Não era pra ser assim... escrita por Madreamer


Capítulo 10
Medo desnecessário




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            Jean estava jogado no sofá e me observava impacientemente enquanto eu andava de um lado para o outro com passos pesados. Quando passei em sua frente mais uma vez, ele segurou minha mão e me puxou, fazendo-me sentar ao seu lado.

            — Respira fundo e se acalma — ronronou. — Sua mãe ainda nem chegou.

            — Eu sei! — gritei. — Desculpa — murmurei logo em seguida.

            — Você quer que eu conte? — ofereceu.

            Pensei por um tempo, mas finalmente neguei com a cabeça.

            E então Jean simplesmente deitou em meu colo.

            — Como está o livro que está lendo? — perguntou.

            — Isso não vai funcionar.

            — Por que não?

            E então eu comecei a enumerar razões pelas quais uma conversa não me distrairia. Eu estava errado. Chegou um momento no qual eu não tinha ideia do que estava falando. Uma palavra levava a um comentário aleatório de Jean, o que me fez perder o fio da meada.

            Tudo estava tranquilo até eu ouvir o barulho de chaves. Tirei Jean de meu colo e levantei num pulo.

            — Relaxa — meu namorado falou.

            E minha mãe entrou em casa. Trancou a porta e se virou para nós. Seu sorriso desapareceu assim que me viu.

            — Aconteceu alguma coisa? — perguntou alarmada. — Por que está tão sério, Marco?

            Ouvi Jean suspirar pesado atrás de mim.

            — Tá tudo bem, Marina — afirmou.

            Respirei fundo. Mordi os lábios e finalmente reuni coragem suficiente para falar.

            — Tenho que te contar uma coisa.

            — Temos. Temos que te contar uma coisa — Jean disse e tocou minha mão, mas eu a afastei antes que ele a segurasse.

            Minha mãe ergue uma sobrancelha e cruzou os braços, pedindo para continuarmos.

            Respirei fundo mais uma vez e senti o olhar fixo de Jean sobre mim.

            — Nós... — olhei para o chão e fechei as mãos em punho para tentar parar de tremer. — Estamos namorando — falei por fim, soltando o ar que eu nem sabia estar prendendo.

            — Ah! É isso? Tudo bem — sorriu aliviada. — Você me assustou! Não precisa ter medo de me contar isso, Marco. Eu não me importo se você ama um menino, uma menina ou até mesmo alguém não binário. Eu te amo de qualquer jeito — sorriu novamente.

            — Mas você sempre me perguntou se eu achava alguma menina bonita.

            — Eu sei. Mas já tem um tempinho que eu parei de perguntar.

         Assenti.

            — Marco, eu não sou tão nova quanto você. Na minha época, menino gostava de menina e vice-versa. Não era comum pessoas do mesmo sexo se amarem. Bom, eles podiam se amar, mas tinha que ser em segredo, sabe? Desculpa se aquelas perguntas te fizeram ter uma ideia errada sobre mim. Eu não me importo com sua sexualidade, com o que você é ou deixa de ser. Você é meu filho, Marco, e é isso que importa.

            Sorri e abracei-a.

            — E meio que eu já desconfiava que você gostava do Jean. Você deixou uns desenhos de vocês jogados na escrivaninha. Eu só não sabia que era recíproco.

            Senti meu rosto queimar e ouvi Jean rir atrás de mim.

            — Tanto desespero pra nada — falou.

            Minha mãe riu e nos embalou num abraço.

            — Fico feliz que tenha me contado — disse quando nos separamos.

            — Eu também! — Jean exclamou antes que eu respondesse. — Ele não parava quieto. Ficou andando de um lado pro outro como se não houvesse amanhã.

            Lancei-lhe um olhar raivoso. Ele deu de ombros.

            — Ué. Tô mentido?

            Rolei os olhos e ouvi minha mãe dar uma risada.

            — Ok, pombinhos. Cadê o jantar? Eu tô com fome — disse com cara de cachorro perdido.

            — Tem lasanha na geladeira, mas eu posso cozinhar se voc—

            — Nem precisa terminar a frase. Lasanha está ótimo!

            E então ela foi para o quarto se trocar.

            Jean me olhou fixamente com um sorriso convencido nos lábios.

            — Tá bom! Você tava certo! Satisfeito?!

            O sorriso de Jean apenas aumentou.

            — Se eu fosse você, eu tirava esse sorriso do rosto antes de ter que dormir no chão sozinho, só você e a barata.

            Seu sorriso desvaneceu após alguns segundos.

            — Isso é chantagem! — afirmou.

            — Não, é a lei de quem ri por último ri melhor.

            Meu namorado rolou os olhos e me olhou indignado.

            — Você não faria isso, faria? Você deixaria seu precioso namorado ao alcance daquele monstro?

            — Quer apostar?

            Sorri vitoriosamente enquanto Jean balançava a cabeça negativamente.

            Minha mãe voltou e fomos jantar. Absolutamente nada mudou. Ela não me olhava diferente nem deixou de conversar sobre os mesmos assuntos de antes. Mas é claro que eu tive que aturar meu namorado lançando-me olhares convencidos o tempo inteiro.

            — Obrigado, mãe — falei enquanto Jean lavava as louças e nos deixou sozinhos à mesa.

            — Pelo quê?

            — Por tudo. Por não agir diferente, por compreender, por—

         — Ora, Marco! Eu não me importo com isso. Eu te amo de qualquer jeito, filho.

            Sorri. Fiz questão de levantar-me e abraçá-la.

            — Também te amo, mãe.

        O nervosismo e a inquietude que senti durante o dia me deixaram exausto. Fui para cama imediatamente após o jantar. Meu namorado chegou pouco depois, quando eu já estava deitado.

            — Eu tava certo! — Jean clamou enquanto puxava o cobertor de mim.

            — Eu tô com sono, Jean — choraminguei.

            O silêncio que se seguiu foi desconfortável. A cama se mexeu sob o peso de Jean logo depois. Deitou-se ao meu lado e colocou o braço sobre minha cintura, puxando-me para si.

            — Eu te deixo dormir se prometer que vai confiar em mim da próxima vez.

         — Prometo.

         — Que bom! — disse ao beijar minha bochecha. — Boa noite, Marco. Te amo.

            — Também te amo, Jean — disse ao embalar sua mão na minha e entrelaçar nossos dedos, aninhando-me em seu corpo um pouco mais.


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Notas finais do capítulo

Capítulo curto? Sim. Achei melhor postar esse capítulo curto antes que eu ficasse mais três meses sem postar.
Vou tentar diminuir o tamanho dos capítulos para ver se posto mais frequentemente.
Enfim, espero que tenham gostado!



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