Teus olhos

Tão tristes

Refletem sua tristeza

Vem da alma

O que aconteceu

Com meu anjo negro?

Eu e Ian atravessamos o parque andando como se ele fosse um humano normal.

Eu estava ciente de minha escolha, e sabia que dificilmente teria a ajuda de Rafael, para qualquer ocasião.

–Você fez a escolha certa. -Ele disse, depois de algum tempo. -Ele foi muito babaca.

Apenas concordei com um gesto de cabeça, e pensei se essa fora realmente a escolha certa, se eu não iria me arrepender de ter deixado aquele anjo negro para trás.

Havia algum vento no ar, que bagunçava meu cabelo. Ian sorriu e ajeitou-o.

–O que vocês são? -Eu perguntei.

–Somos basicamente meio- irmãos. -Ian contou-me.

–Como assim? -Perguntei.

–É melhor se sentar. -Ele disse.

Olhei para o chão em volta. Ian sorriu e fez uma cadeira aparecer no meio de um bosque.

–Muito eficiente. -Disse, sentando-me. -Agora, conte-me, por favor.

Ele pigarreou.

–Bem... -Começou. -Ele era um anjo com dons... especiais, por assim dizer. Podia criar qualquer coisa que viesse em sua cabeça. Um dia, Rafael simplesmente pensou em criar um outro anjo. Um anjo melhor, que divertisse e alegrasse as pessoas, um anjo sensível, educado e elegante. Então, inspirado em sua própria imagem, ele me criou, assim como criei essa cadeira. E assim, passou alguns de seus dons para mim. Alguns dons ficaram aprimorados, assim sendo, consigo me transformar em o que eu quiser. Rafael infelizmente me apresentou aos chefes do reino, Kyel e Fryel, o rei e a rainha de nosso reino dos céus, Skyland. Os chefes não gostaram nem um pouco, e puniram-no por ter feito um ser angelical. Tiraram-lhe sua capacidade de se expressar, sua capacidade de sentir, privando-o assim de sentir o amor por alguém. Rafael se tornou meio amargo, e sempre sonhou em me destruir, para que ele consiga voltar a sentir, e voltar a amar. Agora ele tem ainda mais motivação, pelo jeito. -Sorriu, olhando-me. -Mas não vou abrir mão de mim mesmo pelo mesmo motivo.

–Então... Uma história de família. -Eu disse.

–Sim, somos os meio- irmãos mais causadores de encrenca que Skyland já viu.

–Gostaria de visitar Skyland. -Eu disse, suspirando. -Foi uma ótima história, me fascinei. Não acredito que o sonho de Rafael é acabar com você... Você me parece ser tão gentil... -Eu continuei, com um meio- sorriso bobo no rosto.

Ele sorriu e se aproximou de mim, fazendo carinho em minhas têmporas. Então, me beijou silenciosamente e apaixonadamente.

Quando abri meus olhos novamente, não estava mais sentada numa cadeira. Não estava nem mais no bosque.

–Bem vinda à Skyland. -Ele disse, em sua forma de anjo.

À minha volta, tudo era igual à descrição de Ian. As colinas verdejantes brilhavam em tons de verde claro ao pôr do sol. A água que corria por perto, em um lago, era transparente, brilhante. Os peixes nadavam, totalmente visíveis. Os prédios, ao longe, eram feitos de diamante, e a trilha aonde estávamos era feita de esmeralda.

Fascinei-me com aquela imensidão. Alguns anjos voavam pelos céus em tons alaranjados, refletidos nas asas brancas como nuvens.

O clima era agradável, um vento sutil estava no ar.

O cabelo de Ian estava desgrenhado, suas faces, mais brilhantes.

–Aqui é meu lar. -Ele disse, por fim, pegando minha mão.

"Anjo branco, aqui é meu lar."