Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 46
Capítulo 45 - Sondagem e algo a mais


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Sim, estou postando esse capítulo apenas uns 15 dias depois que postei o outro.
Como eu disse nos avisos da história, aproveitem!
Para o fim do capítulo, tive como inspiração "Versace on the Floor", de Bruno Mars [guardem esse link e o usem quando acharem mais apropriado]: https://www.youtube.com/watch?v=KgrgBa7GkBU
Espero que gostem!



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 Estava em um lugar peculiar: um parque de skates repleto de skatistas. Carter observou a conversa de alguns caras:

— Caralho, vocês viram aquele flip mal feito? — um deles debochou.

— Parece que nunca andou de skate na vida — o segundo comentou, cruzando os braços.

— Ele vai passar a semana dolorido.

— Eu faço melhor — Carter sorriu entediado, aproximando-se.

— Sério, pirralho? — eu entendo a incredulidade do primeiro cara, o garoto era magro e parecia bem novo, talvez uns 12 anos. O cabelo castanho estava bagunçado, usava uma camisa preta e um jeans rasgado manualmente, pelo que tudo indicava. A tentativa de ser “durão” parecia falha, pois Carter parecia um menininho tentando ser adulto.

— Claro. — ele me pareceu bem autoconfiante. Pegou o skate e fez um double flip perfeito.

— Nada mal para um guri de... 11, 12 anos?

— Treze — Carter corrigiu, aparentemente tentando ignorar o desconforto da confusão com a sua idade.

— Quer aprender alguma coisa nova?

— Se eu já não souber...

O cara riu, divertido.

— Tenha um pouco mais de humildade, pirralho, é bom para os iniciantes.

— Ando de skate desde os 10, scumbag. Você não me faria nenhum favor.

Acordei com o despertador tocando: 6:00 p.m. Desliguei e logo me levantei. Deus, eu realmente estava levando a sério a reunião de Jaden com os Lancaster? Que cara arrogante. Talvez ele tivesse melhorado, ele não me pareceu tão chato quando eu o tirei da rua para não ser atropelado.

Fazia cinco dias que eu tinha conversado com os Lancaster e eu ainda não tinha tido coragem de perguntar para Jaden o que ele pensava dos seus pais biológicos. O problema é que o aniversário dele era dali a uma semana e eu não havia nenhum tipo de informação sobre o que meu namorado sentia em relação aos seus pais biológicos.

Acho que dá para você conversar hoje com ele sobre isso”, Elizabeth sugeriu.

Certeza?”, perguntei.

É uma possibilidade”, ela deu a resposta que eu menos gostava. “Acha que consegue transforma-la em realidade?

Preciso”, foi o que respondi.

Tomei banho, me arrumei e desci as escadas.

— Bom dia, mãe — cumprimentei.

— Bom dia — ela me deu um beijinho na testa quando me sentei à mesa. — Estava pensando... — ela hesitou.

— Sim?

— Você acha que dá certo eu fazer dança de salão? Abriu uma academia aqui perto e eu sempre quis aprender tango...

— Ah, claro! — Fiquei feliz pela iniciativa dela. — Já fez a matrícula?

— Bem, acho que farei hoje. — ela sorriu animadamente.

 — Nossa, fico feliz por você, mãe. Faça mesmo!

— Você quer fazer? Podíamos fazer juntas, se você quiser.

— Não faz muito o meu estilo, mãe.

— Entendo. — Mesmo a minha recusa não a desanimou. — Vou fazer de qualquer maneira, então.

— Minha mãe vai ser dançarina! Yaaay! — Dei um abraço nela.

Depois de terminar o café da manhã, saí de casa e me peguei pensando na minha mãe. Será que ela tinha muitos sonhos antes de me ter? De quantos planos ela desistiu por minha causa? De qualquer forma, me animei por ela, pelas possibilidades boas que podiam acontecer na vida dela.

Como eu ainda imaginava boas possibilidades se eu via tantas ruins? Não saberia dizer.

Cheguei na escola e os snakes já estavam lá.

— Eu já te disse, Ben, não foram naves extraterrestres que se chocaram contra as torres gêmeas. — Mel tentava explicar.

— O que confirma isso? Só a mídia, mas ela foi corrompida pelo governo — Ben afirmou e Mel bateu na própria testa.

— Clint, me ajude — ela apelou.

— Olha, eu não duvido de nada — Clint procurou não se envolver na discussão.

— Shelly... — ela começou, mas cortei logo:

— Eu não vou responder isso — afirmei rapidamente e antes que houvessem objeções, compartilhei uma ideia que tive no meio do caminho: — O aniversário de Jaden é daqui a oito dias. O que vocês acham de fazer uma festa surpresa para ele?

— Gostei da ideia — Ben aparentemente abandonou a ideia dos aliens.

— É uma boa. — Dave aceitou. — Apoiado.

— Posso fazer um bolo — Clint se ofereceu.

— E eu faço cookies — Mel se adiantou.

— Mas é segredo, ok?

Ben rolou os olhos.

— Já fizemos uma festa surpresa antes, Queen Marie. Não nos subestime.

Ri com a afirmação:

— Ok, ok.

Jaden entrou na sala.

— Jaden, você também acha que aliens bateram nas torres gêmeas? — Ben indagou imediatamente.

Ele fez uma expressão confusa:

— Por que diabos eu acharia isso?

— Porra, Jaden, achei que você fosse meu amigo. — Ben reclamou e os snakes sorriram.

— Eu sou, mas não tem como ver espaçonaves ali. — Ele abraçou, me deu um beijo rápido e me cumprimentou: — Bom dia.

— Bom dia.

A discussão prosseguiu por uns dois minutos até a professora de francês chegar. A aula foi normal e eu não gostava da professora, então me limitei a desenhar Carter fazendo o double flip.

— Shelly Revenry.

Rolei os olhos mentalmente. Eu tenho alguma placa de “Professores, chamem a minha atenção” na minha testa, pelo amor de Deus?

Acho que o fato de você ser tão branca a ponto de quase brilhar no sol ajuda”, Elizabeth respondeu em um tom de voz divertido.

— Sim? — respondi.

— Não compreendi — ela falou em francês.

Sim?

— Poderia conjugar no passado o verbo sentar para nós? — Fiz o que ela pediu. — Obrigada.

Disponha.

Ia continuar meu desenho quando Jaden me cutucou discretamente:

— Você proferiu alguma feitiçaria?

Sorri, meneando a cabeça:

— Foi só conjugação verbal, Jaden.

Continuei a desenhar Carter e pouco tempo depois Jaden perguntou através de um bilhetinho:

Podemos sair mais tarde?

Claro”. Terça-feira não tinha boxe para ele, então aproveitávamos para sair. “Alguma sugestão?

Kitsilano”, foi a resposta imediata. Ele adorava aquela praia.

Fechado. Te encontro no mercado às 6 p.m.”

No intervalo, aproveitei que Jaden foi ao banheiro com Ben e começamos a planejar o aniversário surpresa do meu namorado:

— Quem vamos chamar? — indaguei.

— Acho que nossos pais vão querer participar. — Mel considerou.

— Vai caber todo mundo dentro daquele quartinho? — Dave questionou. — Já contei umas doze pessoas prováveis e tenho certeza de que estou esquecendo alguém.

— Bem, a gente se vira, certo? — Clint deu de ombros. — É possível. Não seria a primeira ou a última vez.

— Faremos tudo lá ou levaremos das nossas casas? — Mel perguntou.

— Serão apenas doces ou levaremos algo salgado também? — Clint parecia fazer uma conta mental.

— Voto por levarmos Doritos. — Dave sugeriu. — Jaden adora aquela porra.

— Vamos dar um jeito de discutir isso ao longo da semana, porque terão algumas implicações. — afirmei ao ver Jaden e Ben saírem do prédio da escola.

— Implicações? — Clint franziu o cenho.

— Depois, Clint — Mel pediu. — Eles estão voltando.

— Todo mundo sabe que Ruffles é mil vezes melhor que Doritos — Dave começou uma discussão aleatória em voz alta, para despistar.

Ao ver a expressão de Jaden quando ouviu aquilo, soube que viria uma discussão que duraria todo o intervalo. Sorri em expectativa.

********************

Jaden e eu andávamos de mãos dadas por Kitsilano quando resolvemos ir para a passarela sobre a água. A noite estava fresca e estrelada, pessoas iam e vinham. Algo que eu nunca disse sobre a passarela: estava mais para um mini porto e era propriedade privada, então tivemos que discretamente pular a cerca que a separava do restante da orla.

— Não acho que você seja uma boa influência para mim, Queen Marie — ele comentou ao pular o portão gradeado de ferro e me ajudar a fazer o mesmo.

— E nem você para mim, Cap. — retruquei em um sorriso esperto enquanto escalava o portão. Seu sorriso continuava a fazer meu coração dar umas batidas a mais por minuto.

Ele me pegou e me colocou de volta no chão. Seu cheiro cítrico era reconfortante e familiar como a sensação de ter algum lugar no mundo. Depois de um selinho leve, entrelaçamos nossos dedos e começamos a caminhar pelo mini porto. Paramos no fim da passarela, perto do poste, e nos apoiamos no parapeito que havia. Jaden me abraçou de lado e segurou minhas mãos, olhando para a água, pensativo.

Não pude deixar de lembrar da vez que fui ali com Elizabeth. Ela estava um tanto diferente naquele momento, mais contida, como se esperasse por algo. Ela pareceu bem mais descontraída quando me ajudou a salvar Eve McCarthy e o pensamento de que algo mais perigoso do que aquilo poderia acontecer não me consolou nem um pouco.

— Você está quieto hoje — comentei preocupada, tentando me desligar das minhas preocupações. Ele sorriu e seu sorriso pareceu tão suave e calmo quanto as águas da English Bay.

— Estou cansado, é só isso.

— Era só termos ido para o seu apartamento — sugeri.

— Eu precisava sair. Desopilar.

Ele está triste, sabe”, Elizabeth comentou.

Eu notei”, respondi tentando não parecer chata.

Acariciei o rosto de Jaden, encontrando sua melancolia em seus olhos:

— Você está triste.

— É, estou — ele admitiu ao notar que eu havia notado seu sentimento.

— Por quê?

— Hoje seria o aniversário do meu... — ele hesitou e prosseguiu depois de uma respiração profunda. — De Robert. 10 de fevereiro.

— Oh, meu amor, por que você não me disse isso antes?

— Tentei esquecer, deixar de lado. Tentei não lembrar. — Jaden continuava a olhar para a praia.

— Não é tão fácil, é?

Ele meneou a cabeça, encostando sua testa em nossas mãos entrelaçadas e se aproximando mais de mim, aconchegando-se no meu abraço.

— Não é nada fácil.

— Você sente falta de ter uma família?

Ele se ergueu, olhando para a água.

— Sim, sinto. Eles fazem muita falta. Eles não eram meus parentes biológicos, mas eles eram meus pais, afinal.

— Às vezes ainda tenho pesadelos sobre o acidente — revelei sincera. Ele voltou-se mais para mim, parecendo me observar melhor:

— Não foi culpa sua.

— Eu sei... eu acho.

Ele acariciou minha testa.

— Achei que você já tinha superado isso.

Suspirei:

— Quando é que a gente supera de verdade alguma coisa?

Sua expressão tornou-se pensativa. Depois, reclamou:

— Caramba, Shelly, pare de derreter meu cérebro.

Sorri.

— Desculpe, só são reflexões. O que você pensa sobre seus pais biológicos?

— Me pergunto se eles me procuraram ou se eles me deixaram.

— Acho que eles te procuraram como loucos — tentei direcionar sua opinião.

Ele pareceu pensar:

— Adele e Robert disseram que me encontraram vagando na rua, sozinho e na chuva. O que teria me levado a essa situação? Meus pais eram tão descuidados assim?

— Não acho que tenha sido falta de cuidado. Pode ter acontecido algo sério.

— Às vezes eu fico me perguntando como eles são, se eu pareço com eles, se ficariam felizes em me encontrar.

— Você gostaria de encontra-los?

Jaden sorriu e quase pude identificar algum sarcasmo em seu sorriso:

 — Bem, meu aniversário é daqui a uma semana.

Saí do seu abraço:

— Você ainda não acredita em mim. — rolei os olhos e fiz uma expressão de tédio. — Mas não faz mal, eu cumprirei minha promessa. Dia do seu aniversário, não esqueça.

Ele suspirou, parecendo chateado.

— Isso parece uma brincadeira de mau gosto, sabia?

— Por quê? — indaguei já imaginando a resposta.

— Menos de dois meses depois da morte dos meus pais de criação, você quer que eu conheça minha família biológica.

É, foi essa a resposta que imaginei.

— Com ou sem a minha ajuda isso iria acontecer, Jaden.

— Como você pode saber?

Pois é, Shelly, como você pode saber?”, Elizabeth me indagou.

Você me disse, espírito estúpido”, respondi.

Rude? Sim, mas eu me irritei com aquele questionamento.

Respirei fundo, tentando me acalmar.

— Jaden, eu só quero fazer isso porque eu não quero que você fique só, quero tentar compensar... o que não pude fazer.

Ele entrelaçou os dedos na nuca, mexeu o pescoço e pôs as mãos no bolso, por fim.

— Ok, então. Você tem uma semana.

Mordisquei a bolinha do canto da minha boca, desconfortável. Aquilo parecia ser um tópico delicado entre a gente. Acabei por me afastar e me sentar no piso em madeira do porto, as pernas para fora como se a qualquer momento eu pudesse simplesmente descer e sair nadando por aí. A vida poderia ser menos complicada. Depois, acabei por me deitar e vi que Jaden continuava a olhar o horizonte distraidamente com a mandíbula travada, como acontecia quando ele ficava irritado ou chateado com algo.

— Eu só quero que você fique bem — expliquei olhando para o céu. Notei com a visão periférica que ele olhou para mim. — Quero que você se sinta acolhido e feliz. — Engoli em seco ao lembrar que os Lancaster não eram necessariamente uma perspectiva de felicidade total, mas ter esperança demais era um problema? Olhei para Jaden e ele continuou a olhar para mim. — Não faço as coisas para pisar em sua dor ou algo do tipo, é a última coisa que quero fazer. Faço porque gosto muito de você.

Suspirei, sentei e fiquei olhando para a água por um tempo, procurando desfazer o nó que tinha se instalado na minha garganta.

Belo encontro de solidões, devo dizer”, Elizabeth comentou.

Como assim?”, indaguei.

Vocês dois são sozinhos, cada um ao seu modo”, ela respondeu.

No fim das contas, todos nós somos e estamos sós no universo, não?”, refleti.

Profundo”.

Mais uns cinco segundos de silêncio e pedi:

Desculpe, fui rude naquela hora”.

Tudo bem. Você não entendeu os propósitos da pergunta, de qualquer forma”.

Os propósitos? Como assim?

— Ei — Jaden sentou-se do meu lado. — Tá tudo bem. Agradeço o que você está fazendo por mim e o que você tentou fazer, mas não pôde. Desculpa por não entender tudo. Também gosto muito de você e acho que faria algo do tipo na sua situação. — ele depositou um beijo generoso na minha testa. — Podemos nos abraçar agora?

Olhei-o atentamente. Certo, ele também não estava vivendo uma situação das mais simples: ele tinha que batalhar pela própria sobrevivência, devia dinheiro a um traficante, estudava, era instrutor de boxe e namorava uma garota que se dizia vidente e que queria fazê-lo encontrar os pais biológicos no dia do aniversário dele.

E, no fim das contas, o que mais importava: eu gostava dele. Admirava seu esforço e o quanto ele tentava não corromper seu espírito com as coisas tristes que lhe ocorriam. Gostava do seu sorriso que me lembrava as estrelas mais brilhantes e gostava da sua personalidade prismática, adaptável e compreensiva. Sorri, procurando compreendê-lo, acreditei em seu sorriso sincero e o abracei, permitindo-me ficar naquele abraço aconchegante.

Optei também por ignorar Elizabeth. Não levem a mal, mas ela não estava ajudando muito ao não responder minhas perguntas ou ao jogar frases aleatórias que eu não entendia e que ela achava que eu tinha a obrigação de entender.

— Desculpa por querer lhe impor algo que eu não sabia que você não queria. — pedi. Ele manteve seu braço em meus ombros.

— Não é que eu não queira, é só que é muita informação para processar. — Ele pareceu pensar. — Mas você disse que vai acontecer com ou sem a sua ajuda, não é?

— É.

— Então ajude.

Tive um sobressalto e o encarei, surpresa:

— Sério? Tipo, você confia mesmo em mim?

— Não poderia confiar mais. Entre acontecer do nada ou acontecer com alguma mediação, é melhor que essa mediação aconteça e acho que você pode fazer isso. — Ele segurou minhas mãos e as afagou. — Sei que você fará tudo certo.

— Mas... e se eu falhar?

— Não tem como, tem?

Pensei um pouco.

— Não, não tem. Vai dar tudo certo, eu prometo. Obrigada por confiar em mim. Significa muito, de verdade.

Aquela prova de confiança foi a melhor coisa que tive em muito tempo. Quer dizer, eu não pude evitar a morte dos pais adotivos dele e ele mesmo assim confiava em mim. Ficamos em silêncio até ele me apresentar todos os seus questionamentos:

— Então você sabe quem eles são! Como vai ser? A gente vai jantar e eles vão estar lá? Eles são legais?

— Bem, você terá que esperar. Vai ser só no seu aniversário, lembra?

Ele cruzou os braços.

— Estraga prazeres. — reclamou.

Tive que rir:

— Tudo a seu tempo, ok?

Jaden me olhou com carinho, acariciou meu rosto e me beijou, assim, do nada. Quando paramos, ele sussurrou:

— Você é incrível, sabia?

— E você é inacreditável. — comentei e ele sorriu, divertido:

Eu sou inacreditável, Shelly? — Não tenho muito desses momentos de admitir essas pequenas coisas, mas aquele sorriso era tão lindo... — Sério?

Eu ri e dessa vez o beijei, deslizando a mão pelo seu rosto e pelo seu cabelo, que já estava bem grande. Beijos lentos eram os melhores. Eu gostava de senti-lo próximo, de termos aquele momento só nosso, onde podíamos simplesmente ser nós dois sem preocupações externas.

— Adoro seu sorriso — confessei para ele, que sorriu e voltou a me beijar.

Ainda o beijando, fiz com que ele se deitasse no píer suave e lentamente e ele me abraçou com intensidade, a respiração mais ofegante.

— Não faz isso — sua voz baixa e rouca em meu ouvido fez com que eu me arrepiasse.

— Por que não? — sussurrei em resposta.

— Porque isso me faz ter vontades nada apropriadas para uma bela dama como você, Queen Marie.

— Talvez eu não seja muito apropriada também, Jaden. Talvez a gente deseje a mesma coisa. — ele me olhou surpreendido. — E talvez eu esteja bastante assustada com as minhas próprias vontades.

Ele sorriu, acariciando o meu rosto e a base das minhas costas. Suas mãos eram tão aconchegantes... Não queria sair dali mais. Jaden sacudiu a cabeça:

— Acho que a posição em que estamos não é apropriada para o local, não?

— Não, não é. — concordei olhando ao redor e me certificando que só tinha nós dois ali, eu sobre ele, nós dois debaixo de um tapete de estrelas tão brilhantes quanto diamantes. — E nem o melhor local para estar assim.

— Quer ir dormir lá no meu apartamento hoje? — ele convidou.

— Seria bom — respondi em um sorriso de múltiplos significados.

Não era a primeira vez que ele fazia aquele convite e não era a primeira vez que eu aceitava, mas aquela noite parecia tão... especial e natural. Ele confiava em mim e me mostrou isso. Resolvemos nossa pequena crise com diálogo e carinho e eu me senti bem por isso.

Saímos da propriedade privada e fomos para o apartamento dele. No caminho, conversamos sobre alguns detalhes que nunca havia perguntado antes para ele, alguns detalhes íntimos. Quando chegamos no apartamento dele, ele fechou a porta, como sempre o fazia, e eu procurei algo para comermos. Encontrei macarrão com queijo e resolvi esquentar enquanto Jaden tomava banho. Ele não demorou a sair e logo procurou algo para vestir:

— Que água fria. Acho que o aquecedor do prédio está com algum problema.

Olhei suas costas definidas, admirada e inebriada com o seu cheiro cítrico que logo se espalhou pelo apartamento, admirando os fios loiros penteados para trás. Ele me lembrou algumas estátuas gregas que eu tinha visto em livros de história.

— Shelly?

— Oi? — ele tinha falado alguma coisa? Seu sorriso pareceu divertido:

— Perguntei se você quer tomar banho também.

— Ah, quero, quero sim.

— Por que você está corada?

Por que ele tinha que perguntar? Tenho certeza de que fiquei da cor da bandeira do meu país:

— Por nada, nada não. Tem alguma toalha e alguma roupa que possa me emprestar?

— Tenho, tenho sim.

Logo que saí do banheiro, notei a mesa de centro organizada: pratos dispostos, macarrão neles — Jaden acertou a quantidade de comida no meu —, velas aromatizadas, luz do apartamento apagada. Ergui as sobrancelhas, verdadeiramente impressionada:

— Wow. Para que tudo isso?

— Gosto de agradar e de surpreender — ele respondeu saindo da cozinha, mas parou, me olhando atentamente. Depois de uns dez segundos, comentou: — Estou começando a achar que é fisicamente impossível você parecer feia.

Sorri e corei.

— Estou começando a achar que você gosta demais de agradar — rebati. Elogios ainda são um problema, ainda não sei como responder.

— Eu só sou gentil — ele deu de ombros, sorrindo.

— E convencido.

Jaden gargalhou:

— Ah, qual é, Shelly!

Abracei-o e o beijei no rosto.

— Vamos jantar logo, estou com fome — reclamei.

Jantamos, conversando sobre as particularidades da escola e sobre Mr. Wang. Quando terminamos, ele perguntou:

— Quer ver algo na TV?

— Por que não?

Nos sentamos no colchão e sentei entre suas pernas. A programação poderia ter me interessado em outros dias, mas eu não conseguia desviar a minha atenção das mãos de Jaden acariciando os meus braços. Quando ele subiu para a minha nuca e começou a beija-la, me arrepiei da cabeça aos pés.

— Você é tão sensível — ele sussurrou no meu ouvido. Saí da posição em que eu estava e comecei a beija-lo também, enfiando as minhas mãos por baixo da camisa que ele vestia, deslizando minhas unhas pelas laterais do seu corpo. Depois, o ajudei a tirar sua blusa. — Você tem certeza disso? — ele indagou do mesmo jeito.

— Não, mas tenho. — respondi sincera, sem pensar muito.

Jaden riu baixinho e acho que ele não imaginava o quanto aquela risada me fazia bem.

— Algumas vezes você não faz sentido nenhum para mim. — ele comentou em meu ouvido.

— Posso dizer o mesmo. — sussurrei em resposta.

Fechamos a persiana da janela.

Não me arrependi daquela noite porque, apesar das possibilidades de término entre a gente — todos os casais têm isso —, eu senti como se eu não pudesse estar em qualquer outro lugar a não ser aquele e com nenhuma outra pessoa que não fosse Jaden. Porque nós escolhemos um ao outro e foi só isso que importou.


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Notas finais do capítulo

O que será que aconteceu, hein? ~aquela carinha
Jelly para adoçar a vida ♥
Preparem-se: os próximos dois capítulos serão enormes!
Bem, como prometido, eis o nome de quem comentou no capítulo passado:
Fênix ♥
Críticas, comentários, sugestões e desabafos abaixo
vvvvvvvvvvvvv
Até logo ;)



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