O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 23
Vigésimo Segundo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Bom dia meu povo... Vcs estão gatosos como sempre?
Sinto muito por ter demorado, mas eu estava muuuito mal em Matemática e Português. Mas agora dei umas estudadas de tarde e comecei a entender o conteúdo e sim, as aulas para mim já começaram :(



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Antes de meus pais chegarem, achei um pacotinho de sal amoníaco que minha mãe usava para fazer biscoitos. Foi só colocar um pouco embaixo do nariz de Dona Sarah que ela acordou num pulo, menti que ela havia cochilado vendo um programa de televisão e não houve nenhum questionamento a respeito do chá.

            Quando meus pais chegaram, Dona Sarah foi embora, ainda com muito sono. Tudo havia ocorrido bem, felizmente.

            —Como foi a tarde com Dona Sarah? – meu pai perguntou, enquanto jantávamos. Ele ainda me deu uma cotovelada, já adivinhando que eu odiava quando aquela velha estranha vinha.

            —Maravilhosa – falei, com ironia.

            —Ela não é tão má assim – minha mãe reclamou. – E isso me deixa mais segura, sem contar que o trabalho de babá dela é de graça.

            Meu pai apenas riu. Eu estava prestes a completar quinze anos e ainda tinha uma babá. Hilário, não?

            Continuei a comer, tentando tirar Dona Sarah da cabeça. Assim que acabei, fui para o meu quarto. Queria apenas me deitar e descansar, mas os minutos de silêncio e solidão foram terminados assim que alguém abriu a porta.

            Era meu pai.

            —Blake, posso conversar com você, querida? – ele perguntou, sério. Puxando a cadeira da escrivaninha para perto da cama, onde eu estava deitada.

            Como se eu fosse dizer não, pensei.

            Eu comecei a estranhar, logo que vi que a expressão séria não saía do rosto de meu pai. Ele nunca ficava assim, menos quando tinha que conversar comigo sobre algo muito importante ou quando estava bravo e chateado comigo. Eu simplesmente não sabia o que tinha feito.

            —O que foi? – perguntei, nervosa.

            Me sentei na cama, tentando não parecer abalada.

            —É o seu amigo, Christopher Robinson. Ele foi até o meu trabalho hoje, junto com o senhor Medeiros, lembra-se dele? – assenti, um pouco assustada. – Christopher pediu para conversar comigo e me perguntou se poderia te levar ao museu amanhã de tarde. 

            Parei de respirar por alguns segundos, um pouco boquiaberta. Tentei dizer alguma coisa, mas apenas gaguejei.

            —O que você disse a ele? – demorei alguns minutos para achar minha voz. Estava surpresa demais.

            Meu pai respirou fundo e fez uma expressão tão triste que achei que viria um grande e humilhante “Não!” de seus lábios.

            —Eu planejava tirar o dia de folga amanhã para jogarmos basquete – ele disse, parecia verdadeiramente triste e isso me fez ficar mal por dentro, porque eu odiava basquete e o pior era que escondia isso dele. – Mas se você quiser ir ao museu com seu amigo eu vou entender perfeitamente, filha.

            Suspirei. Meu coração e cérebro diziam a mesma coisa naquele momento, ambos me garantiam que Christopher e eu tínhamos que conversar e que o museu era apenas uma desculpa para isso.

            —Pai, eu... sinto muito! – olhei em seus olhos claros, aqueles que eu tanto gostaria de ter puxado.

            Ele sorriu, dava para ver que não estava tão triste assim. Para meu pai, as tardes em que passávamos jogando basquete eram muito importantes e raras, para mim também eram boas, só que elas poderiam ser melhores se só ficássemos vendo um seriado ou filme. Mas Christopher ocupará um lugar dentro de meu coração que eu não entendia.

            Não conseguia dizer que o amava, era cedo demais para sentir o amor. Eu só o conhecia há cerca de dois meses, porém já tínhamos uma ligação forte.

            —Seu amigo disse que gostaria de te encontrar ás três – meu pai disse, parecia feliz por mim. – É bom que você esteja interagindo com mais pessoas, Blake. Christopher parece ser um bom garoto.

            —Ele é sim – confirmei, sorrindo um pouco, me controlando para não sorrir demais e parecer suspeito.

            —Que bom! – meu pai se levantou e foi até a porta.

            Quando ele estava prestes a tocar na maçaneta, eu me apressei.

            —Pai – nossos olhares se encontraram de uma forma fraterna. – Obrigada!

            Sua resposta foi apenas um sorriso, mas foi a melhor coisa que ele poderia ter feito naquele momento.

                                                            ***

            Joguei mais uma blusa na cama e quando fui pegar outra para experimentar, percebi que já havia experimentado todas, que meu guarda-roupa estava todo em cima da cama.

            Mas como? Nenhuma roupa era boa o suficiente para eu ir ao museu com Christopher!

            Me sentei no chão mesmo, sentindo tudo dar errado ao meu redor. Estava nervosa, sem saber o que fazer.

            Christopher não falara comigo hoje de manhã, mas sorrira discretamente. Ele também voltara a usar a touca, o que me fez ficar um pouco confusa.

            —Já está pronta, Blake? São duas e meia – gritou meu pai, enquanto subia a escada.

            Assim que ele abriu a porta, ficou assustado instantaneamente.

            —Blakely! – exclamou.

            Me levantei do chão, ainda nervosa.

            —Não sei o que vestir – admiti, sentindo o suor frio em minhas mãos.

            Eu esperava várias atitudes da parte de meu pai. Como, por exemplo, me xingar, me proibir de ir ao museu, me fazer arrumar tudo. Mas não imaginava que ele fosse rir de mim. Riu tanto que faltou cair no chão e eu apenas o olhava indignada.

            —Pai! – quase gritei.

            —Desculpe, querida – ele pediu, parando aos poucos de rir. – Você deveria usar um vestido antigo de sua mãe. Tudo bem que ela é mais alta que você, mas acho que esse vestido já está curto para ela.

            E novamente eu sofria por ter 1,59 de altura. Era realmente humilhante.

            —Pode ser – falei, sabendo que não ia dar em nada e que a situação continuaria a mesma.

            Descemos as escadas e o acompanhei até o quarto de casal. Onde meu pai abriu o guarda-roupa – que me surpreendeu por estar magnificamente arrumado – e pegou uma caixa cinza da prateleira mais alta. Não sei como nunca havia notado aquela caixa, acho que novamente é pelo fato de ser baixinha e ela estar na prateleira mais alta.

            Ao colocá-la sobre a cama, meu pai retirou a tampa e vi um lindo vestido vermelho. O peguei e senti o tecido, era completamente macio. Quando me olhei no espelho que havia dentro do guarda-roupa e me imaginei com aquele vestido, tive certeza que, embora todos os meus pensamentos contraditórios, tudo daria certo.

            Era um vermelho vivo, mas rústico. O vestido não se enchia de detalhes e frufrus. Era simplesmente estupendo sendo simples daquele jeito. Ia até meus joelhos e era todo rendado, com bojo e sem mangas.

            —Obrigada, pai – sorri largamente, quase que sem reação de tão feliz que estava.

            —Não foi nada – ele disse, parecendo um pouco orgulhoso. – Agora vá se arrumar rápido porque faltam apenas vinte minutos.

            Corri para o meu quarto. Peguei minhas sapatilhas pretas e meu blazer igualmente preto. Agora sim tudo estava dando certo. Colocar a roupa foi fácil e para me maquiar foi mais fácil ainda.

            Como eu não era Tiffany Queen, passei apenas um batom vermelho fraco, corretivo para as olheiras e meu lápis de olho. Estava pronta fisicamente, mas psicologicamente não.

            Desci as escadas, disposta a respirar com mais calma e tentar ficar menos nervosa. Me sentei no sofá, ainda tinha uns dois minutos.

            —Você ficou bonita, filha – meu pai foi até a mesa de jantar e pegou a chave do carro.

            —Obrigada – respondi.

            Ele se sentou ao meu lado, olhando o relógio e vendo que tínhamos que sair logo, ou eu chegaria atrasada.

            —Posso te fazer uma pergunta antes de irmos?

            Minhas mãos soaram frio, como sempre soavam quando eu estava nervosa.

            —Já fez – tentei soar sarcástica, apenas para deixar o nervosismo de lado. – Claro que pode, pai.

            Ele sorriu de um modo estranho.

            —O que você e Christopher... têm?

            Fiquei boquiaberta e estupefata durante alguns segundos. Mas aquele era o meu pai, se eu não confiasse nele, em quem confiaria?

            —Eu... – travei, prendendo as palavras no meio da garganta. – Não sei exatamente. Sabe... é estranho responder, porque nem nós dois sabemos.

            Ele apenas arqueou uma sobrancelha e depois se levantou, fazendo um gesto com as mãos para irmos logo. Já estava quase dando três horas quando entramos no carro.

            Meu pai só voltou a tocar naquele assunto constrangedor quando estávamos um pouco mais da metade do caminho para o Museu Britânico, naquele momento eu estava tentando controlar um leve calafrio que senti, sabia que o blazer tinha um tecido fino, mas era a única coisa que combinava com o vestido.

Voltei minha atenção para o meu pai. Ele riu do nada e me olhou por alguns segundos.

            —Lembro da primeira vez que saí com sua mãe. Eu estava muito nervoso e confuso, assim como você está agora. E veja só como acabamos... Casamos, temos nossas profissões e você.

            Falando parecia a coisa mais fácil do mundo. Só que a cada dia o mundo ficava um lugar pior e a cada segundo as coisas complicavam. Tanto para mim, quanto para Christopher.

            —Pai, eu não quero pensar no que vai acontecer – admiti, colocando as mãos no rosto. – O Christopher é complicado demais para ser tão simples assim.

            Ele virou mais algumas ruas e, por fim, estacionou o carro. Estávamos em frente ao museu e, descendo das escadas, observei um garoto loiro vindo até nós.

            O cabelo estava diferente. As roupas também. Eu o analisava com toda a minha destreza, apenas para concluir que ele estava muito bonito... e diferente.

            Era mesmo Christopher?

            Olhei para meu pai, querendo me despedir, mas ele parecia prestes a me dar um conselho.

            —Então apenas o torne menos complexo, querida.

            Sabia que iria pensar sobre aquela frase depois. Mas quando saí do carro e dei de cara com Christopher, não consegui mais pensar em nada. Apenas em como ele estava bonito. Bonito e diferente.

            Ele me analisou também e sua conclusão foi um sorriso. Só que logo tirou sua atenção de mim e foi até a janela do carro.

            —Obrigada por trazê-la, senhor Andrew Jones – disse Christopher.

            —Não foi nada – respondeu meu pai. – Só espero que você cuide dela.

            Ambos riram e eu fiquei apenas observando o modo como eles se davam tão bem. Pareciam velhos amigos se reencontrando depois de muitos anos.

            —Relaxe, senhor. Minha mãe sempre me obrigou a comer legumes – respondeu Christopher, saindo de perto da janela e ainda sorrindo.

            Meu pai riu por alguns segundos e direcionou seu olhar para mim.

            —Ligue quando for para eu vir te buscar, Blake – ele avisou e logo acelerou o carro.

            Quando perdi de vista o Chrysler 200, tive certeza que eu Christopher estávamos sozinhos naquele momento. Eu o observei, apenas gravando os pequenos detalhes para digeri-los em meus sonhos à noite.

            Ele usava uma jaqueta preta novíssima, um tênis preto e branco que não tinha nem um pouco de sujeira e uma calça jeans azul escura. O cabelo loiro foi o que mais me surpreendeu. Ele o cortara, estava com um topete relativamente alto.

            —O que foi? – perguntou em sussurro.

            Balancei levemente a cabeça.

            —Nada – respondi. – Você só está muito diferente.

            —Um diferente bom ou um diferente ruim? – sorriu, olhando em meus olhos. – Foi o Caleb. Ele disse que eu deveria mudar o cabelo, mas acabou me fazendo mudar tudo.

            Mordi o lábio rapidamente.

            —Você está bonito, Christopher – admiti.

            Baixei meu olhar, com vergonha e corada. Ele ficou apenas em silêncio, mas então disse uma frase que talvez eu nunca vá esquecer:

            —Se você acha isso, parece que cinquenta por cento dos meus objetivos nessa tarde já estão concluídos.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Ansiosos para o próximo?