Segredos de vida escrita por Lana Talita


Capítulo 3
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo novinho, espero que gostem!



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O fim de semana chegou mais rápido do que gostaria. Fim de semana significava ir para o apartamento do meu pai, em Copacabana. Ele sempre me buscava no sábado depois do almoço, e como sempre, mamãe agia como se eu fizesse falta. Ela colocava a melhor roupa e maquiagem, me arrastava para o portão e me abraçava quando avistava o carro do papai dobrando a esquina.

Algumas vezes até chorava dizendo que seria difícil ficar longe de mim. Como se estivesse em uma cena que só termina com a minha ida. Meu pai como um bom diretor que cuida de suas atrizes, dizia que eu tinha sorte de ter uma mãe tão protetora, bonita, espetacular, amorosa e preocupada. Em pensamento me perguntava se mamãe sabia que o homem que ela tanto queria impressionar, que via em segredo, tinha uma mulher o esperando em casa. Quando chegamos ao apartamento a noiva do papai, Juliana, abriu a porta já me abraçando e pegando a bolsa que eu segurava para guardar no meu quarto.

Ela e meu pai estavam juntos há três anos e noivos a dois, e com o passar dos anos nos aproximamos muito, posso dizer que até eramos amigas, no entanto ainda não tinha me acostumado a conviver com ela sabendo que seu futuro marido tinha a ex-esposa de amante. Em poucos minutos fiquei sozinha na grande sala decorada em preto e branco, Juliana já estava em algum canto do apartamento e meu pai fora para o escritório de advocacia atender um cliente. Sentei no sofá branco bufando, seria um longo fim de semana. Imediatamente uma sensação começou a me incomodar, como se estivesse faltando algo dentro de mim. Mas não sabia exatamente o quê. Saí do apartamento deixando apenas um bilhete para Juliana, dizendo que ia para a tia Fernanda. Meu pai não gostava que eu saísse sem ele nos fins de semana, dizia que eu já tinha a semana toda para isso, portanto sábado e domingo era o nosso tempo.

No entanto, estar no apartamento dele apenas com a companhia silenciosa de sua noiva era muito ruim. Incomodava. Eu já ficava sozinha em casa, não precisava disso em outros locais. E também tinha certeza que se fosse para a minha tia, me distrair, a sensação de algo faltando acabaria. Cerca de trinta minutos depois cheguei ao apartamento da minha tia, a encontrei enrolada em uma coberta azul clara, os fios loiros bagunçados e arrepiados, e os olhos azuis caídos.

– A senhora acordou agora? – Perguntei.

– Acordei. Resolvi dar uma folga a mim mesma e dormir até tarde, isso que é o bom quando seu chefe viaja e te deixa no comando da firma.

Sorri para ela e fui até a sala de estar, a sala dela era aconchegante, as paredes pintadas em gelo, o sofá era bege combinando com a estante marfim onde ficava a televisão e DVDs. Mal deitamos no sofá quando escutei um barulho inconveniente do segundo andar. Após alguns minutos ouvi passos na escada atrás do sofá, olhei para ela e o vi. Ele usava uma bermuda vermelha e uma blusa branca surrada, descia os degraus lentamente, porém com pisando firme, e com a cabeça abaixada. Meus olhos acompanharam cada movimento seu, até que ele parou na frente da tia Fernanda e eu fui obrigada a fixar meu olhar na televisão desligada. Ele abraçou minha tia ficando a poucos centímetros de mim, quando se afastou soltei a respiração que não havia visto que estava segurando.

– Oi. – Falou o menino para mim.

– Oi.

A voz dele era grave e forte combinando com o físico musculoso. Meu coração agitou no peito quando falou comigo, achava que ia me ignorar como da última vez.

– Me chamo Rafael, e você? – Ele perguntou.

– Ana.

– Bonito nome. Ana.

Sorri sem graça, pensando em como meu nome ficava bonito pronunciado pela voz firme dele.

– Me lembro de você da ultima vez que veio ver a Fernanda. Desculpa perguntar, mas você parece vir muito aqui, por quê? – Rafael perguntou.

– Por que você parece morar aqui?

Ele mexeu os ombros para cima e para baixo com a minha fala e saiu andando. Senti meu sangue ferver com a intromissão dele. Se eu ia muito naquele apartamento não lhe dizia respeito, principalmente quando ele era o intruso.

– Tia, vai me falar agora o que esse menino sem educação tá fazendo aqui?– Reclamei.

– Coisas de adulto meu amor. E é bom se acostumar, ele morará comigo por um bom tempo.

No fim do dia voltei para o apartamento do papai, ele ainda não havia chegado do trabalho. Fui até o quarto dele e vi Juliana encolhida na cama de frente para televisão preta de Lcd, assistindo um filme bobo de romance.

– Finalmente voltou, já estava achando que veria seu pai brigar contigo. Sabe que ele não gosta que saia sem ele. – Disse Juliana.

– Eu sei. Ainda bem que ele ainda não chegou.

Juliana esboçou um sorriso e abriu os braços fazendo sinal com a mão de que fosse até ela. Deitei na cama me aninhando em seus braços, sentindo-me uma criança que precisa de carinho. Uma pontada de culpa atingiu-me, ela ficaria devastada se descobrisse da amante do meu pai. Talvez não fosse capaz de me perdoar por esconder isso dela. Tentei esquecer a culpa fechando os olhos e concentrando na sensação aconchegante que era estar abraçada a Juliana. Ela já me abraçou diversas vezes, mas era a primeira vez que me senti amada, e por alguns segundos me permiti imaginar como seria se ela fosse minha mãe.

Ouvi meu estomago fazer um barulho alto que foi seguido por uma gargalhada de Juliana. Saí do abraço dela a fim de pegar algo para comermos. No primeiro passo fora do quarto notei algo diferente no corredor, um espelho de corpo inteiro encostado na parede. Olhei-me por alguns segundos reparando que continuava a mesma, toda a culpa e mágoa não afetara minha beleza. Segui pelo corredor até chegar à sala de estar, vi uma moça sentada no chão e meu pai atrás da televisão, tentado arrumar algum fio. Imaginei que ela devia ser alguma cliente do papai, diversas vezes ele levou seus clientes para o apartamento. Porém o que aconteceu em seguido me deixou de boca aberta.

Uma criança, não mais que cinco anos correu até a moça e se jogou em seus braços dando um gritinho de felicidade. Papai ouviu a voz fina da menina e foi em sua direção, a colocou em seu colo e começou a girar. A moça virou para mim sorrindo de uma forma que só a mamãe fazia.

– Olá. – Disse ela.

A fitei com a testa franzida e a boca aberta, não conseguia emitir nenhuma palavra. Como se as minhas cordas vocais estivessem danificadas.

– Por que tá me encarando? – Ela perguntou.

– Me desculpe, é só que... a sua voz...é...aveludada. Como a da minha mãe.

– Não faça gracinhas Ana! – Papai gritou.

Cerrei o punho, estufei o peito e andei para perto do meu pai, como sempre fazia quando estava prestes a dar uma má resposta para alguém. No entanto algo me fez parar, a moça puxou meu braço fazendo-me ficar de frente para ela. Imediatamente senti a minha mente embaraçar e meu coração pular no peito. O rosto dela era extremamente parecido com o de minha mãe, na verdade era igual. Da ponta da orelha até as olheiras fundas de noites sem dormir. Chego um pouco mais perto e percebo que o perfume de maçã com canela impregna as roupas dela. Instantaneamente prendo a respiração para não sentir aquele cheiro.

– Por que você me odeia? – A moça sussurrou.

– Não te odeio, nem te conheço!

– Mentira! Odeia sim, desde pequenininha. Eu te amei tanto, mas você fez aquilo comigo.

De repente meus olhos se abriram sem que eu notasse que os havia fechado. Vi Juliana ainda abraçada a mim, prestando atenção na televisão. Tinha sonhado. Repassei cada cena na cabeça, mas apenas consegui me lembrar de algumas partes. Entre elas estava a maçã com canela. Mas dessa vez, o espanto, o nervosismo não veio quando a lembrança do aroma invadiu minha mente. Ainda no conforto e segurança dos braços de Juliana, percebi que, pela primeira vez, maçã com canela não me afetara.


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Notas finais do capítulo

Então foi isso, critiquem a vontade, sempre bom para melhorar. Beijinhos.