O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 3
Segundo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Olha só como essa autora é generosa. Dois capítulos em menos de 5 minutos :)



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— Está atrasada, senhorita Jones – escutei a voz de Amelia. Seu semblante se fechou completamente ao me ver com a mão na maçaneta. Eu não tinha culpa de ter “tropeçado” e não tinha culpa também se a diretora Amelia Forsyth era tão impaciente, rabugenta e velha. – Sente-se logo antes que eu a mande para fora no primeiro dia de aula.

Dei um pequeno sorriso. Eu não curtia falar muito, mas a vontade de dizer palavrões era grande. O único lugar que sobrara era na frente de Harrison Wayne. Eu já previa que seria o inferno na Terra sentar ali.

Tinha que haver uma saída.

A sala de aula era bem espaçosa, haviam trinta alunos na turma e por um segundo achei que deveriam ter armado para eu sentar na frente de Harrison. Era o nosso último ano antes de iniciarmos o médio e eu não esperava a hora disso acontecer. Dallington só ia até o nono. Isso me separaria de Harrison e Tiffany.

— Mais rápido, senhorita Jones! – escutei a voz brava de Amélia a me apressar e os pequenos risinhos dos trinta alunos.

Foi então que percebi que eu ainda estava plantada ao lado da porta. Não queria me sentar perto de Harrison, mas as circunstâncias me pediam isso.

Respirei fundo, começando a dar passos até a terceira fileira, meu lugar era na quarta mesa. Coloquei minha bolsa atrás da cadeira e olhei para frente, foi então que notei a figura de um garoto loiro ao lado de Amelia. Ele era alto comparado aos meus 1,59. Acho que cerca de 1,65. Era magro, mas não magro demais. Os olhos eram azuis-marinhos bem fortes e o cabelo aparentava ser loiro natural, ele usava uma touca preta e nas mãos luvas que mostravam uma parte de seus dedos, elas também eram pretas e davam ao rapaz um ar intimidador. O que me chamou atenção foi sua pele, que era bronzeada e no rosto não se via nenhuma imperfeição como cravos, espinhas ou cicatrizes.

Uma genética perfeita e dane-se quem disse que “Ninguém é perfeito”. Aquele menino era lindo. Isso era facilmente perceptível se considerar que Tiffany Queen e Trina Campbell estavam praticamente babando. Claro que elas babavam por qualquer garoto por aí, mas esse era diferente.

O garoto usava uma blusa branca de manguinha, o que era estranho, pois todos sabiam que em Londres fazia frio. Nas calças uma jeans clara e surrada. Os tênis pareciam que iam cair em farelos caso desse mais um passo e na bolsa havia tantos remendos que me perguntei de onde é que a mãe desse garoto tirava dinheiro para pagar a mensalidade em Dallington.

Mas algo estava completamente claro ao olhar para o rosto de seja lá quem ele fosse: seria um valentão. Mais um agressor. Mais um Harrison Wayne para eu aguentar.

Era bonito? Sim. Mas intimidador? Com certeza!

— Bom dia, classe! – disse a diretora, com um tom assustador na voz. – Espero que recebam o senhor Robinson com a melhor hospitalidade possível – e então se dirigiu ao Harrison Wayne 2, quero dizer, o novato. – Christopher, fique à vontade, querido.

Assim que Amelia saiu de sala, o tal Christopher Robinson seguiu até a terceira fileira, onde eu estava, e então olhou para mim, arqueando uma das sobrancelhas. Desviei o olhar, será que ele pediria que eu saísse para se sentar na quarta mesa?

Meu coração acelerou e Christopher Robinson passou reto por mim, parando ao lado de Harrison Wayne.

— Saia logo daí antes que eu te surre todinho, garoto – escutei um breve sussurro. Acho que era de Christopher.

Estremeci. Ele estava ameaçando Harrison? Ele estava pedindo para morrer sem antes passar um dia vivo em Dallington? Todo mundo sabia quem era o irmão mais velho de Harrison.

— Acho que o novato está se achando o rei da...

— Saia logo ou matarei você, seu pedaço de merda – outro sussurro e era de Christopher. A voz carregada de raiva.

Logo vi que Harrison desajeitadamente pegou seu material e voou dali. Escutei o novato se sentando na carteira atrás de mim e poderia jurar que meus batimentos cardíacos estavam completamente acelerados com a presença dele.

Ao meu lado estava Trace Montogmery. Ela era de boa. Ao meu outro lado estava Ezequiel Medeiros. Se eu pudesse escolher alguém da sala para ser, escolheria Ezequiel. Ele não só era respeitado por todos os valentões da escola (incluindo o irmão mais velho de Harrison), mas também parecia invisível. Não andava com ninguém. Tirava notas boas. E todos pareciam ter medo de triscar em um fio de cabelo dele. Eu queria ser assim. Além de que ele tinha o cabelo e os olhos castanhos, mas diferente de mim era mais bronzeado e bonito.

Me assustei ao ver que Christopher se esticou para fazer um “toquinho” com Ezequiel. Eles eram amigos?

Desviei o olhar deles e vi o professor Ronald Parrish adentrar a sala. Ele era professor de Filosofia, mas também era o único ser com autoridade em Dallington que prestava. O senhor Parrish já dera inúmeras advertências para Harrison por fazer alguma sacanagem comigo, mas a maioria não contava, já que o pai de Harrison era rico. Resumindo, Ronald era uma das raras pessoas que podia se chamar de “amigo” no inferno que era essa escola.

— Bom dia! – disse o professor, sorrindo alegremente. – Teremos que conviver duas aulas em todas as segundas feiras até o final do ano. Então se você quiser uma segunda feira sem um cara chato fazendo vocês refletirem sobre praticamente tudo, é melhor saírem agora mesmo desta sala.

Alguns riram e atrás de mim pude escutar uma pequena risada nasal. Christopher me deixava nervosa.

— E então, como foram as férias? – perguntou. Ninguém nunca o vira de mau-humor na vida, acho que isso está ligado ao fato de ele ter apenas vinte e três anos. Além do mais, Ronald era bonito. As garotas da turminha de Tiffany Queen sempre suspiravam e babavam por ele, mas o negócio comigo era mais embaixo. O senhor Parrish era um amigo e eu não me importava se ele tinha sardas, olhos verdes e um cabelo castanho incrivelmente sedoso.

Tiffany levantou a mão e o professor assentiu para ela falar.

— Foi um horror sem suas aulas – disse a patricinha, que usava um batom rosa horrível.

Ele riu baixo, não era difícil perceber que ela queria flertar com ele, mesmo sendo dez anos mais nova.

— Interessante, Tiffany – foi tudo que ele disse à respeito, antes de olhar para mim e sorrir, depois seu olhar foi para o novato, atrás de mim. – Pelo visto temos companhia nova. Qual o seu nome, garoto?

Meu coração acelerou.

— Christopher. Christopher Robinson – respondeu.

— E quantos anos você tem? Parece mais velho. Repetiu algum ano?

— Sim, repeti o oitavo – disse. – Tenho quinze, senhor.

— Seja bem-vindo então, Christopher – Roy sorriu, indo agora para a lousa. – Não podemos perder tempo. Este ano vamos estudar algo muito interessante.

Alguns gemeram. Mas todos sabíamos que o senhor Parrish era afobado com matéria nova.

Ele pegou um giz e começou a escrever algo na lousa com letras garrafais.

“FELICIDADE”

— O que é a felicidade para vocês? – perguntou, sublinhando a palavra. – Escolherei duplas. Juntem-se e discutam, servirá como uma dinâmica de apresentação – continuou, como se fazer amigos fosse tão fácil quanto desmanchar um castelo de cartas. - Darei vinte minutos, no fim, quero que a resposta seja apenas uma palavra.

Duplas? Fala sério. Duplas?

Bem... Talvez nem sempre o senhor Parrish fosse um amigo.

Ele olhou para mim e percebeu que eu estava em pânico. Todos na sala me odiavam, menos o novato e Ezequiel Medeiros. Mas se bem que logo Christopher Robinson seria o novo Harrison Wayne da turma e então me odiaria, aí só sobraria o inatingível do Ezequiel.

Só que o senhor Parrish sorriu em meio ao meu desespero e disse algo que me fez quase dar uma voadora em seu pescoço:

— Blakely, por que não faz dupla com Christopher?

Entrei em êxtase. As pessoas a minha frente (incluindo o bendito do professor) eram apenas um borrão, até que senti a presença de alguém atrás de mim, com os lábios próximos a minha orelha. Christopher me fazia tremer, fazia com que eu começasse a suar frio só de sentir sua presença. Era assustador.

— Vi o que fizeram com você na entrada – disse baixinho, o jeito como sussurrou pareceu ameaçador, igual fez com Harrison Wayne ao mandá-lo sair da carteira. Eu tinha medo de que ele me machucasse, no meu coração já não havia mais lugar para desapontamento e eu sabia que Christopher Robinson era um garoto-problema.

Não deu tempo de me recompor do sussurro caloroso em meu ouvido. Ele logo prosseguiu:

— Acho que responderei por nós dois quando disser que a felicidade é inexistente.

Apertei firme o metal duro da cadeira de Dallington School.

Há coisas que não podemos controlar. Eu não posso mexer a orelha ou virar a cabeça mais do que noventa graus, mas havia algo naquele momento que eu realmente não conseguia controlar.

Christopher mexia comigo. Mexia de um modo ruim. E os pelos da minha nuca ainda estavam arrepiados com seu hálito quente.

Então apenas deixei que ele falasse por mim.

Quando o sinal bateu, anunciando o primeiro intervalo, fui a primeira a sair. Não falei com o professor e nem dei chances a Harrison para me fazer pagar algum mico. Apenas saí.


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Notas finais do capítulo

Não sou telepata. Então não sei se vocês estão gostando. Lembrem-se disso!