O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 30
Vigésimo Nono Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Agora que estou de férias, vou começar a escrever e vão chover capítulos. Se serve de consolo, tenho mais 3 capítulos prontinhos para vocês e agora voltarei a escrever, então até hoje a noite ficam 4 capítulos certinhos que postarei em breve.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/625715/chapter/30

—Acho que já podemos comer, não é? – disse minha mãe, logo depois de cumprimentar Ezequiel.

—Com certeza – meu pai disse, respirando bem fundo o ar para sentir o cheiro do Rondeli. – Isso parece uma delícia!

Minha mãe arrumara a mesa de forma que eu, Ezequiel e Christopher ficássemos de frente para ela e meu pai. Então eles logo se sentaram nos dois lugares perto da parede. Na mesa ainda sobravam cinco lugares, dos quais dois não estavam com pratos já que não era necessário.

Pensei em sentar de frente ao meu pai, mas quando já ia dar o primeiro passo em direção à cadeira, ele contestou:

—Querida, sente-se no meio. Assim você fica do lado de ambos.

Eu não podia falar nada, por isso apenas segui a ordem. Christopher se sentou a minha direta, de frente para minha mãe, claramente fugindo de meu pai, e Ezequiel ficou a minha esquerda,ele estava corado e um pouco nervoso.

Meu pai foi o primeiro a pegar o Rondeli, surpreendendo a todos por ter feito seu prato quase transbordar.

—Sua vez, Christopher – disse minha mãe.

—Só depois da senhora – respondeu, fazendo um grande sorriso aparecer na face de minha mãe. Ela sempre suspirava quando via atos de cavalheirismo.

—Obrigada.

Com um gesto de cabeça, Christopher mandou um sutil “de nada”. Depois de minha mãe se servir, ele me deu a vez também e o mesmo aconteceu com Ezequiel. Só depois de todos nós que se serviu.

—Ora, mas por que ser o último? – meu pai perguntou.

Será que seria assim pelo resto da noite? Cada vez que Christopher fizesse um movimento, meu pai perguntaria o porquê?

Ezequiel riu ao meu lado.

—Acho que ele só está preocupado com a gente, já que comeria todo esse recipiente de Rondeli sozinho – disse, fazendo Christopher corar.

Meu pai sorriu ao escutar a piada.

—Come tanto assim? – perguntou, olhando para o garoto à minha direita.

—Ezequiel está exagerando – falou, olhando para seu prato, que estava com quase a mesma quantidade de Rondeli que o meu. – Talvez eu não aguentasse a última colherada.

Dessa vez, tive que rir. Não sabia que Christopher comia tanto assim, mas depois pensei em como eram seus almoços e jantares, qual era sua comida preferida e se sua mãe cozinhava. Muitas coisas nele ainda eram um mistério para mim.

Talvez mais tarde eu pudesse descobrir no diário.

Comi um pouco do Rondeli, constatando que minha mãe era a melhor cozinheira do mundo. Fechei os olhos por curtos segundos só para apreciar aquela massa recheada.

—Foi Albert quem o trouxe, Ezequiel? – meu pai perguntou.

—Não, senhor. Meu pai estava ocupado e tive que vir andando, mas ele disse que virá me buscar assim que eu ligar – respondeu Ezequiel, ele parecia menos nervoso.

—E você, Christopher? Veio andando também?

—Sim, a minha mãe estava no trabalho – ele comeu mais um pouco assim que respondeu, Christopher parecia gostar bastante do prato.

—E sua mãe trabalha em que? – daí para frente, soube que a investigação de advogado começara.

—Ela é secretária – respondeu, sem encarar muito meu pai. – Mais precisamente, secretária do Caleb Dwayne.

—Interessante – minha mãe comentou, acho que a esse ponto ela já sabia sobre a aparição de Caleb e Christopher na discussão entre meu pai e o Senhor LaCross.

—Interessante mesmo – meu pai deu um sorrisinho, como se fosse um assassino em série fazendo uma nova vítima. Quero dizer, não era tão sombrio assim, mas medonho. – E seu pai?

Christopher pareceu congelar por um momento.

—É um assunto delicado... – falou, parecendo extremamente desconfortável. – Ele morreu há poucos anos, só que para mim é bem recente. Não gosto muito de falar sobre ele.

Olhei para o meu pai, tentando ver se Christopher passara livre em seu detector de mentiras mental. Ele havia parado de comer, talvez refletindo se deveria ou não acreditar.

—Sinto muito – pediu. – Não deveria nem ter tocado no assunto.

—Não! – Christopher se apressou. – Tudo bem. O senhor não sabia.

Todos se calaram por um tempo. Acho que depois da última pergunta, meu pai resolvera parar sua investigação e não arriscar mais situações constrangedoras como aquela.

—Acho que vou repetir – disse meu pai, rindo para minha mãe. É claro que ele iria repetir, já era até esperado.

Christopher ainda comia seu primeiro prato, parecia estar um pouco sem fome. Não conseguia imaginar o que o deixava assim, talvez pensar no pai, mas tinha quase certeza que era outra coisa. Ele estava quieto demais.

—Acho que vou ao banheiro – disse Christopher e depois olhou apressadamente para mim. – Blakely, pode me mostrar onde é?

Olhei para meus pais como se pedisse permissão. Minha mãe sorriu, mas meu pai evitou me olhar, claramente incomodado.

—Claro – levantei-me.

—Obrigado – ele sorriu, levantando-se também. – Com licença, senhor e senhora Jones.

Em passos meio controlados, Christopher seguiu até o corredor, já que o banheiro ficava na primeira porta à direita. Ele sabia onde era, mas então por que pedira minha ajuda?

—Você...

—Sim – confirmou, antes mesmo de eu perguntar em voz alta. Christopher olhou diretamente em meus olhos, ele parecia estar um pouco mal. – Eu só precisava sair de lá um pouco. 

Encostou-se à parede, fechando os olhos por uns segundos.

—É o meu pai – disse, revelando seu ponto mais fraco. – Ele se meteu em uma briga com alguns idiotas em um bar hoje. Eles são de uma gangue de Tottenham bem perigosa. Só... não sei mais o que fazer – suspirou, mostrando, naquele momento, um Christopher fraco e covarde, coisas que ele nunca seria de verdade.

—Gangue... – repeti, nunca ouvia falar de gangues no jornal londrino, acho que gostavam de apresentar ao mundo uma Londres perfeita. – Você não faz parte de uma, faz?

Ele gargalhou baixo para não escutarem nossa conversa.

—Não, não faço parte de uma gangue, Blake – respondeu, ainda rindo um pouco. – Eu apenas salvo as pessoas delas. Com certeza devo ser a maior dor de cabeça das gangues de Tottenham e agora meu pai fez a idiotice de se meter com uma delas – Christopher respirou fundo, dessa vez mais aliviado. – Eu estou ferrado.

Encostei-me à parede também, imaginando o que aquela gangue poderia fazer com Christopher. Estava aprendendo mais de Londres nesses meses do que na vida toda. Estava vendo o lado podre da maçã que todos tentavam esconder.

—Essa gangue não fará nada com você, não é? –perguntei,visivelmente preocupada.

Ele sorriu, mesmo que seus olhos dissessem o contrário.

—A dor não é um problema para mim. Já estou acostumado com ela.

Aquilo me lembrava do episódio do banheiro, quando o encontrei esmurrando as paredes e sangrando. Pela segunda vez, eu disse a mesma frase:

—Ninguém se acostuma com a dor, Christopher.

Respirei fundo e o deixei sozinho, voltando à mesa.

Às vezes dava vontade de afastá-lo de mim, afastar os problemas que não eram meus e afastar as dores de cabeça que talvez eu não merecesse. Mas uma parte de mim dizia a todo instante para aguentar firme.

Senti um olhar reconfortante vindo de Ezequiel. Perguntava-me como ele sempre conseguia ser uma boa companhia.

Alguns segundos depois, Christopher voltou à mesa também e terminamos o pouco que ainda restava de nossas refeições. Meu pai ficou por último, ele ainda estava com o prato cheio devido ao fato de ter repetido.

—Só acho que vocês deveriam pegar mais – disse meu pai, nos fazendo rir.

—Bem, já que quase todos acabamos – minha mãe olhou para meu pai de um modo zombeteiro. – Vou pegar a sobremesa ali na geladeira.

Ezequiel sorriu, parecia ansioso, até que algo em seu bolso começou a tocar. Ele pegou rapidamente o celular e olhou um pouco incomodado para meu pai.

—Desculpe, senhor Jones, eu preciso atender. É o meu pai.

Ele se levantou rapidamente e abriu a porta da entrada, indo até o jardim da frente para conseguir um pouco de privacidade.

—Christopher, por curiosidade... A sua família é de Londres mesmo? – meu pai não conseguia se calar nem por um instante.

—Não, senhor. Meus pais são russos, vieram para a Inglaterra em busca de uma vida melhor. Quando minha mãe engravidou de mim, eles resolveram ficar mesmo aqui – respondeu de forma vaga e sem deixar dúvidas.

Acho que o plano de Christopher era estar relaxado e contar apenas metade das informações. Ele dissera a origem da sua família, mas não dissera nada a respeito de seu avô, além de contar detalhes vagos e de pouco valor.

Aquele garoto era um gênio.

—Não imaginava isso! – meu pai sorriu. – E por que uma vida melhor? As coisas na Rússia estavam complicadas?

Agora sim a coisa complicara. Olhei para Christopher um pouco nervosa, ele teria que inventar algo.

—Na verdade, senhor Jones...

A porta da entrada foi aberta em um solavanco e um Ezequiel envergonhado apareceu para salvar o dia. Ele sussurrou um sutil “Desculpe-me” para meu pai, às vezes o vento frio de Londres era muito traiçoeiro.

—Era sua mãe – disse Ezequiel para Christopher. – Temos que ir embora.

Meu pai logo interveio:

—Pode explicar melhor, Ezequiel?

—Ahn... Senhor Jones, é que... – ele parecia ter esquecido as palavras. – É um problema pessoal. Para falar a verdade, um problema pessoal do Christopher.

Instantaneamente o olhei. Perguntando-me se tinha algo a ver com aquela gangue que ele me dissera minutos atrás.

—Acho que já entendi do que se trata – disse Christopher, parecendo decepcionado. – Eu sinto muito, senhor Jones. Foi um ótimo jantar e...

—Mas está escuro lá fora, como vocês vão embora, garotos? – preocupou-se meu pai, dessa vez ele parecia estar falando sério. – Querem uma carona?

—Não, tudo bem. Moro bem perto daqui – respondeu.

—Sua mãe disse que meu pai vem nos buscar, Christopher – disse Ezequiel.

Os três conversavam. Meu pai tentando entender a situação, Ezequiel nervoso e Christopher querendo ir embora. Eu apenas observava tudo se desenrolar, até que minha mãe chegou com um pudim em mãos.

—O que está acontecendo?  - ela perguntou.

—Eu sinto tanto, senhora Jones – disse Christopher. – Houve um problema e preciso ir embora, minha mãe acabou de ligar para Ezequiel. O pai dele está vindo nos buscar, mas acho que vou na frente, eu moro perto daqui e não quero dar trabalho a nenhum de vocês.

—Querido, está tarde e escuro lá fora, por que não espera pelo pai do Ezequiel? – disse minha mãe.

—É a alternativa mais sábia no momento – intrometeu-se meu pai.

—Christopher é mais velho – falei, chamando a atenção de meus pais, era a primeira vez na noite que eu abria a boca para falar algo perto deles. – Ele tem mais responsabilidade.

—É uma questão de segurança, Blakely – meu pai respondeu, ignorando completamente minha opinião.

Eu estava quase explodindo, até que o som da campainha me tirou do acesso de raiva.

Ao abrir a porta, minha mãe deu de cara com o pai de Ezequiel.

—Desculpe por tudo, Andrew e Elizabeth – disse ele. – Preciso levar o Christopher para a mãe dele.

—Oh, tudo bem – meu pai respondeu. – Nós entendemos. Contratempos sempre aparecem.

Christopher me abraçou de repente, eu não esperava por aquilo, mas o abracei também, sentindo seus braços me envolverem de uma forma fraterna.

—Bolso – sussurrou em meu ouvido.

E então era mais um de seus enigmas. Sorri por dentro e abracei Ezequiel também.

—Obrigada por ser meu amigo, Izzy – sussurrei em sua orelha, sorrindo. – Tchau.

—Tchau, Blake – sorriu também. – Obrigado também por ser minha amiga.

Christopher se despediu de meus pais, pedindo desculpas mais uma vez. Ezequiel fez o mesmo e então os dois seguiram o senhor Medeiros para um carro não muito novo estacionado em frente à casa da vizinha da frente.

O barulho da porta da entrada se fechando pareceu uma sentença de morte. E era mesmo, não queria encarar meus pais. Por isso apenas subi as escadas em direção ao meu quarto, não me preocupei com o que eles achariam, apenas queria saber o que havia em meu bolso.

Tranquei a porta assim que entrei em meu quarto. Coloquei a mão no bolso da calça e senti um pequeno papel amassado, logo eu já estava lendo a pequena mensagem.

Deixe a janela aberta esta noite”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem e por me aguentarem! hahaha Eu terminarei essa fanfic até o final do ano, podem ter certeza disso, queridos leitores ♥