Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 30
Capítulo 29 - Fazendo o amor acontecer


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos!!!
Meu Deus, penúltimo capítulo da primeira parte o/
Espero que gostem e nos vemos nas notas finais. LEIAM PORQUE TEM AVISO ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/626534/chapter/30

Assistia a aula de biologia com tédio. Meu Deus, eu definitivamente não tinha paciência para ecologia. Não que não fosse importante, mas não me interessava muito. Resolvi desenhar um sonho que tive com Ben; nada muito relevante, apenas envolvimento com alguns amigos em Armstrong.

Passaram-se duas semanas desde a descoberta da adoção de Jaden. Ele trabalhava fielmente como organizador de prateleiras no mercado de Mr. Wang e continuava sem falar com os pais adotivos. Tentei conversar com ele sobre o assunto, mas sem muito sucesso, pois ele mudava de assunto de uma forma muito irritante.

Jaden estava vivendo em um cubículo que tinha só uma sala, um banheiro pequeno e um projeto de cozinha. Havia um colchão fino, um fogão, uma pia e duas panelas, com os quais ele se virava. Fizemos uma espécie de comemoração, afinal, primeiro amigo a morar fora de casa! Wow!

Ben virou fotógrafo estagiário de um jornal. Ele almejava uma vida com publicidade ou arte, mas estava bem contente com o estágio. Também comemoramos por isso.

Mel conseguiu uns livros de programação e alguns manuais de alguns computadores. Parecia cada vez mais envolvida com os itens de informática e eu não sabia como ela tinha paciência para linguagem de programação, mas tudo bem, ela era boa e gostava do que estava começando a fazer.

Clint continuava no time de hóquei e namorando Donald. Vez ou outra, ele tinha uns problemas de relacionamento, me procurava e eu tentava ajudar. Felizmente, dava tudo certo.

Ah, claro, Dave estava começando a escrever uma história a partir de um texto que ele fez no grupinho de literatura. Narrava a história de um cara que foi internado em um hospício, mas que não era louco, e sim, um revolucionário que algumas pessoas queriam se livrar. Tinha toda uma crítica por trás e devo dizer que era uma boa narrativa.

E eu? Bem, graças a bicicleta, meu fôlego melhorou um pouco. Os snakes e eu prosseguimos com as caminhadas por Vancouver e eles pareciam gostar da cidade. Jaden só nos acompanhava nos fins de semana ou quando ficávamos andando até de noite.

Deu o toque: última semana antes do natal. O tempo passava tão rápido... optamos por ficar na sala durante o intervalo.

— Então, o que vocês farão no Natal? — Ben indagou.

― Meu avô vai passar lá em casa esse ano. — Mel respondeu contente.

― Preciso dizer algo? ― Dave fez uma pergunta retórica. Sorrimos. O bom de ter um irmão era que bastava um dar a informação da casa.

― Meu pai e eu vamos fazer algo em casa mesmo. ― Clint pareceu animado.

― Minha mãe e eu ainda estamos decidindo. — sorri com a minha própria resposta.

Sim, éramos ótimas em deixar as coisas para última hora. Isso é tão insano que no Natal de 2001, fomos a Quebec para ficar na casa da minha avó no dia 24. Tive que fazer minhas malas correndo e no mesmo dia viajar.

― Acho que esse vai ser o melhor natal dos últimos anos na minha casa. O clima está bem menos tenso do que ano passado ― Ben acabou por responder a própria pergunta.

Olhamos para Jaden, que fazia alguma atividade... talvez a de inglês. Ao notar que lhe olhávamos, ele ergueu a cabeça.

― O que foi?

― O que você fará no natal? ― Dave perguntou.

― Não faço ideia. Talvez eu coma cup noodles. Puta merda, aquele troço é bom.

E baixou a cabeça novamente, voltando a fazer a atividade. Ficamos em silêncio por um tempo, nos entreolhando.

"Não é bom quando ele fica assim, é?", Elizabeth indagou e só eu ouvi.

"Não, não é", respondi mordendo a bolinha interna no canto do lábio.

― Vou ao banheiro ― Mel aproveitou o intervalo. ― Você quer vir, Shelly?

― Ah, claro. ― concordei, notando que ela queria falar comigo.

Saímos da sala.

― Temos que fazer Jaden falar com os pais adotivos e vai ser hoje. ― a ameríndia determinou.

― Como faremos isso? Jaden não quer nem saber de falar com os pais!

― Você tem falado com os Pendlebury? — ela perguntou enquanto entrávamos no banheiro.

― Tenho conversado com Adele. Ela vive querendo saber notícias dele, contudo sente vergonha do que fez. Diz que não merece perdão, mas está sentindo falta dele. Ela parece chorar todo dia.

― Já tentou conversar com Jaden?

― Tentei, mas ele só quer ficar na dele, como se não soubesse bem o que fazer. Eu meio que entendo, mas ele parece chateado também.

― Você parece não gostar muito disso.

― Ele é meu amigo. Não gosto de ver meus amigos com problemas. Tento ajudar a resolver. ― desviei do seu tom malicioso, lembrando-me de Ben e de Clint.

― Exemplo?

― Quem você acha que incentivou Clint a falar que ele tinha um namorado?

― Ele falou primeiro com você? ― Mel pareceu magoada.

― É... Tem algum problema?

― Eu fui a primeira a saber seu primeiro segredo.

― Ele disse que vocês já tinham uma imagem dele e que queria alguma opinião externa... enfim, foco. Como faremos Jaden perdoar os pais adotivos hoje?

― Não tenho ideia. ― Mel procurou arrumar os cabelos no espelho. ― Uma reunião surpresa?

― Acho que não. — respondi fazendo a mesma coisa, mas o frizz gostava do meu cabelo.

― Fazer os pais deles o procurarem? — nova sugestão.

― Bem viável, Mel. Gostei. Vou ligar para Adele.

― Não, faça melhor: fale com ela pessoalmente. Espere. Ficarei em contato. Vamos voltar para a sala e planejar isso direito.

― Vamos.

Voltamos à sala e fiquei pensando em como fazer para Jaden e os Pendlebury conversarem. Jaden precisaria estar aberto à conversação e eles precisavam conversar, demonstrar todo o seu arrependimento e ter os valores que eles tanto ensinaram ao garoto. Como fazer tudo em um dia? Talvez se eu os levasse ao apartamento de Jaden e o convencesse a dar uma chance a eles...

― Shelly Revenry.

Ergui a cabeça, sem entender.

― Oi?

― Eu perguntei qual foi a primeira lógica e seu fundador. — o professor de Filosofia gostava de me perguntar as coisas. Por que ele fazia isso? Eu gosto de Física. Mesmo assim, pensei um pouco:

― Lógica Aristotélica fundada por Aristóteles.

― E o primeiro exemplo?

Você está querendo demais.

― Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, ele é mortal.

― Isso mesmo. Aristóteles acreditava que o ser humano é o único que tem a capacidade inata de construir sentido em suas frases.

O professor de filosofia prosseguiu com a aula enquanto a minha ideia tomava forma e força na minha mente.

"Mel, já tenho uma ideia de como fazer revolução", escrevi no papel. "Depois da aula".

Entreguei o papel a ela, que fez sinal de positivo com a mão. Procurei não desenhar e prestar atenção a aula. A lógica aristotélica era interessante, até, mas minha mente estava nas possibilidades do reencontro dos Pendlebury. Sim, porque embora Jaden fosse um Lancaster, ele era um Pendlebury também. A aula chegou ao fim e eu fui uma das primeiras a levantar.

― Jaden, posso lhe encontrar quando você sair do trabalho? ― perguntei quando saímos da sala. ― Seria bom você comer algo além de cup noodles.

― Ah, pode ser ―, ele sorriu amistosamente. ― Vai ser legal.

― Até às 6:00?

― Até às 6:00.

Ele saiu com pressa.

― E essas propostas indecentes, Shelly? ― Ben brincou.

― Só falei que seria bom comer algo diferente de cup noodles. Vocês sabem o quanto aquilo é salgado?

― De qualquer forma, é mentira ― Mel esclareceu. ― Estamos planejando uma tentativa de reconciliação entre Jaden e os pais adotivos.

Os garotos nos olharam em dúvida.

― Isso vai dar certo? ― Clint questionou. ― Da última vez que conversei com Jaden, ele pareceu bem chateado.

― Não podemos deixar Jaden passar o natal sozinho. ― argumentei. ― O que eles fizeram foi errado? Sim, mas eles são pessoas. Adele me liga e vai na minha casa quase todo dia atrás de notícias dele. Robert parece triste também. Não podemos deixar uma família triste assim tão perto de uma data que faz uma família se reunir.

― Isso é verdade. ― Dave concordou.

― Você é ateu ― Ben estranhou.

― É, não curto muito o Natal, mas acho que já chegou a hora de fazer algo. Vocês têm algum plano?

― Minha ideia é levar os Pendlebury ao apartamento de Jaden sem ele saber e convencê-lo a conversar com eles.

― Parece simples. ― Clint comentou.

― Não creio que vai ser. ― retruquei pensativa.

― Mas precisamos tentar. ― Mel afirmou.

― Vocês precisam de ajuda? ― Ben perguntou.

― Só do segredo de vocês. ― respondi. ― Se precisarmos de algo a mais, pediremos.

― Ok.

― Tenho que ir para casa. Tchau, vocês. ― despedi-me deles. Mel, quer vir?

― Pode ser.

Entramos no ônibus.

― Tem algo entre você e Jaden? ― Mel indagou subitamente e eu quase me engasguei com a minha saliva.

― Por que você está perguntando isso? ― tentei ganhar tempo.

― Sei lá, vocês parecem tão cúmplices e parceiros.

― Pode ser só amizade.

― Por que "pode ser"? Não é? ― ela questionou, um sorriso curioso em seus lábios.

Senti-me um pouco acuada.

― É, é claro.

Mel sorriu.

― Impressão minha ou o amor está no ar?

― Não tem nada entre nós dois ― retruquei, tentando escapar de possíveis brincadeiras.

― Ah, Shelly, por favor. Eu desabafo tanta coisa para você sobre Ben.

Pensei um pouco. Parecia injusto eu não falar sobre minha vida para Mel, já que ela desabafava sobre tópicos importantes da vida dela. Ela falara que fugira de casa em busca da tribo em que sua avó vivia, falara da rivalidade entre seu irmão e seu avô. Longa história, direi depois.

― Ele é um cara legal ― tentei dar uma resposta evasiva depois de descermos do ônibus.

― Houve algo que comprovasse isso?

― Ele salvou minha vida, lembra?

― Ah, verdade. Mas acho que não é só por isso, é?

― Só o acho gentil e um bom amigo.

Eu sou gentil e eu sou boa amiga, Marie.

Fiz uma careta azeda.

— Marie.

— Ah, claro. Só estou querendo dizer que ele parece olhar para você de forma diferente, sabe?

Olhei-a, desconfiada.

— Sério?

— Está interessada? Ah, foda-se, não gosto de joguinhos. O que você sente por Jaden?

— Ele é um cara legal e...

— Isso eu já sei. Quero saber se tem vontade de estar junto dele, se gostaria de um abraço dele, se o beijaria.

A ideia fez eu sentir meu rosto quente.

— Não seria ruim. — admiti baixinho.

— Ok, desisto. Quando você conseguir desabafar que Jaden é seu crush para mim, você sabe meu número e meu endereço. Agora vamos bater à porta da felicidade.

Mesmo sem saber, Melinda me magoou um pouco. Sempre tive dificuldades em falar meus sentimentos, afinal, minha mãe foi a pessoa que chegou mais perto de ser considerada confidente para mim e nem ela sabe dos meus sonhos. Tive muitos colegas e poucos amigos.

Enfim, paramos de frente à casa dos Pendlebury.

— Está pronta? — indaguei a Mel.

— Eu deveria lhe perguntar isso. — ela retrucou. — Estou só dando apoio moral.

"Mas eu já faço isso", Elizabeth deu uma entonação triste ao dizer a frase.

"Claro que sim, Gaspar. Você na cabeça e ela na presença".

Toquei a campainha e Adele abriu a porta pouco tempo depois.

― Shelly! ― ela me abraçou forte.

― Oi, Adele. Tudo bem com você?

― Só com um pouco de dor nas pernas, mas tudo bem. Melinda! Já estava com saudades! Tudo bem?

― Sim, tudo bem ― sua expressão ficou estranha quando Adele a abraçou. ― Vocês já comeram algo?

― Não ― respondi.

― Sentem-se. Pegarei algo para vocês.

E ela saiu em direção à cozinha.

― Ela é sempre assim? ― Mel sussurrou.

― Sim ― respondi tão baixo quanto ela. Adele voltou com biscoitos e torta de limão.

― Como Jaden está? ― ela indagou logo ao sentar.

― Ele está bem e é justamente sobre isso que queremos falar com a senhora. ― iniciei. ― Vocês já decidiram quando vão falar com Jaden?

Ela suspirou.

― Ele me pareceu tão chateado naquele dia... Talvez ele não queira falar conosco e eu o entendo. O que fizemos não foi nada correto.

― Sabemos, mas querendo ou não, vocês são uma família. ― Mel inquiriu. É, Elizabeth. Só você de apoio moral. ― Mesmo com todas as mentiras e enganos, vocês viveram bem. Houve momentos de alegria e união sincera.

― É, houve, mas nosso erro foi grave. Provavelmente ele só estava perdido. ― Os olhos da mulher enchiam-se de lágrimas à medida que falava. ― Encobrimos ele da família biológica e fizemos uma adoção falsa. Devíamos estar presos. Eu deveria estar presa.

― Você fez o que achava certo para você na época. ― tentei contornar. ― Na verdade, vocês fizeram. Você não fez nada só. A responsabilidade não é só sua.

Adele fungou.

― Você tem que procurar o seu filho. ― Mel afirmou.

― Você cuidou, protegeu, educou e amou. Isso não pode acabar de uma hora para outra. ― argumentei.

― Sem falar que foi péssimo o que ele disse que faria no Natal.

― O que ele disse? ― ela perguntou com sua atenção totalmente voltada para nós.

― Ele está pensando em comer cup noodles na ceia de Natal. ― informei. ― Tipo, sozinho.

― Ele não pode fazer isso. ― Adele passou a mão pela testa, preocupada. ― Jaden não tem feito nada errado, certo?

― O que a senhora quer dizer com "errado"? ― Mel indagou.

― Jaden não gosta quando toco nesse assunto, mas ele já foi usuário de cocaína. ― Mesmo já sabendo, não pude evitar meu choque interno. Mel levou uma mão à boca, não pude evitar que minha expressão ficasse triste. ― Não queria deixá-lo ir morar só sem saber se ele superou isso ou não.

― Como assim? ― questionei. ― Ele deu algum indício de que faria isso de novo?

― Há mais ou menos dois meses, usei minha maleta de primeiros socorros e faltava uma seringa. Desde aquele dia, fiquei com medo de que ele voltasse a fazer isso.

Mesmo sem olhar, eu sabia que Mel estava com o olhar cravado em mim.

― Jaden não nos deu nenhum indício de que ele fez algo assim. ― intercedi por ele.

― É difícil acreditar. ― Tomamos um susto ao ouvir a voz grave de Robert. ― Boa tarde, garotas. O que fazem aqui?

― Gostaríamos de que vocês passassem o Natal com Jaden e que vocês tentassem conversar para fazer as pazes. ― Mel explanou.

— Estou aberto à conversa. — ele sentou-se ao lado da esposa. — O problema é que Adele se sente culpada. A responsabilidade foi nossa.

A mulher suspirou e decidiu:

— Tudo bem. Vamos conversar com Jaden.

Mel e eu vibramos juntas.

— Viemos para isso. — afirmei. — Tenho um plano e vamos fazer de tudo para que dê certo.

Expliquei meu plano a eles, que consistia no seguinte: Jaden sempre guardava a chave do apartamento em baixo do extintor de incêndio do 1º andar, que era aonde ele vivia. Eu pegaria essa chave, os colocaria no apartamento perto das 6 p.m. e iria para o mercado do Mr. Wang, onde eu acompanharia Jaden e o convenceria a conversar com os pais adotivos.

Planos ditos, Mel e eu saímos da casa dos Pendlebury animadas e esperançosas.

— Tomara que dê tudo certo. — ela torceu.

— Tem que dar tudo certo — enfatizei.

— Tenho que ir para casa agora. — Mel se despediu. — Boa sorte com seus planos.

***************

Às 5:50 p.m., eu já havia trancado os Pendlebury no apartamento de Jaden e estava indo encontra-lo. Ao me ver, ele sorriu largamente e senti a familiar confusão que estava sentindo ao ver aquele sorriso espontâneo.

— Estou saindo, Mr. Wang!

— Até amanhã, meu jovem.

Saímos do mercado.

— Como foi hoje? — indaguei.

— Foi movimentado. O pessoal já está começando a comprar algumas coisas para o Natal.

Observei a rua iluminada pelas luzes cintilantes, algumas guirlandas e alguns bonecos de neve de tamanho médio. Era um pouco difícil nevar em Vancouver, mas não impossível.

— Fez o que pela tarde? — ele perguntou a mim.

— Fiquei em casa lendo. — menti.

Jaden meneou a cabeça em desaprovação.

— Você deveria sair mais.

— Eu só gosto de ficar em casa. Não é difícil entender, é?

Ele pareceu continuar sem entender, mas mudou de assunto:

— Por sinal... o que você trouxe para o jantar?

— Deixei um purê de batata para o jantar no seu apartamento.

— Delícia. Você quem fez?

— Sim. — Não aprendam a mentir tão descaradamente, certo? A não ser que seja por uma boa causa.

— Só isso? — ele questionou.

— Veremos no seu apartamento — sorri, misteriosa. Ele gargalhou e continuamos caminhando.

― Jaden ― chamei sua atenção quando paramos em frente a escadaria que levava aos apartamentos.

― Diga.

― Eu não estou aqui para lhe acompanhar no jantar.

― Como assim? ― ele estranhou.

― Adele e Robert estão lá em cima. ― ele levou as mãos ao rosto. ― Por favor, eles só querem conversar.

― Shelly... — ele pareceu meio chateado, mas logo o cortei.

― Eu os convenci a vir aqui porque não posso deixar meu melhor amigo passar o Natal sozinho. Dê uma chance a eles, ok? Por favor.

Ele pareceu pensar. Continuei minha tarefa de convencê-lo a conversar com os Pendlebury.

― Sei que você está chateado com essa situação, mas permita-se mudar isso. Você pode fazê-lo. Eles podem ter feito coisas erradas, mas ainda assim lhe criaram, cuidaram de você. Para ser franca, não sei como lidar com isso, mas imagino que deve ser complicado. E mesmo não sabendo bem o que você está sentindo, acho que você deveria perdoá-los.

― Tem muitos "você" nesse discurso.

― Só dê uma chance a eles, certo? ― pedi olhando-o atentamente, ignorando sua observação. Ele me olhou de volta e senti um medo estranho, não exatamente dele. Medo de que ele descobrisse algo. Desviei o olhar para uma espinha que havia em sua testa para manter o foco: ― Você quer que eu entre ou espero do lado de fora?

Jaden pensou por uns dois segundos.

― Espere. Você ainda está me devendo um jantar sem cup noodles.

Sorri e subimos as escadas.

― Faça o que seu coração pedir ― aconselhei.

― Não posso fazer isso sempre, se eu fizesse, você ficaria rubra mais vezes.

Jaden entrou em seu apartamento e eu fiquei sem entender o que ele quis dizer. Limitei-me a ficar esperando, tentando entender algo pela porta. Peguei algumas coisas como "bagunça", "difícil", "saudades", "desculpe", "orgulho".

"Conversa interessante", Elizabeth comentou.

"Queria ser uma mosca para saber o que eles estão conversando", expus meu desejo a minha companhia invisível. “Está dando certo?

Ah, não quero estragar a surpresa. Você poderia usar sua habilidade de ver o futuro para ver como isso vai acabar”.

Não entendi”, estranhei.

Sabe aquele dia em que você salvou Carter?”, ela procurou me relembrar.

Tem como ativar aquilo na hora que você quiser?”, me surpreendi.

Sim”.

Como? Se bem que... não sei se quero saber. Meu cérebro parece que vai explodir quando isso acontece”.

É como se o tempo parasse, não é? Contudo, é só perspectiva. O seu cérebro trabalha em uma frequência maior que para você parece a normal. Você vê boa parte das possibilidades, as mais prováveis, as que aconteceram e as que estão acontecendo”.

Não era para o meu cérebro fritar?

Sabe quando o cérebro ignora algumas coisas ou quando você se esquece de algo no dia seguinte? O fato dele ignorar algumas coisas faz com que você não... perca muito o foco”.

"Ah. Ainda assim me perco. Melhor eu não aprender por hora".

"Você quem sabe".

Subitamente, um flash de Jaden, Adele e Robert abraçados perpassou minha mente.

"Isso está acontecendo agora?"

"Sim".

Era tão incrível e ao mesmo tempo me deixava tão estranha.

"Como... Como é possível?"

"Você é uma vidente”, ela respondeu como se fosse óbvio. “O problema é que você não quer ser".

Tentei ver a cena novamente na minha cabeça e consegui: os olhos de Adele estavam fechados e ainda assim ela conseguia chorar, Robert esboçava um sorriso emocionado e agradecido e Jaden abraçava os dois com um sorriso leve e compreensivo. Lembrei-me do seu abraço reconfortante, quente e de como me senti tentada a contar tudo para ele. Lembrei-me do seu cheiro e seus olhos azuis cinzentos perpassaram minha mente.

"Seus sentidos estão inebriados", Elizabeth advertiu.

A porta se abriu e Jaden olhou amistosamente para mim.

― Hora de entrar, Queen Marie. Temos purê de batata.

Olhei em apreensão.

— Deu tudo certo?

Ele saiu do apartamento e respondeu:

— Resolvi lhes dar uma nova chance.

Sorri largamente.

— Vocês mereciam isso.

— Você está tentando me fazer esquecer.

Franzi o cenho.

— De quê?

— Você ainda me deve um jantar. — Por um minuto, ele não pareceu saber o que fazer com os braços, mas por fim, Jaden me abraçou. — Obrigado. É tão louco o quanto você é um catalisador. — Olhamo-nos e ignorando o fato do meu rosto estar completamente quente, ele intimou: — Você ficará para o jantar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, deixarei vocês na vontade.
O capítulo 30 está chegando.
Ah, sim, espero que eu não tenha demorado tanto :3
Seguinte: depois do capítulo 30, é bem capaz que eu fique até o meio de Março sem postar. O motivo? Minha vida tripla. Estou com atividades do IF e da faculdade para fazer e não são poucas. De noite, está um pouco complicada para fazê-las, então terei que sacrificar um pouco do tempo que tenho para escrever a fins de fazer esse monte de trabalho nas minhas costas. Os 5 primeiros capítulos da parte II estão quase todos prontos, mas quero revisá-los antes de postar para que não fique nada sem a qualidade que tento dar a essa história.
Sejam bonzinhos e compreensivos, ok?
Críticas, comentários, sugestões, desabafos e correções abaixo vvvvvvvvvvvvvvvvvv
Até o próximo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Apenas uma garota..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.