Teus olhos

Tão tristes

Refletem sua tristeza

Vem da alma

O que aconteceu

Com meu anjo negro?

Acordei deitada na cama. Ninguém estava ali. Cogitei se aquilo teria sido um sonho, mas logo percebi uma outra rosa negra na janela. Pensei em Rafael, em como ele tinha reagido sobre o Ian. Foi estranho, como se Ian fosse uma pessoa ruim. Mas ela sabia, não, ele não era ruim. Olhei para o relógio digital. 9h30.

Suspirei. Queria ter tido uma chance de falar com Rafael, contar minha parte da história, antes das conclusões precipitadas.

Sem nada para fazer, tomei meu café, me troquei e saí, em direção à livraria.

Caminhei através do parque, parando em frente ao banco, onde estava a rosa, surpreendentemente intacta. O mesmo não podia ser dito do livro, arruinado, ao lado.

Suspirei, pensando no olhar triste de Rafael, e me senti culpada por ter adormecido ouvindo a voz de Ian contar sobre o mundo deles. Sonhava em poder ir para lá.

Caminhou rapidamente entre as árvores.

–Já esqueceu-se de mim? -Ouviu ele.

Olhou para trás, mas não havia ninguém ali. Olhou para frente, e ali estava ele.

–Rafael. -Eu disse, engolindo em seco, e passando adiante, apesar da vontade de ficar perto dele.

–Ei, não se vá. -Ele disse, seguindo atrás de mim.

Olhei-o, e ele estava flutuando alguns centímetros do chão, olhando-me seriamente.

–Não vejo o que você vê de mal no Ian. -Eu disparei. -Ele me contou mais coisas que você me contou!

Ele congelou. Estava com medo.

–Ian? -Ele disse.

–Isso mesmo, Ian! -Eu disse, disparando minha raiva nele.

–O S? -Ele perguntou.

–Isso mesmo, o próprio.

Ele flutuou alguns centímetros para cima, os tênis inclinados, as asas negras batendo levemente, encantando-me.

–Fique longe dele, eu te peço. -Ele disse, sofregamente.

–Ficar longe de quem? –Disse uma pessoa, atrás. Rafael ficou pasmo quando virou para trás, e viu Ian flutuando calmamente acima das árvores, observando-nos com curiosidade. Estava inteiro de branco, o cabelo arrumado desta vez.

–Gostaria de visitar-nos, Clarke? -Ele perguntou, sorrindo amavelmente.

Olhei para Rafael, que me olhava com súplica.

Senti a raiva aumentar no peito, por aquele anjo negro que culpava o outro, mesmo que não tivesse culpa.

–Não faça isso, Clarke! -Suplicou ele, flutuando para perto do outro. -Não confie nele.

–Então em quem devo confiar? Numa pessoa que me pareceu sensível, mas esmagou meu coração? Ou numa pessoa que me assustou mas se mostrou sensível? Prefiro a segunda opção! -Eu gritei para ele. -Você me deixou chorando!

–Era por que eu estava cuidando DELE! -Foi a vez dele gritar.

–Não se exalte, maninho. -Disse Ian, com uma piscadela. Ele abriu suas asas e mergulhou, num rasante. Parou em minha frente, e em um passe de mágica, se transformou.

Virou um humano comum, com um casaco cinza, calça jeans e botinas de neve, além de um óculos.

–Vamos? -Ele disse, pegando minha mão, e retribuí o gesto.

Rafael olhava-me com raiva. Então, em um impulso, desapareceu no céu.

"Me desculpe, anjo negro"