O Diário Secreto de Christopher Robinson escrita por Aarvyk


Capítulo 24
Vigésimo Terceiro Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, gostaria de me desculpar pela demora! Foi a escola, eu juro.... ou a preguiça.
Quero muito dedicar esse capítulo a Rosa16, que fez a segunda recomendação da fanfic. :) Muito obrigada por essa sensação de reconhecimento q estou sentindo! Sua recomendação foi maravilhosa e vc tbem é outra autora muito dedicada a sua fanfic... meus parabéns e novamente obrigada!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/625715/chapter/24

Alguns minutos depois, entramos no museu. Num folder que uma mulher sorridente me entregara, li que havia uma exposição das obras de Leonardo da Vinci que envolviam matemática.

Christopher foi me guiando, eu quase nunca saía de casa para ir ao museu. Era muito chato ver um monte de obras primas e depois olhar seus próprios desenhos, que não eram nada perto de certos quadros.         

Por que o museu? – perguntei espontaneamente, enquanto caminhávamos por um corredor cheio de pinturas nas paredes e um tapete rústico no chão, quase da mesma cor que meu vestido.         

Gosto de Leonardo da Vinci, pensei que poderia te mostrar algumas coisas que li em um livro que a biblioteca jogou fora – ele sorriu torto, me olhando com certa fraternidade. – E também precisamos conversar.

O sorriso torto se desfez, dando lugar a um semblante sério.         

Não acho certo ter te beijado – Christopher desviou seus olhos de mim e balançou levemente a cabeça, nervoso. – Eu sinto muito, Blake.

O problema deveria ser Ezequiel. Arkansas fora bem verdadeira em dizer que ele também gostava de mim, claro que eu não poderia confiar completamente em uma criança de dois anos, mas...

Então apenas o torne menos complexo”, o conselho de meu pai veio de repente.

Respirei fundo, olhando para Christopher, que parecia nervoso e preocupado com o que acabara de dizer.         

Não podemos simplesmente esquecer – falei. – Você sabe disso mais do que ninguém.

—É que...

—Christopher, por favor! – o interrompi, quase suplicando para que me ouvisse. – Sei sobre Ezequiel, tudo bem? E eu estou confusa com vocês dois.

Ele ficou parado com alguns instantes, apenas me olhando.

—Como você descobriu? – sussurrou.

—Arkansas – só precisei dizer um nome e os pontos já haviam sido ligados.

—Não sei o que ela te disse – Christopher admitiu, fazendo sua íris azul ficar mais forte e viva, ele estava praticamente me suplicando. – Mas Ezequiel está bravo comigo porque te beijei. Combinamos que não seria desse modo. Esqueça o beijo, Blake, por favor...

Não acreditava que ele estava a me pedir aquilo. Fora o meu primeiro beijo de verdade. O pequeno incidente com Bud, o gordinho do jardim de infância, não contara e o outro pequeno incidente com Fred também não contara, pois tínhamos apenas onze anos e não sabíamos nem o que estávamos fazendo, ele ainda disse “eca” depois que separamos nossos lábios.

Era o meu primeiro beijo de verdade. Seria impossível esquecer.

—Não me peça isso, sabe que não vou cumprir, Christopher – sussurrei, olhando para o tapete rústico com um ar de sofrimento. –Você foi o primeiro...

Seus lábios se contraíram e ele ficou um pouco assustado, chegou mais perto de mim e praticamente me abraçou, envolvendo seus braços em minha cintura definida, graças ao vestido.

—Eu não sabia, Blake – fechou os olhos com força. – Me desculpe...

Assim que ele me soltou, tentei dar um sorriso. Não voltaríamos mais naquele assunto, não no meio da nossa tarde juntos.

Segurei a mão dele enquanto andávamos mais um corredor, o último até chegar ao meio do museu, onde havia uma sala grande e se encontrava a exposição de Leonardo da Vinci. Eu me sentia insegura e de vez em quando um calafrio me pegava de surpresa quando passávamos em frente a uma janela, só que o toque de Christopher me fazia ficar mais protegida. Não por ser ele ali, mas por sua mão estar quente, eu sentia como se aquecesse meu corpo inteiro de uma forma inexplicável.

Quando chegamos a grande sala, me surpreendi com tudo o que vi. Eu sabia que Leonardo da Vinci fora o criador de diversas coisas, como o avião, parafusos e etc... Ele era um gênio, mas eu não sabia que era tanto.

Duas crianças se divertiam com alguns dos projetos em forma real. Como alguns aviões dobrados em um papel amarelado e antigo. Também vi um homem mexer em um mecanismo grande que parecia uma viola, uma mulher pegando alguns dos desenhos de Leonardo feitos do corpo humano e um casal olhando um tipo de origami misturado com balão que ia caindo até o chão.

—Vamos começar pelo ornitóptero – disse Christopher.

—Orni...  o que? – tentei dizer a palavra, mas ele falara tão rápido que mal consegui captá-la.

—Or-ni-tóp-te-ro – disse, pausadamente e rindo. – É aquilo ali.

Ele apontou para os aviõezinhos que as crianças jogavam para cima, ao lado delas havia uma mesa com algo gigante em cima, pude apenas concluir que eram asas de um morcego, mesmo sendo impossível.

Christopher me puxou até lá e ficamos próximos à mesa, apenas observando aquela coisa estranha. Ele pareceu ficar empolgado, porém não disse nada.

—O que isso faz? – finalmente perguntei, curiosa.

—Isso voa – respondeu ainda empolgado, me puxando para ver a traseira do orni-alguma-coisa. – Veja só, Blakely. É uma cópia bem fiel.

Tentei ter o mesmo olhar analítico, mas logicamente não deu certo.

—Ele combina sustentação, propulsão e o movimento das asas, como um morcego – explicou Christopher. – É quase um helicóptero.

Muitos homens sonhavam em voar nos séculos passados, só que nenhum deles fora tão sonhador quanto Leonardo da Vinci a ponto de inventar uma máquina estranha como aquela.

—E isso consegue mesmo voar? – perguntei, arqueando uma sobrancelha.

—Não exatamente – ele respondeu, sorrindo. – Espere só até você ver o paraquedas e o parafuso helicoidal aéreo.

Eu ri com a empolgação de Christopher e os nomes difíceis que ele falava, “paraquedas” fora a única coisa que eu entendi. Logo ele me puxou para outra mesa, me mostrando todos os rascunhos de Leonardo para criar definitivamente suas invenções. Me explicou o porquê da escrita de da Vinci ser tão estranha e ainda disse a biografia inteira do artista.

No meio de tanto conhecimento e falatório, eu acabei sorrindo. Christopher era tão inteligente, alegre e bonito. Como alguém podia bater nele? Como alguém podia odiá-lo? Ou melhor, como pude achá-lo tão rude e bruto quando nos conhecemos há dois meses?

Meu sorriso foi desaparecendo aos poucos e uma insignificante vontade de chorar me veio. Christopher continuava a explicar sobre os desenhos de Leonardo e quando esticou-se para pegar uma folha, vi um roxo em seu pulso. Ele podia estar realmente feliz naquele momento comigo, mas eu estava triste ao ter que relembrar que aquele pesadelo ainda era real.

—Blakely! – balancei um pouco o rosto, parecendo acordar. – Você está prestando atenção?

 —Ah... – fiquei sem fala por alguns segundos, apenas pensando em como iria mentir. – Sim... Eu estou, Christopher.

—Então o que eu estava dizendo?

Palavras.

Estava dizendo sobre... – sorri, fingindo que nada tinha acontecido. – Sobre Leonardo, ora...

Ele apenas revirou os olhos em um tom de sarcasmo. Depois segurou minha mão e fomos até o origami misturado com balão. Era mais uma invenção indistinguível de Leonardo.

—Esse é o parafuso helicoidal que eu falei – explicou Christopher, pegando o negócio e o soltando bem alto para ir caindo até chão.

—Eu achei que fosse um origami misturado com balão – comentei, fazendo ambos rirmos sem parar.

—Onde você viu um balão aqui, Blakely? – perguntou, esticando a mão para fazer o parafuso girar novamente.

Vi o roxo em seu pulso e fiquei mal por dentro no mesmo instante. Era horrível olhar para aquilo.

—Eu não sei – respondi, já mais séria. – É que de longe parecia.

O vi mordendo os lábios, segurando-se para não rir ainda mais. Ele estava feliz e era só eu quem estragava as coisas naquele momento.

—Okay, tudo bem – ele respirou fundo, se recuperando das gargalhadas. – Isso é um parafuso, Blake. Mas também é considerado um helicóptero, para dizer a verdade, é a melhor invenção de Leonardo. Ele queria que o parafuso voasse para cima, só que não deu muito certo.

 Tentei sorrir, nem que um pouco.

—Igual às asas do morcego? – perguntei, o olhando com orgulho. Ele sorria mesmo sabendo que quando voltasse para casaas coisas dariam errado novamente. Talvez meu dever naquele momento fosse tornar à tarde melhor o possível para Christopher, coisa que eu não estava fazendo.

—Igual às asas do morcego – repetiu, confirmando minha pergunta. – Que acha de irmos até a cantina do museu?

—Hãm... – mordi levemente o lábio. – Eu não trouxe dinheiro – admiti em sussurro.

   Christopher apenas sorriu e então tirou algumas libras do bolso.

   —Caleb – foi a única palavra que precisou dizer para eu entender.

  Sorri. Não queria usufruir do dinheiro dele, mas eu não iria reclamar e tornar aquilo uma situação chata.

  Ele voltou a segurar minha mão e andamos devagar pelos corredores do museu até chegar ao jardim e cantina que havia nos fundos. Novas flores e bancos deixavam o lugar ainda mais bonito e sereno do que antes, me perguntei como eu nunca tinha percebido que aquele lugar era tão bonito.

  —Acho que vou pegar sorvete – comentou Christopher, enquanto íamos até o fim do jardim, onde se encontrava a lanchonete e cantina. – O que vai querer, Blake?

  —O mesmo que você – a resposta foi imediata. – Vai pegar sorvete de quê?

    —Limão com flocos de chocolate.

   —Vou querer igual, tudo bem? – perguntei, enquanto sentia um vento frio nas costas.

    Tentei não demonstrar meus calafrios, só que é claro que o blazer fino não ajudou muito.

     —Está com frio?

     —Não! – neguei instantaneamente, tentando parecer verdadeira.

     Christopher me olhou com um pouco de ironia.

     —Você não engana ninguém – disse, tirando a sua jaqueta preta e a estendendo para mim. – Peça um chocolate                                                                     —Não! – gesticulei com as mãos, recusando a jaqueta. – Estou bem, Christopher. E ainda quero o mesmo que você.

       —Então pelo menos pegue a jaqueta – insistiu.

      Mais um vento frio me atingiu e dessa vez não pude recusar. Retirei o blazer e peguei a jaqueta de Christopher, coloquei-a nas costas e senti um alívio instantâneo. Ele, gentilmente, segurou meu blazer e me pediu para escolher uma mesa, pois ia fazer os nossos pedidos.

  Escolhi um lugar um pouco mais afastado e sentei-me à mesa, esperando Christopher. Enquanto isso, eu olhava para o céu e me perguntava como o sol poderia ser tão frio em Londres. Tentei relembrar cada momento daquele passeio, apenas para ter certeza que era real e que não estava me esquecendo de nada.

    As mesas e cadeiras da cantina eram todas brancas e com toalhas de mesa em xadrez vermelho. Era um espaço totalmente aberto e lindo. Como eu podia meio que desprezar aquele pequeno pedaço mágico de Londres?

   Senti mais um vento frio, mas dessa vez não vieram calafrios. A jaqueta de Christopher tinha um forro bem quente por dentro e tive que admitir que era extremamente confortável.

  Sorri ao ver que ele já vinha com nossos pedidos. Assim que chegou a nossa mesa, levantou um pouco os pratos e não pude ver os sorvetes.

    —Achei que se eu mudasse meu pedido, você também mudaria o seu – ele disse e então colocou dois petit gateau na mesa.

   Sorri largamente.

   —Christopher! – exclamei. – Não acredito...

  —Achou mesmo que eu deixaria você comer sorvete de limão com flocos de chocolate em nossa primeira tarde juntos? – ele perguntou, fingindo estar bravo e se sentando ao meu lado.

  Percebi também que ao dizer “primeira tarde juntos”, também quis dizer, entrelinhas, “primeiro encontro”.

  Christopher puxou sua cadeira para mais perto da minha e então tive certeza de que era o objetivo dele tornar aquele passeio em um encontro.

  —Sabe o que eu acho? – peguei o garfo e a faca, dando uma pequena garfada no bolinho de chocolate.

   —O que? – ele perguntou, atencioso.

 —Podemos chamar isso de encontro, não podemos? – misturei o chocolate com o sorvete e comi.

  —É... – Christopher ficou pensativo, mas no fundo eu sabia que era isso o que ele queria, mesmo tendo me dito para esquecer nosso beijo e explicado sobre Ezequiel. – Acho que podemos sim.

  Ele comeu um pedaço da sobremesa e sorriu.

 —Agora seus objetivos estão cem por cento concluídos? – perguntei, segurando uma gargalhada.

 Christopher corou, literalmente. Ficou vermelho e pareceu um pouco desconfortável, quer dizer, até eu me sentiria se estivesse no lugar dele.

  —Acho que sim – respondeu e continuou a comer, tentando ficar menos vermelho.

  Ele, que estava sem jeito, deixou cair o garfo e acabou sujando sua calça. Christopher se esticou um pouco e pegou alguns guardanapos. Mas o que estranhei foi que ele estava com uma pulseira grossa e tampava o pulso inteiro, era de pano e preta.

   É claro que ele queria esconder o hematoma de mim. Só que achei que entre nós havia confiança.

  Eu havia prometido a mim mesma que faria aquela tarde ser ótima para Christopher. Mas aquilo infelizmente não poderia passar despercebido.

 Ele ainda me achava frágil, sensível e fraca, mesmo eu me esforçando para ajuda-lo.

 Fiquei séria, suspirando profundamente e me perguntando se conversar sobre aquilo era o certo a se fazer.

 Sim. É o certo, uma parte impulsiva de mim dizia.

 Antes que eu pudesse pensar mais claramente, minha boca já tomava vida própria.

 —Aconteceu de novo, não foi? – perguntei, desviando o olhar, sabia que era fraca e ia chorar.

—O que? – Christopher se fez de inocente. – Do que está falando, Blake?

Voltei a olhá-lo.

—Não pode aguentar tudo sozinho – sussurrei, prendendo o choro. – É besteira ficar calado.

Peguei sua mão esquerda, ele não contestou. Retirei devagar a pulseira e vi a marca de dedos em seu pulso. Alguém, quero dizer, Hunter Robinson, segurara com força exagerada no pulso de Christopher.

Passei meus dedos de leve sobre o hematoma. Como alguém podia fazer isso com ele? Eles eram pai e filho...

O garoto loiro e feliz de antes, agora estava triste e cabisbaixo. Coloquei minha mão em seu queixo e levantei seu olhar para meus olhos.

—Sinto muito – sussurrou com a voz embargada.

—Achei que você confiasse em mim – respondi, sabendo que eu também estava errada em forçá-lo a me querer como sua confidente.

Levantei-me e retirei a jaqueta, entregando-a para Christopher. Ele não a pegou e continuou cabisbaixo. Então a coloquei na terceira cadeira da mesa, onde ele também deixara meu blazer. O peguei e caminhei devagar até dentro do museu, sabia que na saída havia um telefone público.

O problema é que no último segundo possível, quando estava há uns cinco passos do telefone público, as lágrimas vieram à tona. Chorei em silêncio enquanto discava o número da advocacia, com certeza meu pai estaria lá.

Assim que Lyndsey atendeu, fui logo falando:

—Sou eu, Blakely. Preciso falar com meu pai – não pude esconder a voz de choro e isso foi um erro, deveria ter esperado para ligar.

 —Ele está em uma reunião com o senhor Medeiros – disse ela.

 —Por favor, eu quero falar com o meu pai – já estava ficando irritada.

 —Mas...

 —Só o chame! – me controlei para não gritar.

Lyndsey ficou em silêncio por alguns segundos, talvez pensando se deveria ou não fazer o que eu pedi.

—Um minuto – pediu ela.

Respirei fundo, tentando me acalmar enquanto esperava.

—Filha? – escutar a voz do meu pai me fez sentir imensamente bem, mas não a ponto de toda a tristeza sumir.

—Pai, por favor, venha me buscar – implorei, limpando minhas lágrimas. Eu não estava mais tão triste, só que os olhos inchados e a voz mostravam o contrário.

—Está chorando, querida? – então tudo terminou de desabar. Sabia que ele iria fazer perguntas e mais perguntas, claro que eu já mentira para o meu pai, mas quando ele queria retirar a verdade de alguém, era impossível omitir os fatos.         

Só... Venha me buscar – pedi. – Por favor...

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

—Eu já estou chegando.    
      O alívio foi enorme, porém a preocupação veio também. Desliguei o telefone e me sentei nas escadas do museu, minha maquiagem deveria estar borrada e meus olhos um pouco inchados. Tinha medo do que isso causaria em meu pai, tinha medo também do que ele faria com Christopher. Ele era uma pessoa bem controlada, mas será que iria se controlar dessa vez?

  As pessoas iam e vinham pela escada, enquanto eu apenas ficava em silêncio, tentando me reerguer psicologicamente.

   Por que será que eu era tão sensível? Por que eu me abalava tanto ao ver Christopher daquele jeito? Talvez porque fosse surreal demais. Não estava na minha rotina diária ver um amigo apanhar do próprio pai. Sem contar que era doloroso ver como era perfeita minha vida e depois achar hematomas em Christopher.

   Odiava mais do que nunca não poder ser forte para aguentar certas coisas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que será de Blake e Christopher? E Ezequiel? Como ele fica?
Se quiserem dar suposições nos comentários fiquem a vontade... kkkk espero que mais recomendações venham! Obrigada a todos... E desculpem pela irresponsabilidade de ficar demorando para postar os capítulos, é que está dificil a situação por aqui...