O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 6
Quinto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura, seus lindosss



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Hesitei.

Como aquilo fora parar em minha bolsa? Alguém colocara? Christopher deixou cair dentro da minha mochila?

Minha respiração se desregulou. Era o diário de Christopher e eu entendia muito bem que “diário” e “privacidade” eram duas palavras que andavam lado a lado.

Ele, com toda certeza, não iria gostar se eu lesse.

–Blakely, amada, venha aqui em baixo! – escutei Dona Sarah. – Meus joanetes estão me matando. Não posso subir a escada.

Eu riria se não estivesse tão tensa, só que meu coração bombeava adrenalina sempre que eu lia “Christopher Robinson” na capa.

Rapidamente joguei o diário para baixo da cama, ele deslizou suavemente, então me levantei e desci as escadas para ver Dona Sarah.

–Ora, amada, você cresceu mais nas férias? – perguntou, vindo até mim e pousando sua mão no topo da minha cabeça. Eu odiava ser baixinha.

Dona Sarah tinha cabelos grisalhos, olhos verdes e era bem gordinha. Muitas vezes eu confundia seus pneus de gordura na barriga com o seu peito e então eu ria internamente até ter um ataque epilético. Mas no momento eu não conseguia pensar em nada engraçado para rir sozinha de Dona Sarah.

–Vou preparar um delicioso chá para nós, tudo bem? – disse a senhora e caminhou lentamente para a cozinha.

Ela me chamara aqui só para isso? Me ver e me ofender com minha altura? E depois dizer que iria fazer um maldito chá?

Suspirei. Coloquei as mãos na cabeça e voltei a pensar naquele livro ao qual escorreguei.

Era isso!

Minha mente recapitulou tudo o que aconteceu durante a briga de hoje de manhã e então me lembrei do momento em que eu corria de Harrison, havia quase tropeçado e vira um livro no chão.

Eu o pegara. Eu o colocara na minha bolsa por engano. Mas e agora? Como devolveria a Christopher?

E mais. Eu nem o agradecera por hoje de manhã, quando deu uma lição em Harrison por mim e acabou por se ferrar no meu lugar. Eu mal o conhecera e ele já me ajudara muito. Porém, eu ainda me sentia intimidada perto dele. Ele mexia comigo e virava tudo de cabeça para baixo. Era desconcertante!

Joguei o ar para fora lentamente e me sentei na cadeira, colocando os braços na mesa de jantar e descansando um pouco.

–Eu estava pensando, amada... – Dona Sarah gritou lá da cozinha, como se eu estivesse a quilômetros de distância dela, sendo que só havia uma parede e uma porta (aberta) que nos separava. – Que tal fazer cookies com gotas de chocolate?

Até que ás vezes ela tinha boas ideias!

Minha preocupação foi me deixando aos poucos. Amanhã eu devolveria o diário a Christopher, explicaria que o vi no chão e confundi com um dos meus livros e então agradeceria por ter me defendido. Sim, eu faria tudo isso amanhã. Daria tudo certo. Mas agora eu precisava de cookies e talvez também pudesse guardar alguns para Christopher em forma de agradecimento.

Ele merecia.

Sorri e respondi:

–Eu adoraria, Dona Sarah.

***

Em menos de duas horas depois, os cookies com gotas de chocolate já estavam prontos e quando Dona Sarah os retirou do forno, suspirei de prazer. Então quando dei a primeira mordida... Oh, quando dei a primeira mordida... Me senti no paraíso!

Quando o ponteiro do relógio marcou quatro da tarde, minha mãe e meu pai chegaram. Logo sentiram o aroma de chocolate no ar e um pequeno detalhe era que Elizabeth Jones e Andrew Jones eram os pais mais chocólatras do mundo. O engraçado era que eles também não eram gordos, minha mãe fazia academia e então sempre estava em forma, com uma cintura fina que muitas vezes dava inveja, e papai era o maior fã de esportes, então sempre estava a treinar alguma coisa no quintal com as diversas bolas esportivas que tínhamos.

–Que cheiro é esse? – perguntou papai, me dando um beijo na testa. – São cookies? Ai, meu Deus, Dona Sarah. A senhora fez cookies com gotas de chocolate?

Mamãe riu e revirou os olhos, depois me deu outro beijo na testa e foi até a cozinha. Dona Sarah não quis ficar para o lanche, dizendo que tinha que buscar sua neta na escola. Então ficamos apenas nós três comendo os cookies na sala, enquanto a hora só ia passando. Até que eu dei o primeiro bocejo e me toquei que o tempo passou rápido demais. Poderia ser assim na escola também, lá os relógios pareciam congelar.

–Acho que está na hora de alguém dormir – meu pai comentou, me dando uma cotovelada de brincadeira.

–Vocês não vão dormir também? – perguntei, quase fechando os olhos.

–Eu tenho umas coisas para ver no computador – explicou mamãe.

–E eu tenho um novo caso que peguei hoje.

–É sobre o que? – tentei me manter ativa. Eu sempre gostava de ver os casos que meu pai pegava, às vezes ele compartilhava seus pensamentos comigo e muitas vezes eu acabava por ficar encantada com a linha de estratégias que ele tinha para conseguir ser um bom advogado e defender seus clientes.

Mas o sorriso de antes do meu pai sumiu.

–Não é nada que você precise saber – respondeu. – Boa noite!

***

Quando o despertador tocou, anunciando que era hoje o dia em que eu ia devolver aquele diário a Christopher e daria alguns cookies em forma de agradecimento... Fiquei sem fôlego. Ah, não! Era hoje o dia em que eu ia devolver o diário dele. Era hoje!

Meu coração acelerou e só saí de baixo das cobertas porque o despertador continuava com aquele som irritante.

Como sempre, demorei meia hora procurando alguns cadernos e o meu uniforme. Tomei um banho rápido. Prendi o cabelo em um coque e tentei parecer menos zumbi o possível.

Fui tomar o café com minha mãe. Por algum motivo, meu pai tinha a sorte de só começar a trabalhar depois das oito e acordava uma hora e meia depois de nós duas.

–Vai levar cookies de lanche?

Minha mãe me entregou um pote roxo e tirou o pano de cima da bandeja de cookies. Peguei o dobro do que comeria.

–Hoje você está com fome, hein?

Assenti enquanto ela ria baixinho.

Fomos para o carro. No caminho, escutamos The Beatles e então quando cheguei ao inferno disfarçado de escola, resmunguei um pouco. Me senti encorajada ao escutar Yellow Submarine e então acabei saindo do carro.

–Boa aula! – escutei minha mãe dizer, enquanto eu fechava a porta do carro.

Acenei e tentei sorrir.

Andei calmamente até a entrada de Dallington School e então vi aquela ninhada de pessoas correndo como se via em todos os dias, o sinal já devia ter batido. Fui logo para o meu armário, me lembrando do acontecido de ontem e dizendo a mim mesma que devolveria aquele diário e agradeceria a Christopher. Pronto! Eu não estaria mais em dívida com ele, embora o ato de me proteger seja praticamente impagável.

Peguei o livro de História e de Geografia no armário, atenta para não errar nas matérias e confundir livros. Já estava quase fechando a bolsa quando vi uma sombra no armário ao meu lado.

–Ah. Você está aí.

Me virei rapidamente, achei que fosse Harrison querendo sua vingança ou algo assim. Mas era apenas... Christopher. Ele estava como sempre. Gorro, luvas, tênis velho, blusa branca e jeans. O olho roxo ainda estava e um novo hematoma aparecia em seu braço direito. Nem acreditei que o confundi com Harrison Wayne. Ele não era nem de longe parecido com aquele imbecil.

–A-ah... Oi, eu... – travei. Me senti uma idiota e acabei por piorar a situação, corando.

–Sei que o sinal já bateu – ele disse, ignorando – propositalmente ou não – o meu gaguejo. – Mas acho que perdi um livro no meio da briga com Harrison, já que ele chutou minha bolsa – seus olhos azuis brilharam e Christopher passou a mão arrumando o cabelo, me fazendo ficar nervosa. – Gostaria de saber se você viu esse livro. É pequeno, capa marrom e velho.

Peguei a bolsa e a coloquei nas costas. Enquanto olhava para Christopher, que parecia esperar uma resposta.

Eu não conseguia pensar em nada.

Um barulho cortou o silêncio. Algo caíra da minha bolsa para o chão. Me virei para ver o que era.

Christopher se agachou, pegando um livro pequeno, de capa marrom e velho, como ele bem descrevera. Era o diário secreto. Ele caíra da minha bolsa quando fui ajeitá-la nas costas, quando eu estava prestes a entregá-lo para o seu respectivo dono.

Meus olhos se arregalaram ao olhar para Christopher. Ele parecia estarrecido, sem falar nada. Então algo estranho aconteceu, o azul de seus olhos brilharam, não por algo bom, mas sim por lágrimas.

Suas mãos se fecharam e os dedos, na parte aberta da luva, emanavam raiva.

–Não acredito que você leu! – ele finalmente disse algo.

As lágrimas de seus olhos desapareceram, dando lugar a raiva. Ele rangeu os dentes ao me encarar nos olhos.

–Eu protegi você daqueles babacas – Christopher gritou. – Não acredito que leu meu diário. Não acredito, Blakely. Pensei que você fosse diferente de todos esses idiotas dessa escola.

Um medo horrível tomou conta de todo o meu corpo, a ponto de eu ficar paralisada. Queria explicar. Queria dizer que eu não lera merda nenhuma. E queria falar da minha intenção de devolver o diário. Mas os olhos azuis cheios de raiva eram direcionados para mim e aquilo me fazia tremer.

Eu tinha medo de que Christopher me batesse.

Minhas mãos tremiam e meus olhos não conseguiam desviar o olhar de sua expressão cheia de raiva.

–E-eu juro que... – foi tudo o que saiu da minha boca.

–Não tente explicar – ordenou ele, se afastando de mim. – Eu quem tenho que jurar. E juro que se contar o que leu a alguém... – Christopher chegou um pouco mais perto, a cerca de centímetros do meu rosto amedrontado. – Eu irei a-c-a-b-a-r com você.

Seu hálito quente me deu mais medo ainda. Virei a cabeça, olhando para sua mão no armário ao meu lado, me impedindo de sair. Ele fizera que nem Harrison ao me pedir a senha do meu armário e isso só era mais um dos motivos de me afastar de Christopher Robinson, ele era um segundo Harrison Wayne.

Não um herói. E sim um vilão.

Poucos segundos depois, ele retirou suas mãos ao meu redor e saiu andando com o diário.

Algumas lágrimas, aquelas que eu prendera até então, começaram a cair.

Como eu pude pensar que em algum momento nós poderíamos ser amigos? Como eu pude pensar em agradecer aquele monstro? E mais. Como eu pude ter a grande ousadia de pensar que Christopher Robinson era um herói?

Fui idiota. Novamente.


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Notas finais do capítulo

Ah, obrigada por estarem lendo!



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