Teus olhos

Tão tristes

Refletem sua tristeza

Vem da alma

O que aconteceu

Com meu anjo negro?

Acordei com a rosa negra em minhas mãos.

Suspirei, lembrando-me do acontecido na última noite, sentindo-me culpada.

Levantei-me e fiz minha higiene matinal. Tomei café da manhã na companhia de meu irmão.

–E então, Clarke? -Ele disse, comendo sucrilhos. -Como vão as férias?

Sorri.

–Estou indo no parque todos os dias.

Ele olhou para o relógio.

–Marquei de encontrar a Kelly em meia hora. Tenho que ir! -Ele disse. Kelly é a sua namorada.

–Ok então, Steph. -Eu disse, passando manteiga no pão. -Juízo! -Eu gritei, e ouvi sua gargalhada. Em seguida, a porta fechou.

Terminei rapidamente meu café e subi para meu quarto. Fiquei lendo meu novo livro de poesia e marquei-o distraidamente com a rosa.

Saí de casa e cheguei ao parque ofegante, pois tinha corrido.

Sentei-me no banco e esperei Rafael.

Por volta de 11h45, avistei um vulto negro se aproximando, no céu, até parar no meio do parque.

–Clarke? -Disse ele, com sua voz aveludada.

–Rafael.

Ele surgiu do meio das árvores, agora com uma camiseta branca e calça jeans.

Sentou-se ao meu lado, as penas das asas roçando e fazendo cócegas em meu braço.

–Ei, é um livro diferente. -Ele comentou, tomando-o de minhas mãos.

–Sim. -Eu respondi.

–Por que trocou o livro?

–Já tinha lido o outro várias vezes. -Eu respondi.

Ele folheou o livro, até chegar onde estava marcado com a rosa. Congelei.

–Não sabia que existiam rosas negras. -Ele disse, tomando-a nas mãos.

Eu não respondi nada, apenas fitei o chão.

–Existem? -Ele perguntou, fitando a rosa, com os olhos passando curiosidade.

–Não. -Eu respondi, bem baixinho.

Ele fitou-me, os olhos frios como gelo.

–Quem te deu essa rosa? -Perguntou.

Não respondi.

–Quem te deu essa rosa, Clarke? -Disse ele, aumentando o tom.

Inspirei fundo.

–Conhece um anjo chamado S? -Perguntei.

Os olhos de Rafael desfocaram-se.

–Foi ele quem te deu essa rosa? -Ele perguntou.

Não respondi.

–Foi ele, Clarke? -Perguntou Rafael.

Fitei-o. Seus olhos não mostravam emoção.

–Sim. -Eu disse, muito baixo.

Rafael fitou-me, e seu olhar atravessou-me.

–Sinto muito, Clarke. -Ele disse.

E então, levantou-se, andou até o centro do parque.

–Onde você vai? -Gritei.

–Sinto muito, Clarke. -Ele disse, exibindo um olhar de profunda tristeza. Um olhar que eu sabia: nunca vou conseguir esquecer.

Então, ele pulou, agitando as asas. E desapareceu no céu.

Uma fina garoa começou, como se o mundo se lamentasse pela perda de um ente querido.

Sem perceber, eu chovi também. Derramei lágrimas sobre meu livro.

Deixei a rosa e o livro no banco.

Memórias que nunca mais quero presenciar.

"Por que, meu anjo negro?"