Teus olhos

Tão tristes

Refletem sua tristeza

Vem da alma

O que aconteceu

Com meu anjo negro?

Eu estava maravilhada com o ambiente ao redor.

–Você vem aqui sempre? -Perguntei a Ian.

Ele sorriu de lado.

–Nem sempre. -Disse. -Apenas quando estou com vontade.

–Para onde vai, então? Quando vai embora, pela janela?

–Para um lugar que construí, em seu mundo. -Ele disse.

–Ah. -Eu exclamei.

–Que tal conhecer mais daqui? -Ele disse, abrindo as asas. Não evitei um sorriso.

Ele me levou para cima, nas nuvens, e atravessou os rios, as colinas e os prédios. Era uma visão incrível. Surrealista.

Tudo estava banhado em dourado, brilhando como fogo.

De súbito, Ian fez um rasante e pousou, no chão. Senti a terra batida embaixo de minhas botas.

–Por que paramos? -Eu perguntei, batendo em minha calça, suja de terra.

Ele deu um sorriso irônico para mim. De repente, vi Ian se transformar em minha frente. Seu cabelo, antes loiro, ficou mais negro que a noite. Os olhos, já eram negros, agora inteiramente negros, como se a pupila tivesse estourado. As asas, ficaram da cor do fogo, e as vestes, negras. Casaco negro, blusa negra, calças negras e botas negras. Os dentes ficaram afiados, como pequenas navalhas, e a pele, ficou muito branca.

Gritei o máximo que pude.

O mundo ao redor foi se esmaecendo, e tudo o que sobrou foi rocha magmática e magma.

–Você é muito boa em ser iludida. -Ele disse, dando uma risada, que ecoou na câmara que estávamos. -Com um simples passe de mágica, bum! foi iludida.

–O que você realmente é?! -Eu gritei, encolhendo-me.

–Eu? Bem, somos chamados de inimigos dos anjos. -Ele disse, com um sorriso diabólico, mostrando seus dentes afiados. -Já conseguiu saber o que somos?

–Você... -Eu disse, desesperada. -É um... demônio?!

–Acertou na mosca, Clarke. -Ele disse, rindo mais uma vez. Aquele riso diabólico que ressoava pela câmara deixava Clarke com muito medo dele. E infelizmente, ele tinha percebido isso. -Está com medinho, Clarke? Oh, não precisa. Não vou fazer nada com você, pode deixar. Mas com o seu amado anjo "negro", sim.

–Não!! -Gritei. -Poupe a vida dele, mas tire a minha!

Ele olhou ironicamente para mim, com um ar de deboche.

–Ah, Romeu e Julieta? -Ele disse, irônico. -Quietinha, garota. Cale-se.

–E pensar que deixei você me beijar, seu tosco. -Eu disse.

Ele gargalhava.

–Ah, sim! -Ele disse. -O beijo. Se ele não vier te salvar em menos de 48 horas, você vai virar uma de nós, aí teremos mais exército contra ele.

–Como assim?

–Quando um demônio beija uma mortal, depois de 48 horas, o mortal vira um demônio, pelos componentes da saliva. -Ele disse. -Espero que não seja doloroso, coitada.

Eu solucei. Ou eu viraria um demônio, ou Rafael estaria comprometido.

Chorei, as lágrimas virando vapor na superfície quente da câmara.

"Não venha, anjo negro."