O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 34
Trigésimo Terceiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, gente! Hoje as aulas começaram para mim :) Fico feliz e triste ao mesmo tempo, mas só tenho a agradecer, não é?
O número de leitores está aumentando tanto nos últimos dias... Fico sorrindo feito boba toda vez q olho o "Gerenciar Historias" kkkk



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Eu não consegui acompanhar como os fatos se sucederam, apenas via tudo em câmera lenta enquanto ficava estarrecida.

O Senhor Medeiros e meu pai vieram em minha direção e tiraram cuidadosamente Ezequiel de perto de mim. Meu pai olhou em meus olhos e disse algumas palavras. Não consegui entender nada.

Ele apenas movia os lábios, mas eu não distinguia nenhum som.

—Pai... – tentei dizer, mas apenas um sussurro fraco saiu de mim, um sussurro que acho que nem eu escutei direito.

Só me lembro de abraçá-lo e começar a chorar, enquanto via, através das lágrimas, que Ezequiel estava brigando com o pai dele, gritando coisas que eu não conseguia entender.

Não escutava nada. Não sentia nada.

O que havia acontecido comigo?

                                                           ***

            Fixava meu olhar na parede da sala, enquanto escutava a discussão de meus pais na cozinha. Meus olhos estavam tão vermelhos e inchados que eu não tinha nem forças para me virar e achar um novo ponto para fixar.

            Depois de minutos e minutos olhando aquela parede branca, meu pai apareceu em minha frente e só então tive forças para mexer uma parte do meu corpo.

            –Por que vocês estavam brigando? – sussurrei, a voz estava fraca devido ao choro.

            –Querida... – passou sua mão em meu cabelo, arrumando minha franja. – O que você sabe sobre o caso da Katherine Medeiros?

            Meus olhos marejaram, comecei a travar uma luta interna comigo mesma, enquanto decidia se deveria ou não contar.

            –Sei que ela foi estuprada... – fixei-me nos olhos de meu pai, ele parecia estar sentindo minha dor e me olhava de forma altruísta. – E que se matou...

            Assim como na escola, abracei meu pai e comecei a chorar novamente.

            –Eu sabia que havia algo de errado com você – sussurrou em meu ouvido. – Comecei a desconfiar desde o dia em que chegou em casa dizendo que conheceu Ezequiel Medeiros. Filha, você é sensível demais para assuntos como esse.

            Fechei os olhos com força.

            –Você é igual a todos eles! – acabei de uma vez com o nosso abraço, me soltando violentamente de seus braços. – Acha que sou fraca, acha que sou sensível... Não sou uma boneca de porcelana! Não sou feita de papel! Não precisa ficar me protegendo de tudo.

            Minha mãe veio correndo até a sala, deparando-se com sua filha descabelada e chorona e com seu marido aflito. Ambos estavam a ponto de chamar uma ambulância.

            –Blakely! – minha mãe acariciou meu ombro. – Pare de chorar, querida... Você fica tão feia quando está assim...

            Olhei com raiva para ela. Eu não tinha mais cinco anos de idade, e aquilo não era um surto adolescente. Eu estava de mal com a vida, se bem que talvez isso fosse um surto.

            Mente enevoada. Crise de discernimento. Esses termos definiam melhor.

            Por que Christopher tinha que apanhar de seu próprio pai? Por que Katherine tinha que se matar? Por que Ezequiel tinha que se sentir o culpado?

            –Deixe que eu cuido disse, Elizabeth! – meu pai disse à minha mãe.

            –Andrew, ela é minha filha também!

            –Por favor...

            Eles nem sequer estavam preocupados comigo, apenas discutiam entre si. Peguei uma almofada ao meu lado e enfiei meu rosto nela. Não queria mais chorar, só que as lágrimas eram inevitáveis.

            –Andrew, mas que saco! Pare de ser egoísta.

            –Uma vez na vida você não pode me deixar conversar com nossa filha?

            Gritei, os sons eram abafados pela almofada, mas eu sabia que eles estavam escutando. A dor era tão grande em meu coração, eu sentia vontade de enfiar uma faca ali.

            Continuei a gritar, soltando toda a dor que eu tinha. Eram catorze anos sem viver nada. Sem ter “carpado” nenhum diem

            Eu me odiava tanto.

                                                                 ***

            “Perdi a mim mesmo nas horas, minutos e segundos”.

                                                                   ***

            “Parece que tenho uma nova cicatriz nas costas. Esses cacos de vidro cortam para valer, Diário.

            Sinto tanta falta da Rússia, mas entro em estado de terror quando penso em meu avô. Eu o odeio.

            É só uma fase, isso vai melhorar, até minha mãe está sorrindo mais.Talvez um dia eu descubra porque ela resolveu sorrir mais”.

                                                                   ***

            “As coisas pioraram, Diário. Pioraram muito.

Conheci o tão famoso Caleb Dwayne. ELE é o motivo dos sorrisos e do brilho nos olhos da minha mãe. Parece que ela não se dá conta de que ainda está casada com meu pai, que ainda estamos esperando que ele se recupere para voltarmos à Rússia e vivermos felizes para sempre.

CalebDwayne está com certeza dando em cima da MINHA mãe, porém... Dei um jeito de mostrar a ele que ela é uma mulher CASADA. Pelo menos, por enquanto, aquele idiota sossega.”

                                                         ***

Eu me encontrava no meu quarto, deitada e lendo algumas páginas do diário de Christopher. Não queria mais pensar em Katherine, Ezequiel e em Arkansas. Eles não eram dores de cabeça, mas me machucavam.

Eu sabia que sentia algo por Ezequiel. E também sabia que sentia outro algo por Christopher. Era difícil explicar, mas a situação em que eu me encontrava fazia com que os machucados neles também estivessem em mim. Nós três sentíamos a mesma dor.

Fechei o diário e o coloquei sob meu travesseiro. Sentia naquele momento apenas cansaço, até que escutei o chato barulho da campainha.

Àquela hora quem deveria ser? Eram quase dez da noite!

Pude escutar os passos de meu pai indo em direção à porta. Ele ainda estava com os sapatos sociais, já que o barulho que fazia no piso era um pouco alto.

Não consegui escutar mais nada além daqueles passos, nem o barulho da porta se abrindo ou alguma conversa.

Pouco importava, para dizer a verdade. Deveria ser Martin ou outra pessoa da advocacia, mas àquela hora era realmente estranho.

Minutos se passaram sem que eu pudesse escutar nada, acabei achando que a pessoa, quem quer que fosse, já tivesse ido embora. Porém, quando essa ideia estava quase sendo assimilada, escutei meu pai me chamar?

—Blakely! Desça aqui um instante, querida.

Assim que sai de debaixo das cobertas, coloquei minhas pantufas pretas e peguei meu moletom cinza. Eu não fazia ideia de quem estava lá embaixo, eu estava com uma aparência horrível, mas quem quer que fosse iria ter que me aguentar desse jeito.

Vi meu pai em pé de frente ao sofá e, quando me aproximei mais, acabei dando de cara com uma mulher ali sentada, em frente a ele. Ela usava um vestido preto, meia calça da cor da pele e um sobretudo preto por cima do visual, sem contar que usava saltos pretos nos pés. Não queria admitir, mas a mulher era linda e tinha traços no rosto que me lembravam alguém. Ela era ruiva, seu cabelo era grande e um pouco encaracolado, seus olhos eram azuis como o oceano e sua pele era branca como a minha, a única diferença era que a mulher tinha algumas sardas pelo rosto. Sua beleza era deslumbrante.

—Boa noite, Blakely–ela sorriu ao me ver. – Meu filho me disse muito sobre você.

Uma expressão interrogativa se formou em meu rosto. Quem era o filho daquela mulher? Ela percebeu minha confusão e logo em seguida deu uma pequena risada.

—Me chamo Rebecca Robinson. Sou a mãe de Christopher – disse, fazendo com que todos os meus pensamentos naquele minuto se clareassem de uma vez só.

Uma sensação nervosa invadiu meu corpo. Então era Christopher quem ela me lembrava. Alguns traços em seu rosto eram iguais ao do garoto e os olhos dele eram parte também da genética dela.

 –Eu... Não... – gaguejei um pouco, olhando para o meu pai como se pedisse ajuda. – Imaginava que... Teria sua visita.

Que tipo de frase foi isso, Blakely? Minha consciência me repreendeu.

—Senhor Jones, poderia buscar um pouco de água para mim? – disse Rebecca, olhando séria para mim.

Acho que entendi o que ela queria, uma conversa comigo a sós.

—Claro que sim! – disse meu pai, um pouco incomodado, mas já se dirigindo para a cozinha.

Ela o acompanhou até sair de vista, foi quando se virou para mim e olhou-me fixamente.

—Eu sinto... muitíssimo pelo que você está passando, Blakely – disse Rebecca, quase sussurrando. Ela fez um movimento com a mão, mostrando que eu deveria me sentar ao seu lado no sofá. Foi isso o que fiz. – Meu filho gosta muito de você e sabe que toda essa... Situação... Está lhe machucando – eu sabia que a situação tinha um nome e ele era Hunter. Ela parecia ter tido um pouco de dificuldade para se expressar devido ao fato de também sofrer na mão do marido, assim como Christopher. Porém, a situação também poderia se chamar Katherine, ela machucava Ezequiel e sua dor era sentida por mim.

Respirei fundo. Acho que tudo o que eu tinha para chorar já havia chorado, esse risco pelo menos eu não iria correr.

—Não precisa se preocupar mais com minha família. Meu filho não irá mais lhe incomodar – Rebecca sorriu, mas não parecia ser um sorriso verdadeiro.

Nesse mesmo instante, meu pai chegou com um copo de água na mão. Ele o entregou a Rebecca, que o bebeu em apenas alguns segundos.

—Eu espero que você volte a ser a mesma garota sorridente que meu filho disse que você era. Ainda haverá muitas oportunidades pela frente... – ela entregou delicadamente o copo para meu pai. – Obrigada, senhor Jones.

Rebecca se levantou do sofá e então me olhou por um último instante antes de se dirigir a porta.

—Muita obrigada por sua recepção, senhor Jones. Espero que dê tudo certa para o julgamento do réu. E quanto a você, querida... – Rebecca encarou-me com certa tristeza no olhar. – Adeus!

De modo talvez muito fora de etiqueta, a mulher ruiva abriu a porta e simplesmente saiu. Meu pai encarou a porta por alguns segundos, ele que ligava tanto para essas formalidades estava um pouco estupefato pela atitude de Rebecca.

—O que ela te disse, filha? – perguntou.

Eu sabia que era pelo fato de ser a mãe de Christopher. Ele odiava tudo o que vinha do garoto, mesmo eu não entendendo bem o porquê disso.

—Nada que você deva saber – respondi, sem me preocupar se eu estava falando com meu pai ou não. Educação não era algo que me apetecia no momento.

Subi as escadas rapidamente, entretanto, deu tempo de escutar o suspiro cansado de meu pai. É claro, ele achava que tinha uma aborrecente em casa. Acho que na visão dele, eu era a raiz de todo o problema. 

Será que eu era uma dor de cabeça? Dane-se a resposta. Só queria voltar para o meu quarto e continuar a ler o diário de Christopher, sem mais interrupções estranhas.

Nada do que Rebecca dissera fazia sentido. Mas talvez tivesse significado...

Fui até minha cama e coloquei minha mão debaixo da almofada, porém não consegui encontrar nenhum diário ali. Meu coração bateu mais forte que nunca naquele momento, minha boca se abriu em um perfeito “O” e logo as lágrimas – que eu pensei que já tivessem se esgotado – começaram a traçar caminhos em minhas bochechas.

Droga! Droga! DROGA!

Olhei para minhas mãos, um misto de raiva, medo e tristeza me tomava. Joguei os cobertores e almofada longe. Uma revolução começava dentro de mim. Outra crise de discernimento, talvez.

Não, o diário não estava ali.

Encostei-me na parede e comecei a deslizar até chegar ao chão. Eu era uma bomba em contenção que estava prestes a explodir.

Gritei. Esperneei. Lutando contra a ideia que cogitava em minha mente. Podia escutar os passos apressados de meus pais subindo a escada, mas não me importei com aquele pequeno detalhe. A situação era mais grave do que eles podiam imaginar.

Mesmo depois de sua promessa de que sempre voltaria para mim...

Mesmo depois de tantos momentos juntos...

Mesmo depois daquele beijo...

Christopher havia me deixado.Agora as palavras de Rebecca faziam sentido.

“Meu filho não irá mais lhe incomodar...”.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo! ♥ Sério... Fiz com muito carinho!