Teus olhos

Tão tristes

Refletem sua tristeza

Vem da alma

O que aconteceu

Com meu anjo negro?

Levantei-me do banco e corri para casa, as lágrimas borrando meu caminho.

Entrei e fechei a porta, com pressa. Minha mãe tinha deixado um bilhete.

"Filha, filho, vou ao mercado, volto logo!"

Subi correndo até meu quarto, fechei a janela e a porta, e desatei a chorar.

Chorei até quando a porta se abriu e minha mãe entrou. Rapidamente fui até o banheiro e lavei meu rosto.

–Filha, já voltou? -Perguntou ela.

–Já. -Disse eu, forçando minha voz a sair normalmente.

–Vou fazer macarrão, te chamo quando ficar pronto.

–Ok. -Respondi, entrando no quarto novamente. O que eu realmente queria era desaparecer.

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O dia passou como um borrão. Não me lembrei de nada. Ninguém se importou em perguntar se eu estava bem, mas não me importei. Ninguém iria acreditar se eu dissesse que um anjo negro quebrou meu coração.

À noite, sentei em frente ao computador e procurei por "anjo branco". Desta vez, consegui vários resultados, mas nenhum parecido com o anjo que eu havia visto.

Senti uma lufada de ar entrar em meu quarto. Foi assim que soube que ele havia chego.

–Olá. -Eu disse, sem me virar. Apenas fechei o google.

–O que aconteceu com você? -Perguntou ele, genuinamente preocupado. Estava vestido com um moletom cinza, calça skinny preta e as mesmas botas. O cabelo estava bagunçado. Estava ainda mais encantador.

–Quem é você, afinal? -Eu perguntei, desarmada. -Por sua culpa, Rafael foi embora, sabia? Por sua culpa!

O anjo chegou mais perto de mim, e eu recuei, apesar de querer um segundo beijo do anjo.

–Eu sou o S, já disse. -Ele falou.

–Quero seu nome verdadeiro.

–Ok. É justo. -Ele disse, sorrindo cinicamente. -Meu nome de verdade é Ian.

–Ian. -Eu disse. -Já é um começo. -Suspirei. -Por que você é tão odiado pelo Rafael?

–Digamos que... Não começamos bem. -Ele disse. -Mas espero que ele se abra mais para mim, afinal, eu era como um irmão para ele.

–Como um irmão. -Eu repeti.

–Sim, como um irmão. -Ele disse. -Não gosto de te ver triste. O olhar de alegria que você deu ontem, durante o beijo foi mais bonito. Apesar de que você fica bonita quando fica séria.

Corei violentamente.

–Eu... -Eu disse. -É... Ok.

–Não precisa ficar encabulada, ok, Clarke? -Ele disse.

–Como sabe meu nome? -Eu perguntei.

Ele indicou uma etiqueta que estava colada em um estojo no canto de minha mesa. -Sou observador.

–Ah.

Ele sorriu e sentou em minha cama. Sentei ao seu lado.

–Você provavelmente não sabe de onde eu vim. -Ele disse.

–Não sei.

–Vim de um lugar bem menos poluído do que aqui. Tudo ali era feito de... preciosidades. O chão de onde andávamos não era concreto: era um caminho de esmeraldas. Os prédios, feitos de diamante. Refletiam tão bem a aurora.

–Como em Mágico de Oz. -Eu disse, sonolenta. Sem querer, apoiei-me em seu ombro.

–Como Mágico de Oz. -Ele repetiu. -Podíamos ver todas as estrelas. Uma perfeita cortina estrelar. Dormíamos às vezes, em pequenos alojamentos, que ficavam perto dos montes. Eram verdes, como um verde de esmeraldas. Pensávamos que as árvores eram amontoados delas (esmeraldas). Mas não, eram árvores. A água, tão cristalina. Corria transparente pelas colinas verdejantes. Bebíamos direto das fontes. Não era poluída, não...

Ele continuou falando por algum tempo, descrevendo os lugares, os montes, as colinas, os prédios.

Me senti em paz.

E então, dormi, em seu ombro, não conseguindo entender porque Rafael o odiava.

"Meu anjo branco, quem é você?"