O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 22
Vigésimo Primeiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Não vejo vocês desde o ano passado heuheuehue Há quanto tempo!
Boa Leitura!



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Eu estava confusa.

Christopher estava agindo estranho comigo. Ele se afastara de mim na aula de educação física, onde eu o ensinei basquete, e quando fomos ao laboratório, ele fez dupla com outro garoto, James Parker.

Mas não era só ele que estava “frio” comigo. Ezequiel também. Na mesma aula no laboratório, ele me evitou e fez dupla com Becca McCoy. No intervalo, ele mal chegou perto de mim e na saída nem me deu tchau.

Tentei pensar que o problema não era eu. E sim, eles. Talvez um problema de família tenha afetado Izzy e por isso ele me evitara, porque queria ficar um pouco sozinho. Mas quanto a Christopher... eu não sabia o que pensar.

Quando cheguei a casa, meu pai já estava na advocacia e minha mãe avisou que Dona Sarah iria ficar à tarde comigo, mesmo eu insistindo que não precisava e que já tinha responsabilidade mais que suficiente.

A única coisa que pude fazer para me sentir melhor foi ler o diário. Embora me lembrasse de Christopher e do acontecido na noite passada, o que me deixava ainda mais triste. Eu tinha certeza de que ele se arrependera daquele beijo.

Não sei o que é isso. Meu peito dói. Dói muito. É uma dor excruciante que vem lá do fundo, ela me machuca muito, me faz pensar que sou anormal por senti-la. Mas sou apenas Christopher Robinson, o garoto que sofre violência em casa. Ah, como meu peito está doendo. Às vezes penso que se eu enfiar uma faca, a dor vai cessar.

Sei que não vai. Nem se eu me jogar da janela do nosso apartamento.

Eu queria que meu pai melhorasse. A cada dia que passa, a situação piora e ele nem se toca o que está fazendo comigo e minha mãe. Tento dizer a mim mesmo que um dia isso vai melhorar, que vou encontrar alguém e ser feliz de verdade, sem beber para não virar alcoólatra.

Minha mãe ainda ama meu pai, dá para ver nos olhos dela. É mais um dos motivos pelo qual ela aguenta toda essa dor que ele nos causa.

Eu precisava escrever nesse momento, achei que explodiria se não o fizesse. Meu peito não dói tanto agora, mas sei que de noite vou chorar por um longo tempo.

23/02/2014”.

Fevereiro fora o mês que Christopher mais escreveu. Mostrava o quanto se sentia triste, o quanto se sentia com vontade de desistir de tudo. O admirei naquele momento, mesmo sabendo que estávamos em uma situação difícil.

–Blakely, cheguei, querida – escutei a voz de Dona Sarah, acho que ela ainda achava que eu era surda para berrar desse jeito.

–Tudo bem, Dona Sarah – gritei de volta.

Revirei os olhos. Essa mulher me divertia e muito.

Na próxima página do diário de Christopher, havia uma foto. Era dele, com mais ou menos sete anos. Estava com roupas sujas e velhas, uma bota azul cheia de barro e segurava um ovo grande de cisne nas mãos, parecia encantado com o tamanho do ovo, pois seus olhos azuisestavam arregalados para a câmera.

Ele estava lindo. Definitivamente lindo.

Atrás da fotografia, vi algo escrito.

“Meus objetivos na vida:

Amar muito alguém.

Ter muitos filhos

Ser feliz com minha família”.

As palavras estavam escritas em letra de forma e bem desorganizadas, pareciam ter sido escritas pelo próprio Christopher em torno daquela idade.Me perguntei se os objetivos continuavam os mesmos.

Amar muito alguém”. Era também um dos meus objetivos na vida e eu o havia beijado ontem à noite. Minha cabeça doía. Por que Ezequiel e Christopher estavam me evitando? Eu não conseguia entender!

Talvez eu pudesse... Não! Blakely, não faça isso!

...pegar o endereço de Izzy... Blakely, pare de cogitar essa ideia!

...nas coisas do meu pai. Isso é um absurdo!

Desci as escadas rapidamente. Havia um cômodo excluído da casa que era onde meu pai deixava os papéis dos casos com os quais trabalhava. Resumia-se numa sala pequena com paredes cinza, um armário e uma escrivaninha de madeira pequena.

Normalmente, o caso com o qual meu pai estava em andamento, ficava em cima da escrivaninha. Havia somente uma pilha de folhas ali, estavam numa pasta.

Albert Medeiros (familiar da vítima). Caso 44. Estupro em menor de idade”.

Me assustei novamente ao ler a palavra “estupro” ligada a família de Ezequiel. Talvez fosse com uma prima ou outro familiar distante.

Meu pai era uma pessoa organizada, então o telefone ou endereço da casa de Izzy estava anotado ali em algum lugar.

Abri a pasta e virei algumas folhas, tentando respeitar a privacidade tanto de meu pai quanto da família de Ezequiel em não ler nada dos documentos, até porque era um crime. Finalmente achei.

StAnn’s Road - 425

Virei mais páginas, mas não encontrei o telefone. Droga! Teria que ir até a casa dele. Não era muito longe de Stamford Hill, cerca de vinte a vinte cinco minutos, mas eu tinha Dona Sarah para despistar.

–Blakely! Blakely, minha filha. Venha cá!

Falando nela...

Os berros de Dona Sarah acabavam com meus ouvidos, por isso fui logo até ela, que estava na cozinha, parecia estar fazendo um chá.

–Estou com tanta dor de cabeça, pode me ajudar a fazer o chá? – perguntou ela, colocando a mão no cabelo branco e fazendo uma cara de dor. – Meus joanetes estão me matando.

Reprimi um riso.

Mas pensando bem... Estava tudo indo a meu favor. Aquela era minha chance!

–Deixe que eu preparo o chá para a senhora, Dona Sarah – sorri, mostrando simpatia. – Sente-se na poltrona da sala.

Ela sorriu, mostrando sua dentadura horrível. Depois caminhou desajeitadamente até a sala.

No mesmo instante em que Dona Sarah saiu de meu campo de visão, fui até a prateleira e peguei um calmante. Minha mãe usava três gotas para dormir a noite inteira, talvez eu devesse usar apenas uma gota.

Peguei uma xícara e coloquei um pouco de água, ela nem iria se lembrar se era água ou chá depois de dormir, então não fazia diferença. Apertei levemente o frasco de plástico do calmante e, quando fui contar as gotas, caíram várias de uma vez só.

Sussurrei um palavrão.

Coloquei a mão na testa e senti minha mão suar gelado. Iria dar problemas... Mas eu precisava realmente falar com Ezequiel.

Não pensei. Apenas agi, mesmo que com o coração batendo forte e dizendo “não” o tempo inteiro. Peguei a xícara e fui até a sala.

–Aqui seu chá – falei para Dona Sarah.

Ao pegar a xícara, ela mal olhou o que tinha e apenas deu um único gole, bebendo tudo de uma vez. Fechei os olhos, não querendo ver a merda. Alguns segundos depois, quando os abri, Dona Sarah já estava com a cabeça caída para trás da poltrona, de boca aberta e começando a roncar.

Minha consciência sofria calada. Mas tudo que fiz foi sair pela porta e começar a correr em direção a StAnn’s Road.

***

Minhas costelas doíam. Minha respiração estava ofegante demais. E meus pulmões não conseguiam saciar sua sede por oxigênio.

Porém, por coincidência do destino, quando olhei para o lado. Estava, grande e claro, o número 425.

Era uma casa pequena, de madeira, pintada de azul e branco, com janelas de vidro e um jardim bem verde, cheio de flores brancas.

Não perdi tempo, fui logo até a campainha e a apertei. Enquanto eu tentava recuperar meu fôlego, a porta de madeira se abriu e vi um garoto de cabelos e olhos castanhos me encarando assustado.

–Ezequiel! – falei, sorrindo, feliz por vê-lo. – Eu...

–Blakely? – perguntou, estupefato. - O que está fazendo aqui? Como conseguiu meu endereço?

–Eu... – não consegui falar, a garganta seca de tanto correr. – Água...

–Entra logo! – disse, entendendo o recado.

Fiz o que Izzy pediu e, assim que vi um sofá, me sentei. Um instante depois ele estava me trazendo um copo gelado de água. Bebi sem nem pensar duas vezes.

Quando eu já estava recuperada, olhei a casa de Ezequiel por dentro. Era simples, igual a minha, sem luxúria ou coisas caras. Meus pais sempre foram pessoas mais simples e humildes, embora tenham bastante dinheiro e profissões invejáveis, por isso não me senti superior a Izzy, até porque eu não era.

–Como conseguiu meu endereço? – perguntou, se sentando ao meu lado no sofá.

–Mexi um pouco nas coisas do meu pai e encontrei – respondi.

–E o que veio fazer aqui?

Todas as palavras fugiram. Respirei fundo algumas vezes, até conseguir colocar em ordem os pensamentos.

–Eu só achei você estranho hoje de manhã. O que aconteceu?

Ezequiel mordeu os lábios, nervoso.

–Não é nada – respondeu. – Só estava cansado. A Arkansas andou resfriada e tossindo esses dias, então não foi nada fácil dormir de noite.

De repente, escutamos um choro de criança. Era desesperado e cheio de pânico, o que me deixou assustada por alguns milésimos.

–Desculpa... – Ezequiel sussurrou, antes de começar a correr por um corredor.

Tentei acompanhá-lo. No corredor havia quatro cômodos, felizmente o primeiro dava no quarto onde Ezequiel estava. Havia paredes rosas, um guarda-roupa velho, o berço da pequena Arkansas e uma cômoda grande com coisas de bebê.

Ezequiel segurava a garotinha no colo e a ninava junto ao cobertor, proferindo alguns sussurros que pude escutar como “Estou aqui”, “Nada vai te acontecer, querida” e, até mesmo, “Eu te amo”.

–Desculpe, Blake. A Arkansas está enjoada hoje.

A garotinha deu um leve tapa no rosto de Izzy e fez uma cara de mal, logo em seguida começou a tossir e não parou mais. Ela estava com um vestido simples, enrolada em um cobertor quentinho.

–Tenho que pegar seu remédio, pequena – disse Ezequiel.

–Quer que eu segure?

Ele a colocou cuidadosamente em meus braços. Arkansas pareceu se “ajeitar” sozinha e quis ficar em pé, não deitada. Percebi que seu nariz estava vermelho e escorria um pouco de catarro, mas ela logo limpou com uma toalhinha e sorriu para mim. Deitou-se em meu ombro e ali permaneceu, silenciosa.

–Chris fala de você – a garotinha disse, espontaneamente.

–Você conhece o Christopher? – perguntei, sorrindo largamente. Parecia que todo ressentimento tinha sido deixado para trás.

–Sim – Arkansas riu. - Ele legal...

Acabei por dar um pequeno riso junto com ela. Comer palavras era algo engraçado nas crianças, principalmente quando elas diziam tudo errado.

–Quantos anos você tem, Arkansas? – perguntei.

–Izzy disse que vou fazer assim – ela mostrou dois dedos.

Sorri. O contato com crianças era mais divertido do que eu imaginava, já que não tinha nenhum irmão ou irmã. Era relativamente bom, já que crianças só pensam em se divertir e, infelizmente, não sabem guardar nenhum segredo.

É, crianças não sabem guardar segredos.

Olhei estranho para Arkansas por um segundo, que batucava um ritmo não muito harmonioso em minhas costas.

–Ei, você disse que o Christopher fala muito de mim? – ela fez que sim com a cabeça, fungando. – E o que ele diz?

A pequena colocou a mão na boca e ficou sorrindo por um longo tempo. Quase achei que não fosse responder.

–Diz você é bonita. Diz você é legal. Chris fica sorrindo muito – ela comeu mais palavras e riu, gargalhando tão doce que sorri. Só que então se entristeceu, deixou toda a alegria de lado e me abraçou forte. –Izzychora,Bake – ela sussurrou em meu ouvido, com a voz carregada de dor. –Izzydisse gostar de você.

Permaneci estarrecida.

–O-o que? – perguntei, sentindo que talvez meus braços pudessem vacilar e deixar a garotinha cair no chão.

–Izzy gostar de você – ela repetiu, séria. – E Chris também.


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Notas finais do capítulo

Eu gostaria de agradecer aos meus 33 leitores e aos meus 12 favoritos! Também a minha recomendação :) e, graças a Deus e a vocês, meus mais de 100 comentários (vulgo 102 eheuehueh).
Eu nunca coloco comentem ou recomendem nas notas pq gostaria que vocês não se sentissem forçados, por isso, essa marca de 100 é muito importante.