O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 38
Trigésimo Sétimo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

E com tantos acontecimentos estranhos na minha vida nos últimos meses, deixo-vos esperando novamente... Eu sei! Eu sei! Desculpem-me, mas não se preocupem. Eu termino a fanfic nessas férias e posto os outros capítulos!



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Eu estava em frente a casa de madeira azul e branca, de número 425 da StAnn’s Road.  A casa parecia a mesma, mas o jardim, verde e bonito de antes, estava sem vida e estranho.

A cada passo que dava para mais perto da porta de entrada, um novo “e se?” aparecia em minha cabeça. E se Albert atendesse a porta? E se eu me arrependesse? E se não tivesse ninguém em cas

Toquei a campainha, com medo do que estava prestes a acontecer. Entretanto, quando escutei a porta ranger e me deparei com uma pequena garotinha de chupeta a me encarar, todo aquele medo foi embora.

—Arkansas – sussurrei, enquanto via um largo sorriso surgir no rosto da pequena.

—Bake! – ela gritou, abraçando minhas pernas. Senti-me orgulhosa naquele momento, pelo menos comparada a uma criança de dois anos, eu era alta.

—Ezequiel está, querida? – assim que Arkansas me soltou, abaixei-me para ficarmos quase da mesma altura. – Eu queria muito falar com ele.

—Sim! – disse, pegando em minha mão e puxando-me para dentro da casa. Quase perdi o equilíbrio, ela era realmente forte para uma criança de dois anos. – Izzy está no quarto. Vovô trabalhando.

 Tomei o cuidado e a precaução de fechar a porta, tentei imaginar aquela garotinha tão pequena pulando até alcançar a maçaneta e, por um milésimo ou dois, eu ri.

 Passando pelo corredor, pude ver o primeiro cômodo, que era o quarto de Arkansas e depois o segundo, que era um pequeno e estreito banheiro. A terceira porta estava fechada e a quarta aberta, dando visão para uma cama de casal, deveria ser o quarto do senhor Medeiros.

  –Ele tá aí – Arkansas apontou para a porta que estava fechada. – Tá aberto. Izzy disse que não quer ver ninguém, mas acho que você ele quer, né?

   Abaixei-me novamente e encarei os olhos castanhos esverdeados da garotinha, eram iguais aos de Ezequiel. Dei um abraço nela e pude ver o largo sorriso que esse ato gentil fez gerar em seu rostinho angelical.

  –Obrigada, Arkansas – sussurrei. – E não abra a porta se a campainha tocar novamente, pode ser algum estranho. Chame eu ou Ezequiel, tudo bem?

     Ela confirmou com a cabeça.

    –Você... Surpresa! – disse alegremente, acho que Arkansas não conhecia a dor e a tristeza ainda. Se dependesse de mim, ela nunca conheceria. – Sempre quando toca, é o tio Chris.

   A garotinha se afastou de mim e quando fui perguntar o que aquilo significava, ela já tinha saído correndo e rindo para o seu quarto.

  Era meio óbvio que Christopher estivesse dando suporte a Ezequiel, só que isso não se passara pela minha cabeça ainda. Será que depois da escolha que meu coração fizera as coisas continuariam as mesmas?

  Hesitei em colocar a mão na maçaneta, mas cedi. Quando o frio do metal foi de encontro a minha pele, senti como se um caminhão tivesse jogado areia em meu estômago. Encostei minha testa na madeira da porta e permanecia daquela forma por vários minutos.

   Apenas uma porta separava-me de Ezequiel. Era vergonhoso.

   Desencostei minha testa e então girei a maçaneta. Vagarosamente fui abrindo a porta, pisquei várias vezes na tentativa de afastar algumas lágrimas de medo.

    Coloquei a mão na boca e suspirei. A cena que vi foi deprimente.

  Aquele garoto de olhos castanhos esverdeados e de cabelos castanhos, que um dia eu chamara de amigo, havia quase perdido sua vontade de viver. Ezequiel estava deitado em uma cama, ao lado de um guarda-roupa de madeira, usava uma coberta azul aconchegante e suas mãos seguravam uma fotografia, com certeza deveria ser de Katherine.

   O quarto era pequeno e exalava depressão. As paredes eram brancas e um pouco sujas, havia apenas o guarda-roupa e a cama como mobílias, o que quase me fez chorar.

  –Ezequiel? – sussurrei e dei dois passos em sua direção, encontrava-me a poucos centímetros da cama.

     Sua cabeça virou devagar e seus olhos finalmente tiraram o foco da fotografia. Aquela cena doeu ainda mais.

      Afastei-me assustada. Desconhecia aquela pessoa com olheiras fundas e olhos inchados, que não tinha nem mais sinal de vida no rosto.

   –Eu... – Ezequiel ficou em silêncio por alguns segundos, perguntei-me se ele conseguia pelo menos falar. – Estou mal.

     Aliviei-me ao escutar sua voz, embora ela estivesse carregada de tristeza e rouca devido ao choro. Dei um pequeno sorriso e voltei a me aproximar da cama. Ezequiel me olhava calmamente, analisando cada parte de meu rosto e, de forma muito espontânea, deu um sorriso para mim.

      Ele ainda estava ali. Eu podia ver.

   –Você não parece nem um pouco bem – falei, enquanto me sentava ao seu lado na cama.

     Ezequiel se afastou um pouco para me dar espaço, mesmo sendo desnecessário. Ele me observava silenciosamente, seu semblante era sério e um pouco triste, mesmo que estivesse sorrindo um pouquinho.

    Vagarosamente e com muito cuidado, segurei uma de suas mãos.

    –O que aconteceu? – sussurrei.

   Sentia-me cansada daquela vida. Além do sentimento de exaustão, mais nada ocupava meu coração, e eu me senti mal por isso. Ezequiel começou a acariciar minha mão de forma carinhosa e acho que, além do cansaço, o sentimento de culpa também havia entrado em meu coração.

    –Ezequiel... – sussurrei novamente, só que dessa vez mais fraco.

    Retirei minha mão da sua e olhei constrangida para o chão. Acho que àquele ponto, ele já havia entendido o que eu queria dizer. Eu não fora até ali apenas para dizer aquilo, também fora como amiga, preocupada com ele.

     Tinha que me explicar.

     –Eu sinto muito, Izzy. Se puder me escutar, eu...

    –Não! – Ezequiel disse, alto e em bom som, quase em um berro. – Não me importa!

   Uma raiva instantânea cresceu dentro de mim. Eu não sabia o porquê, mas aquela atitude me irritara. Eu só queria conversar, dizer o que estava sentindo, escutar o que ele tinha a dizer... Mas agora tudo acabara por culpa de uma atitude imatura de Ezequiel!

    Levantei-me da cama e o encarei perplexa. Ele estava quase a chorar ali, olhava sem sentindo para a parede e balançava a cabeça em sinal de negativo. Estarrecido. Parado. Estupefato.

      Eu abri a boca para conspirar, mas foi aí que me toquei que não sabia o que dizer, ou como dizer.

     –Você veio aqui atrás dele, não veio? – Ezequiel perguntou. Pude notar uma lágrima traçar caminho em sua bochecha ao pronunciar a última palavra, ele estava irado.

      –Ezequiel, eu vim aqui porque quero...

    –Não tente mentir! – abaixou o tom de voz, enquanto olhava para suas mãos e chorava. – Você já quebrou meu coração mais vezes do que eu gostaria...

       Fechei os olhos aos escutar aquela frase. Não era verdade! Não era!

     O ódio dele me preencheu também e talvez esse tenha sido o pior de tudo. Se eu estivesse sã naquele momento, provavelmente sentiria medo da futura discussão que iríamos ter, mas eu não estava sã e também não sentia medo.

      –Você é meu amigo, Ezequiel – finalmente, conspirei. Estava tão enraivecida que nem o tom de voz eu conseguia controlar. – Vim aqui para falar de você. Contar o que estou sentindo. E quanto a Christopher? Bem, ele é seu amigo também, não é? Ou você já se esqueceu disso?

    Eu estava bufando, a respiração desregulada e o batimento cardíaco descontrolado. E Ezequiel estava ali... Olhando para suas mãos, com suas lágrimas escorrendo e não se importando com nada.

     –Eu sei que você veio atrás dele porque ele te deixou –disse, enquanto silenciosamente deixava mais e mais lágrimas caírem. – E sabe de uma coisa? Eu não me importo com mais nenhum de vocês. Não quero mais saber de nada. Quer ir atrás dele? Então vá!

       Como eu tinha vontade de esmurrar aquele garoto!

       Ele era tudo, menos o Ezequiel Medeiros de alguns meses atrás que eu conhecera.

      Mordi meu lábio, sentindo o gosto de sangue contagiar minha boca. Mantenha a calma, Blakely.

      –Então eu vou! – respondi, respirando fundo logo em seguida. – E ao contrário do que você está fazendo, sempre me importarei com você. Eu não faço a mínima ideia de que parte de Tottenham Christopher mora, mas eu nunca vou me cansar de procurar por ele, está entendendo? Nunca!

    Fechei meus olhos, uma lágrima conseguiu escapar e eu dei alguns passos para trás, frustrada. Encostei-me na parede e ali me apoiei, tentando recuperar o fôlego, enquanto o resto de meu corpo tremia.

       Não sabia dizer o que estava sentindo. Apenas que era forte.

     Olhei para Ezequiel. Ele estava se levantando da cama, parecia com muitas dificuldades naquela simples tarefa. Eu sabia que quando uma pessoa estava em depressão, ela não conseguia se mover direito, ever aquela cena foi angustiante. O garoto parecia estar fazendo um grande esforço, equivalente a escalar uma montanha ou a estar em uma maratona, puxava suas pernas para fora da cama com as mãos e respirava de forma ofegante como eu.

      Eu não sabia o que ele estava tentando fazer, mas continuei a observá-lo. Ezequiel estava de pijamas, com uma calça de moletom preta e uma blusa de mangas compridas cinza.

       O garoto levantou-se e apoiou seu corpo na parede, ele andava em direção ao seu guarda-roupa, pegou um papel e uma caneta de lá de dentro e colocou-a na parede, usando-a como mesa. Ele não fez nada por uma porção de minutos, apenas olhava para a folha em branco e para a caneta.

     Só que de repente, fez alguns movimentos com a caneta e depois de um tempo parou bruscamente, parecia ter terminado de escrever ou rabiscar o que quer que fora.

     Nada fazia sentido naquela cena e tudo só piorou quando Ezequiel amassou aquela folha. Não conseguia dizer nada, minha garganta parecia estar cheia de areia e doía a cada tentativa que eu fazia de tentar falar, queria perguntar o que estava acontecendo, queria gritar e acordar daquele pesadelo. Mas não dava.

         Respire. Expire. Respire. Expire.

       O garoto, que estava a apenas uns passos de mim, encostado na parede e quase imóvel, jogou a bolinha de papel na minha direção.

      –Saia daqui agora – ele disse com sua voz embargada, limpando algumas lágrimas e caindo aos poucos para o chão, apenas deslizando na parede como eu fizera a alguns dias atrás ao ter um outro surto.

      Curvei-me e peguei aquele papel amassado. Levantei um pouco o olhar para Ezequiel, ele estava abraçando as pernas, sentado no chão e balançando um pouco o corpo. Mordi o lábio novamente, sentindo o gosto de sangue aumentar ainda mais.

      Com as mãos tremendo um pouco, fui desamassando a folha. Vi algumas letras de forma e dois números, a caligrafia de Ezequiel estava horrível, mas não foi isso que me deixou estarrecida e sem ar.

       “Beaufoy Road, Tottenham. 22

       Aquele era o endereço de Christopher.

      Olhei sem entender nada para Ezequiel, com as mãos tremendo ainda mais e o coração a ponto de sair pela boca. Por que ele me dera aquilo?

      “... se ele gosta de você e te quer feliz, vai aceitar que seu amor por ele não é recíproco...”.

     Os conselhos de Mark me acompanhavam aonde quer que eu fosse e, naquele momento, iluminaram basicamente tudo em minha mente.

      Ezequiel me amava. Amava de verdade. A ponto de deixar que eu partisse seu coração mais uma vez apenas para correr atrás de outra pessoa.

       –É melhor ir rápido – disse o garoto em meio às lágrimas. – Ele volta para a Rússia daqui a dois dias.


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Notas finais do capítulo

Espero que digam o que acharam e me perdoem pela demora! Sei que estou perdendo leitores, mas espero que não me abandonem