O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 39
Trigésimo Oitavo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Sei que passei um bom tempo sem postar, mas estava tentando dar um rumo na fanfic e consegui. Estava com uma parte MUITO difícil de escrever e agora já deu tudo certo.
Daqui três capítulos, entraremos na parte 3 da fanfic, a parte final!
AVISO: ESTE CAPÍTULO CONTÉM ALGUMAS CENAS RAZOAVELMENTE FORTES



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Cambaleei para fora do quarto de Ezequiel, batendo as costas na parede do corredor e sentindo uma dor quase insignificante.

 “Ele volta para a Rússia daqui a dois dias.”

 As palavras ecoavam em minha mente e, a cada vez que eu escutava “Rússia” era como uma martelada em meu coração. Eu não conseguia entender, mas acho que nem era preciso.

  Ele ia. Para sempre.

  E eu tinha que impedir isso.

 Respirei fundo algumas vezes, tentando oxigenar meu cérebro, pois minha visão estava ficando turva.

 –Bake, você tá bem? – Arkansas apareceu de repente no corredor, pegando em uma das minhas mãos e me olhando carinhosamente com aqueles olhinhos castanhos esverdeados, iguais ao de Ezequiel.

 –Christopher... – sussurrei, encarando-a quase a chorar. – Eu preciso ir atrás dele... 

 –Chris? – ela perguntou, afastando-se um pouco de mim e fazendo uma careta. – Ele vai embora. Também tô triste, Bake.

 Bati de leve na parede atrás de mim com a mão que não segurava o endereço. O choro, que até a uns minutos atrás queria sair de dentro de mim, desaparecera. A esse ponto, eu não podia fraquejar.

  –Não, Arkansas – falei. – Ele não vai.

 Dizer aquelas palavras me fez recordar da noite em que eu e Christopher nos beijamos pela primeira vez, ele havia dito que nunca me deixaria, que sempre voltaria para mim. Não, eu não podia deixar que aquela promessa se quebrasse.

 Olhei para as paredes a procura de um relógio. Logo avistei um ao meu lado direito e constatei que estava fora de casa havia quase duas horas. Meus pais já deveriam estar preocupados e, se eu voltasse, não me deixariam sair sozinha novamente.

 Era agora ou nunca.

 –Arkansas, eu tenho que ir – disse à garotinha, chegando mais perto dela e a abraçando fortemente. – Não conte a mais ninguém que vim aqui. Apenas você e Ezequiel sabem.

 –Tchau, Bake – disse ela, abraçando-me também.

Logo depois que nos separamos, Arkansas fez mimica e fingiu ter trancado sua boca com um cadeado, em seguida, jogou a suposta chave do cadeado fora. Sorri, acho que ela era como um anjo para mim, fazia com que eu risse mesmo naquela situação.

Quando saí da casa de Ezequiel, deparei-me com uma rajada fria de vento. Não havia quase ninguém na rua e a noite já começava a chegar. Tentei me apressar e li novamente o endereço de Christopher para ver se o conhecia.

Tottenham não era muito longe dali, talvez uns quinze minutos a pé. Depois me preocuparia em achar a rua, só que seria difícil fazer isso à noite, sem contar que aquele era o bairro mais perigoso da cidade.

Eu não fazia ideia de onde estava me metendo.

Segui até o final da rua, sentindo o vento vindo cada vez mais forte e mais frio. Quando virei à direita, dei de cara com uma grande avenida, mal conseguia ver o fim, entretanto eu tinha quase certeza de que se seguisse reto e virasse em uma das últimas travessias, daria de cara com Tottenham e depois era só achar a rua certa e, por sua vez, a casa certa.

A cada passo que eu dava, o medo aumentava. Medo de escurecer. Medo de acontecer alguma coisa ruim comigo. Medo de me perder. Medo... Esse sentimento era apenas psicológico, eu tinha que entender isso e também enfrenta-lo se quisesse impedir Christopher de me deixar.

Aquela informação ainda não fazia sentido. Eu sabia que o avô de Christopher era um tanto rico e manipulador, será que obrigara Christopher e seus pais a voltarem para a terra natal? Mas isso não seria bom, já que eles poderiam estar voltando para a Rússia para ajudar Hunter e o seu alcoolismo?  O motivo deveria ser bom, porque Christopher nem se importou em me deixar, nem se importou em quebrar sua promessa.

Ele não se importava. Ezequiel não se importava. Então por que raios eu ainda estava me importando? Lutando em nome do meu coração? Reivindicando meus sentimentos?

Tola ou corajosa?

Parei por um minuto de andar, mesmo sabendo que aquilo seria um grande atraso, já que o céu já estava começando a ficar escuro. Minha cabeça doía, eu estava quase explodindo ali mesmo. Entretanto, tinha que continuar.

Corajosa. Sim, eu era corajosa. Não estava lutando por algo perdido, estava lutando por algo que Christopher e Ezequiel esqueceram-se de lutar.

Voltei a caminhar e ergui a cabeça. Estava na hora de enfrentar o meu destino.

Não havia muitas pessoas naquela avenida. À medida que eu ia seguindo em frente, ia percebendo a diferença na aparência das casas, antes elas eram maiores e bem pintadas, agora eram mais estreitas e quase sem cor, com a tintura descascando. Vi uma pequena lanchonete em um dos cruzamentos, parecia realmente muita suja e não se comparava aos restaurantes que eu e meus pais frequentávamos.

Eu nunca havia estado ali antes, mas sempre ouvira as pessoas comentarem sobre Tottenham e suas ruas sujas e perigosas, sem contar que na escola nós aprendêramos o básico para nos orientarmos bem em Londres e sabermos direito onde cada distrito ficava.

Eram pequenas coisas que iam deixando claro o preconceito com aquele bairro, como Christopher me dissera uma vez. Não aprendi muito sobre as ruas de Tottenham, meus pais sempre evitaram aquele bairro, maus olhares sempre caíram sobre os habitantes dali. Naquele momento, entendi o porquê.

Só era um bairro mais pobre. Apenas isso.

Em frente à lanchonete, que descobri por uma placa que se chamava Nico’s, havia um garoto mais ou menos da minha idade sentado em um banquinho, ele usava um gorro preto cobrindo o cabelo castanho e um moletom cinza já meio velho.

Aproximei-me com a intenção de perguntar onde ficava a rua que Ezequiel escrevera no papel. Eu tinha certeza de que já estava em Tottenham, isso era completamente visível.

Estava a poucos metros de distância do garoto, ele me encarava sério com seus olhos verdes. Perguntei-me se tinha sido uma boa ideia me aproximar, meus joelhos já fraquejavam um pouco. Esse era o ruim de ser mulher... 

—S-sabe onde fica... – mesmo gaguejando, não desisti de meu objetivo e desamassei o papel até ler o endereço. – Beaufoy Road?

O garoto, ainda sério e com os olhos cravados em mim, arqueou uma sobrancelha e se levantou do banquinho em que estava sentado. Ele era alto, parecia mais velho que eu agora, e também deveria ser forte.

Onde você está se metendo, Blakely?

O garoto deu vários passos em minha direção, diminuindo a distância entre nós. Eu estava a ponto de sair correndo, mas sabia que de qualquer forma ele conseguiria o que quisesse comigo.

Guardei a folha no bolso da calça e tentei manter a calma, desviando um pouco o olhar do garoto.

—O que você quer em Beaufoy Road? – perguntou ele, com uma voz grossa e amedrontadora.

Encarei-o por alguns instantes.

—Procuro por uma pessoa – pelo menos eu não gaguejara, mesmo continuando com medo.

O garoto sorriu para mim, ato que eu nunca imaginei que ele fosse fazer.

—Acho que sei quem procura – disse, parecendo até um pouco gentil. – Bem, de qualquer forma, é só seguir reto mais um pouco e virar a direita na primeira travessia, siga reto novamente e vire a segunda esquerda.

Eu tinha certeza de que ele conhecia Christopher e por isso estava me ajudando. Eu sorri também.

—Obrigada – falei, completamente aliviada.

Entretanto, todo o alívio acabou quando o garoto me olhou sério. Um vento congelante foi de encontro a minha face e bagunçou meu cabelo. A noite já chegara e apenas as luzes da rua iluminavam o caminho.

—Mas é melhor ir rápido ou voltar outro dia. Já está bem escuro para uma garota andar por essas ruas. Eu... Até te ajudaria, mas... Bem... – ele pareceu ter dificuldades em se explicar. – De qualquer forma, se você conhece quem eu acho que você conhece, está segura por aqui.

Sim, ele era amigo de Christopher.

Eu sorri, mal acreditando que estava tão perto. Agradeci com um simples olhar e comecei a andar rapidamente, seguindo o caminho que o garoto me direcionara.   

Reto. Direita. Reto. Segunda à esquerda.

Apenas os meus passos podiam ser escutados na rua e perceber isso foi assustador. Não, eu não era nem um pouco corajosa. Não era nem um pouco forte. Era uma medrosa.

Quando cheguei ao cruzamento, virei à direita, como as instruções do garoto diziam.

Reto. Segunda à esquerda.

Comecei a correr, sem olhar muito para tudo o que me cercava. Aquele bairro era assustador à noite, as casas pareciam ganhar um ar melancólico e triste, sem contar que alguns postes de iluminação estavam piscando e outros nem sequer chegavam a funcionar.

Em um deliberado momento, enquanto corria loucamente, uma dor embaixo das costelas me pegou de surpresa e parei no mesmo momento para descansar um pouco. Agachei-me um pouco e apoiei as mãos no joelho, enquanto ofegava e tentava recuperar o ritmo da respiração.

Você não pode parar agora, Blakely.

Tentei fingir que a dor não existia, isso me acalmou um pouco, embora ela ainda estivesse ali, impedindo-me de continuar e chegar até Christopher.

Reto. Segunda à esquerda.

Eu estava quase lá. Só mais um pouco...

Respirei fundo, sentindo-me, a cada inspiração, um pouco mais revigorada. Pensei que tudo estava bem, então levantei minha cabeça para continuar o caminho. Foi quando vi, escondida atrás de um poste, uma silhueta masculina.

Gelei.

Talvez ela estivesse ali a minha espera, pronta para me atacar e fazer o que bem entendesse com meu corpo, mas talvez só estivesse ali curtindo a noite – que estaria muito bonita caso aquele bairro não fosse Tottenham e eu estivesse bem psicologicamente.

Suspirei, vendo que a única forma era passar pela silhueta e pelo poste. Talvez se eu passasse em silêncio e calmamente, ela nem notasse a minha presença ou, se notasse, não se importasse.

Mesmo tremendo um pouco e sentindo o suor frio na minha mão, prossegui andando em passos calmos, só que quando fui passar pelo poste e por quem quer que estivesse ali, minhas pernas afrouxaram e tudo desandou.

Olhei para o lado, para a figura misteriosa que bloqueava minha passagem. Eu não via seu rosto, mas era um garoto alto e fumava um cigarro com cheiro estranho.

Eu estava com tanto medo que apertei o passo, olhando para o chão e focando meu olhar em meus pés.

Voltei a olhar para frente, dando de cara com o que eu menos esperava. Parei de andar ao ver que ali, a poucos metros de mim, havia outras duas silhuetas masculinas e essas sim estavam a minha espera, de frente, me encarando, apenas esperando que eu fosse de encontro a elas.

Um turbilhão de emoções me tomou.

Eu vou morrer.

Parei de respirar alguns segundos, encarando meus inimigos com os olhos arregalados e cheios de medo.

Eu vou morrer.

Eu vou morrer.

Minhas pernas bambearam e meu coração batia mais rápido que nunca naquele momento. Olhei para trás e apenas constatei que o homem que fumava me cercava por trás. Todos os três usavam calças jeans e um moletom com touca, que não mostrava seus rostos.

Minhas mãos tremiam e eu tentava achar uma saída para aquilo, mas a mente mal pensava naquelas circunstâncias.

—Que bela noite, não é, docinho? – um deles disse e, logo em seguida, riu.

Algumas lágrimas escaparam. Só que então eu olhei além dos dois homens que me cercavam, havia uma rua à direta um pouco mais a frente. Se eu conseguisse correr suficientemente rápido e virar ali, eu tinha pelo menos uma chance. Eu era pequena e magra, talvez eu realmente tivesse uma chance se corresse.

Naquela hora, tudo valia.

Olhei para os meus três inimigos e vi que se aproximavam, então... Quando eles menos esperavam, corri o mais rápido que pude e passei entre eles.

—Vadia! – escutei xingamentos e o barulho dos passos de meus perseguidores.

Mal sentia meus pés na calçada, apenas corria e corria. Não demorou muito para a fatiga me alcançar e, quando isso aconteceu, eu já estava virando à direita. Só que então, ao olhar para frente e encarar uma grade alta e enferrujada, parei bruscamente de correr e tudo foi por água abaixo.

Minhas lágrimas tomaram-me.

Eu vou morrer.

Ao escutar o som dos passos cada vez mais alto, corri em direção à grade e tentei escala-la. Meus dedos tremiam tanto que eu mal conseguia segurar direito no metal e ali parecia não haver lugar para meus pés.

De repente, senti uma mão me puxar com força para trás, caí com força naquele chão duro, acertando com tudo o lado direito da minha cabeça no asfalto. A dor foi agonizante, e não consegui segurar o berro que estava em minha garganta. Por um segundo, a minha voz foi o único som audível naquela rua sem saída, dando um leve eco. Logo depois disso, um dos meus perseguidores apareceu em meu campo de visão.

Eu vou morrer.

—Sua vadia! – disse, pegando meu corpo miúdo do chão e me forçando a levantar. – Não deveria ter corrido...

O homem retirou seu capuz e então pude ver cada milímetro de seu rosto, feições que ficariam marcadas na minha mente pelo resto da minha vida. Olhos escuros como a noite, careca, pele branca e sobrancelhas grossas, havia uma cicatriz em sua bochecha direita, lábios grossos e nariz grande. Uma combinação nada bonita.

E como se estivesse manuseando um pequeno objeto, meu perseguidor me arremessou de encontro à grade. Meu corpo inteiro queimou de dor assim que me encontrei caída por alguns segundos no asfalto, passei o dedo indicador levemente sobre o lado direito de minha cabeça, onde mais doía. Pude notar que logo meu dedo estava sujo de um líquido escuro. Sangue.

Respirei fundo enquanto ainda podia. O pânico e o medo não me atingiram quando olhei para o lado e vi os meus três agressores. Eu estava cansada demais para qualquer coisa, além de que me sentia um pouco fraca devido a perda de sangue, a visão estava quase turva.

—Deixem essa aqui para mim! – disse o que estava sem capuz, o mesmo que havia acabado de me espancar.

Um pequeno tremor percorreu meu corpo ao ver que os dois outros homens estavam se virando e indo embora. Logo que os perdi do campo de visão, o homem sem capuz e com a cicatriz no rosto começou a andar em minha direção.

Peguei o resto de forças que eu tinha e me levantei com dificuldades, talvez eu conseguisse correr, conseguisse revidar algum soco ou sei lá... Nada parecia que ia dar certo naquele momento, e ele chegava cada vez mais perto, cada vez mais próximo de mim.

Sua mão fria em meu pescoço me prensou na grade. Também me lembraria da frieza daqueles dedos pelo resto da vida. Por rápidos milésimos nós nos encaramos. A presa e o seu caçador. Foi assustador. Vi cada milímetro de maldade naquele homem, havia um Universo inteiro em seus olhos escuros, um Universo que só tinha dor e nada de humanidade.  

Minhas pernas trêmulas e sem força desistiram de me apoiar, eu nem as sentia mais. Minha visão começou a ficar turva. Não tinha mais forças...

Quando o monstro a minha frente colocou sua outra mão em minha cintura, eu soube exatamente o que iria acontecer, também sabia que iria provavelmente morrer naquela rua sem saída e imunda, mas o que mais me doía era saber que morreria sem resistir, porque eu não tinha forças e nem teria mais vida daqui a alguns minutos.

Fechei os olhos aguardando por tudo o que vinha, mas ao invés disso, escutei um forte e alto barulho, senti as mãos do meu agressor se afrouxarem e me soltarem.

Não consegui nem raciocinar e, quando estava prestes a cair no chão de fraqueza, senti um toque familiar me segurar.

Abri meus olhos vagarosamente, vendo quem eu menos esperava ver.

—Christopher... – sussurrei e, segundos depois, desmaiei em seus braços.


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Notas finais do capítulo

Bem, Feliz Natal e Ano Novo atrasados! Eu espero que me perdoem pela demora e só tenho a agradecer pelos que continuam a ler minha fanfic.