O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 4
Terceiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Olha quem tah de volta? Sim, eu mesma. A Megan Fox. Ah, não pera...
Leiam!



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– Como foi a aula?

Às vezes eu me surpreendia com a maneira alegre que minha mãe era. Não que isso seja ruim, eu queria tanto que ela soubesse de tudo o que eu passava na escola e ao mesmo tempo sentia um medo danado de falar. Mamãe não merecia a dor de ver a sua filha, sua única filha, ser “torturada” pelos próprios colegas de classe.

– Foi normal – menti.

Eu tinha mais um item na minha lista de problemas esse ano. Duas palavras. Dezenove letras.

Christopher Robinson.

– Entrou alguém novo? – fechei a porta do Chrysler 200, pronta para sair de Dallington Street e ficar longe de Dallington School. -- Fez algum amiguinho ou amiguinha?

Outra coisa que me surpreendia com a minha mãe, era o fato dela usar diminutivo em certas palavras, tornando-as infantis.Segurei uma gargalhada.

– Não entrou ninguém novo – menti novamente. Eu não queria dizer que “sim” e depois passar por um interrogatório extenso perguntando detalhes do novato. Eu não queria pensar em nada que ligasse a Dallington ou àquele novo valentão. Queria casa, conforto e descanso.

– Uma pena, querida – disse mamãe, virando a A1. Ela estava bonita hoje, o cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo, igual ao meu, e o óculos a dava um ar mais intelectual e jovial. – Blakely, eu tenho uma boa notícia para você. Veja se consegue adivinhar o que é.

Revirei os olhos. A mania da adivinhação era tão chata quanto usar o diminutivo.

– Você fez panquecas – falei, era sempre a mesma coisa quando ela fazia panquecas ou então outra receita com massa.

– Sim, mas tem mais uma coisa, Blake – disse animada, mas ainda concentrada no trânsito. Estávamos quase em casa.

– O que é?

– Seu pai ficará com você à tarde.

O ar entrou com dificuldade e por breves segundos prendi a respiração. Olhei para minha mãe, ela me olhava com um sorriso, mas seus olhos queriam pedir desculpas.

– O que? – perguntei alto, quase gritando. – Mãe!

– Eu sinto muito, querida – ela pediu, entrando em Stamford Hill. - Ele insistiu.

Suspirei.

Eu amava meu pai. Amava muito. Mas o fato era: ele queria um filho! Não que ele me tratasse mal por isso, muito pelo contrário. Tínhamos uma relação tão boa que muitas vezes eu chegava a me perguntar se éramos melhores amigos ao invés de pai e filha. Só que tinha um detalhe que estragava tudo: ele me tratava como um garoto.

Tradução: iríamos passar a tarde inteira treinando basquete no quintal. E eu odiava esportes. Queria ficar em meu quarto, fazendo versos bobos em um caderno e talvez saindo à procura de um livro novo na internet.

Quando percebi que o carro parara, me espantei ao ver que o tempo correra feito água.

Ao entrar em casa, avistei papai sentado no sofá com sua calça jeans escura e sua camiseta de linho branco, lendo o jornal. Às vezes eu me perguntava por que a genética fora tão cruel comigo. Minha mãe tinha descendência latina e por isso os olhos e cabelos castanhos, mas meu pai não. Ele tinha o cabelo completamente preto e os olhos verdes, sem contar na pele branquinha, que ajudava a esconder seus trinta e quatro anos. Infelizmente dele só puxei a pele. Lamentável.

– Como foi a aula da minha jogadora de basquete preferida? – ao ouvir o som da porta bater, papai largou o jornal imediatamente e se virou para mim.

A tarde seria longa.

***

– Vamos, querida – gritou, na intenção de me incentivar, mas na verdade foi o contrário.

Flexionei os joelhos, do modo como aprendera com papai quando tinha oito anos. E então fiz o drible, quicando a bola de basquete no chão. Joguei. Fiz minha milésima cesta.

– Parabéns, filha! – meu pai veio me abraçar. – Você não errou nenhuma hoje. Quer tentar beisebol?

– Não! – neguei no mesmo momento. – Estou cansada, pai.

– O que? – ele fez uma careta, como se eu tivesse um terceiro olho no meio da testa. – São quatro da tarde ainda. Precisamos trabalhar melhor sua resistência. Vamos correr um pouco!

Joguei a cabeça para trás. Ele parecia animado e eu não queria acabar com isso.

– Tudo bem – falei com os olhos fechados. Estava encrencada.

Ele correu para dentro de casa pela porta de trás, dois segundos depois voltou com um cronômetro pequenino em mãos. Já estava prevendo a dor corporal que sentiria no dia seguinte.

Até que escutei o telefone de papai tocar no bolso dele. Um sorrisinho se formou em meu rosto.

AH, MEU DEUS! OBRIGADA! OBRIGADA POR ESCUTAR MINHAS PRESSES!

– Alô? – disse, com o celular na orelha. – Sim, sou eu. Andrew Jones. Algum problema?

Enquanto seja-lá-quem falava com meu pai, via que sua expressão ficava cada vez mais triste. Teria que voltar ao trabalho. Eu estava com dó dele, mas também feliz por não precisar correr quilômetros e mais quilômetros.

Quando desligou o celular, meu pai veio até mim.

– Sinto muito, Blakely – disse, com o olhar cabisbaixo. – Terei que voltar ao trabalho, filha. Sua mãe chega daqui uma hora. Treinaremos resistência e corrida outro dia, tudo bem?

– Quando você quiser, pai! – falei, sorrindo tanto que fiquei com medo de minhas bochechas rasgarem.

Ele me deu um breve abraço, depois foi para dentro de casa. Com certeza pegaria carona com algum amigo, já que mamãe saíra para trabalhar com o Chrysler 200.

A primeira coisa que fiz depois de escutar a buzina do carro de Martin, um amigo de trabalho de meu pai, e o berro de “Tchau!” dele, foi tomar um banho quente.

Eu queria descansar um pouco e muitas vezes isso só era possível quando eu estava sozinha em casa. Meus pais estavam sempre ocupados com seus trabalhos e muitas vezes pareciam desgastados. Então não nos falávamos muito, até porque eu também era desgastada pela escola.

Muitas vezes eu me perguntava se eu tinha um motivo para viver como todas as outras pessoas. Harrison Wayne vivia para estragar a vida dos outros. Tiffany Queen vivia para se exibir. Ezequiel Medeiros tinha um futuro brilhante pela frente. E eu?

Bem, ainda tinha quatro anos pela frente até descobrir minha vocação, mas parecia que ninguém sabia o que procurava até finalmente encontrar. O futuro podia ser mais complicado do que eu imaginava e se tinha uma coisa que eu odiava em mim era a mania de improvisar! Sempre deixava tudo para a última hora e muitas vezes eu me ferrava com isso.

Não fazia planos B’s. Muito menos planos A’s. Sempre tentava me desvencilhar da responsabilidade e sabia que uma hora teria que sofrer por ser assim.

Deitei em minha cama e me cobri com o cobertor mais quente que eu tinha. Meus músculos doíam. Minha cabeça estava prestes a estourar. E meus olhos estavam quase se fechando.

Dois minutos depois eu já estava dormindo.

***

Já era o segundo dia de aula. Amelia já entregara a chave dos armários de cada aluno. Nossos armários eram grandes, da nossa altura quase, na verdade, maiores que eu alguns centímetros, já que era baixinha.

O meu era o A07, ficava um pouco longe da sala de aula. Fui até ele com alguns livros nas mãos. O sinal tocou, me pegando de surpresa. Tinha que ser rápida. A senha era o dia do aniversário da minha mãe, do meu pai e o meu. 142731. Sempre usei essa senha, não seria esse ano que iria trocar. Além de que eu era a rainha do esquecimento na maior parte do tempo.

Coloquei o livro de Geografia, o Atlas e o Dicionário de Espanhol. Ainda havia mais dois livros para guardar e ainda tinha que colar o horário atrás da portinha.

– Boa dia, Blakely – escutei uma voz sarcástica no fim do corredor. Reconheci imediatamente. Era Harrison.

Merda. Merda. Merda.

Coloquei os livros rapidamente no armário e o fechei. Pronto! Eles não iriam me prender ali que nem fizeram no ano passado, quando comecei a ter claustrofobia e machuquei os pulsos de tanto empurrar aquela portinha.

Me virei. Estremeci imediatamente. Harrison estava com seu grupinho de garotos. Alan Carpenter, William Blackhood e Miles Gunner.

– O que você quer, Harrison? – falei, olhando nos olhos verdes cintilantes do garoto. Era uma pena que aqueles olhos só refletiam a maldade.

– Nada demais – ele disse, fazendo Alan, William e Miles rirem. – Só um pouquinho de diversão.

– Me deixa em paz, okay? – peguei minha bolsa e a ajeitei nas costas. Tentei passar pela direita, mas Alan me barrou. Tentei pela esquerda, mas dessa vez foi Miles quem fechou o caminho.

O pânico claustrofóbico me atingiu.

– Te deixarei em paz depois de dizer a senha do armário – Harrison falou, com um sorriso diabólico nos lábios. – Vamos lá, Blakely.

Ele me barrou com os braços. Minhas costas foram de encontro ao armário e seus olhos me olhavam com malícia.

– Diga logo e te deixaremos em paz.

– Eu não vou falar! – rangi os dentes. Se batesse nele meus pais ficariam bravos comigo e se não batesse eu iria me ferrar do mesmo jeito. – Você não pode bater em mim. Sabe que não – tentei persuadir.

– Não, mas posso fazer algo muito pior... – ele chegou com seus lábios próximos ao meu ouvido, fazendo um calafrio percorrer o meu corpo inteiro. Minhas mãos soavam frio e meu coração batia com força total.– Posso te amedrontar para sempre. Não duvide disso.

Eu estava sem espaço. Eu estava sem ar. Lágrimas vieram, mas eu tinha que ser forte. Não podia chorar. Não na frente deles.

Criei coragem. Eu estava com medo. Mas mesmo assim revidei.

Chutei Harrison naquele lugar e tentei fugir. Péssima ideia. Eles eram quatro e eu só uma. Mas valeu a pena ver o garoto se contorcendo no chão de dor e gemendo alto.

Só que então percebi que eu estava mais ferrada do que nunca. Alan segurava uma de minhas mãos e Miles a outra. William ajudava Harrison e agora eu sabia que ele me bateria. Agora eu sabia que ele acabaria comigo.

Então escutei passos.

Seria Amelia? Roy? O zelador? Algum monitor? Professora Susan de história ou qualquer outra pessoa adulta?

Mas não.

Era Christopher. Christopher Robinson. Com seu tênis em farelos e sua touca e luvas pretas. Grande ajuda! Dessa vez pude ver um roxo no olho e imaginei que fosse obra de Drew Wayne, o irmão do maldito do Harrison.

– Bom dia, novato – disse o líder da pequena “gangue”, voltando a sua pose de valentão. – Quer ser o próximo? Ou meu irmão já te surrou por mim?

Christopher riu. Largando a bolsa no chão e olhando em minha direção. Seu olhar era estranho, parecido com preocupação.

Então me toquei que ele e Harrison não eram parceiros como eu achava. E sim inimigos. Mas por quê?

– Soltem ela, seus vagabundos – falou Christopher, cruzando os braços. – Sejam homens pela primeira vez na vida e lutem com alguém do tamanho de vocês.

– Como quiser – respondeu Alan, soltando o meu pulso e cercando o garoto. Christopher iria apanhar, eu sabia.

Miles também me soltou e foram todos cercar o coitado. Ele me olhou por uma última vez e escutei Harrison chutando a bolsa de Christopher, que espalhou livros por toda parte.

– Corre – orientou o novato, mais como uma ordem do que uma sugestão.

Eu não queria deixá-lo. Ele iria apanhar por mim ali e nem me conhecia direito, só sabia meu nome e olhe lá. Eu não estava nem um pouco a fim de ver o massacre. Então corri, tropecei em algo e quase caí. Era um livro. Acho que deixei cair no meio da pressa, quando Harrison e seu bando de cães idiotas me cercaram. Eles eram realmente covardes.

O peguei e o enfiei sem pensar duas vezes na minha bolsa. Comecei a escutar os barulhos de socos e chutes, então apressei o passo. Estava com medo.

Medo de que Christopher saísse ferido. Medo de que depois eles viessem atrás de mim. Medo de que Amelia visse e punisse o garoto que me salvou.

O garoto que me salvou.

Acho que entendi errado ao julgar o novato.

Christopher Robinson não era um valentão.

Ele era um herói.


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Notas finais do capítulo

A Jean Gray consegue ler mentes. Eu não sou Jean Gray. Não consigo ler mentes. Então para saber se vocês estão gostando da história, eu preciso que vocês co....
QUEM DESCOBRIR GANHA UM DOCINHO!
Isso mesmo!!!!
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