonado. “Ei! Esse era meu.”

“Sim. Eu contei por ti.” Kirika balançou a cabeça rapidamente, fazendo seu cabelo respingar. “Só não queria mais esperar, já que esse era o último demônio.”

Kyouko franziu a testa. “Tá brincando? Último demônio?” Então ela percebeu que a ferrugem na carroceria estava mais vermelha e lama, antes um cinza claro, era marrom. Aquilo a espantou. Ela e Mami ultimamente levavam mais de três horas para limpar o local, dessa vez mal havia passado uma hora.

“Você foi bem até, mas só porque conhecia bem o lugar.” Kirika sorriu. “Na próxima não vai ser tão fácil.”

“Heh. Eu é que não vou facilitar.” Kyouko mal conseguia manter os olhos abertos com toda aquela chuva.

Kirika saltou da carroceria para o chão. “É melhor voltar logo, antes que a gente derreta que nem aquela bruxa do mágico de Oz, sabe?”

“Eita! Nem me lembrava dessa história.”

Kirika olhou para cubo, quase completamente coberto pela lama. “Eu perdi a conta de quantos demônios eu matei hoje. Só que estou com apenas uma parte dos cubos, o máximo que consegui carregar. O que vocês fazem com o resto?”

Kyouko deu de ombros. “Eu e Mami também não conseguimos levar tudo. Sem Kyuubey, não tem jeito.”

As duas começaram a caminhar em direção a cerca que delimitava o local.

Kirika começou. “Nossa. Apesar de que aqui também eles são fracos por terem acabado de nascer, aqui tem bem mais demônios, lá em Kazamino eu não teria demorado tanto.”

“Não teria demorado tanto, é?” Kyouko perguntou. “Onde você estão estocando os cubos lá?”

Kirika ajeitou seu tapa-olho. “Ah... Eu não deixei dentro da zona urbana que nem vocês. Eles estão próximos da rodovia.”

Kyouko voltou a questionar. “Ué, mas não passa muita gente lá não?”

“O povo passa com pressa e os demônios são uns preguiçosos.”

“Preguiçosos?”

Kirika cutucou Kyouko com o cotovelo. “Sim! Eles são capazes de teleportar e nem tentam perseguir os carros, é hilário, não acha?”

“Ah é.” Disse Kyouko, sem mais interesse em continuar o assunto.

As duas pularam a cerca ao mesmo tempo e seguiram em direção ao estacionamento. Para Kyouko, aquela conversa amistosa a deixou incomodada. Suas desconfianças não haviam se concretizado. Estaria ela errada? O passado cegando seu julgamento?

Pulando pelas paredes, elas alcançaram o topo do estacionamento. Lá estava o toldo armado e as outras três garotas esperando, secas e protegidas da chuva.

Porém, foi só Kyouko chegar mais perto para perceber que havia algo errado: estavam quietas, com expressões sérias. Quando trocou olhares com a Mami, a loira desviou o olhar. “O que houve aqui?”

Foi a própria Mami quem respondeu a pergunta. “Demônios nos atacaram.”

“Como é?”

Yuma completou. “Mas já acabamos com eles e salvamos a Mami-senpai.”

“Salvaram quem?!” Kyouko arregalou os olhos.

Oriko procurou aliviar a tensão. “Está tudo bem ago...”

Kyouko interrompeu, apontando o dedo para Oriko. “Fecha essa sua boca!” Então se aproximou da Mami. “Me explica.”

Mami falou, temendo o que aquilo desencadearia. “Eles nos surpreenderam. Eu fui ferida, mas Yuma-san me curou.”

Kyouko começou a rir. “Hahaha... Eu sabia. Eu sabia!” Ela se virou para as outras garotas com um olhar ameaçador. “A primeira noite juntas e acontece isso.”

Não se intimidando, Oriko se pôs na frente da Yuma.

“Chega Kyouko, CHEGA!” Mami exclamou. “Elas me salvaram!”

A chuva continuava enquanto Kyouko e Oriko mantinham um olhar fixo uma sobre a outra. Com a respiração presa, Kyouko remexia os dedos da mão que segurava a sua lança.

Kirika inclinou o tronco e abriu um pouco seus braços.

Então, com um suspiro, Kyouko relaxou sua postura e baixou a cabeça. Fechou os olhos e apertou os lábios, antes de falar. “O... Obrigada.”

Nenhuma garota reagiu diante daquilo por um momento, como se tivessem se tornado estátuas, até que Oriko acenou com a cabeça. “É melhor terminarmos aqui por hoje.”

Mami se manifestou. “Já? Elas voltaram bem antes do que eu esperava, ainda há muito tempo para procurar por Kyuubey.”

“Acho que nós não nos recuperamos desse susto ainda.” Oriko continuava a olhar para Kyouko. “E vindo para cá já foi possível cobrir alguma área. Podemos continuar amanhã à noite.” Então ela armou o guarda chuva e segurou a mão de Yuma. “Aqui eu me despeço de vocês, descansem.”

“Tchau Mami-senpai.” Yuma acenou.

Mami respondeu com um aceno também.

Kyouko continuava imóvel.

Quando Oriko já estava saindo do toldo, Kirika alcançou elas e as três garotas desapareceram sobre a pesada chuva.

Somente então Kyouko resolveu falar. “Foi você que matou os demônios?”

Mami voltou sua atenção para a ruiva. “Não. Oriko destruiu eles com uma espécie de raio de energia.”

“Raio de energia? Eu nunca vi ela fazer isso.” Kyouko olhou para Mami. “E a menina consegue curar...”

“Kyouko, por favor. Eu não...” Mami parou de falar ao ser surpreendida com um abraço.

“Eu podia ter perdido você! Eu sei! Eu sei que é a minha culpa!” Kyouko recostava sua cabeça sobre ombro da sua colega, os grandes cachos loiros encostando em sua face arrependida. “Mais uma vez eu deixei você pra trás, sozinha.”

Mami estava paralisada. “Kyouko...”

Kyouko se afastou, cabisbaixa. “Eu... estou te molhando.”

Então houve um tempo onde apenas a chuva falou.

Mami então engoliu seco. “Não tem o porquê de se culpar. Eu sei que você fez isso por desconfiar delas.”

“E eu ainda desconfio delas.” Kyouko continuava de cabeça baixa. “Mas talvez seja um engano, talvez até eu possa mudar de idéia se a gente continuar atuando juntas. O que posso garantir é que não vou fazer mais essa cagada.”

Mami se aproximou de Kyouko. “Bem... nesse caso.” Ela então ergueu uma mão os laços que formavam o toldo foram atraídos e se transformaram. Em sua mão se formou o cabo de um grande guarda chuva amarelo com o desenho de uma grande flor em cima. “Depois de lutar contra os demônios, nós tivemos que usar alguns cubos. Que tal colocar eles lá no ferro velho juntas?”

Kyouko trocou olhares com a loira e, com leve sorriso se formando, acenou com a cabeça. “Vamos.”

As duas caminharam pela chuva até chegarem na beirada do topo e então caíram juntas até a calçada, espirrando a água acumulada aonde elas haviam pousado.

“Ah... Assim o guarda chuva não vai adiantar muito.” Comentou Mami.

Aquela quebra de silêncio encorajou Kyouko a abrir a boca. “Mami, tenho algo lhe dizer sobre Kirika, sobre os poderes dela.”

“Vai continuar desconfiando delas.” Falou Mami, mais como uma forma de afirmar para si própria sobre aquilo.

“É que você se interessa sobre esse assunto de magia e eu vi algo muito estranho.”

“Estranho?”

Kyouko continuou. “Eu não disse naquela hora que eu estava quase perdendo ela de vista? Então, foi nessa hora que eu vi que ela estava dentro de uma bolha.”

“Bolha?” Aquilo instigou a curiosidade de Mami.

“Não exatamente uma bolha, mas um domo formado com a água da chuva. Como vou dizer...” Kyouko coçava a cabeça.

Mami ponderou sobre o que acabara de ouvir. “Uhum...”

“Hã? Você sabe do que se trata?”

As duas haviam chegado até a cerca.

Mami balançou a cabeça. “Eu ainda tenho que pensar melhor. Farei isso depois de voltar para casa, tomar um bom banho e...”

“Comer alguma coisa.” Disse Kyouko.

Mami sorriu. “...e comer alguma coisa.”

/人 ‿‿ 人\

Oriko observava as gotas de chuva escorrerem pela parede de vidro do ponto de ônibus iluminado onde elas estavam. Ela podia ver no reflexo da sua própria figura sentada e com roupas casuais. Em seu colo repousava a cabeça de Yuma, que deitara no banco.

“Parece que ela dormiu.”

Oriko respondeu em tom baixo ao comentário da Kirika, que estava sentada ao lado. “Pois é. O barulho da chuva ajuda ela a relaxar.”

Kirika recostou a cabeça no ombro da Oriko. “Eu também quero dormir assim que nem ela.”

Oriko sentiu seu ombro ficar molhado. “Só se você secar esse cabelo. Aliás é melhor fazer isso antes de chegar na casa da sua mãe, ela não vai gostar de saber que você andou pegando chuva.”

“Hmmm... Eu uso um pouquinho de magia enquanto estiver no ônibus. Sem problema.” Kirika fechou os olhos. [Então tudo deu certo? Aqueles cubos usados que eu plantei lá de tarde chocaram?]

[Você seguiu minhas instruções muito bem.] Oriko acariciava o cabelo da Yuma. [Ocorreu tudo como eu havia visto. O local onde a Tomoe-san armou o toldo. A iniciativa da Sakura-san de seguir você...]

[A cabeça quente ainda tem medo de mim.] Kirika segurou o riso. [Viu a cara que ela fez quando foi agradecer você.]

Oriko não gostou daquela atitude. [Tenha mais respeito com elas.]

Kirika ficou mais séria. [Desculpa.]

Depois de uma breve pausa, Oriko continuou. [Agora está tudo resolvido. Tomoe-san tem uma dívida conosco e Sakura-san não vai tentar mais nada por hora, ou estará arriscando o relacionamento entre as duas.]

[Amorzão. Acho que temos um problema nisso tudo. Você sabe como a minha magia interage com a chuva. Aquela ruiva com certeza deve ter notado algo e elas podem descobrir como ela funciona.]

[Eu sei disso e também fazia parte do plano.] Oriko sorriu. [As pessoas temem e desconfiam do que desconhecem. O segredo está em fazê-las acreditarem do contrário.]

Com a chegada do ônibus ao ponto, Kirika levantou a cabeça. “Ah... Ele já veio.”

“É melhor se apressar ou ele vai embora.”

Obedecendo Oriko, Kirika se levantou e foi até porta automática de saída do ponto. Quando ela se abriu, a porta do ônibus fez o mesmo. Antes de entrar, no entanto, a garota decidiu olhar mais uma vez para trás.

“Eu vou ficar mais um pouco aqui com a Yuma.” Oriko disse com uma voz macia. “Eu acho que seria um pecado acordar ela."

Kirika, sorrindo, enviou um beijo com um sopro para as duas e então entrou.

Oriko ficou observando o ônibus partir e as luzes da lanterna traseira ficarem cada vez mais fracas, distantes.

“Papa...”

“Ah...” Oriko voltou sua atenção para Yuma, que começou a se mexer. O barulho do motor ônibus ou da porta devia ter acordado a menina. “Ela já foi embora, mandou um beijo para você.”

Yuma saiu do colo da Oriko, ficando sentada, mas ainda com olhos fechados de sono. “Hmmm... Ela tem que mandar dois porque está chovendo.”

“Ela mandou um para mim também. Acho que isso já conta.” Oriko pegou o guarda chuva. “Essa chuva também me deu um sono. Vamos para casa.”

/人 ‿‿ 人\

Ao abrir os olhos, ela viu o concreto úmido.

Eu estou aqui, novamente.

O som de passos apressados sobre poças da água chamou sua atenção. Era Yuma que passava correndo logo a sua frente, em seu uniforme de garota mágica. Sua face estava estampada com apreensão e urgência. A menina adentrou-se em um túnel e desapareceu em uma densa neblina.

Então já aconteceu.

Olhando para direção contrária a entrada daquele túnel, ela encontrou quem já esperava.

Lá estava, com o seu pomposo vestido branco e sua mitra, Oriko.

A Oriko da sua visão.

A Oriko do futuro.

Ela mesma.

Sua contraparte do futuro estava cabisbaixa, os lábios que se mexiam indicavam que ela estava falando consigo mesma, pois não era possível ouvir. Logo a frente estava Kyuubey, seu rabo balançado, seus olhos fixados nela.

Um pouco mais distante estava o grande prisma, com a sua prisioneira dentro dele. A garota de um longo vestido branco e de longas mechas de cabelo rosa, continuava com os olhos fechados em seu sono sem fim. O prisma menor mantinha sua órbita religiosamente e globo negro acima mantinha suas conexões com os incontáveis Kyuubeys que estavam naquela gigantesca galeria.

Tudo em seu lugar, como sempre.

“Você deve estar aí agora.”

Oriko ouviu o chamado da sua contraparte, que olhava para sua direção, mas não em seus olhos, pois jamais conseguiria enxergá-los.

Aqui estou.

“Serei breve, pois cada vez há menos tempo. É possível que...” A Oriko do futuro parou de falar quando uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ela tratou de passar a mão para recolhê-la, porém outra lágrima começou a cair.

Oriko ficou aguardando sua contraparte, consciente do que ela deveria estar sentindo.

“Sinto muito.” A Oriko do futuro falou com uma voz chorosa. “Mesmo sabendo o que aconteceria, mesmo vendo isso tantas vezes, eu não consigo, eu não consigo...” Ela começou a soluçar.

Oriko levou a mão ao seu coração aflito, ver a si mesma sofrendo dessa forma era uma experiência perturbadora.

“Eu tenho que fazer isso.” A Oriko do futuro segurou seu choro. “Não há outra forma, não há...” De repente ela apontou para Kyuubey com fúria. “SILÊNCIO!”

Oriko viu que Kyuubey não reagiu, continua mantendo seu semblante de sempre. Ele então olhou na mesma direção que sua contraparte olhava, mas ele virava a cabeça procurando por algo que não estava ali.

Não agora.

Sua contraparte voltou a falar. “É possível que você já tenha recebido a visita do Incubator.”

Oriko ponderou. A visita dele. Será que eu não vou conseguir prever quando ele irá aparecer?

“Saiba que eu tomei uma escolha.” A contraparte olhou para Kyuubey. “Para dar uma chance ao nosso mundo. Espero que veja isso, para descobrir o que é certo.” Então ela olhou para o prisma. “Vai começar.”

Oriko olhou para o prisma menor que orbitava. Logo ele escureceu completamente e se quebrou. De dentro dele saiu uma terrível abominação de tentáculos negros.

“Incubator!” Sua contraparte falou com voz de comando. “Esse monstro não irá hesitar em atacar você. Se mantenham longe daquilo.”

Kyuubey acenou com a cabeça. Logos os outros Kyuubeys que estavam próximo ao prisma se afastaram.

A criatura negra se agarrou ao prisma maior, com o intuito de quebrá-lo, mas, ao ficar próxima do globo negro acima, ela começou a ser absorvida pelo mesmo. Com isso, o monstro perdia tamanho.

Vamos, vamos.

“Vamos, vamos.” As duas Oriko não tiravam os olhos daquele evento.

Foram longos minutos, pareciam eternos. A criatura lutava com todas as suas forças para se manter presa ao prisma, mas pouco a pouco, tentáculo por tentáculo, ela era sugada por aquele objeto semelhante a um buraco negro. Os Kyuubeys que estavam com o orifício nas suas costas conectado a ele mantinham suas posições.

Por fim, como se fosse o último suspiro da criatura, o que restara dela na forma de uma fumaça negra fora absorvida pelo globo.

Ela conseguiu?

“Acabou?” A Oriko do futuro ficou boquiaberta. “Consegui?” Ela começou a olhar envolta e falar alto. “Você está vendo isso? Por favor, esteja vendo isso. Eu consegui!”

Oriko queria estar ali para compartilhar aquela alegria e contentamento. Ainda que o preço fosse alto, nada valia mais que o mundo.

A alegria da sua contraparte, porém, foi curta, pois logo ela viu aquele túnel com a névoa. “Ah... Ainda não acabou. Incubator!”

Logo um Kyuubey se aproximou dela.

“Você obteve o que queria!” Ela apontou para o prisma. “Agora liberte ela... hã? O que é aquilo?”

Oriko vendo a surpresa da sua contraparte, voltou a sua atenção ao prisma. Eram rasgos, gigantescas rachaduras que estavam se formando, não somente no prisma, mas na parede da galeria e até mesmo no ar. As rachaduras emitiam uma cegante luminosidade clara.

“O que significa isso?” A Oriko do futuro falou com Kyuubey. “Você sabia que isso iria acontecer?”

Kyuubey observava as novas rachaduras que estavam se formando. Elas engoliam tudo o que encontravam.

“Como?!” A Oriko do futuro arregalou os olhos. Então, em seu último ato antes de ser tragada também, ela gritou. “DESCULPE! EU ESTAVA ERRADA, NÃO DEIXE ISSO...”

Não! Oriko viu sua contraparte desaparecer naquele mar de luz. Tudo a sua volta era um infinito branco.

Até que tudo escureceu e ela se viu no ambiente vazio que ela mais temia. Não! NNNNNNÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOO!

Oriko abriu os olhos, sem lembrar de estar com eles fechados, e viu o teto do seu quarto. Levantou-se, ficando sentada sobre a cama de casal. Sua respiração estava curta e rápida, sentia o suor em todo seu corpo. Ela olhou para o lado, para o vazio na cama. Colocou a mão na cabeça, lembrando-se que Kirika estava com a mãe dela.

Olhou para sua mão esquerda. Ali surgiu sua gema da alma, com um brilho fraco, seu interior tomado por uma massa escura. Então ela cerrou a mão.

“Aaaahhhh!” Tomada pela raiva, Oriko arremessou com força sua gema, que ricocheteou na parede e nos móveis do quarto. Ela segurou o lençol que estava usando para se cobrir e o rasgou. “Por quê? Por quê?” Ela cravou as unhas nas almofadas os partiu em dois, fazendo sua cama ser tomada por penas brancas.

Quando a raiva passou, o desespero veio para preencher o espaço vago. Contorcendo a face, lágrimas jorraram, se tornando um ingrediente a mais para aquele panorama desolador.

Não havia solução.

Não havia saída.

“Como eu posso proteger o mundo?” Oriko usou o lençol para fungar o nariz. Queria se recompor, mas as lágrimas teimavam em cair. “Como eu posso salvar você? Madoka...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Prenúncio da tempestade



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Visionária" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.