O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 7
Sexto Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Olha só, que legal, meu pc nao carrega o primeiro episódio de Terra Nova, então partiu postar um capítulo para vcs. Eu ainda nao tenho dia fixo de postagem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/625715/chapter/7

Eu ainda me sentia um pouco intimidada com as palavras de Christopher.

“Eu irei a-ca-bar com você”

Aquilo me fazia estremecer. E eu nunca me sentira daquele jeito até aquele momento.

Nos dois dias seguintes, passei as tardes pensando em rimas bobas, mas o ruim da poesia é que ela sempre – nem que em um mero versinho – mostra como você realmente se sentia no momento em que a escreveu.

Solidão. Tristeza. Era isso que eu sentia no momento.

Respirei fundo, tentando acalmar alguns nervos e jogando o caderno ao meu lado, na cama, entre os cobertores. Tudo na minha vida estava desconcertante. Harrison Wayne não aparecera mais. Christopher Robinson chegava cada dia com um hematoma novo no corpo e seu olhar só parecia conter mais raiva a cada instante.

A única coisa boa era que eu estava invisível. Ninguém me via. Ninguém zombava de mim. Mas eu também não conseguia prestar atenção em nenhum professor e em nenhuma explicação, então voltávamos à estaca zero.

—Blakely - escutei a voz de meu pai, logo em seguida ele adentrou meu quarto com um olhar preocupado. – Você não quer descer e lanchar comigo?

Estranhei.

—Não foi trabalhar hoje? – devolvi com uma pergunta, enquanto fechava o meu caderninho preto de poesia ao meu lado e guardava a caneta dentro dele.

—Não, não fui, querida. Vou mais tarde. Dona Sarah não estava muito bem hoje para ficar com você – ele respondeu, vindo até mim e sentando na ponta da cama. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios. – Eu estava pensando... Sua mãe acabou de me ligar dizendo que irá demorar um pouco mais no trabalho, então não quer ir comigo para o escritório? Faz um bom tempo que você não fica por lá.

A ideia era tentadora. E realmente, fazia MUITO tempo desde a última vez em que fui para o trabalho com meu pai.

Meus lábios começaram a se curvar involuntariamente.

—Sinto falta desse sorriso nos últimos dias – comentou. – Vejo isso como um sim, okay?

—Okay – respondi, rindo um pouquinho.

—Então se arrume, vou ligar para o Martin e ele pode buscar a gente daqui a pouco.

Depois disso, ele saiu do meu quarto e desceu as escadas gritando “Uhuul!”. Meu pai sabia exatamente como alegrar as pessoas. Não era à toa, já que quando ele fizera vinte e dois anos se formara em psicologia para agradar meu avô, mas o que ele queria mesmo era Direito.

Me levantei da cama poucos minutos depois, coloquei uma calça jeans escura e uma blusa com o símbolo das relíquias da morte, do Harry Potter. Por cima, coloquei um moletom cinza. Calcei rapidamente o tênis e fiz um coque no cabelo.

Desci as escadas e encontrei papai comendo algumas bolachas de maisena com manteiga. Me juntei a ele.

—Se quiser, pode comprar alguma coisa na padaria de Holborn, já que é a apenas um quarteirão de distância da advocacia – ele retirou uma libra do bolso e me entregou.

O dia até que estava sendo bom, mas o fato de Christopher ainda estar com raiva de mim por algo que eu não fiz me deixava com um sentimento estranho no peito. Tinha que consertar aquela situação.

Comi mais uma bolacha de maisena. No mesmo instante em que engoli, a campainha tocou. Era Martin.

Subi rapidamente as escadas e peguei o caderninho preto onde eu guardava minhas rimas e frases bobas. O levaria comigo para o caso do tédio me atingir. A advocacia era um lugar relativamente legal, eu poderia brincar com a cafeteira, com as bolinhas de enfeite que haviam na mesa do escritório do meu pai e também podia fazer diversas dobraduras com o estoque infinito de papel que havia lá.

Desci as escadas e vi Martin e papai conversando na porta, assim que me viram, sorriram, e logo depois entramos no carro.

***

A ideia foi a mais idiota: jogar bolinhas de papel no lixo. Eu já estava ficando entendiada, as rimas não me vinham mais à cabeça e eu não sentia fome a ponto de precisar andar até Holborn para comprar alguma coisa na padaria. Então treinar a pontaria foi a única coisa que pensei em fazer.

Eu me “divertia”, o tempo passava e papai acharia que eu gostava de basquete até dentro de um escritório, mas o tédio ainda vencia! Eu não devia ter vindo. E o pior, só se passara uma hora desde que eu estava sentada naquela cadeira preta de frente ao meu pai, que parecia totalmente concentrado em algo que digitava no computador.

Deixei as bolinhas de papel de lado.

—Pai – chamei e ele se virou para mim um segundo depois. – Quando vamos embora?

—Hãm... – soltou uma pequena risada. – Bem, eu ainda tenho uma pequena reunião com um cliente daqui a... – ele olhou no relógio. – Dois minutos?

No mesmo instante, escutei um bater na porta atrás de mim. Me virei por curiosidade.

Um homem que eu jamais vira na vida estava atrás do vidro. Como a porta era de vidro escuro, eu podia vê-lo, mas ele não podia me ver. Então analisei o sujeito. Um homem de quase meia idade, eu acho. Alto, cabelos castanhos e olhos escuros, cujos não consegui distinguir a cor, a pele parecia meio bronzeada e as roupas que usava eram sociais.

—Oh... Querida, eu... – meu pai olhava de mim para a porta, da porta para mim. Isso significava que eu estava sendo praticamente expulsa.

Suspirei, revirando os olhos. Odiava ficar na sala de espera.

—Estou saindo – bufei, me levantando da cadeira.

—Diga ao Senhor Medeiros que ele pode entrar, por favor.

Parei de andar. Medeiros?

Onde é que eu já ouvira esse nome? Medeiros...

Chacoalhei a cabeça levemente, afastando o pensamento e voltando a realidade.

Abri a porta de vidro e me deparei com o tal Senhor Medeiros. Merda! O que diria agora?

Olhei para o homem alto a minha frente. Eu parecia uma formiguinha ao lado dele.

—Hãm... É... Meu pai disse que você pode...

Travei.

—Acho que já entendi – disse o homem, com uma voz rouca que me fez arrepiar. Depois ele riu, descontraindo, mas seu semblante parecia bem triste.

Assim que aquele cara entrou no escritório, suspirei. Depois saí logo dali o mais rápido possível, indo até a sala de espera.

Como eu fui idiota!

Resolvi pegar um café antes de me sentar e tentei me acalmar enquanto as bochechas paravam de queimar. A sala de espera era o lugar mais chato da advocacia, se resumia em algumas cadeiras pretas, uma mesinha de vidro com revistas e ao lado uma mesa maior com uma cafeteira, copos e um bebedouro. Nem bolachinhas tinham. O pior era a pessoa que se sentava ali para esperar, ela ficava de frente para Lyndsey, a secretária, olhando para a cara dela e escutando o telefone tocar, enquanto a mulher ia lá e atendia. Sem contar nas revistas na mesinha de vidro, que eram sempre de dois, três anos atrás.

Bebi um gole do café, escutando o som irritante do telefone. Ah, como aquilo era chato...

Afastei as revistas para um canto e coloquei os pés em cima da mesinha de vidro.

—Tire os pés daí, mocinha – escutei a voz aguda de Lyndsey no mesmo instante.

Retirei os pés.

Alguns minutos se passaram e o silêncio já estava desconfortante. Nenhum telefonema, nenhuma voz.

—Blakely? – quase dei um salto da cadeira.

Meu coração palpitou mais forte com aquela voz. Olhei para a frente e dei de cara com Ezequiel.

Medeiros. Aquele senhor era o pai dele!

—Ah, eu... – o que iria falar mesmo?

Mordi o lábio, olhando para o garoto a minha frente. Ele estava com um moletom cinza parecido com o meu e ao seu lado havia uma garotinha bem baixinha, bem baixinha mesmo. Parecia ter um ou dois anos. Era a cópia de Ezequiel.

—Sabia que já tinha escutado o sobrenome Jones antes – ele comentou, olhando para a mesa e vendo que a garotinha tentava pegar alguns copinhos de café. – Não, Arkansas! Não pode!

Ele correu até ela e a pegou no colo, mas então todos os copinhos caíram. No ímpeto, me levantei e fui até os dois, ajudando a recolher tudo antes que a chata de Lyndsey abrisse a boca para nos xingar.

—Obrigado! – disse Ezequiel, quando coloquei o último copinho em cima da mesa, empilhado nos outros. – Não faça isso de novo, okay, Arkansas?

A garotinha, Arkansas, esticou os bracinhos na direção de Ezequiel e deu pulinhos.

—Zeke, Zeke... – ela disse, sorrindo. – Colo, colo...

Ezequiel riu e a envolveu nos braços.

—É a sua irmã? – perguntei de repente.

A pergunta pareceu pegá-lo de surpresa e me arrependi por ter dito aquilo.

—Digamos que quase irmã – ele respondeu. – Arkansas é minha sobrinha, mas a minha irmã mais velha acabou por... hãm... – seu olhar foi para o chão. - Morrer no parto.

Prendi a respiração, me sentindo culpada por tê-lo feito relembrar a dor.

—Sinto muito, Ezequiel – falei, desviando o olhar dele e da tal Arkansas.

—Não sinta – sua mão estava em meu ombro e um formigamento estranho me tomou. – Foi melhor assim – ele sorriu e a sensação estranha passou, então me toquei que ele retirara a mão. –Você, por acaso, sabe onde está o meu pai? Ele disse que não iria demorar muito.

—Entrou há mais ou menos quinze minutos – falei.

Ezequiel sorriu e então se desviou da mão da pequena Arkansas, que queria bagunçar seu cabelo.

—Arkansas Mackenzie Medeiros! – ele se irritou, o que foi engraçado. – Por favor, se comporte.

A garotinha se contorceu e foi para o chão. Ela deu alguns passos em minha direção e então sorriu para mim, esticando os braços e dando pulinhos.

—Colo, colo...

Olhei para Ezequiel, como se pedisse permissão.

—Vá em frente.

Então a peguei. Era leve como uma pluma.

—Nome, nome... – a garotinha disse, dando leves tapinhas na minha bochecha.

—É Blakely, Arkansas – disse Ezequiel.

A menina estava começando a pesar, então me sentei e a coloquei sentada nas minhas pernas. Ezequiel sentou ao meu lado, com um semblante igual ao do pai, triste. Ele ficou me olhando por alguns minutos.

—Acho que te devo desculpas.

Franzi o cenho.

—Pelo quê? – perguntei, enquanto colocava Arkansas no chão.

—É que nós estudamos juntos há três anos, mais ou menos, e eu nunca falei com você antes. Nunca nem sequer te disse “oi” ou “tchau”.

Olhei para Ezequiel. Ele falava sério.

—Você não é obrigado a falar comigo – juntei as mãos no bolso do meu moletom, nervosa e suando frio. – Ninguém é.

—Mas eu gostaria de ter falado. Nem que fosse um simples “oi” – em sua voz parecia conter culpa.

Será que aquilo era um sonho?

Eu falara mais com Ezequiel nos últimos cinco minutos do que na minha vida inteira.

—Pelo menos você não ria de mim – dei de ombros, em um movimento bobo.

—É – concordou. – Posso ser idiota, mas não chegaria a esse ponto.

Sorri, nervosa. Enquanto olhava para Arkansas folheando algumas revistas como se fosse uma mulher adulta. Eu sentia o olhar de Ezequiel sobre mim e também sentia muito desconforto.

Respirei fundo.

—Posso te dizer uma coisa? – ele perguntou.

—Hãm... Claro.

Ezequiel parecia nervoso, mas mesmo assim disse:

—Tentei dizer a Christopher que não era do seu feitio ler o diário de outra pessoa. Só que ele não acreditou– parei de respirar por um breve momento. - Chris só está com raiva, sabe? Não de você, mas é que ele tem alguns probleminhas em casa.

Escutar o nome de Christopher na conversa me fez ficar mais desconfortável e nervosa ainda. Eu não lera aquele diário e ficava feliz por pelo menos uma pessoa no mundo acreditar em mim.

Mas problemas em casa? Que tipo de problemas seriam?

Então era isso! Christopher estava com medo de que eu descobrisse seus mais profundos segredos, os segredos que ele guardava no diário.

Mas que probleminhas? Que segredos ele deveria ter? Ele era um garoto forte, valente. Não devia ter medo de nada e de ninguém. O que poderia abalar uma pessoa como Christopher?

Nada. Essa era a resposta.

Mas Ezequiel me ajudara. Eu tinha a chance de fazer Christopher Robinson parar de me encarar feio por algo que não fiz. E não iria, nem de longe, desperdiçar essa chance.

Respirei fundo.

—Eu tenho um plano, Ezequiel.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E o que acharam? Eu preciso de algum sinal de vida nos comentários kkkkk



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Diário Secreto de Christopher Robinson" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.