Segredos de vida escrita por Lana Talita


Capítulo 4
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora galera, ando atarefadassa. Espero que gostem, boa leitura! Aaa o Nyah não quer aceitar que o dialogo tenha um espaçamento maior que o inicio dos outros parágrafos, desculpe por isso. E coloquei uma hora esse sinal *** , não quer dizer que mudei de local, só de acontecimento, o Nyah não tá querendo aceitar que eu pule um espaço grande entre os parágrafos



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Estava sentada no escritório do segundo andar, mexendo no computador, quando o senhor Vidal bateu na porta de madeira dizendo que estava na hora. Fui até meu quarto e me preparei para a chegada de minha mãe e suas amigas. Toda terça-feira era a mesma coisa, mamãe levava para casa um grupo de mulheres do trabalho e do bairro. Eu tinha que estar impecável e ficar ao seu lado com um sorriso no rosto quando me chamava, e ela sempre chamava.

Eu gostava das outras atrizes, eram pessoas gentis. No entanto mamãe era falsa com elas. Quando estavam juntos, minha mãe era um poço de simpatia, gentileza, carinho e doçura. Em determinado momento da conversa ela me chamava para participar, pedia minha opinião, falava sobre minha infância e se orgulhava das minhas conquistas. Saí do quarto quando escutei a voz de Vidal dizendo que minha mãe já chegaria, eu precisava recebê-la, já que nesses dias mamãe não levava a chave de casa. O senhor Vidal e a esposa eram os empregados domésticos da casa, trabalhavam para a família desde que nasci. Portanto, foram expectadores dos melhores e piores momentos da família.

Ele me olhou de cima a abaixo, sorriu docemente e ajeitou alguns fios bagunçados do meu cabelo. Eu trajava um vestido azul turquesa que ia até a metade das minhas coxas, nos pés uma rasteirinha preta e o cabelo estavam presos em uma coque bagunçado. Quando estava chegando à sala para esperar minha mãe, ouvi sua voz alta chamando-me. Coloquei meu melhor sorriso no rosto e fui destrancar a porta. Ela logo me abraçou e me apresentou a algumas moças novas no grupo. Elas se dirigiram para o quintal da casa, aonde se encontrava mesas e cadeiras brancas de frente para o grande jardim que Vidal cuidava semanalmente. Sentei na sala e liguei a televisão, esperando a minha hora de marcar presença entre elas.

Depois de algumas horas mamãe finalmente me chamou. Alisei meu vestido e fui até ela. Ela colocou o braço ao redor da minha cintura, e começou a falar sobre a época que o amor incondicional era real. Incondicional. Uma palavra, treze letras, algo que não está sujeito a qualquer tipo de restrição ou limitação. A palavra incondicional foi apresentada a mim quando tinha oito anos. Era uma época em que eu e minha mãe brigávamos mais do que já brigamos alguma vez, ela tinha uma mania de me tratar como sua igual. Quando discutíamos, geralmente por algum motivo besta como eu me recusar a dormir na hora que ela mandava, ela reclamava como se tivéssemos a mesma idade.

Diversas vezes vi papai falando com ela que tinha duas crianças em casa, não uma esposa e uma filha. Mas isso não o deixava bravo, pois nem eu nem mamãe guardávamos rancor, éramos como irmãs que brigam um dia e no outro estão conversando como se nada tivesse acontecido. No entanto, em uma quarta-feira, as brigas subiram de nível. Minha mãe estava irritada devido alguns problemas no trabalho. Ela entrou em casa resmungando e em seguida se trancando no banheiro de piso branco e azulejos vinho do quarto dela. Quando finalmente saiu do banheiro foi para a cozinha preparar o jantar, eu fui atrás dela, sentei na cadeira da mesa de granito e fiquei a encarando cozinhar. Depois de alguns minutos ela se virou e me viu a analisando dos pés a cabeça. Inspirou esfregando a mão na testa e disse:

– Ana, não estou com paciência pra você me encarando, então fala logo o que quer.

– Só to vendo você, pode mais não?

– Não, não pode! Fala logo o que quer ou sai daqui! – Mamãe gritou.

Levantei da cadeira, estufei o peito e fiquei a alguns centímetros dela. Não era a primeira vez que mamãe gritava comigo, e todas às vezes acabava com uma sem querer falar com a outra pelo resto do dia.

Não vou sair daqui, papai diz que a casa também é minha! – Gritei de volta.

– E daí? A mãe aqui sou eu. Se eu mando uma coisa, então você obedece.

– A mãe que me deixa com empregadas o dia inteiro! A mãe que só sabe brigar comigo! A mãe que papai diz que é mais criança que eu!

Minha mãe me olhou com raiva fazendo meu corpo estremecer, ela abaixou a cabeça e em um sussurro me mandou sair da cozinha antes que ela me tirasse à força. A mágoa foi enorme, então tomei uma decisão. Não ficaria nem mais um minuto naquela casa. Juntei algumas roupas na minha mochila cor de rosa da escola, peguei a chave do portão que estava em cima da mesa toda de vidro da sala de jantar, e saí sem ser notada. Eram sete horas da noite quando saí, fiquei andando pela redondeza irritada e chorando. A cada passo uma lágrima caía. Quando percebi já estava perdida e não tinha ninguém na rua. Sentei na calçada tentando não entrar em desespero. Avistei dois homens andando calmamente no meio da rua escura e silenciosa, fiquei com tanto medo que saí correndo.

Corri enquanto minhas pernas curtas aguentassem, sem olhar para trás, desejando que os homens não estivessem me seguindo. Quando meus pulmões já pediam por socorro parei de correr, olhei para trás e para meu alívio estava sozinha. Sentei na calçada de uma mansão grande, a parede de pedra com musgo úmido deixava a vista apenas o telhado da casa. Aconcheguei-me no musgo e fechei os olhos, adormeci pedindo a Deus que acordasse em minha cama novamente. Deus me ouviu. Quando amanheceu senti um edredom em cima de mim, abri os olhos lentamente e vi mamãe e papai parados, me encarando.

– Oi. – Falei envergonhada.

– O que deu em você Ana? – Papai perguntou.

Mamãe tirou papai do quarto antes que eu pudesse responder, não sei o que ela falou com ele, mas quando voltou estava sozinha.

– Oi meu amor. – Falou. Sorri sentindo meu rosto queimar de vergonha e estranhando a voz aveludada de minha mãe, ela raramente usava esse tom de voz comigo.

– Você tem noção do quanto me deixou preocupada? Se não fosse por seu pai e Vidal saírem desesperados atrás de você, ainda estaria sumida. – Perguntou.

– Desculpe mamãe, é só que... Ah, eu não sei.

– Tá tudo bem minha criança, sei bem porque fugiu. Olha eu sei que fui muito grossa com você ontem, eu estava estressada...

– Você disse que ia me tirar a força da cozinha mamãe, você nunca fez isso antes. Você tava muito mais que estressada.

– Sim eu estava. Me desculpe por isso. Eu não ia realmente te tirar a força, falei sem pensar. É que... foi ruim ouvir o que você falou. Eu sei que eu trabalho demais, e brigo muito contigo, mas eu te amo. Mais que tudo, você é a minha menina.

– Me desculpe, eu tava chateada. – Falei baixinho.

Mamãe me empurrou para o lado esquerdo da cama, fazendo minhas costas esbarrar na parede rosa e fria. Ela virou para meu lado, me abraçou e disse baixinho, como se fosse um segredo.

– Só... vamos esquecer o que aconteceu ok? E não fuja mais, morreria se algo te acontecesse. Meu amor por você Ana, é incondicional.

– O que é isso?

– Quer dizer que meu amor por você é maior que a distância daqui até a lua. Algo que nada pode fazer acabar. Você sabe que eu irei virar um anjinho um dia certo?

Abaixei a cabeça e murmurei um sim com lágrimas nos olhos.

– Então, nem mesmo quando estiver lá no céu, te vendo de longe, deixarei de te amar. Meu amor é incondicional.

***

Mamãe me beliscou de leve atraindo minha atenção, todos estavam me encarando. Olhei para ela sem entender o que estava acontecendo, e ao perceber isso ela disse que, às vezes, sou muito distraída e riu. Em seguida me dispensou. Fui para a sala de estar novamente e comecei a assistir uma maratona de séries. Quando percebi minha mãe estava do meu lado dizendo para me despedir de suas amigas. Levantei do sofá e abracei cada uma. Com o canto do olho vi mamãe balançando a perna, o rosto ficando vermelho e o peito subia e descia rapidamente. Ela precisava beber.

Despedi delas o mais rápido possível, corri até meu quarto e me tranquei. Mamãe tinha bebido vinho com as amigas, mas só isso não era o suficiente. O corpo dela implorava por mais, portanto quando uma bebida não fazia mais diferença em seu organismo, ela ia para uma mais forte. No entanto, não sei como, a bebedeira dela não afetava o trabalho. Afinal, nada podia atrapalhar sua preciosa carreira. De repente escutei batidas, que mais pareciam socos, na porta. Abri e deparei-me com um senhor Vidal quase arrancando um pedaço da boca com os dentes, face mais branca que o normal e olhos assustados.

– Você precisa sair. – Vidal falou.

– Por quê? O que houve?

– A patroa Amanda, ela está bebendo na cozinha e está uma fera. Já chamou por você umas mil vezes.

– Mas o que mamãe quer comigo? Ela nunca me chama quando bebe.

– Deve ser porque você estava distraída mais cedo, sabe como a patroa odeia falar contigo quando você está em outro mundo. Normalmente ela largaria para lá, mas você fez isso na frente de outras pessoas. Agora se eu fosse você, não correria o risco de aparecer na frente dela com ela nesse estado. Vai para casa de alguém e deixa que eu invento algo pra patroa. – Vidal implorou.

Olhei para ele em dúvida, não queria que se metesse em confusão, principalmente sabendo que o máximo que mamãe faria era gritar e ser cruel. Porém Vidal ainda não tinha se acostumado com isso. “Nunca me acostumarei”, ele dizia. Portanto entrei no quarto, peguei uma bolsa e coloquei algumas coisas dentro dela para passar a noite fora, entre elas a chave do apartamento da tia Fernanda. Senhor Vidal me passou a chave da porta e foi para a cozinha tentar controlar minha mãe, então rapidamente saí sem ser notada. Peguei um ônibus, pois se fosse de motorista mamãe notaria, e fui para a minha tia.

Parada de frente a porta do apartamento percebi que minhas mãos suavam, minha mente travava uma guerra entre ir embora e ver Rafael novamente. Então com as mãos trêmulas girei a chave na fechadura e entrei deixando apenas o barulho da porta rangendo denunciar minha presença. Andei um pouco pelos cômodos a procura de alguém, no entanto estava vazia. Larguei minha bolsa na sala de jantar e fui para cozinha pegar alguns biscoitos de chocolate. Depois de comer os biscoitos, fui para meu quarto descansar um pouco antes da minha tia chegar. Acordei com barulho de passos no primeiro andar. Levantei vagarosamente, arrumei meu cabelo e desci seguindo o som dos passos. Ao chegar à origem do som fiquei sem reação. Rafael estava andando de um lado para o outro e sem camisa. Pigarreei para chamar sua atenção fazendo-o me olhar assustado.

– Ah oi ruivinha. O que está fazendo aqui? – Perguntou.

– Fiquei com vontade de dormir aqui. Qual a razão de andar pra lá e pra cá? Quer fazer um buraco no chão?

– Claro que não, só estou tentando resolver uma situação. Dizem que andar ajuda a pensar.

– O que aconteceu?

– Você não entenderia.

Senti o sangue ferver em meu corpo, estufei o peito, dei dois passos a frente e o encarei dizendo:

– Você não tem como saber disso. Fala logo o que aconteceu e por que está nessa casa!

– Pergunta para sua tia ué, ela que tem que te falar. Eu nem te conheço.

– Ela não quer falar. – Bufei.

– Porque você não entenderia.

Ignorei a fala dele e fui para sala com raiva. Joguei-me no sofá, fechei os olhos tentando me acalmar, mas em seguida senti alguém do meu lado. Assim que abri os olhos novamente vi Rafael me encarando.

– Eu gosto dos seus olhos. Castanho e azul. – Disse ele

– Obrigada.

– Esse é o momento que você continua a conversa.

– Bom, podemos continuar a conversa com você me contando o que está acontecendo.

– Eu posso, mas não quero.

Joguei a almofada nele e subi para meu quarto, quando estava no ultimo degrau da escada ouvi uma risada alta e grossa. Meu coração pulou e eu tive que me segurar para continuar andando. Esse menino ainda ia me fazer ter um ataque de nervoso. Tendo ataque de nervos ou não, eu iria fazê-lo falar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.