Não era pra ser assim... escrita por Madreamer


Capítulo 6
Medos e receios


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Demorei (de novo) com o capítulo, mas aqui está.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/627311/chapter/6

            Nossa relação não avançou rapidamente. Foi como uma criança aprendendo a andar: começou engatinhando, tropeçou e caiu até conseguir ficar em pé. No nosso caso, até ficar estável. Não estávamos tão próximos quanto antes, mas era melhor do que nada.

            Minha mãe descobriu que os pais de Jean estão mortos e ele passou a morar conosco oficialmente. Só dormíamos juntos quando Jean tinha pesadelos, os quais não eram tão frequentes, porém, pareciam piorar cada vez mais. Numa noite, alguns meses após seu retorno do hospital, acordei com ele reprimindo um grito. Ouvi-o esbarrar com força na cama e acender a luz. Vi seus olhos brilhando pelas lágrimas.

            O garoto veio em minha direção, seus braços esticados como se tentasse alcançar algo. Caiu sobre a cama e tocou meu rosto. Segurou-o em suas mãos e o olhou petrificado, como se nunca o tivesse visto. Apalpou-o por diversos minutos e passou a chorar mais intensamente.

            Observei-o sem me manifestar.

            — Foi tão real — balbuciou. — Você... Você tá bem?

            Balancei a cabeça afirmativamente.

            — O que aconteceu?

            Jean não respondeu. Seus olhos estavam vidrados e me fitavam com atenção. De repente, o garoto me abraçou fortemente.

            — Você... tava morto... Seu corpo... Você — as palavras seguintes foram indecifráveis em meio aos soluços e ao pranto descontrolado.

            — Foi só um pesadelo, Jean. Tá tudo bem — falei em tom suave.

            — Não, Marco! Você morreu! Você simplesmente... Morreu.

            — Jean. Eu tô aqui — ronronei.

            De repente seus olhos pareceram ganhar brilho, como se tivesse finalmente acordado de um transe.

            — Marco? — perguntou com a voz trêmula.

            — Sim, Jean. Foi só um pesadelo — repeti.

            Ele me abraçou e afundou a cabeça em meu pescoço. Senti suas lágrimas molharem minha pele e afaguei seus cabelos.

            — Tá tudo bem — sussurrei. — Eu tô bem.

            — Marco... Eu tô com medo.

            — Não precisa ter. Eu tô com você.

            Suas mãos tremiam e as lágrimas ainda escorriam por sua face. Seu peito subia e descia rapidamente.

            Pouco a pouco, foi se acalmando. A respiração ficou ritmada e o choro cessou. Seus olhos, porém, continuavam molhados.

            — Eu tô com medo – tornou a dizer.

            — Vai ficar tudo bem.

            — Não, não vai.

            — Jean... — suspirei. — Eu tô bem. Nada vai acontecer.

            — Não tem como você saber!

            — E tem como você saber?

            O garoto se calou e mordeu os lábios.

            — Confia em mim. Vai ficar tudo bem.

            Ele fungou e mergulhou a cabeça em meu peito.

            Após alguns minutos, Jean ergueu-se e apagou a luz. Em seguida, acendeu o abajur.

            — Posso deitar com você? — perguntou com a voz embargada. Assenti.

            Deitamos de lado e nos olhamos. Jean passava os dedos delicadamente pelo meu rosto, acariciando cada centímetro. Seu indicador repousou em meus lábios e lá ficou por alguns segundos.

            — Eu te amo.

            Foi simples assim. As três palavras saíram de sua boca sem a menor hesitação, sem tremer nem nada. Foi como nos filmes: o tempo parou e não havia ninguém além de nós no mundo.

            — Jean, e—

            — Me escuta. Eu não sei quanto tempo teremos juntos, eu só sei que esse tempo vai acabar em algum momento. Só quero que saiba que eu te amo. De verdade.

            Sua voz estava tão calma e suave, completamente diferente da confusão que estava minha mente. Eu realmente não esperava aquilo. Foi uma surpresa e eu não sabia como reagir.

            Permaneci em silêncio sendo observado pelos olhos castanhos em expectativa. Minhas mãos ficaram trêmulas. Respirei fundo e tomei coragem.

            — Eu também te amo — falei por fim. Eu nunca proferira aquelas palavras para alguém que não fosse da minha família. Era estranho, mas me trouxe um sentimento reconfortante.

            E então eu vi um sorriso divino aparecer no rosto daquele que chorava alguns minutos atrás. Ele segurou meu rosto, puxou-o para perto do seu e me beijou. Senti meu rosto queimar e ele riu, beijando minha testa em seguida.

            Ficamos nos olhando por alguns segundos e, antes que percebêssemos, estávamos competindo para ver quem ficava mais tempo sem piscar os olhos.

            — Quem ganhar tem o direito de pedir qualquer coisa ao outro — Jean declarou.

            — Fechado!

            Não sei bem quanto tempo se passou, só sei que meus olhos ardiam, mas não me importei muito. Eu podia admirar seu rosto e me encantar com seu olhar.

            — Ganhei! — Jean gritou em triunfo quando pisquei e fingi não ter percebido.

            — Você só ganhou porque eu tô com sono! — rebati.

            — E começaram as desculpas esfarrapadas — zombou.

            Bufei e rolei os olhos.

            — "Sou o gênio da lâmpada e você tem direito três desejos". Mentira! É só um mesmo.

            O garoto pressionou os lábios e começou a pensar.

            — Anda logo, Jean! — reclamei após ele ficar minutos sem falar nada.

            — Não quero — fez biquinho.

            — Então depois você escolhe alguma coisa — afirmei.

            — Ok — e bocejou logo em seguida.

            — É melhor dormimos — bocejei também.

            Ele apenas assentiu e sorriu, repousando um beijo em minha bochecha. Apagou a luz e pressionou a cabeça contra meu peito.

            — Eu te amo.

            — Também te amo, Jean.

***

            Acordei com a chuva batendo no telhado. Jean ainda dormia. Levantei-me e olhei pela janela. A cidade estava coberta pelas nuvens negras e, apesar disso, um arco-íris podia ser visto ao longe.

            — É lindo — murmurei para mim mesmo.

            — Concordo.

            Virei-me para encontrar Jean me olhando com um sorriso maroto. Seu cabelo bagunçado e a cara de sono me fizeram sorrir.

            — Mas acho que a minha vista é mais bonita — continuou.

            Corei.

            — Bom dia! Dormiu bem? — perguntei.

            — Como um bebê — e ele se aproximou e me deu um selinho.

            E então Jean me abraçou por trás e pousou a cabeça em meu ombro.

            — O que acha disso? Acordarmos ao lado do outro todos os dias? — questionou.

            — Acho que é uma boa ideia — sorri.

            Jogamo-nos na cama e encaramos o teto. Jean embalou minha mão e ficamos assim por alguns minutos.

            Começamos a nos arrumar para ir para a escola quando o despertador tocou. Saímos e, quando andamos alguns metros, Jean segurou minha mão. Tirei-a de seu alcance no mesmo segundo.

            — Algum problema? — questionou.

            — Eles vão ver — respondi baixinho.

            — Eles?

            — Todo o mundo. E se rirem de nós?

            — Por que eles ririam de nós? Porque nos amamos?

            — Não. Porque somos dois garotos que se amam

            — Marco, ninguém mais se importa com isso.

            — Como você tem tanta certeza?

            — Eu apenas sei.

            Continuamos andando e permanecemos em silêncio por um tempo.

            — Tudo bem. Não vou te forçar — Jean cedeu. — Se não está pronto para deixar nosso relacionamento ser visto em público, não tem problema — afirmou calmamente.

            — Obrigado — sorri.

            Faltava pouco para chegarmos à escola quando começou a garoar. Apressamos o passo conforme a chuva se intensificava. Não chegamos encharcados, mas a água fria nos fazia estremecer.

            Nossos amigos perceberam que estávamos irradiando felicidade. Sasha foi a primeira a sugerir a mudança em nossa relação. Os outros concordaram que fazia sentido.

            — Finalmente! — Armin falou. — Nunca vi duas pessoas que se gostam enrolar tanto!

            — Olha quem tá falando! — Eren debochou e eu não entendi o porquê.

            — A culpa foi do Marco! Ele é cheio de frescuras — Jean falou.

            Dei uma cotovelada nele e fiz biquinho. Resolvi calar-me antes que iniciássemos uma discussão por motivos que eu já deveria ter esquecido.

            Nossos amigos decidiram comemorar e marcamos um encontro numa sorveteria self-service, apesar do provável frio que faria.

            A aula acabou e fomos para casa. Jean não segurou minha mão, o que fez eu me sentir grato. Não conversamos muito durante o percurso. Quando chegamos em frente da minha casa, eu parei e impedi Jean de continuar.

            — O que foi? — perguntou com rugas de preocupação na testa.

            — O que vamos dizer pra minha mãe?

            — Como assim?

            — E se ela não aprovar nossa relação?

            — Marco, ela é sua mãe. Ela vai te apoiar em tudo que fizer.

            — Como você sabe? Não é como se ela já tivesse me perguntado se conheci algum garoto interessante. Pelo contrário, ela já apontou diversas garotas e perguntou se eu as achava bonitas.

            — Isso não quer dizer que ela seja homofóbica!

            — Como você pode ter tanta certeza?

            — Quer saber? Mantemos em segredo, tudo bem?

            Balancei a cabeça afirmativamente e senti meus olhos arderem pelas lágrimas.

            — Marco, você tá chorando?

 Mordi o lábio inferior e tentei me conter.

            — Você vai terminar comigo — falei.

            — O quê? De onde tirou isso?!

            — Eu sou cheio de frescuras, não sou? E ainda tenho medo de mostrar nossa relação pro mundo! Você tá tendo que ceder seus desejos pra me satisfazer. Você vai se cansar disso e vai terminar comigo.

            — Marco — ele respirou fundo e esfregou os olhos —, eu te amo, tá bom? Fiquei esperando meses para finalmente poder te chamar de "meu". Eu não me importo com isso, ok? Você tem razão em ter seus medos e eu respeito-os. Acabamos de iniciar essa relação, Marco. Não faz sentido discutirmos por besteira. Você precisa de mais tempo para se acostumar com a relação e eu não vejo problema nisso — ele segurou meu rosto entre suas mãos e acariciou minhas bochechas. — Entendeu?

            — Promete que não vai me deixar?

            — Prometo.

            Jean me puxou para perto de si e me abraçou, acariciando meus cabelos.

            — Podemos entrar? — questionou. Assenti.

            Fechei as mãos em punho e entrei, falando "oi" pra minha mãe e indo direto para as escadas com passos rápidos. Ouvi-a perguntar a Jean que bicho me mordeu e já o imaginei dando de ombros. Ele subiu logo em seguida, entrou no quarto e fechou a porta.

            — Marco, a Marina não lê pensamentos. Relaxa.

            — Eu tô com medo. E se ela te expulsar daqui? E se eu não puder mais te ver?

            — Isso não é um drama estilo "Romeu e Julieta", ok? Agora para com essa... Sei lá o que é isso. Ainda vamos nos encontrar com nossos amigos hoje. Acho que você vai conseguir acalmar a mente. E você provavelmente vai conhecer o resto do grupo.

            — Eles tem algo contra... pessoas como nós?

            — Definitivamente não! Quatro deles são gays. Você com certeza não precisa se preocupar com isso.

            Sorri. Agora estava mais animado com o encontro.

            Já eram quase quatro e meia quando nos aproximamos da sorveteria, ou seja, estávamos quase meia hora atrasados. Vimos nossos amigos ocupando cerca de quatro mesas.

            — Aposto que os pombinhos estavam se pegando! — falou uma garota com sardas no rosto e o cabelo preso num rabo de cavalo. Um de seus braços estava ao redor dos ombros de uma menina loura e com olhos azuis.

            — Espero que não tenha planejado omitir nossa relação — Jean cochichou em meu ouvido.

            Nada respondi. Vi que todos os cinco desconhecidos nos olhavam atentamente. Segurei a mão de Jean em busca de conforto. Ele apertou-a e massageou-a com o polegar.

            Mikasa e Eren estavam sentados lado a lado e havia uma cadeira livre ao lado de cada um. Jean pediu para seu arqui-inimigo sentar na cadeira desocupada ao lado da namorada para poder sentar ao meu lado. Os dois logo começaram uma discussão. O resto do grupo apenas riu e alguns faziam apostas.

            — Você se acostuma — Mikasa disse dando de ombros e erguendo-se. Sentou-se na cadeira do outro lado de Eren deixando duas lado a lado livres.

            — Não é porque você é um ano mais velho que você manda em mim — Eren provocou após o problema já ter sido resolvido.

            Jean apenas mostrou o dedo do meio para ele e sorriu como se tivesse massacrado-o em um jogo de vídeo game.

            — Enfim! — Sasha chamou a atenção do grupo. — Não aguentamos esperar e já nos servimos. Só faltam vocês dois. Depois começamos as apresentações.

            — Acho que tô nervoso — falei enquanto nos servíamos. Eu podia ouvir risinhos vindos do nosso grupo e eu acreditava que riam de nós. Não, de mim especificamente.

            — Não precisa ficar. Eles são gente boa. Vão gostar de você — sorriu.

            Decidi confiar nele e consegui relaxar um pouco. Ele se sentou ao lado de Eren e, eu, ao lado da garota loura.

            — Sou Krista — ela se apresentou com um lindo sorriso.

            — E eu sou a namorada dela — a menina sardenta fez questão de que eu soubesse desse fato.

            — Não se preocupe. Ela só é ciumenta — Krista continuou. — O nome dela é Ymir.

            — Prazer. Sou Marco.

            — Então Jean finalmente conheceu alguém decente ou essa carinha de santo é só fachada? — Ymir perguntou e sua namorada repreendeu-a pela grosseria.

            — O-O quê?

            — Você tem quantos anos? — indagou.

            — Dezesseis.

            — Tá de boa. Só um ano mais novo.

            Não entendi bem aquilo. Até onde eu sei, temos a mesma idade. Resolvi não perguntar.

            — Tenho setenta e cinco anos — Ymir continuou. Ela riu ao ver minha cara de incompreensão.

           — Às vezes ela gosta de implicar com os novatos. Não é nada pessoal — Krista explicou baixinho.

            Conversamos um pouco. A loura me contou sobre o romance das duas e eu apenas falei que Jean e eu nos conhecemos na escola.

            Depois de alguns minutos, Sasha bateu a colher de plástico no pote de sorvete como se fosse fazer um brinde.

            — Pessoal, o sardento que alegra a vida do Jean é o Marco — corei com o comentário e também me senti feliz ao ouvi-lo. — Marco, essa é a Annie, Reiner e Bertolt — apontou para uma garota com cara de mau humor. Ela também tinha olhos azuis e cabelos louros, seu rosto, porém era mais fino que o de Krista. O garoto indicado como Reiner tinha o cabelo num louro tom de areia e era musculoso e com feições marcantes. Apesar da cara de mau, sorriu e me cumprimentou com um aceno de cabeça. Bertolt segurava a mão de Reiner e estava com o rosto vermelho. Tinha cabelos negros e era bem alto. Acenei com uma das mãos para eles e sorri.

            Ficamos no estabelecimento por quase duas horas. Foi divertido e eu finalmente entendi o que Eren disse sobre Armin na escola: o louro aparentava gostar de Annie — e o sentimento parecia recíproco — mas mal conseguia falar com ela. As únicas pessoas que realmente não tinham interesse romântico em nosso grupo eram Connie e Sasha. Por algum motivo, aquilo me alegrou bastante. Talvez fosse porque eu tinha um exemplo perfeito de amizade entre homem e mulher, ambos heterossexuais. Finalmente poderia esfregar isso na cara da sociedade.

            — Conseguiu espairecer a mente? — Jean perguntou quando chegamos em casa e jogamo-nos na cama.

            — Com certeza!

            — Viu? A sociedade não vai te condenar por ser gay.

            — Não tenho tanta certeza quanto a isso. No entanto, me sinto aliviado por não ter que me esconder deles.

            Jean sorriu e beijou minha testa.

            Ficamos em silêncio por alguns segundos.

            — Acho que vou ficar doente — falou após um espirro.

            — Também acho — ri e ele espirrou novamente. — Ninguém mandou ir tomar sorvete num dia frio.

            — A culpa é nossa por finalmente consertarmos nossa relação — sorriu.

            A garoa começou e nos enrolamos sob um cobertor. Realmente parecia que éramos só nós dois no mundo inteiro.

            — Ymir falou que sou um ano mais novo que você — falei.

            — Sim. Eu tô com dezessete anos. Merda! — xingou ao perceber o erro que cometera.

            — Quando foi seu aniversário? Por que não me contou? — era perceptível que eu estava irritado.

            — Porque eu tinha acabado de sair do hospital. A gente ainda nem se falava direito. Eu meio que fiquei com medo de você simplesmente ignorar a data. Eu ficaria no limbo entre a tristeza e a raiva e provavelmente nem falaria com você, o que destruiria o restinho da nossa relação.

            — É... Acho que você tem uma boa desculpa. Foi que dia?

            — Sete de abril.

            — Acho que ainda dá pra te dar um presentinho atrasado.

            — Eu já tenho o que quero — sorriu e beijou minha bochecha corada.

            Estudamos um pouco e fomos dormir com a chuva caindo fortemente e o vento uivando como um fantasma.

***

            O dia amanheceu com uma chuva fina caindo. Jean realmente estava doente e não poderia ir à escola. Preparei um breve café da manhã e levei para ele.

            — Não se acostume — falei.

            — Só espero que você não tenha queimado a torrada. Do jeito que você é na cozinha... — debochou.

            Olhei para ele com os olhos semicerrados.

            — Sorte sua que gosto de você, senão você já teria sido fuzilado mentalmente.

            Ele apenas mostrou a língua e sorriu.

            — Divirta-se tendo aulas chatas.

            — Divirta-se tendo que entender matéria acumulada — beijei-lhe a testa. — Minha mãe vai passar aqui pra te ver daqui a pouco. Tchau!

            — Marco, espera! — o garoto quase gritou. — Eu te amo.

            — Também te amo.

            Foi tudo bem na escola. Meus amigos fizeram questão de detalhar cada momento no qual corei no encontro na sorveteira. Garanto que não foram poucas vezes.

            Na última aula do dia, eu observava o sol brilhar timidamente atrás das nuvens negras quando meu celular tocou. Era uma mensagem de Jean: "Marco, eu preciso de você". Só me preocupei quando outra mensagem chegou menos de um minuto depois. Dizia "agora".

            Comecei a bater as pontas dos dedos sobre a carteira. Menos de cinco minutos de aula e eu poderia ir para casa.

            12:49: J: Por favor. Ela tá se aproximando.

            12:50: J: Marco!!! Cadê você?

            12:51: J: ????

            O sinal bateu e eu saí em disparada. Andei o mais rápido que pude e cheguei em casa suando. Subi as escadas correndo.

            Adentrei o quarto para encontrar Jean em cima da cama escondido debaixo da coberta observando o ambiente por uma fresta.

            — Sai daí! Sai daí! — falou em tom anasalado.

            — O que tá acontecendo?

            — Tem uma barata aqui. Ela é do tamanho do mundo!

            — É sério que eu morri de preocupação por causa de uma barata?

            — Olha o tamanho dessa porra, Marco — apontou para cima da porta e eu vi uma barata do tamanho do mundo. Talvez seja exagero, mas aquela era a maior barata que eu vira na minha vida. Sem pensar duas vezes, joguei-me em baixo do cobertor com Jean.

            — Ué? Você não era o machão que não tem medo de barata? Por que tá se escondendo? — zombou.

            — Porque aquilo é maior que eu e você juntos!

            — Nós não podemos ficar aqui pelo resto da vida. Tira ela daqui!

            — Por que eu?

            — Porque eu tô doente — disse ao forçar uma tosse.

            Rolei os olhos. Jean pegou seu chinelo do chão e me entregou:

            — Joga nela.

            Era o melhor — e único — plano. Peguei o chinelo, mirei e acertei dez centímetros longe da barata. Ainda assim, ela correu rapidamente para o batente da porta e lá ficou.

            — Não sabia que você tinha uma mira tão boa — Jean debochou.

            — Faz melhor.

            — Nem a pau, Juvenal! Só saio daqui de baixo quando ela desaparecer.

            Ficamos encolhidos por longos minutos.

            — Você tá fedendo — o garoto falou.

            — É claro! — eu quase corri da escola até aqui por sua culpa!

            — Que gracinha! Meu bravo cavaleiro veio me salvar do terrível dragão! — riu.

            — Alguém já te disse que você é chato?

            — Só quem me ama — mostrou a língua.

            Sorri, mas fingi estar bravo.

            Passaram-se mais alguns minutos.

            — Cansei! — e Jean me empurrou e me derrubou da cama. — Vê se ela ainda tá aí.

            — Jean! — gritei e me levantei do chão rapidamente, voltando para a cama num pulo e tirando o cobertor de cima dele. — Vê você!

            E ele puxou a coberta e jogou-a no chão.

            — Prontinho! Agora você também não tem onde se esconder!

            E então vimos a barata sair de baixo do cobertor.

            — Puta merda! — Jean exclamou. — Nunca mais toco nesse troço!

            O inseto não ficou muito mais tempo no quarto. Passou pela porta e desapareceu na casa.

            — Eu tô tremendo! — o garoto falou.

            — Não sabia que você era tão medroso — debochei.

            Jean não se deu ao trabalho de responder.

            — Ela foi embora, ok? Vá descansar pra melhorar logo! Vou pegar outra coberta e já volto.

            Deixei o quarto cautelosamente, investigando o chão e as paredes para ter certeza de que não encontraria a barata. Peguei uma manta e cobri Jean. Depois tirei o cobertor do chão e coloquei-o na máquina de lavar. Fui tomar um banho em seguida.

            E a batalha épica contra a barata resume nosso dia. Não podíamos ficar muito próximos para eu não ficar resfriado também. De qualquer maneira, Jean passou o resto do dia dormindo. Valeu a pena correr só para "salvá-lo" de seu "dragão".


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fiquei um bom tempo sem escrever, então, talvez, minha escrita tenha mudado um pouco, assim como alguns aspectos da estória. Se acharem que a estória está "desandando" ou qualquer coisa do tipo, me informem, por favor.
Também me contem se encontrarem algum erro.
Enfim, espero que tenham gostado e até o próximo capítulo!
OBS: Mudei a classificação da fancic para 16+ porque não terá mais lemon. Acho que não "combinará" muito com o que planejo pra fic. Espero que compreendam!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não era pra ser assim..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.