O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 40
Trigésimo Nono Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Ressuscitei dos mortos! Espero que me perdoem. :)



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Aos poucos a dor foi tomando meu corpo e fui voltando a ter consciência dos fatos. A briga com Ezequiel, o endereço, as ruas de Tottenham... De repente, lembrei-me do rosto de meu agressor.

As cenas da minha “quase morte” passaram como um filme em minha cabeça. Uma inquietação tomou conta de mim e então, como se acordasse de um pesadelo, abri meus olhos rapidamente e me sentei na superfície macia que reconheci ser um colchão.

Havia uma janela ao lado da cama e a luz de um quase nascer-do-sol iluminava um pouco o quarto.

Coloquei minha mão na boca, contendo um grito. Minha respiração se acelerou ao lembrar como eu havia sido espancada e quase estuprada. Por um segundo, eu me lembrei de Katherine e isso só fez meus olhos se encherem de lágrimas.Poderia ter acontecido a mesma coisa.

Chorei como um bebê, lembrando-me da voz e da cicatriz no rosto de meu agressor. Eu nunca mais me esqueceria daquele rosto. Até que, em um determinado momento, senti uma mão em meu ombro. Era Christopher, com um olhar preocupado e expressão séria. Havia algo em sua íris que se parecia muito com culpa.

—Você teve um pesadelo. – disse ele, afirmando ao invés de perguntar.

Funguei, limpando um pouco as lágrimas.

Estava óbvio. O garoto se sentia culpado por tudo o que havia acontecido comigo, mesmo que não fosse sua culpa.

—Não tive – respondi, enquanto desviava um pouco o olhar.

Esforcei-me ao máximo para conter o choro ao perceber que Christopher ia sentar-se ao meu lado na cama.

Desviar de seus olhos havia sido uma tentativa falha. Estávamos cara a cara e era exatamente esse momento que eu temia. Seus olhos azuis de encontro aos meus castanhos, cada um analisando o outro, centímetro por centímetro, vendo se algo havia mudado, se continuávamos as mesmas pessoas.

Embaixo de seus olhos havia olheiras mais fundas do que o normal, seu cabelo loiro havia crescido e, embora o olhar parecesse cansado, naquele azul ainda havia algo que eu reconhecia. Só que a dor e a tristeza... Elas ainda estavam presentes nele e em bastante quantidades, infelizmente.

Coloquei minha mão em sua bochecha, acariciando-a levemente, sentindo sua pele macia.

—O que aconteceu com a gente? – sussurrei e afastei minha mão.

Ele abaixou o olhar, voltando a me encarar segundos depois.

—É uma boa pergunta.

Uma dor tomou meu peito naquele momento. Aquela resposta... Será que, depois de tudo o que eu havia feito para chegar ali, Christopher simplesmente desistira de mim? Ou melhor, desistira de nós? Parei de respirar por alguns segundos, olhando para ele e vendo uma expressão confusa. O medo me consumia internamente, até que vi seu rosto descontrair-se um pouco.

—Não foi isso o que eu quis dizer, Blakely - colocou suas mãos na cabeça, entrelaçando seus dedos aos fios loiros. Christopher parecia estar contendo um surto interno, só que então me olhou com o semblante calmo e sorriu. – Eu amo você.Não desistiria de você... Te deixar seria talvez a melhor forma de proteção.

Mordi meus lábios. Ele havia dito mesmo aquelas palavras.

—Se isso me matar por dentro, você vai estar, ainda assim, me protegendo? – olhei ao meu redor pela primeira vez, notando que talvez estivesse no quarto de Christopher.

Não havia quase nada naquele cômodo de paredes tons pastéis. A cama e uma pequena mesa em um canto, cheia de livros e papéis.

—Você quase morreu ontem – disse, respirando fundo logo em seguida novamente.

Ele não estava bem.

—Mas não morri, Christopher – olhei para fora da janela, vendo o nascer do sol. – Pode me contar tudo o que aconteceu?

O garoto apenas assentiu com o rosto.

—Antes você tem que se deitar e descansar mais um pouco – deu um pequeno sorriso de canto, mas que parecia sem vida e forçado. Pegou uma coberta no chão para me cobrir. Eu provavelmente a jogara ali quando acordara. Opa...

Voltei a me deitar, descansando minha cabeça em um travesseiro confortável. Christopher logo me cobriu. Naqueles poucos segundos em silêncio, senti minha cabeça latejar. Fechei os olhos por alguns segundos, como se a dor fosse sumir repentinamente.

—Vou buscar um comprimido e água para você – disse Christopher, percebendo que eu ainda não estava completamente bem.

Alguns minutos depois ele retornou ao quarto, sentei-me apenas para engolir o remédio e depois voltei a descansar, senti um certo alívio só de voltar a deitar. Já que a cama era baixa, o garoto resolveu sentar-se no chão, assim eu conseguia enxerga-lo melhor sem precisar me esforçar.

Ele segurou minha mão esquerda, acariciou-a por alguns segundos e encarou meus dedos, logo começou a explicar-me:

—Escutei há algumas semanas uma conversa do meu avô com minha mãe. - A aflição em Christopher era visível, a voz começara a embargar um pouco. - Ele sempre soube de tudo...Sempre soube da nossa situação e nunca mediu nenhum esforço para nos ajudar. Sabe como isso dói, Blakely?  – entrelaçou nossos dedos, desviando o olhar para o chão. Eu não conseguia imaginar a tristeza que ele estava sentindo, mas notei uma pequena e solitária lágrima pingar de seu rosto. Não, Christopher não aguentaria firme. – Antes de entrar para Dallington, havia conversado com meu avô sobre a possibilidade de estudar em um colégio militar na Rússia. E, nesse mesmo dia em que descobri a traição dele, também fiquei sabendo que tenho uma vaga em um dos melhores colégios militares de São Petersburgo.

Acho que a tempestade de pensamentos que estava na minha cabeça simplesmente se calara por um minuto. Aquela oportunidade, para Christopher, era única e eu não podia impedi-lo de aproveitá-la.

—Você tem que ir – sussurrei.

—Eu sabia que ia dizer isso – apertou forte nossas mãos, finalmente me olhando nos olhos. Mergulhei em seu oceano azul em questão de segundos, vendo apenas dor. – E é por dizer isso que sei que quero ficar. Não posso simplesmente deixar você, minha mãe, Ezequiel e... Até mesmo... – uma careta se formou em seu rosto. – O Caleb.

Eu soltei um pequeno riso, embora estivesse triste. Parecia que alguém estava finalmente se entendendo com o senhor Dwayne...

—Não consigo perdoar as pessoas, esse é meu grande defeito – continuou seu monólogo, ainda com os olhos focados nos meus, ainda me mostrando o “universo pessoal” que eram suas íris. – Você me ensinou muitas coisas, Blakely Jones. A ser mais paciente, a não me afogar no meu barquinho sozinho, a não me acostumar com a dor... Mas a perdoar e ser menos rancoroso do que sou... Bem, acho que isso ninguém pode me ensinar. Eu nunca conseguiria ir para a Rússia e conviver com um traidor que tem meu próprio sangue nas veias – fez alguns movimentos circulares com seu dedo nas costas da minha mão, ele parecia nervoso, então simplesmente virou o rosto para o lado, de forma que eu não conseguia mais ver seus olhos. – Só que quando eu e minha mãe conversamos... Eu simplesmente não pude negar o pedido dela. Eu a amo tanto, Blake. E aí ontem eu escutei o seus gritos na rua... – fungou, demonstrando que o choro estava quase o dominando. - Eles me trouxeram de volta, me acordaram para a realidade. A realidade de que Hunter nunca mais será meu pai. A realidade de que eu estou órfão. A realidade de que Caleb faz minha mãe feliz...

Lágrimas e mais lágrimas escorriam pelas bochechas de Christopher. Ele havia finalmente visto a situação. Não é como se antes não visse, mas talvez o fato de amar Hunter atrapalhasse seu julgamento.

Eu não sabia o que dizer a ele, acho que nenhuma palavra seria reconfortante o suficiente. Então apenas soltei nossas mãos por um pequeno intervalo de tempo, enquanto saia de debaixo da coberta e me sentava ao chão também, abraçando Christopher e deixando com que molhasse a minha manga com suas lágrimas.

—Eu odeio tudo isso – sussurrava abafadamente. – Odeio meu pai. Odeio essa situação. Odeio meu avô. Odeio a mim mesmo.Simplesmente odeio...

Eu passava a mão em suas costas, tentando acalmá-lo, mas as palavras de ódio continuavam saindo sem parar. Christopher guardava mágoas de quase dezesseis anos, ele precisava daquele momento.

—Eu me odeio... – disse, abafando novamente o som em meu ombro e na manga da minha camiseta.

Um pequeno arrepio percorreu meu corpo ao escutar aquilo. Eu sabia que ele estava tendo um surto e sabia que nada daquilo era verdade, Christopher estava tomado pela raiva e tristeza, mas ainda sim doía escutá-lo dizendo isso.

—Isso vai passar – sussurrei em seu ouvido.

Passei meus dedos por seu cabelo loiro, sentindo cheiro de sabão de coco. Era um cheiro tão bom. Respirei fundo algumas vezes, apenas para senti-lo.

—Eu sou fraco... – disse, entre soluços.

—Você é forte, só não sabe disso ainda, querido.


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Notas finais do capítulo

Espero que não me abandonem. Novamente, desculpem-me!