Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 29
Capítulo 28 - Decisões precipitadas


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente!!!!
Desculpem pela demora, estava um pouco desinspirada para esse capítulo, mas a inspiração finalmente bateu à porta o/
Nos vemos nas notas finais e espero que gostem :D



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Acordei um pouco desorientada e confusa ao perceber que estava na minha cama. Como eu fui parar ali? Eu estava no sofá antes. Sentei-me e olhei as horas: 09:06 a.m. Não tão tarde. Meu telefone tocou: Melinda.

— Mel? — atendi o mais rápido que pude. Sim, ainda estava pensando no pesadelo em Sacramento.

Oi, Shelly! Tudo bem? — ela pareceu normal ao telefone.

— Ah, claro. — procurei normalizar a minha voz. — Diga aí.

Você pode vir hoje aqui mais tarde?

Pensei um pouco.

— Acredito que, no momento, talvez seja melhor você vir aqui.

Por quê?

— Estou com visita em casa.

Ah, então deixa para lá.

— Também não é para tanto. É a atividade de francês?

Sim. Tentei pedir a ajuda de Dave, mas ele é um chato. Se puder me ajudar...

— Claro. Venha depois de meio-dia.

Até logo.

Desliguei e esfreguei o rosto, decidindo o que fazer. Queria ficar deitada na minha cama sem fazer nada, mas estava um pouco ansiosa por causa da situação dos Pendlebury.

Deixe fluir”, Elizabeth recomendou. "Não fique ansiosa, vai dar certo".

"Tomara. Eles não podem ficar brigados um com o outro".

"Só vá tomar banho. Seu cabelo está um ninho de passarinho".

Estava mesmo. Tomei banho, escovei os dentes, vesti-me, desci as escadas. Minha mãe estava entrando em casa.

— Acordou, dorminhoca?

— Eu nem dormi tanto assim. — tentei me justificar, mas desisti no meio do caminho. — Foi aonde?

— Comprar algumas coisas que estavam faltando.

— Legal. — comentei isso mesmo que não fosse legal. O porquê? Não sei. — Vou tomar café da manhã.

— Jaden já acordou?

— Acredito que não.

— Então vamos. Trouxe bolo e bacon. — seu sorriso entusiasmado tinha o dom de levantar o astral de qualquer um. — Acordei tarde também

Fomos à cozinha e tomei meu café enquanto minha mãe falava sobre um turista que havia brigado com um atendente no supermercado e o quanto ela achou um absurdo a cena. Sim, ela também estava tomando café, mas falava mais do que comia.

— Algumas pessoas são muito sem noção. — comentei meneando a cabeça.

— E como! — ficamos um tempo em silêncio até que minha mãe perguntou: — Seu pai tem ligado para você?

— Faz um tempo desde a última vez. Um mês, talvez?

— Algo de interessante?

— Nada.

— Você sabe que não sou chata e não me importo se ele precisar, mas Jaden tem alguma ideia de quando vai embora? — minha mãe indagou. — Isso influencia nas compras do mês.

— Não sei, mãe. Talvez quando perdoar os pais e voltar para casa. Enfim, tenho roupas a jogar na máquina.

Coloquei algumas roupas para lavar e decidi ir ao bosque depois. Visitei o lugar: continuava o mesmo. Subi em uma árvore e observei o bosque. Fazia um tempo que eu não ia ali. Ainda podia ver os furos que tinha feito em algumas árvores. Queria estar tão tranquila quanto o bosque.

— Shelly! — ouvi Jaden chamar atrás de mim. Virei-me e vi que ele ainda não havia me visto. Pulei diante dele e ele teve um susto. Acabei rindo:

— Desculpe, tinha que fazer isso com você. Diga.

Jaden sorriu:

— Só não queria ficar só na sua casa sendo que você é minha colega de classe.

Senti-me envergonhada:

— Eu sou uma péssima anfitriã. Por falar nisso, como eu cheguei na minha cama?

— Bem, eu assistia Armageddon tranquilamente até perceber que o estava fazendo só, pois você estava apagada do outro lado do sofá. Tentei lhe acordar, mas, como já percebido por mim, você dorme para só acordar na manhã seguinte, então lhe carreguei até o quarto. É sério, tenho que parar de lhe carregar apagada.

— Ah, meu Deus... — acho que fiquei vermelha. — Você realmente tentou me acordar?

— Com direito a sacudida. — seu sorriso maroto continuava o mesmo.

— Eu deveria tentar ter o sono menos pesado.

— Bem, não é como se você tivesse muito controle sobre isso. Então, o que a trouxe aqui?

— Uh... meus pés?

Ele sorriu e cruzou os braços.

— Engraçadinha.

— Fazia algum tempo que não vinha aqui. Depois que me livrei da balestra, parei mais de vir. Quase que me esqueço da prática de subir em árvores.

— Ainda não entendo o porquê de você ter se livrado da balestra.

— Gosto mais do arco e flecha.

— Você podia ter mantido os dois.

— É, mas está bom assim. — Procurei mudar de assunto: — Como você está hoje?

— Com a cabeça mais fria, talvez. Ainda não sei direito o que fazer.

— Voltar para casa é uma opção?

Pela expressão dura e pensativa, ainda não.

— Não acho que seja. Tenho alguns planos na cabeça. Ah, estou pensando em ir à casa de Clint hoje. Ele é um cara legal.

— Mel vem aqui hoje de tarde.

— Podíamos fazer algo com todo mundo. — ele sugeriu.

— Não é má ideia. Onde?

Jaden pensou um pouco:

— Boa pergunta. Casa de Mel, talvez?

— É uma boa. Ligarei para ela quando voltar para casa. Bem, se você não se importa, vou me deitar aqui.

Deitei-me no chão cheio de folhas secas e observei as árvores em conjunto com o céu. Era algo bonito. Jaden me olhou de forma curiosa e, deitando-se, encostou sua cabeça na minha. Se alguém visse de cima, formaríamos uma reta.

— Por que se deitar?

— Sei lá, estou com preguiça e com vontade de ver o céu.

— Você não é exatamente o que se chama de previsível.

— Que bom que você sabe. — Desfrutamos do silêncio por algum tempo até que perguntei: — Os snakes podem saber que você está na minha casa?

Ouvi seu suspiro.

— Ainda tenho que dizer a eles que sou adotado. Caralho, isso é uma merda. A última coisa que queria era olhares de pena.

— São nossos amigos e eles se importam com você.

— Temos outra questão: meus pais fizeram algo ilegal. Acho que só vou dizer que eles mentiram para mim.

— Isso é proteção. Você ainda gosta deles.

Jaden teceu alguns segundos de silêncio até que retrucou por fim:

— Você só se magoa com o que se importa.

Refleti no que a frase dizia.

"Espero que ele guarde essa frase para se entender" Elizabeth comentou.

"Ok, Elizabeth", retruquei sem prestar muita atenção no que ela disse.

— Deveríamos voltar. — ele sugeriu.

— Deveríamos. — concordei, sem mover um músculo. Ouvi algo parecido com uma risada rápida.

— E você não se move.

— É. — sorri. Vi ele levantando-se em um pulo, entendendo sua mão para mim e projetando um sorriso que era só dele.

— Vamos, Queen Marie. Temos compromissos a marcar.

***************

— Terra chamando Shelly... — Jaden passou a mão diante dos meus olhos, interrompendo a vista da janela do ônibus.

— Você disse algo? — perguntei, distraída.

— Perguntei se você já fez a atividade de francês.

— Não. — respondi esfregando meu rosto e meus olhos. — Não fiz, mas... quando eu fizer, lhe ajudo.

— Está tudo bem?

Por alguma razão desconhecida, um flash repentino do meu pesadelo com Eleanor gritando juntamente com Jaden surgiu em minha mente, deixando-me tensa e preocupada. Cada vez que eu revia aquela cena na minha cabeça mais ela doía em mim. Eu não queria de jeito nenhum que aquilo acontecesse.

— Está sim. — simulei um sorriso. — Só pensando na vida.

— Tudo bem, então. — ele respondeu como se soubesse que eu mentia descaradamente, mas esperasse que eu lhe contasse. — Impressão minha ou estamos chegando?

— Sim, estamos.

Pedimos parada e descemos do ônibus.

— Como está no trabalho? — perguntei.

— Bacana. Mr. Wang é exigentíssimo, mas não é um cara ruim. Ele acabou me falando parte de sua história: o pai dele saiu da China com a família em 1937, quando ele tinha 10 anos.

— Por que exatamente 1937?

— Guerra Sino-Japonesa e Segunda Guerra Mundial.

— Deve ter sido difícil para eles saírem da Ásia.

— Quase impossível. Ele só me contou isso. Queria saber o resto da história.

— Fiquei curiosa também.

— Queria cortar meu cabelo, mas estou sem dinheiro suficiente. — ele mudou de assunto.

— Ah, se quiser, eu corto. Dave tem uma máquina, se eu não me engano.

— E isso vai dar certo?

— Bem, eu corto meu próprio cabelo, se serve de exemplo.

— Nada mal. — ele comentou.

Chegamos à casa de Mel e Ben já estava lá.

— Onde está Clint? — perguntei quando entrei na casa.

— Ele disse que estava vindo. — Ben respondeu desligando o telefone.

— Olá, pessoas. — Dave chegou à sala.

— Dave, temos uma missão. — chamei logo. — Cortar o cabelo de Jaden.

— Que missão. — o irmão de Mel concordou.

— Eu preciso ver isso — Ben pareceu entusiasmado.

— Ei, vamos com calma. Só vão cortar meu cabelo, não me deixar careca. — Jaden explanou.

 Alguém bateu na porta:

— Ei, cheguei! Alguém?

— Você vai agora, Dave. — Mel impôs jogando-se no sofá ao meu lado.

Dave abriu a porta e Clint entrou.

— Boa tarde. — ele cumprimentou.

— Chegou em boa hora, jovem Harrington — Dave sorriu. — Shelly e eu vamos cortar o cabelo de Jaden.

Clint olhou para meu vizinho como se ele fosse insano:

— Você vai deixar?

— Boa pergunta. Sério que vocês vão cortar meu cabelo? Nada de barbearia ou algo do tipo? — Jaden perguntou.

— Ah, confie em nós, anjo xingador. Eu corto o meu próprio cabelo — Dave retorquiu.

— Posso dizer o mesmo de novo — afirmei. — Só confie.

Dave observou sua máquina de cortar cabelo enquanto eu buscava uma cadeira e fazia Jaden sentar-se nela.

— Podíamos deixá-lo careca — Ben sugeriu, um sorriso brincando nos lábios.

— Podíamos lhe deixar careca, Benners — Jaden retrucou cruzando os braços em um sorriso irônico.

— Só façam chover cabelo. — Mel pediu, prática. — Ainda temos atividade para amanhã, lembram?

— É, verdade. — Clint confirmou.

— Bem, Jaden, é só ficar quieto. — Aproximei-me de sua cabeça com a tesoura e comecei a cortar.

— Hora de destruir minha cópia loira — Ben fez um sorriso falsamente maligno.

— Espero que não deixe buracos na minha cabeça, Queen Marie.

— Diga isso a Dave. — retruquei.

Vi um flash ao meu lado. Virei-me no momento em que Ben tirava da Polaroid uma foto.

— É um acontecimento. — justificou-se.

— Tudo é um acontecimento porque acontece, Ben. — expliquei.

— Esses conceitos loucos... — o fotógrafo retrucou meneando a cabeça.

Depois de uns segundos em silêncio, Jaden anunciou:

— Tenho algo a contar a vocês.

— Fale aí.

O celular dele tocou:

— Desculpem, é importante. Volto já.

— Mas eu já comecei... — tentei argumentar, mas ele apenas levantou-se da cadeira e foi atender o telefone no quintal.

— É, Shelly, você foi deixada no vácuo. — Mel deu de ombros de forma compreensiva.

— É — concordei olhando para o chão. Ben riu:

— Ah, meu Deus, melhor cara.

Clint sorriu.

— Ficou engraçado a situação... enfim, voltando ao foco: Jaden pareceu estranho.

— O que houve? — Mel questionou-se.

— O que será que ele quer nos dizer? — Dave indagou, curioso.

— Não sei. — respondi, mesmo que soubesse.

"Guarde uma mecha do cabelo dele", Elizabeth quase mandou.

"Esse pedido é estranho", comentei.

"Só faça".

Aproveitei que todos pareciam distraídos e coloquei a mecha que se encontrava na minha mão no bolso do meu casaco. Jaden voltou do quintal:

— Onde eu estava?

— Você ia nos dizer "algo" — Ben fez aspas com os dedos.

— Ah, claro — ele sentou-se novamente na cadeira em que estava e enquanto eu voltava a cortar seu cabelo, ele despejou as palavras: — Eu sou adotado e descobri isso ontem.

— Wow. — Clint fez uma expressão surpresa.

— Puta merda. — Dave comentou.

— Caralho.

Será que ninguém pode usar uma expressão normal de espanto?

— Como foi isso? — Mel perguntou solícita.

Jaden contou toda a história, omitindo que eu já a ouvira, enquanto os snakes ouviam atentamente.

— Fui para um quartinho em Chinatown e é isso. Não sei bem o que fazer, mas não sei se estou pronto para engolir isso agora.

Quase mudei minha expressão quando ele mentiu, mas procurei me manter cortando o cabelo de Jaden. Olhei para os snakes: pareciam não saber o que dizer.

— Que tenso. — Ben comentou. — Ok, foi horrível, mas cara... Só saiba que pode contar comigo.

— E você continua sendo nosso amigo. — Mel afirmou.

— E um violinista foda — Dave complementou.

— Bem, Jaden, só não deixe a raiva ditar suas atitudes. — Clint aconselhou. — Estamos com você.

O silêncio reinou por um tempo e não pude ver a expressão de Jaden. Então, os snakes me olharam em expectativa.

— Nada a dizer, Shelly?

— Tudo o que tinha a dizer e fazer, já disse e fiz. Ele sabe. — limitei-me a dizer isso.

— Porra, Shelly, quebrasse o clima gay. — Ben reclamou. Jaden deu uma risadinha curta, juntamente com os snakes. Acabei sorrindo também.

— Só não deixe isso lhe mudar, anjo xingador. Ah, Dave, acabei aqui.

— Quero jogar um jogo com você. — Dave segurou a máquina de cortar cabelo de forma assustadora. Rimos.

— E agora, Jaden? — Clint questionou.

— Se for Jigsaw, estou no lucro. — Jaden respondeu estralando os dedos.

— Só fique quieto, anjo xingador.

Dave foi passando a máquina com calma nas laterais, deixando a parte de cima como eu cortei. Jaden olhou para mim, a cabeça meio baixa, e sorriu. Sorri de volta.

— Está ficando legal?

— Até que sim. — Mel respondeu.

— Mentira, tem um buraco enorme na lateral. — Ben falou sério, como se falasse a verdade.

— O quê?!

— Ele está zoando, Jaden. — Dave cuspiu as palavras olhando para Ben de forma reprovadora. — Só fique quieto.

— Vai ficar careca... — Ben brincou.

— Sem dúvida, cara. — Clint entrou na brincadeira também.

— Podíamos deixa-lo como um monge tibetano. — Mel sorria, travessa.

— Ah, por favor — Jaden bufou, ainda que sorrisse.

Dave terminou e olhei, impressionada.

— Ficou bem decente. — comentei. Com o corte de cabelo, sua cicatriz perto da orelha direita ficou bem mais visível, lhe dando um estilo meio badboy.

— Tem algum espelho por aqui?

— É claro — Mel saiu do seu quarto carregando um espelho médio.

— Caralho — Jaden exclamou quando se viu no espelho. Ele olhou, sorrindo com o resultado. Passou a mão, sacudindo alguns pequenos fios loiros, passou a mão pela parte de cima, sacudindo. — Abram logo um salão, porra!

— Não é para tanto, Capitão América. — retruquei, sorrindo também.

— Ficou foda —, Ben deu seu veredito — mas ainda acho que devíamos deixa-lo careca.

— É mesmo, photoman? — Jaden levantou-se e deu um soco leve em Ben e do nada eles começaram a brincar de luta.

— Ok, chega, gente! — Mel, como não é nada comum, pulou nas costas de Ben e eles quase caíram.

— Eu quase vi uma queda acontecendo aqui — comentei rindo.

— Teria sido tão engraçado... não sei se eu riria ou se socorreria vocês — Dave riu também.

— A gente não devia fazer a atividade de inglês? — Clint lembrou.

— É verdade. — Jaden pareceu lembrar-se disso.

— Eu já fiz. — Dave exibiu-se.

— Muito bom para você Dave. Legal mesmo. — Ben aplaudiu sarcasticamente. — Agora pare de se exibir e nos consiga comida.

— Pior cunhado, sem dúvida. — Dave comentou sorrindo enquanto ia para a cozinha.

Fizemos a atividade de francês, zombamos um pouco de Jaden e sua pouca habilidade no idioma. Ele ajudou zoando a pronúncia dele. Dave fez pipoca para nós. Foi uma boa tarde. Ter amigos era bom e ter os Snakes para me lembrar disso me fazia sentir... quase normal. Era perto das 08:00 p.m. quando Jaden e eu saímos da casa de Mel.

— Tenho algo a lhe dizer, Shelly. — estávamos no ônibus quando ele disse isso.

— Pode dizer.

— Não voltarei para sua casa, vou só lhe deixar lá.

Olhei para ele sem entender.

— Como assim?

— Sabe aquela ligação? Foi o Mr. Wang. Ele aluga apartamentos e pedi que me avisasse quando houvesse um apartamento vago.

— Qual é, Jaden...

— Eu já estava com a ideia de morar fora fazia um tempo e aconteceu isso, então foi meio que fluindo. E eu escutei o que sua mãe disse.

— Ah, Jaden, não leve a sério. É só que nossas finanças precisam ser um pouco bem controladas.

— Eu sei. Não quero incomodar vocês...

— Você não nos incomodaria e sabe disso.

— Eu sei, mas quero ter o meu próprio canto, sabe?

— Ok, não vou discutir isso com você. Mas poxa, cara. Podíamos ver filme até tarde de novo e chegarmos atrasados à aula juntos.

Ele riu.

— A aula de inglês? Você tem muita coragem.

Sorri, mas fiquei meio triste. Descemos do ônibus e lembrei-me da história dos Lancaster: o primogênito amado, querido e que foi perdido, causando uma dor inigualável.

Não! Você não pode fazer isso com ela! Não!”, ouvi o grito gutural de Jaden enquanto visualizava na minha mente Eleanor sendo partida ao meio. Parei de andar e tentei me manter no presente.

Você precisa relembrar suas prioridades”, ouvi Elizabeth na minha cabeça.

— Shelly? — Jaden chamou a minha atenção pela segunda vez naquele dia. — Está tudo bem? Você parece pálida.

Passei a mão pelo rosto.

— Está. Está tudo bem. Só vamos continuar.

— Não, não está. — ele negou enquanto voltávamos a andar. — Shelly, queria lhe ajudar. Entender o que se passa com você, o que lhe incomoda. São sonhos?

Estaquei por um momento, parando de andar de novo, o vento fazendo fios do meu cabelo chicotearem meu rosto. Estávamos a duas ruas da minha casa.

— Como você sabe disso? — indaguei, hesitante e preocupada.

Ele pareceu se arrepender ao responder:

— Você deixou escapar quando estava bêbada. Festa de Cindy.

Pensei bem antes de falar algo e quando falei, procurei ser sincera ao olhar em seus olhos:

— Jaden, tem muitas coisas que eu gostaria de desabafar e falar com alguém. Esse alguém poderia ser você, sabe? Você é confiável e provou-se leal e discreto ao salvar a minha vida e não contar nem para sua família. — Por um momento, sua expressão ficou esperançosa, contudo desfechei meu pequeno discurso, a garganta meio travada: — Mas o meu problema não é semelhante com o de ninguém mais que você conheceu. Eu queria tanto que alguém pudesse me ajudar, Jaden, você não tem ideia do quanto.

Fiz uma pausa, nervosa e com os olhos querendo se encher de lágrimas. Ele parecia ouvir atento. Uma expressão confusa, claro, mas atenta, como se quisesse arrancar algo de qualquer palavra minha. O vento despenteava seus cabelos. Continuei a falar, tentando fazer a minha voz não tremer:

— Queria que você conseguisse resolver, você ou qualquer um dos snakes. Até minha mãe. Mas Jaden, você não pode me ajudar. Não por não querer, mas por não poder. Talvez se você soubesse do que estou falando, nem acreditasse em mim, talvez me achasse completamente idiota. Não é algo com você, sabe? É algo que tenho que resolver sozinha.

O silêncio reinou entre nós por um período de um minuto que contei mentalmente. Um minuto que fiquei tentando imaginar no que ele estava pensando ao ouvir tudo aquilo. Seu olhar pareceu pensativo e distante nesses sessenta segundos em que tudo o que consegui escutar foram as batidas do meu coração e o vento rugir impiedosamente em meus ouvidos. Por fim, ele respondeu:

 — Às vezes, não se faz necessário saber a solução de algum problema, mas só de dividi-lo com alguém pode torná-lo menor.

— Não acho que falar disso com alguém vá deixá-lo menor. — retruquei baixando a cabeça, tentando controlar os fios teimosos.

— Você é teimosa pra caralho, sabia? — ele comentou em um sorriso um tanto triste. — Só saiba que, se você precisar de um amigo, estarei aqui como você esteve por mim, ok?

Concordei em um sorriso falso, tentando não me arrepender do que eu havia dito e, indiretamente, feito.

— Vem cá. — ele aproximou-se de mim e me abraçou. Senti-me completamente confortável naquele abraço quente e cítrico. Sua respiração em meu pescoço me fez estremecer levemente e me arrepiou dos pés a cabeça. Ouvir a sua voz grave tão perto fez meu coração bater mais forte. — Você sabe que pode contar comigo, não sabe?

— Sei. — minha voz soou rouca e estrangulada.

 Meus sentimentos estavam confusos. Um misto de dor e alegria se misturavam, me deixando com vontade de rir e chorar, como se eu finalmente houvesse reencontrado algo perdido.

Um soluço involuntário escapou dos meus lábios e o fato dele ter acariciado suavemente meu couro cabeludo com os dedos fez com que eu me sentisse mais confusa e emocionada. Findei por chorar em seus braços e senti como se um peso enorme saísse de mim a cada lágrima e a cada soluço. Jaden continuava a me abraçar forte, como se quisesse provar suas palavras. Quando por fim me acalmei, me desvencilhei daquele abraço.

— Obrigada. — foi tudo o que consegui dizer. Ele parecia confuso e seguro ao mesmo tempo.

— Não fiz nada. — ele retrucou sorrindo. Seu olhar pousava com compreensão em mim com um brilho estranho e eu me limitei a olhá-lo de volta, tentando manter a expressão neutra.

Queria ter ficado mais tempo naquele abraço.

— Bem, eu ainda tenho que ir para casa. — lembrei.

— Tem mesmo. Permita-me deixá-la em casa, Queen Marie. E se precisar de alguém para dizer frases estranhas, abraçar e chorar, estou aqui. — ele bagunçou meu cabelo e eu me permiti sorrir sinceramente, tentando contornar minhas emoções.


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Notas finais do capítulo

Para quem reclama de romances rápidos: 28 capítulos e eu construindo de forma tão gradual quando a evolução humana kkkkkkk
Shelly é tão sutil em dizer que está doidinha pelo bofe...
Só pra avisar o porquê da minha demora: passei na universidade para Letras português no turno matutino, estou terminando o meu técnico integrado no IF à tarde e estou estagiando à noite. Sim, eu sou louca.
Maaaas não se preocupem. Tenho algumas partes dessa história adiantada. O próximo capítulo vai ser óóótemo e o 30 vai ser bem intenso.
Críticas, comentários, sugestões, correções, coisas fofas e palavras de incentivo abaixo vvvvvvvvvvvv
Até o próximo o/



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