Não era pra ser assim... escrita por Madreamer


Capítulo 11
Complicações




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         Ficamos um tempo “separados”. Com a semana de provas se aproximando, resolvemos nos afastar um pouco para podermos nos concentrar melhor nos estudos. Às vezes as tentativas funcionavam, às vezes não.

         De qualquer modo, no fim de semana após as provas, Jean inventou de irmos a um genuíno encontro, apenas nós dois, com a desculpa de que nos afastamos muito e precisávamos conhecer um ao outro novamente. Achei desnecessário — moramos na mesma casa, afinal —, mas concordei sem relutar.

         Decidimos ir a um parque relativamente perto de casa. Fomos a pé para conversarmos durante o caminho.

         — Eu não tinha fé na gente — admiti logo no começo do percurso.

         — Por quê?

         — Bem, só pra começar, você “meio” que forçou essa relação. Não sei como, mas sua insistência realmente funcionou. Já sei que método usar da próxima vez que eu me apaixonar por alguém e não estiverem interessados.

         — Próxima vez? O que quer dizer com isso? — sua voz estava séria. Um arrepio percorreu minha espinha.

         — Você não acha que a gente vai durar pra sempre, acha?

         — Sim!

         — Jean — parei no meio do caminho e ele fez o mesmo —, nós ainda somos adolescentes. Tudo que achamos que sabemos sobre o amor não deve ser nem metade do que realmente é.

         — Eu não sei se rio ou se choro — Jean falou num tom frio. — Eu pensei que você me amava.

         — Eu te amo! Sem dúvida alguma! É só que... A vida não é um conto de fadas ou um romance de um livro, Jean. Pessoas brigam, relações terminam.

         — E por que a nossa terminaria?

         — Eu não sei, tá bom?! Eu só to tentando evitar um estrago massivo no futuro.

         Jean respirou fundo e pressionou as têmporas.

         — Quer voltar pra casa? — perguntei.

         — Não. Vamos só... Esquecer isso e aproveitar o que temos por enquanto. Pode ser?

         Assenti e seguimos o caminho em silêncio.

         Assim que chegamos ao parque, Jean segurou minha mão e puxou-me. Sentamo-nos num banco cercado de flores.

         — Tá vendo aqueles dois? — perguntou apontando um casal um pouco à frente. Eles estavam acompanhados por três crianças e um cachorro. Podiam-se ouvir as gargalhadas de longe.

         — Sim. O que tem?

        — É assim que eu imagino nós dois no futuro. Não precisa ser uma família tão grande assim. Uma família de dois já está ótimo pra mim — segurou minha mão e massageou-a com o polegar.

         — Eu também, Jean. Você acha que eu não adoraria se aquele seu sonho virasse realidade? Eu amaria! Mas nenhuma das minhas relações anteriores teve um final feliz. Nenhuma passou de um mês.

         — Que bom! Que bom que nenhuma durou. Assim você estava sem compromisso quando te encontrei. Agora estamos nessa situação que seria bem mais agradável sem essa discussão inútil porque eu te amo e não vai ser uma briguinha que vai me impedir de te amar.

         — Jean... Eu não sei o que dizer...

         — Não precisa dizer nada. Só tenha um pouco de fé em nós, ok?

         — Ok!

         — E me prometa que quando eu estiver com a pele enrugadinha e precisar de uma bengala pra conseguir andar você vai estar ao meu lado.

         — Prometo — afirmei ao erguer meu dedinho. Jean sorriu e pressionou seu dedo contra o meu.

         Conversamos mais um pouco e só voltamos para casa após admirarmos o pôr do sol.

***

         — Marco, sai de perto dele! — minha mãe gritou assim que entramos em casa.

         — Mãe? O que tá acontecendo?

         Marina não respondeu. Pegou meu pulso e puxou-me, ficando em minha frente.

         — Ele é de uma gangue, Marco! Lembra-se da gangue que eu te falei há um tempo? Ele faz parte dela.

         — Eu sei, mãe! Mas acabou! A gangue acabou!

         — Isso não quer dizer que ele mudou e não muda o que ele fez a essa cidade! Sai daqui, Jean! Saia antes que eu chame a polícia! — bradou. — E nunca mais encoste no meu filho!

         — Mãe! Ele é uma boa pessoa! Eu te garanto!

         — E por que eu encontrei isso nas coisas dele? — levantou uma almofada do sofá e pegou uma arma que estava sob ela.

         — Isso é seu, Jean?

         Meu namorado não respondeu. Abriu a boca, porém, apenas ar saiu dela.

         Balancei a cabeça negativamente diversas vezes.

         — Por favor, me diz que não é.

         — Eu fiquei com medo, Marco! E se a gangue de Stohess viesse atrás de mim? Eles tentaram me matar!

         — Sim, e, até onde eles sabem, eles conseguiram.

         — Marco, por favor...

         — Eu pensei que eu pudesse confiar em você. Claramente, eu estava errado.

         Jean não se manifestou. Abaixou a cabeça e saiu. Não bateu a porta atrás de si. Fechou-a lentamente e procurou em meus olhos um pedido para ficar.

         — Tá tudo bem, Marco. Nós estamos bem — minha mãe falou quando ficamos a sós, abraçando-me.

***

         18:57: J: Por favor, Marco. Me desculpa. Eu te juro que eu nem me lembrava mais disso. Me perdoa.

         A mensagem me machucou. Doeu como se eu fosse o errado naquela história. Doeu ainda mais quando a lembrança da promessa de envelhecermos juntos voltou à minha mente. Mais um final infeliz para Marco Bodt.

         19:03: J: Marco, eu fiquei morrendo de medo! Você não conhece aqueles caras. Eu conheço e sei do que são capazes. Eu não podia andar desprevenido!

         19:04: J: Lembra do que sua mãe falou? Ela achou nas minhas coisas. Eu não a carrego comigo há tempos! Eu só queria ter certeza de que eu poderia sair andando com minhas próprias pernas caso algum encontro desagradável acontecesse.

         19:07: J: Marco, mais uma vez: não tava comigo! Eu a guardei por mero capricho. Eu não posso simplesmente jogar uma arma no vaso e dar descarga. Faz semanas que eu não toco nela.

         19:08: J: Acredita em mim. Por favor.

         20:01: M: Mais UMA chance, Jean. Só mais uma. Não estrague tudo de novo.

         20:01: J: Obrigado, Marco! Eu tô literalmente chorando agora.

         Meu celular tocou poucos segundos após a última mensagem.

         — Marco! Eu não vou estragar mais nada. Eu prometo! Me diz que você me perdoou.

         — Com uma condição: você vai ficar longe de qualquer coisa relacionada a gangues e vai começar se livrando daquela arma!

         — Tudo bem! Mas... sua mãe tá com a arma.

         — E eu ainda tenho que convencê-la de que você é uma boa pessoa... De verdade, Jean, se você der mais um passo em falso, a gente nunca mais se fala.

         — Ok. Eu não vou te testar. Essa é a última bobagem que eu faço. Juro!

         — Que bom. E onde você tá? Voltou pro galpão?

         — Eu te falo se você prometer que não vai ficar bravo.

         — Acho que você não tá em posição pra fazer pedidos.

         — Na casa da Mikasa. Marco, eu não gosto mais dela e quero deixar isso bem claro.

         — Eu acredito em você. Só to imaginando a reação do Eren.

         — Não vai ser nada agrad— Jean foi interrompido.

         — Ei, Marco! Você perdoou ele? — era a voz de Mikasa no outro lado da linha.

         — Sim. Mas isso não quer dizer que eu não estou com raiva.

         — Ótimo. Pode tirá-lo daqui? Ele ficou chorando e falando do que aconteceu por duas horas sem parar.

         — A situação não é tão simples assim... Minha mãe não vai aceitar nada que eu disser no momento.

         — Ok... Fico feliz que vocês tenham se acertado. Pela reação de Jean, acho que você não vai ter mais com o que se preocupar.

         — Também acho.

         — Ele que falar com você. Tchau!

         — Tchau, Mikasa!

         — Voltei! — Jean declarou.

         — Sim, eu percebi. Bom, eu vou tentar resolver as coisas com minha mãe, mas vai demorar um pouco. Vou ter que deixá-la esfriar a cabeça primeiro.

         — Ok. Eu espero.

         Ficamos em silêncio por alguns segundos.

         — Eu te amo, Marco. Obrigado por mais essa chance.

         — Mais essa última chance. E eu tô com muita raiva pra falar que também te amo, apesar de nós dois sabermos que eu te amo.

         — Eu sei que você não pode ver, mas eu tô sorrindo.

         — Eu também. Boa noite, Jean.

         — Boa noite, Marco. A gente se fala amanhã?

         — Sim. Até amanhã.  

         — Até.

       Desligamos o telefone e eu me joguei na cama. Senti meus músculos relaxarem. Só naquele momento eu percebi o quão tenso estava. Suspirei pesado e me escondi sob as cobertas. Eu não estava com paciência para conversar com minha mãe naquele momento. Decidi usar meu velho método para fugir de problemas: dormir.


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Notas finais do capítulo

Não consegui chegar nesse capítulo até onde eu queria porque a criatividade não ajudou. Resolvi postar logo para não ficar mais três meses sem atualizar a fic.
Espero que tenham gostado.



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