Segredos de vida escrita por Lana Talita


Capítulo 6
Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novinho, quis fazer algo mais leve depois da tensão do capítulo anterior. Até mesmo porque não é só de problemas que o homem vive kkkkkkkk. Me desculpem qualquer erro. Boa leitura!



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Depois do meu café-da-manhã com Rafael voltei para o apartamento do papai. Precisava pensar em tudo o que Rafael me disse e em qual mentira contaria para minha tia caso ela reclamasse por eu ter saído com ele ao invés de ir para a aula. Minha tia era quem me ajudava com a escola, estudava comigo quando estava com dificuldade e ia as reuniões de pais e responsáveis. Meu pai até tentava fazer o mesmo, mas eu dizia que não precisava se preocupar porque sua irmã me ajudaria.

O apartamento do meu pai estava vazio e em perfeita ordem quando cheguei. Perguntava-me que horas Vidal trabalhou a noite passada, pois não o vi em momento algum. Sentei no sofá branco e fechei os olhos, mas imediatamente tive que abri-los porque meu celular começou a tocar. Era a Marcela, uma menina da minha escola, me chamando para ir à Vista Chinesa com ela. Portanto voltei para casa, peguei meus documentos e dinheiro e pedi para o motorista me levar até lá. Ao chegar ao mirante da Vista Chinesa, dentro da Floresta da Tijuca, vi Marcela parada na frente do pavilhão. Ela usava um short jeans, uma camisa preta e os cabelos castanhos soltos.

– Oi. Que demora a chegar. – Marcela falou.

– Quanto tempo está aqui? Não demorei nada, vim de carro.

– Quando te liguei já estava aqui. Achei melhor vir antes e depois te chamar, porque você não ia querer subir a pé comigo. Eu vim pelo Jardim Botânico, sabe, subindo a Estrada Dona Castorina.

– Sei sim. Bom, caminhada de quatro horas por essa estrada cheia de ciclistas malucos prestes a me acertar, dispenso.

Ela riu da minha cara e entrou no pavilhão. Uma construção em estilo oriental que aparentava ter sido erguida em bambu, mas na verdade era de concreto armado pintado que imita bambu. A parte de cima era uma espécie de torre com múltiplas beiradas, chamado de pagode chinês, com beirais arrematados por cabeças de dragões em cada extremidade. Eu e Marcela fomos até a cerca que envolve a construção para apreciar a vista. Era possível ver o Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Lagoa Rodrigo de Freiras, praia de Ipanema e Leblon.

– É a primeira vez que venho aqui, é muito bonito. – Falei.

– Sério? Ainda bem que estava atoa em casa, aí resolvi vir pra cá e te chamei. Eu gosto muito daqui, mas não tem mais nada pra fazer. Só ficar olhando o monte de mato e a cidade.

– Isso é verdade. Vamos fazer o que agora então?

– Bom, ficamos mais um pouco e depois vamos pra sua casa comer alguma coisa. Não estou a fim de comprar nada não.

Concordei com ela e voltei a olhar a paisagem. Conheci Marcela no inicio desse ano, mas rapidamente já se tornou uma grande amiga. Ela sabia tudo de mim e era uma das poucas pessoas que já levei na minha casa. Ficamos mais meia hora no mirante e fomos para a minha casa. Ao chegar apenas vi Vidal conversando, novamente, com o garoto que o ajuda a cuidar do jardim. Cumprimentei os dois pensando no fato de que o empregado mais velho, sorridente e aparentemente inofensivo estava metido em algo muito ruim. Pegamos um pote de sorvete de flocos no freezer e duas colheres e fomos para meu quarto, sempre que Marcela me visitava comíamos sorvete no quarto rezando para minha mãe não aparecer, pois se ela visse era capaz de expulsar Marcela da casa e me deixar de castigo pelo resto da semana. Mamãe dizia que gastou muito com meu quarto para eu acabar sujando-o com comida.

– Sua mãe está trabalhando? – Ela perguntou.

– Acho que sim. O personagem dela lá na novela, Amor a meia noite, vai sofrer um acidente de carro.

– Como sabe?

– Li o roteiro ontem, quando ela estava apagada no sofá.

– Você nunca me contou porque seus pais se separaram.

– Ah é complicado, foi um monte de coisa, também não sei direito. Mas não é sobre isso que quero conversar, preciso te contar umas coisas.

Contei para ela sobre a primeira vez que vi Rafael, sobre eu ter que brigar com a tia Fernanda para ela me dar alguma informação em relação ao menino, depois o café-da-manhã. De tudo o que falei Marcela se interessou mais em saber se Rafael era bonito, se gostava de mim, se íamos sair de novo. Assim que falei tudo o que ela queria saber, Marcela suspirou e disse:

– Eu acho que você tem que esquecer esse assunto. Só por enquanto, depois eu mesma vou te ajudar a descobrir em que Vidal está metido, e se a sua tia também está envolvida. Porque não acho que ela tenha aceitado Rafael apenas por ter um bom coração.

– Minha tia aceitaria por isso sim, é algo natural dela, é uma boa pessoa.

– Sei não em. Mas enfim, você tem que ir a uma festinha comigo na casa da minha prima, eu vou pra casa me arrumar e depois volto aqui, aí vamos com o motorista. Vai ser bem legal, mas vou ficar sozinha lá, então tem que ir comigo. É bom pra você se distrair, esquecer um pouco disso tudo.

Franzi a testa e balancei a cabeça negativamente, ela fez biquinho e entristeceu os olhos igual uma criança faz para conseguir algo. Portanto bufei frustrada e aceitei seu convite.

***

Já de noite, às oito horas, tomei banho e coloquei um vestido verde escuro que passava a impressão de que meu corpo não era tão reto, tão sem curvas e destacava o ruivo do meu cabelo. Uma hora depois Marcela chegou usando um vestido vermelho curto com um decote generoso no busto. Saímos a caminho do bairro Gávea. Ao chegar à casa da prima da Marcela nos deparamos com dois seguranças barrando os convidados para revista-los antes de entrarem. Nas primeiras cinco pessoas que foram barradas, fiquei pensando serem desnecessários os seguranças, mas depois mudei de ideia. Pois dois convidados que estavam na minha frente não puderam entrar, foram pegos com drogas.

– Ela leva a segurança muito a sério, não quer ir em cana de novo. – Marcela disse.

– De novo? Quantos anos a sua prima tem?

– Vinte. Mas não foi nada demais, passou uma noite só. Tá tudo tranquilo agora.

Após sermos revistadas entrei na casa apreensiva, tendo quase certeza de que a dona não fora presa apenas uma vez como Marcela dera a entender. Começamos a andar pelo local que parecia não ter fim, fiquei surpresa já que do lado de fora a casa parecia menor que a minha. Os corredores eram grandes em comprimento e altura, cada um dava para um cômodo tão mais espaçoso quanto o anterior. Os móveis em sua maioria eram de vidro, muito bonitos. Fomos para um corredor a nossa esquerda no segundo andar e entramos na única porta aberta. Vimos uma amontoada de corpos dançantes. Marcela se colocou rapidamente entre as pessoas e sumiu, fiz o mesmo para segui-la, mas a perdi de vista. Então tropeçando e empurrando todos os corpos voltei para a sala principal, peguei uma bebida e saí andando pela casa.

A cada movimento de meus pés maior a casa ficava, quase um labirinto. Só não era uma mansão por poucos metros. Vi um único cômodo vazio, a porta estava aberta, mas havia um segurança na frente dela e uma placa escrita “acesso restrito”. No entanto pelo que deu para ver era um fliperama particular. Ao chegar ao terraço encostei-me à parede e observei as pessoas dentro da grande piscina no meio do local, as perto da churrasqueira, as perto de mim mesma. Todo mundo parecia se divertir, até demais. A verdade é que a festa parecia um harém, eu deveria estar amando isso e bebendo mais do que aguento, depois devia ser levada para casa de algum homem e me gabar disso com a Marcela. Mas ela que gostava disso, eu mal me sentia confortável em lugares cheio de gente.

De repente uma pessoa, de costas para mim, na beirada da piscina se destacou entre todas as outras. Uma pessoa alta, musculosa, pele morena, de cabelo castanho e usando jeans, sapato preto e uma blusa social com a manga dobrada de duas tonalidades, vermelho na parte de fora e branco na parte de dentro. “Será que é ele? Só pode ser, tem o corpo igual o dele, se veste como ele, até o cabelo é o dele. O que Rafael faz aqui?” perguntei-me. Rapidamente desencostei da parede e fui em direção a ele. Mas Rafael segurou a mão de uma mulher baixa e negra que sorriu e falou algo em seu ouvido, em seguida ele a abraçou passando a mão pelos fios pretos dela. Olhei a cena com certo desgosto, ver Rafael flertando é a ultima coisa que desejava. Ele e a moça começaram a andar para perto da grade no fim do terraço, o único lugar vazio e o melhor para se olhar as estrelas.

Como se não bastasse irem para longe da piscina ainda iam desfilando, como se todo mundo estivesse ali para olhá-los andando e admirá-los. Em seguida a moça deu um pequeno empurrão no Rafael, ele então a empurrou de volta, repetiram isso mais duas vezes. Até que ele decidiu colocar os braços em volta dos ombros dela e beijar sua bochecha. Imediatamente me senti incomodada com o que via, tanto que precisei firmar os pés no chão para não ir até lá dar um oi, estragando o romance. Como se ouvisse meus pensamentos, Rafael puxou a moça para mais perto e a beijou. Uma pontada de raiva passou por mim, uma vontade de ligar para tia Fernanda e falar que Rafael estava se metendo em confusão, só para ele ter que ir embora. Porém virei às costas decidindo que era besteira me importar com isso, sem contar que podia nem ser ele. Já que não consegui ver seu rosto.

A festa já estava cansativa e o som alto me dando dor de cabeça, desci até a sala principal e procurei por Marcela. Não foi difícil achá-la, era a única bêbada que estava em cima de uma cadeira cantando pagode, com dois garotos gritando seu nome e a chamando de gostosa.

– Marcela, Marcela! Vamos embora. – Gritei.

– Não, vá você. Estou fazendo sucesso aqui, depois vou pra casa de um dos caras que conheci.

Andei até a porta e virei para trás para dar um último tchau para Marcela, quando vi descer as escadas um par de pés de sapato preto. Minha respiração ficou pesada, mas logo tratei de normaliza-lá. Levantei a cabeça para olhar o rosto do homem, então senti um misto de alívio e decepção ao ver que não era ele, não era Rafael. Fui para casa tentando não pensar no que sentira, pedindo para que o dia seguinte apagasse Rafael e todos os problemas de minha mente. Ao entrar em casa tomei um banho rápido e fui dormir.

***

Acordei tendo meus ombros empurrados. Virei para o lado de quem estava me empurrando e vi a expressão raivosa de minha mãe.

– Por que ainda está na cama? E a escola? – Perguntou.

– Eu não vou, não quero ir.

– Claro que não quer ir, só sabe vagabundear. De qualquer forma, eu quero dormir e você não para de gritar. Fica quieta.

– Ficou maluca mãe? Não estava gritando. Não estava nem sonhando

– Claro que você acha isso, estava dormindo, não tem como saber. Mas dá um jeito de controlar mesmo assim.

Mamãe começou a sair do quarto quando eu lembrei do que Marcela tinha me falado, que eu nunca havia contado sobre o divórcio dos meus pais. Então juntando toda a coragem que tinha falei:

– Mãe, porque você e o papai se separaram?

Ela parou de andar imediatamente, virou para mim com o rosto pálido e os olhos esbugalhados como se tivesse visto um fantasma.

– Ana você sabe que é um assunto proibido nessa casa. – Respondeu.

– Sim eu sei, mas eu tenho direito de saber. Até mesmo porque tenho certeza que a culpa não é completamente minha como você diz.

– Não não é, mas também boa parte da culpa é. Se quer saber fale com seu pai, porque eu não sou obrigada a relembrar isso.

A vi passar pela porta com uma dor no coração. Mamãe dizia que eu tinha culpa no divórcio deles só porque falei o que não devia, mas tinha só nove anos. Eu era uma criança. Aconteceu um mês depois que fiz nove anos. Meus pais já não estavam bem, pois mal se falavam civilizadamente e diversas vezes papai passou a noite no sofá ou fora de casa. Odiava quando eles brigavam porque eu que virava mensageira deles. Até que em um sábado ensolarado, enquanto eles brigavam eu resolvi ficar sentada no passeio de casa para tomar sol e relaxar.

Um homem todo vestido de preto e muito simpático sentou ao meu lado. Perguntou o que estava havendo dentro da minha casa, pois toda a vizinhança conseguia ouvir os gritos. Respondi que meus pais estavam brigando, mas não precisava se preocupar. O homem então foi puxando assunto comigo e me fazendo ficar mais animada. Quando percebi já tinha falado de toda a história sobre meus pais, todas as brigas, a raiva, os choros. Tudo o que presenciei. No dia seguinte o que falei já estava na primeira página das revistas de fofocas. Durante semanas nas entrevistas que mamãe concedia e programas que ia perguntaram sobre o casamento, começaram a inventar mentiras, a falarem mal de mamãe e a tratarem meu pai como o coitadinho da história. Até que ela não aguentou e pediu o divórcio.

A essa altura eu já não aguentava mais a culpa que sentia por ter falado com o paparazzo, então fui e confessei para mamãe o que fiz. Pedi perdão, mas não adiantou. Durante meses ela perguntou por que fiz isso com ela e a dizer que eu a odiava. Quando fiz dez anos se separaram oficialmente, papai só via a minha mãe quando ia me buscar e falar que depositou a pensão na conta dela. Mas depois de alguns meses começaram a se envolverem novamente, porém não contaram para ninguém. Quando descobri não entendia que estavam juntos de novo, mas depois de um tempo comecei a entender. Por algumas semanas fiz piadinhas com eles dizendo que deviam voltar, quando papai ia me buscar falava para ele que minha mãe havia saído com um homem na noite anterior. Mas nada disso fez eles me contarem. Com o passar do tempo aceitei a situação e percebi que eles funcionavam melhor em segredo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Beijinhos.