Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 45
Capítulo 44 - Me torno um simples elo


Notas iniciais do capítulo

Oi! Ainda tem alguém por aqui?
Beeeem, depois de 7 meses, onze dias, três horas e uns quarenta e dois minutos, eu estou oficialmente ressuscitando essa fic com essa postagem! Yay!
A culpa não foi minha, foi da falta de inspiração e das crises existenciais, juro.
Enfim, vou deixar meus desabafos lá pra baixo. Aproveitem!



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— Porra, Shelly, facilita! — Ben reclamou.

— Essa não é a intenção — sorri ao observar a posição nada favorável da bola branca na mesa de sinuca depois da minha jogada totalmente aleatória.

Havíamos saído em grupo: Ben e Mel jogavam contra Jaden e eu. Dave e Clint estavam na máquina de dança vendo quem acertava 100% das músicas.

Ah, Jaden e eu estávamos namorando havia duas semanas e estava sendo maravilhoso. Não preciso nem dizer que Melinda me encheu a paciência ao dizer “Eu sabia” um milhão de vezes depois da notícia. A fins de afirmação, ela e Ben continuavam juntos e eles eram meu casal modelo. Eles eram tão gentis e compreensivos um com o outro e se olhavam com um carinho tão inestimável que era impossível não imaginar estar no casamento deles. Se eu conseguisse fazer a Jaden o bem que eles faziam um para o outro, eu ficaria satisfeita.

As primeiras semanas sempre são ótimas, perfeitas, lindas, o difícil seria lidar com as brigas, com a falta de paciência e com os desentendimentos depois... Porém, naquele momento, quis apenas aproveitar o que eu vivia, o cara incrível que eu tinha do meu lado. Por sinal, chamaram Jaden para ensinar boxe na academia duas vezes por semana e ele aceitou. Como pagar a academia não estava sendo mais tão viável, era uma forma dele continuar fazendo algo que gostava e recebendo alguns poucos dólares.

Havia pensado muito naquele meio tempo em alguma maneira de conseguir algum dinheiro para que Jaden quitasse sua dívida com Henry, mas nada me viera à mente. Ele não queria que eu me preocupasse com isso, já que fora ele quem a contraíra, porém eu não encontraria paz enquanto ele devesse dinheiro a um traficante de drogas. Os riscos que ele corria... as possibilidades não eram nada boas e eu não precisava da minha vidência para vê-las.

Tommy não me deu notícias nesse período de tempo. Ele enviou os fios para um laboratório especializado em análises de código genético e afirmou que dentro de uma semana me daria notícias do resultado. Ou seja, eu estava bem ansiosa, porque tinha se passado outra semana e ele não havia ligado ou mandado mensagem alguma. Para descontrair, aceitei o convite dos snakes para sair e fazer alguma coisa de divertido no fim de semana. Por sinal, não contei nada disso a eles ou à minha mãe. Por mais que eles estivessem disponíveis para esse tipo de assunto, era algo muito delicado e que pareceria incerto e duvidoso a outros olhos.

— Vocês ainda estão nesse jogo? — Dave perguntou ao se aproximar, arfante.

— Está empatado. — Jaden sorriu, olhando para Ben de forma divertida, enquanto ele tentava encontrar uma forma de encaçapar alguma bola.

— E vocês? Já cansaram, bando de sedentários? — Mel simulou mal humor, mas sorriu.

— A gente dançou umas três músicas e Dave já estava morrendo, fazer o quê? — Clint reclamou ao cruzar os braços, inconformado.

— Você é mais esportivo que eu, caramba — Dave retrucou, encostando-se na parede. — Chame outra pessoa na próxima, então.

— Achei que eu fosse a drama queen daqui — Ben comentou ao fazer uma tacada impossível e encaçapar a última bola da mesa que não era a branca.

— Cacete, Benners, caralho — Jaden xingou indignado enquanto Ben ria ao beijar Mel e eu fazia uma expressão de desagrado, não pela derrota, mas pela quantidade de xingamentos. Deus, que boca suja! — Tem alguma coisa que você não faça bem?

— Cálculos algébricos. Aquilo não é de Deus.

Revirei os olhos.

— Não demonize o que você não entende, McCarthy — reclamei.

— Muito bem, meu jovem — Mel sorriu abraçando-o.

— Foi uma boa partida — comentei sorrindo amistosamente para Jaden. Ele me deu um selinho carinhoso e me abraçou:

— Sim, foi.

— Os casais podem por favor parar de nos tornar candelabros? — Dave reclamou.

— Você só está amargo porque ainda não encontrou alguém para chamar de meu amor, Davie — Mel cutucou.

Dave bufou, revirou os olhos:

— Me poupe desse apelido.

— Afinal, Clint, onde está seu namorado? — indaguei. — Faz tempo que ele não anda com a gente

— Trabalhando, para variar. — Clint rolou os olhos, claramente chateado. — Às vezes acho que ele não gosta mais tanto de mim.

— Não acho que seja isso, cara. — Jaden interveio dando de ombros. — Trabalhar, estudar e namorar não é nada fácil, falo por experiência própria. É fácil perder o rumo.

— E você acha mesmo que ele ia deixar um galã desses de lado sem uma razão minimamente aceitável, carnuck? — Ben complementou com seu jeito bem-humorado.

— É, vocês têm razão. — ele mudou o foco da conversa e eu não soube dizer se ele estava inteiramente convencido. —Vamos comer algo? Estou faminto.

— Você não é o único, vai por mim — Mel apoiou a ideia.

— Vamos para o Tim Hortons, pelo amor de Deus, aquele lugar é divino — Ben implorou.

Não tinha como não os ter apresentado ao Tim Hortons, pois todos sabemos que é melhor que o Starbucks.

— Não seja traíra, Ben, o Starbucks é melhor — Dave afirmou.

Clint e eu olhamos para Dave com uma mistura de “conte outra”, “definitivamente não” e “saia daqui”. Jaden riu, aquela risada breve e espontânea que eu amava ouvir e ver:

— Cara, entenda que essa causa é perdida. Estamos em Vancouver, temos dois canadenses no grupo e o Tim Hortons é realmente melhor que o Starbucks, vai por mim.

Sorri ao ver que ele concordava comigo.

— Adoro os donuts de lá, mas quando se trata de café... — Mel opinou.

A discussão durou até chegar no Timmies, onde nos servimos com uma mistura ótima de café da manhã e almoço. A conversa de temas incomuns me rendeu risadas e descontração. Quase no fim da refeição, senti meu telefone vibrar.

— Vou ao banheiro — informei, mas apenas Jaden me lançou uma piscadela. Droga, Jaden, não seja tão distrativo. Sorri em resposta.

Chegando lá, atendi ao telefone:

— Tommy?

Olá, jovem coruja. Está ocupada?

— Estou com os snakes. Alguma notícia?

O resultado do exame saiu.

Me senti tão ansiosa que as pernas tremeram. Entrei numa cabine e sentei na tampa do vaso:

— E então?

Silêncio de uns dois segundos e finalmente ouvi a voz de Tommy:

Shelly, eu mal pude acreditar quando vi que deu positivo.

— Então Jaden realmente... — não pude completar a frase.

Jaden é o menino que perdi no tiroteio, o primogênito e herdeiro legítimo dos Lancaster.

Levei a mão à boca, sem palavras. Era real. Aquilo era verdade. Todas aquelas visões eram reais. Como diríamos aquilo para Jaden? Ele ainda sentia bastante a morte dos Pendlebury, como eu contaria sobre os Lancaster? Falar sobre os Lancaster era falar de Eleanor. Eleanor... gelei por dentro.

Shelly? Ainda está na linha?

— Sim, estou. — retomei minha voz depois de engolir seco. — Como... como faremos? Os Lancaster já sabem?

Acabei de contar a eles a história toda.

— Como foi?

A senhora Lancaster quase desmaiou, está ansiosa para reencontrar Jaden.

Hesitei, mas perguntei:

— E ele?

Mr. Lancaster está bastante tocado, por mais que não demonstre muito. Eles querem conversar com você.

Me surpreendi:

— Comigo? Por quê?

Bem, foi você que me deu os fios de cabelo dele e você é a namorada dele. Eles querem saber a melhor forma de se aproximar.

Mordi a bolinha do canto da boca e suspirei, nervosa.

— Quando?

Hoje mesmo.

— Hoje?! Mas hoje é o dia de folga de Jaden, havíamos combinado de passar o dia juntos e com os snakes.

Tem como dar alguma desculpa?

— Não queria mentir. Já basta as coisas que oculto dele.

Ah, mas logo tudo será revelado, certo?

— É — menti, desconfortável. — De que horas?

Às 05:00 p.m. dá certo?

— Dá, eu só tenho que pensar em alguma coisa. Onde?

Na mansão Lancaster.

— Eu não sei onde fica.

Eu lhe buscaria em algum canto, talvez na entrada do Stanley Park.

— Às 4:30 p.m. no Stanley, então?

Combinado. Até logo, jovem coruja.

— Até logo.

Saí da cabine e Mel me esperava com uma cara desconfiada.

— Mel?! — me surpreendi como quem é pega em flagrante. — Quer usar?

— Com quem exatamente você estava falando?

— Com minha mãe — respondi de imediato. — Por alguma razão desconhecida, ela quer caminhar comigo no Stanley Park no fim da tarde.

— Ah, um momento mãe e filha — a expressão de Mel se suavizou. — É bem saudável. Será que ela está sentindo sua falta agora que você e Jaden começaram a namorar?

— Ah, vai saber, né? Talvez sim. Vamos aproveitar o tempo que nos resta, então.

************

Recostada no banco do BMW de Thomas e vendo as grades e muros da segunda mansão Lancaster, eu só pude pensar no quanto aquele dia estava surreal. Eu estava prestes a conhecer o casal das minhas visões, prestes a falar para eles sobre como o filho deles havia mudado naqueles catorze anos que eles passaram separados.

Sendo bem franca, eu tinha minhas dúvidas se aquilo era o melhor a se fazer, afinal, os Lancaster eram uma família bem complicada: Angel traiu o marido em algum momento, David era frio e amargurado, Carter era um rebelde e Eleanor corria risco de vida. Contudo, minha esperança era que eles fossem gentis e acolhedores com Jaden. Por mais que Jaden não demonstrasse na maior parte do tempo (provavelmente devido às suas ocupações), eu sabia que ele sentia falta de sua família, dos seus pais adotivos. E eu ainda me sentia responsável pela morte deles. Tinha aliviado bastante, mas não se esquece esse tipo de trauma de uma hora para outra.

Eu já lhe disse, Shelly, essa é uma constante. Ele vai encontrar os Lancaster de uma forma ou de outra”, Elizabeth lembrou.

Eu sei”.

Apesar disso, achei bom me encontrar com os Lancaster antes de Jaden. Dessa forma, poderia ver como eles agiam com os filhos e reagiam com as notícias de Jaden. Queria me certificar que ele ficaria bem. Não podia me dar ao luxo de falhar com ele de novo. Não com ele.

O carro parou diante de uma casa de primeiro andar grande, bem maior que a de Ben, mais larga, a maior casa que já havia visto na minha vida — pelo menos pessoalmente, porque eu tive a impressão de que a mansão Lancaster legítima era maior que aquela casa. De qualquer forma, a casa tinha um tom creme, era larga, de portões altos, com um jardim esplendoroso na frente. Desci do carro e Tommy ficou diante de mim, parecendo um pouco nervoso, mas compreensivo.

— Está pronta, jovem coruja?

— Nem um pouco — admiti.

Entrei na mansão e ela era mais linda por dentro do que por fora. Ela era toda branca com detalhes em dourado, portas de madeira que lhe empregavam um ar rústico, flores em lindos vasos de porcelana e de barro.

— Shelly Revenry? — uma empregada me indagou.

— Sim?

— Mr. e Ms. Lancaster lhe aguardam no escritório, que fica naquele corredor à direita, na terceira porta à esquerda.

— Obrigada.

— Ah, o senhor também, Mr. Callahan.

— Obrigado, Miss. Campbell. — ele piscou para a mulher.

Caminhamos e chegamos à sala. Tommy fez a gentileza de abrir a porta para mim e me deparei com David e Angel Lancaster conversando baixo, ambos em pé, um de frente para o outro. Me surpreendi com Angel. Sim, ela estava um pouco mais velha, mas sua postura de dama era impecável. Foi impossível não lembrar da traição dela, mas disfarcei meu mal-estar. David me olhou, parecendo constrangido.

Olhei ao redor. O escritório era repleto de livros, com uma escrivaninha mais ao fundo e com poltronas aparentemente confortáveis suficientes para cinco pessoas. As prateleiras eram de madeira e o local tinha a iluminação amarelada do pôr-do-sol, o suficiente para todos se verem, mas escura o bastante para eu não identificar nenhum título dos muitos livros. Havia uma mesa de centro com chá e alguns biscoitos.

— Boa tarde — cumprimentei educadamente.

— Boa tarde — ambos responderam em uníssono.

— Vejo que Tommy foi excepcionalmente pontual, como sempre. — Ela sorriu gentilmente para meu amigo, que sorriu de volta tranquilamente. — Meu nome é Angel Channing Lancaster e você já conheceu meu marido, decerto. Prazer em conhece-la. — Mrs. Lancaster estendeu a mão para mim e eu a apertei. Aperto suave e cordial. Olhei-a atentamente. Depois de vê-la nos meus sonhos, era estranho apertar sua mão com tanta naturalidade.

— Igualmente — respondi saindo do meu devaneio, dando um sorriso agradável.

— Sente-se, por favor — Angel me indicou uma das poltronas do escritório com uma acústica bem favorável para se guardar segredos. — Aceita chá? Água? Café? Cookies?

— Não, obrigada. — Tinha certeza de que eu iria me engasgar se tentasse comer ou beber alguma coisa. A situação era insólita.

Seguiu-se um silêncio tenso, como se ninguém, até mesmo a bem-articulada Dama Lancaster, soubesse como começar.

— Inicialmente, peço desculpas pelo último encontro que tivemos, Miss Revenry — David começou. — Foi... desconfortável.

— Para não dizer horrível ou péssimo — resmunguei, ainda ressentida. Tommy me olhou com uma expressão curiosa. David me olhou com uma sobrancelha erguida.

— Agradecemos por ter aceitado o nosso convite e peço desculpas pelo mal humor do meu marido, mas tivemos inúmeras pessoas que disseram o mesmo que você com a infelicidade da mentira — Angel optou por contemporizar. Ela tinha uma voz conciliadora, baixa, macia. — Como sua mãe está?

— Está bem, obrigada.

— No que ela trabalha?

Ela estava tentando nos deixar mais confortáveis. Sua lábia era impecável. Contudo, eu não sabia se ela tinha ciência do antigo caso entre a minha mãe e seu marido. A expressão de David era indecifrável, então optei por dar respostas gerais:

— Ela é secretária de uma construtora.

— Ela gosta do que faz?

— Aparentemente sim.

— É casada?

— Não, ela só se envolveu com o meu pai por cinco anos, no máximo, depois se separaram.

— Entendo. O que você pretende fazer quando concluir o ensino básico?

— Não sei. As possibilidades são infinitas.

Angel sorriu, finalmente indo para o assunto do seu interesse:

— Tommy disse que você e Jaden se conheceram na escola — sua voz tremeu pela primeira vez na conversa, então resolvi assumir a fala:

— Sim. Ele era um aluno novo na escola em que eu estudo e uma professora o fez sentar-se ao meu lado. Ele também era meu vizinho, ele morava na esquina e eu no meio da mesma rua.

— Como assim, morava? — David finalmente se pronunciou.

— Atualmente ele está morando em um apartamento em Chinatown e eu moro em Kerrisdale.

Contei a história dos Pendlebury sobre a adoção de Jaden.

— Eles o encontraram naquele dia — David concluiu. — O que eles fizeram é crime. Quando eles faleceram?

— Dezembro passado — Tommy respondeu por mim. — Por isso que ele quis ficar em Vancouver e precisou de Don.

Pela primeira vez, Angel demonstrou sua ansiedade:

— Vai ser tão complicado dizer isso a ele...

— Sim, vai. — Pensei em minhas preocupações sobre os Lancaster: valia mesmo a pena?

— Como ele é? — David indagou.

— Ele é uma ótima pessoa. — Falar bem de Jaden não era uma tarefa difícil. — Ele toca violino, participava da filarmônica de Sacramento. Toca muito bem. Também é instrutor de boxe em uma academia em Gastown, é bom em biologia. É compreensivo, gentil, amável.

— Como você descobriu que ele era nosso filho? — David questionou novamente.

Resolvi seguir um conselho que Tommy me dera antes de entrarmos no carro: não contar aos Lancaster nada sobre minha habilidade. “Eles podem ser bastante materialistas quando querem”, ele afirmara.

— Achei que era uma boa possibilidade. Depois que Melinda me falou que Tommy trabalhava para vocês, que um garoto estava perdido e quando descobri que Jaden era adotado, achei que pudesse ser muita teoria da minha cabeça e deixei de lado. Mas... — Parei ao lembrar dos Pendlebury. Ainda era algo delicado. — Os Pendlebury faleceram e eu pensei que Jaden precisaria de uma família. E a possibilidade de ele ser filho de vocês voltou à minha cabeça. Conversei com Tommy, ele aceitou minha proposta, mandamos o DNA dele para um laboratório e o resto da história vocês já sabem.

Novo silêncio, dessa vez reflexivo.

— Eles eram bons pais? — Angel perguntou.

— Sim. Eram muito gentis. Adele só fez o que fez porque havia perdido um filho, ele morreu pouco tempo depois de nascer.

Pude ver os Lancaster ponderando: isso justificava o ocultamento de uma criança perdida?

— O que Jaden achou disso? — David Lancaster perguntou por fim.

— Ele os perdoou, no fim das contas. Resta saber se vocês são capazes de fazer o mesmo. — Senti o telefone vibrar: Jaden, isso é realmente hora de ligar? — Tenho que atender. Licença. — Me levantei, me afastei para um canto do escritório e atendi: — Jaden?

Eu não podia sussurrar ou ele iria estranhar, então senti os olhares dos Lancaster cravados em mim.

Ei! Tá tudo bem?

— Claro! Por que não estaria? — meu tom de voz quase pareceu casual demais.

Por nada, por nada. Só pensei em te ligar mesmo.

Sorri, meneando a cabeça. Era difícil ser natural quando você estava com os pais biológicos do seu namorado e ele não sabia disso.

— Você tem seu lado romântico, meu jovem rapaz. — brinquei, tentando agir naturalmente.

Corta essa — ele reclamou, mas seu tom de voz dizia que ele ficou satisfeito com o elogio. — E então, tá sendo legal com a sua mãe?

— É, ela queria mesmo um momento mãe e filha. Acabou que não saímos de casa porque começou a chover e eu não estava com muita vontade de sair de novo, então resolvemos assistir filme.

Vi os Lancaster surpresos com a minha habilidade de mentir, aparentemente.

Qual?

— Matrix. Tentaremos ver a trilogia toda hoje. — Que bom que minha mãe e eu já tínhamos assistido tudo.

O primeiro é ótimo, mas tenho minhas dúvidas quanto à trilogia.

— Eu gostei do fim da trilogia, acho que representa bem que não dá para ter só bem ou só mal existindo.

Tommy me olhou estranho, como se falasse: “Você realmente está discutindo a trilogia Matrix agora, jovem coruja?

Podemos discutir isso pessoalmente, tenho que jantar agora.

— Se você jantar cup noodles de novo...

Eu não vou jantar cup noodles, chihuahua. Mr. Wang me deu yakissoba para jantar.

— Acho bom.

Te vejo amanhã?

— Claro. Podemos jantar juntos aqui amanhã.

Fiz a proeza de colocar acidentalmente o celular no alto-falante. O que o nervosismo não faz...

Não é má ideia. — Assim que notei meu engano, tentei desativar a função, mas Angel ergueu a mão em desespero e fez sinal para que continuássemos conversando. — Você já fez a atividade de física? Está difícil.

— Ainda nem toquei nela.

Você está me saindo uma péssima influência, Revenry. — ele brincou. Angel sufocou algo entre uma risada e um soluço e os olhos de David brilhavam. — Enfim, sua mãe já deve estar mandando você desligar...

— Não, ela foi fazer mais pipoca para nós para assistirmos o segundo filme da trilogia. Podemos conversar mais um pouco. — Ao finalmente notar a situação em que me encontrava, gaguejei: — É... é tão bom conversar com você, meu amor.

Tive que fazer um esforço para a minha voz não tremer ao ver o rosto de Angel banhado em lágrimas. Eles estavam tão perto e tão longe...

Posso dizer o mesmo. Obrigado parece muito pouco para o que eu queria te dizer, Shelly, mas você tem sido uma luz muito grande na minha vida. Obrigado. — As lágrimas foram inevitáveis e eu funguei. — Não me diga que você está chorando.

— Isso foi lindo, Jaden, pelo amor de Deus. — Inventei uma desculpa rapidamente: — E eu já estava comovida com Trinity e Neo...

Isso é TPM, Shelly? — ele brincou para levantar meu astral. — Porque o romance deles no primeiro filme é forçado pra caralho.

Forcei uma risadinha:

— Deus, ainda não me conformo com sua boca suja. — As lágrimas continuavam a rolar. Como eu estava conseguindo?

Ele riu.

Ok, eu levarei chocolate para você amanhã.

— Eu tenho o melhor namorado do mundo — afirmei, tentando conter minhas lágrimas. — Minha mãe voltou, eu vou desligar agora. — Se eu tivesse que prolongar mais a conversa, eu falharia miseravelmente e Jaden perceberia que algo estava errado.

E eu tenho um yakissoba para comer antes que esfrie, então...

— Até amanhã.

Até amanhã, chihuahua. Mande um abraço para a sua mãe, ok?

— Ok. Tchau.

Tchau.

Desliguei. A despedida pode ter parecido fria, mas “até amanhã” equivalia a um “eu te amo” para nós. Angel procurou se conter, enxugando o rosto, e David parecia se esforçar para não chorar. Por um instante o silêncio preencheu a sala.

— Meu Deus, era ele... — Angel sussurrou por fim. — Era a voz dele, Davie, a voz do nosso filho...

Ele concordou com a cabeça, como se a voz lhe tivesse sido roubada. Procurei me conter também, esfregando meu rosto. Tommy assumiu, vendo que a comoção reinava:

— Precisamos pensar em uma maneira de contar isso a ele.

— Sim, Tommy. — Angel respirou fundo, parecendo melhor. Serviu-se de uma xícara de chá enquanto David fazia o mesmo, porém servindo-se de café. — Uma sugestão seria algo bem aceito agora.

Elizabeth?

Oi, boa noite! Ótimo show-up!” Ela continuava tão sarcástica como sempre.

Elizabeth, é sério. Temos que pensar em uma forma de reuni-los”.

Eu já lhe disse: isso acontecerá com ou sem a sua ajuda”.

“E com a sua ajuda?

Ok, posso direcionar vocês. Comecemos pelo óbvio: Jaden provavelmente acha que eles nunca o procuraram”.

— Temos que saber o que ele pensa sobre vocês — sugeri rapidamente antes que o silêncio ficasse longo demais.

— Verdade. Ele pode achar que nós o abandonamos. — David considerou.

— Deus, isso é terrível. — Angel comentou, triste.

— É sim, mas posso ir preparando o terreno, supondo dificuldades e sugerindo empatia. — me voluntariei.

— Quando vamos nos encontrar? — David indagou.

— Seria interessante ser no aniversário dele. — sugeri.

— Daqui a duas semanas?! — Angel pareceu chocada.

— É uma promessa. E venhamos e convenhamos, será o melhor momento. Ele fará 18 anos. O começo e o fim de um ciclo.

David e Angel se entreolharam. A dama estava com as mãos crispadas, a expressão contraída. Já ele parecia em dúvida.

— Mas não seria um choque muito grande falar isso no aniversário dele?

— Pode ser — concordei, começando a formular uma ideia na minha cabeça. — Mas podemos usar isso ao nosso favor.

Os três olharam para mim.

— O que exatamente você pretende, jovem coruja? — Tommy indagou curioso.

— Apenas ajuda-los a fechar um ciclo. Eu tenho um plano, mas vocês precisarão de paciência e muito autocontrole.

— Há riscos de falha? — Angel indagou.

— Vai depender apenas de vocês. — respondi com simplicidade, mas pude me sentir tão interessada que tenho certeza de que minhas bochechas estavam vermelhas pela perspectiva da mais pura possibilidade das coisas finalmente darem certo.

— Bem, vamos debater, então. — David decidiu.

Comecei a contar a minha ideia para eles.


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Notas finais do capítulo

Qual será essa ideia, hein?

Gente, sério, mil perdões pela sumida de meses, mas vou tentar explicar: semestre passado eu paguei 7 disciplinas na faculdade, sendo que sou de letras e uma disciplina era uma eletiva de psicologia. Pelo amor de Deus, NÃO SEJAM LOUCOS A ESSE PONTO. Quase enlouqueci de estresse e a inspiração me fugiu porque eu só sei ser produtiva quando tenho algum ócio.

Felizmente isso está sendo possível nesse semestre (só 4 disciplinas :3 ), então, além desse, já tem praticamente dois capítulos escritos e o terceiro já está em planejamento. Eu deveria postar os três, mas não os sinto prontos ainda, tenho que fazer ajustes porque escrevo de uma maneira meio louca, espero que vocês não se importem com isso.

Outra coisa que queria falar: sinto falta dos comentários de vocês. Eu já estava sentindo isso nos três, quatro últimos capítulos postados, mas não quero ser a chata que pede por comentários, quero deixar vocês à vontade. Então decidi que vou colocar, em cada nota final de capítulo, o nome dos leitores que comentaram no capítulo anterior. Isso não é para estimular ego ou algo do tipo, mas é uma forma de agradecimento sincero a todos que leem e opinam sobre o que leem.

Não sei se farei isso do começo —demandaria um tempo que não tenho —, mas começarei a fazer agora, afinal nunca é tarde, certo? Eu tinha feito isso no último capítulo da primeira parte, onde eu coloquei o nome de todos (sim, TODOS) os que comentaram, deram um feedback construtivo, mas o site deu algum erro e não consegui, aí morguei (podem me culpar agora).

Aqui será uma exceção, porque colocarei o nome de quem comentou até agora porque sim, preciso agradecer a vocês. Bem, vamos aos nomes:
thesecretwriter
Lets M
Luis F
HannibalBarca
CandyRoad6/Connor Hawke
Lahana
Marys Araújo
Mila Karenina
Luis Jeová
Thiago Barros
ServineHXP
thompsgody
Kori Hime
Mari Castelo
Xavier Netto
Danny
Fênix
Luciana
Key Potterhead
Se você leu isso até aqui, parabéns, você está utilizando os minutos da sua vida com sabedoria.
Abraços e até logo ♥



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