As Duas Faces Da Moeda escrita por Ella NH


Capítulo 2
Dia Dois


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal. Demorei???
Rsrsrsrsrsrsrsrs
Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/623995/chapter/2

Eu acordei bem cedo naquela manhã de final de outono, mais cedo do que de costume. Sabia que a qualquer momento minha mãe estaria chegando para ficar com meu filho enquanto eu trabalhava enfurnada por horas e horas atrás de uma mesa na delegacia de polícia e longe desse meu pequeno ser angelical.

Não tive como conter o suspiro, era melhor levantar e aproveitar esse momento sozinha para ir até o quarto dele e observá-lo dormindo do que me lamentar por ter que deixá-lo para trabalhar.

Tão bonito, tão inocente... Ele estava deitado todo largado na cama e não pude segurar o sorriso que espreitava meus lábios. Senti meus olhos lacrimejando novamente como as várias vezes do dia anterior. Engoli o choro na marra. Já havia chorado demais no dia anterior. Agora era hora de agir.

Saí do batente da porta e fui tomar meu banho. Precisava me preparar para os problemas que iria enfrentar hoje, minha equipe já foi generosa o suficiente em me dar esse tempo para me recompor. Coloquei a roupa para trabalhar e desci as escadas deixando minha bolsa e as chaves próximo a porta, quando já terminava de preparar café para mim e para meu filho, minha mãe entrou pela porta com uma sacola de papel na mão.

— Bom dia, querida. Você está melhor? — Ela perguntou colocando a sacola em cima da bancada da cozinha.

— Sim, é que foi muita coisa pra lidar ao mesmo tempo. — Contei a minha mãe pegando uma maçã e embalando- a para por dentro da minha bolsa.

— Eu sei, querida, mas ainda assim estou preocupada com você e com meu neto. O que você vai fazer? — Sua voz ainda soava preocupada e seus olhos demonstravam esses sentimentos evidentes.

— Como sempre, mãe. Ele é o criminoso e meu trabalho é prendê-lo. — Afirmei mantendo minha voz sem emoção, talvez tentando convencê-la daquilo mesmo duvidando que fosse capaz disso. Como eu queria acreditar que as coisas eram simples assim, infelizmente eu também sabia que não era.

Dei as costas para ela torcendo para que deixasse essa conversa de lado, mas sua expressão sugeria que ela planejava continuar com aquilo. Felizmente, meu filho entrou na sala com seu pijama de bichinho saltitando em direção ao prato de waffles.

— Bom dia, mamãe. Bom dia, vovó. — Ele desejou com a boca cheia e sorridente.

Eu ri dele, por um momento, esquecendo todos esses problemas.

— Mastigue antes de falar, meu anjo. — Repreendi gentilmente e fui até ele colando um beijo em sua testa. Eu amo meu filho e faria qualquer coisa por ele. — Mamãe já está indo trabalhar, tudo bem meu amor? Obedeça a vovó e cuide dela por mim. — Levantei e olhei rapidamente para minha mãe. — Até mais mãe e obrigada por ficar com ele ainda. Prometo que encontrarei uma babá em breve.

Eu saía apressada. Era melhor sair antes que ela tente voltar ao assunto.

— Você sabe que não precisa fazer isso, querida. Eu adoro ficar com Boruto e seu pai também, mesmo que ele reclame, ele apenas queria um futuro diferente para você. — Pelo menos ela sorria agora, sei que ela se lamentava um pouco também. Meus pais, especialmente o meu pai, queriam muito mais para mim do que o que eu tenho hoje. Ele planejava um futuro brilhante para a próxima médica da família, mas eu larguei tudo quando meu namorado me abandonou e entrei para a academia de polícia, pouco tempo depois descobri a gravidez e tive meu filho, hoje sou apenas mais uma das mulheres do departamento de narcóticos do departamento de polícia de Seattle. Imagino que minha mãe pensava sobre isso nesse momento assim como também sei que ela estava pensando sobre os últimos fatos que eu lhe contei na noite anterior.

Não queria mais ouvir sobre aquilo naquele momento, só queria esvasiar a cabeça e enfrentar os problemas de uma vez. Quanto mais cedo eu os encarasse, mais cedo poderia me livrar deles.

Saí pela porta da frente antes que ela insistisse no assunto e peguei meu carro dirigindo o mais vagarosamente para meu trabalho. Precisava pensar e me preparar para o que viria.

“Ainda não sei o que é pior, o olhar de pena da minha mãe ou o inquisidor dos meus colegas.”

Estacionei o carro numa viela qualquer, soquei o volante e xinguei minha existência.

“Como isso pode estar acontecendo comigo? Qual é o pecado que cometi para estar sendo punida dessa forma?” Pensava com a cabeça apoiada no volante e os olhos fechados. Só levantei quando ouvi o clique da porta do meu carro se abrindo e alguém entrando sem permissão. Saquei minha arma muito antes de visualizar quem era o sujeito.

Não sabia se estava mais surpresa por alguém “invadir” meu carro ou por esse ser a invadi-lo, justamente a última pessoa que eu gostaria de ver no momento, o culpado por todos os meus problemas atuais: Naruto.

— Olá, Hinata. — Ele disse. Simplesmente disse com aquele sorriso de lado que um dia tanto me fez suspirar.

Quando me recuperei do susto, engatilhei a arma pronta para atirar nele.

“Filho da puta!”

— O que está fazendo aqui, Naruto? — Perguntei sem tirar o foco dele e de qualquer movimento que ele pudesse fazer.

Surpreendentemente ele tirou os olhos de mim como se eu não estivesse apontando uma semi-automática calibre 38 para ele. Seus olhos pareciam tristes enquanto ele olhava para uma parede qualquer a frente do carro, seus ombros arqueados e ele me pareceu imensamente cansado, como se sentisse o peso no mundo nas costas e não soubesse mais como lutar para mantê-lo ali.

— Eu vi você ontem a noite na sua casa. E antes que pergunte, eu fui lá falar com você, mas eu fiquei tão atônito quando vi o garotinho de dois anos entupidamente parecido comigo a chamando de ‘mãe’ que não consegui bater na porta e falar com você. — ele contou e quando ele me olhou eu jurava que ele seria capaz de derramar lágrimas de sangue tamanha era a dor que eu vi neles.

Se fosse qualquer outro assunto, eu teria abaixado minha arma na tentativa de me impedir de abraçá-lo e reconfortá-lo, mas era do meu filho que estávamos falando e eu jamais abaixaria minha arma de um possível perigo para o meu anjinho de cabelos dourados, mesmo que estivesse abalada pela emoção que via nele.

— Fique longe do meu filho. — Sussurrei ameaçadora.

Naruto mais uma vez desviou seus olhos de mim olhando para frente e num gesto de vulnerabilidade que nunca imaginei que ele fosse fazer, o loiro abraçou seu corpo e abaixou a cabeça. Parecia conter toda a dor para si mesmo, resistir ao impulso de chorar ou qualquer coisa assim. Quando ele voltou os olhos pra mim, ele já estava recomposto, a única coisa que o denunciava eram os tão olhos nublados como costumavam ficar quando ele era tratado como lixo por algumas pessoas superticiosas que diziam que ele era um mal agouro para a cidade quando ainda éramos jovens.

— Eu nunca faria mal a meu próprio filho, Hinata. Nunca! — Ele afirmou aquilo com uma intensidade que eu não tinha outra alternativa que não fosse acreditar nele.

Receosa abaixei a arma, mas sem desviar o olhar dele ou qualquer coisa que eu considerasse suspeito. Ainda temia o significado da presença dele, seja para o mundo, seja para mim ou para o meu coração.

— Foi por isso que voltou? Foi para encontrar Boruto? — Questionei desconfiada.

— Não... Eu o vi sem querer, eu vim por causa de... Humm... Outras pendências. — Ele informou incerto. Parecia que novamente aquele peso foi colocado em suas costas.

Eu semicerrei os olhos querendo descobrir alguma coisa. Não sei se foi minha postura ou por qualquer outro motivo, mas Naruto se empertigou na poltrona e eu mais uma vez me pus em guarda. Ele olhou para os lados e segurou a trava como se fosse sair do carro, mas antes de fazer o movimento ele hesitou sem me olhar.

— Eu sei quem você é e o que você faz Hinata. Sei que é da polícia e que estão me investigando. Antes que fale qualquer coisa não estou te ameaçando, estou lhe contando. A polícia não é a única atrás de mim que faria tudo e qualquer coisa para colocar as mãos em mim e no que eu sei, foi por isso que eu fui embora anos atrás: para te proteger, mas infelizmente eu acabei te colocando na mira novamente assim como nosso filho. Por favor, Hinata, não conte a ninguém sobre ele e o mantenha seguro, seguro de verdade, por que sua casa está sendo vigiada e lá ele está vulnerável. Eu sinto muito por isso, preferia ter morrido do que ter voltado se eu soubesse, mas agora é tarde. — Ele disse com aquela voz rouca e cortante de quando estava se torturando por algum erro, mas eu não podia me preocupar com ele agora. Minhas mãos tremiam e eu pensei no meu filho.

Sem esperar pela minha resposta, ele saiu do carro e desapareceu em uma rua qualquer. Eu soquei mais uma vez o volante amaldiçoando o dia em que me apaixonei por Uzumaki Naruto, mas no fundo agradeci por seu aviso. Agora eu sei que ele se importa.

Como eu previ, assim que entrei no departamento, todos se viraram para me olhar. Segui em frente sem devolver nenhum olhar e fui direto para a sala do meu chefe. Dei três batidas na porta e entrei assim que ouvi a autorização.

— Hinata Hyuuga... — Ele comentou como se meu nome fosse algum tipo de vinho refinado, como se saboreasse cada nuance das duas únicas palavras e eu já imagino por que.

Ele se levantou e sem falar nada me dirigiu a sala de interrogatórios. Eu estava nervosa, mas tentava relaxar o máximo que eu podia, tentava manter a calma pensando no meu filho e nas palavras de Naruto sobre protegê-lo. É claro que eu faria isso, o mandaria para a casa dos meus pais assim que tivesse a oportunidade...

Sentei na cadeira fria de metal e olhei disfarçadamente para a câmera de vídeo que estava ligada tendo a sensação de que toda a delegacia tinha parado apenas para assistir meu depoimento, mas afinal eu já imaginava que aquela seria a fofoca do ano.

— Hinata Hyuuga, 25 anos, nasceu dia 27 de dezembro, entrou na academia de polícia a 2 anos atrás e começou a trabalhar no departamento a 9 meses. Mãe solteira, se formou em medicina e psicologia na Universidade de Washington, mas nunca exerceu a profissão por que entrou na academia. Uma aluna brilhante se quer saber, um orgulho para o departamento o que apenas torna ainda mais curiosa a sua relação com o nosso alvo, que você mesma chamou de Naruto ontem, o novo fornecedor de drogas da cidade e do estado. — Danzou começou com a tática padrão de interrogatório. Primeira parte: Intimidação

Eu ainda estava calada. Esperava por sua primeira pergunta, ele olhava para a minha ficha como se procurasse algum erro ou coisa suspeita obviamente não encontrara nada. Naruto era a única coisa fora do contexto em minha vida comum.

— Quem é ele, senhorita Hyuuga, e como você o conhece? — Ele finalmente questionou, agora direcionando seus assustadores olhos escuros para mim.

— O nome dele é Uzumaki Naruto, nasceu dia 10 de outubro do mesmo ano que eu, seus pais foram assassinados dois meses depois do seu aniversário de 14 anos e, fora um incidente pouco depois da morte dos pais sobre dirigir embriagado, desconheço qualquer passagem dele na polícia. Ele era considerado o garoto mal da cidade, mas adorava ajudar como voluntário quando mais novo, entramos juntos na Universidade de Washington quando ele conseguiu uma bolsa esportiva para fazer bioquímica. — Comecei com um parecer geral sobre ele antes de entrar em assuntos delicados, como minha relação com ele. — O conheço desde os 4 anos, estava com ele quando a polícia chegou para contar sobre a morte de seus pais, ele ficou arrasado e inconformado. Depois disso, quase não nos vimos, mas eu sempre observava de longe o sofrimento dele, ele afastou todos os amigos também e não permitia que chegássemos perto dele. Felizmente seu padrinho voltou para a cidade e ele melhorou bastante, começou a se reerguer e voltar a ser o rapaz alegre que eu conheci, mas nunca mais foi como antes. As pessoas da cidade ignoravam ele e diziam que ele era um sinal de azar. Coisa de cidade pequena... Mas ele sempre se mostrou forte e ignorava tudo isso, tudo ficou pior quando entramos para a Universidade e começamos a namorar.

Eu parei um pouco olhando a reação do meu chefe. Se ele ficou surpreso, escondeu muito bem.

— Todos diziam que aquilo não daria certo e tudo mais, e nós ignoramos novamente. Ficamos juntos por 4 anos antes dele ir embora a dois anos. — Contei nervosa. Jamais contaria a eles sobre Boruto, não depois do aviso de Naruto e principalmente por que minha intuição dizia que era o melhor.

— E por que ele foi embora, senhorita Hyuuga? — Ele questionou firme.

— Não sei, nunca descobri. Só sei que fiquei arrasada por muito tempo. Ele nem mesmo disse adeus. — Sufoquei as lágrimas que queriam descer novamente. — Ontem foi a primeira vez que eu o vejo desde a noite anterior da partida dele, eu fiquei em choque e abalada. Jamais pensei que voltaria a vê-lo muito menos na situação em que me encontro.

Espero que ele tenha visto toda a sinceridade que eu colocava naquelas respostas. Não menti em nada, mas também não contaria toda a verdade. Alguma coisa me diz que nisso, eu precisava confiar em Naruto.

— Isso é tudo que pode nos dizer, Hyuuga? Não há mais nada? — Ele questionou e eu tive que usar toda a minha força de vontade para me manter calma e negar.

— Isso é tudo que sei sobre Naruto desde que ele desapareceu de repente da minha vida. — Falei a verdade mais uma vez. Ouvi em algum lugar que a melhor maneira de mentir é dizendo a verdade.

Meu chefe me estudou atentamente por mais alguns segundos. Eu lutava para manter a postura e não deixar que nada me escapasse.

— Eu vou descobrir se estiver mentindo, Hyuuga. É bom que esteja contando toda a verdade por que você vai se fuder bonito na minha mão se estiver me escondendo algo. Eu faria tudo, qualquer coisa para por as mãos nesse cara, me ouviu? E se você estiver me escondendo alguma informação, qualquer uma, eu vou lhe prender por obstrução da justiça e fazer de tudo para que você pegue a pena máxima, me entendeu? — Ele me ameaçou com a cara a poucos centímetros do meu rosto me assustando. Realmente Naruto não estava errado e agora eu vejo que ele está certo. A única coisa que não está certo é o tamanho da ira do meu chefe que paira sobre ele.

“O que raios será que está acontecendo aqui?”

Saí da sala ainda assustada e determinada. Temia que Naruto estivesse mais certo do que eu imagino e que deixar Boruto com meus pais pode não ser seguro o suficiente. Para onde eu o levaria, então?

Felizmente eu sou reservada o suficiente para não permitir que ninguém soubesse muito sobre a minha vida. A pessoa mais perto de mim ali era a Tenten, mas mesmo ela nunca conheceu meu filho. Só espero que ninguém pense nele como mais uma possível ligação minha com Naruto. Nunca fui religiosa, mas naquele momento de desespero, orar parecia uma boa ideia e por enquanto era tudo o que eu podia fazer.

“Por favor, Deus... Proteja o meu filho”.

Eu mal havia aberto meus olhos e ligado o meu computador e minha amiga, ou o que eu tenho mais próximo de uma, se sentou ao meu lado.

— Você está bem? — Ela perguntou preocupada. Senti as dezenas de olhos e ouvidos em mim.

— Sim. Só um pouco abalada. Não é sempre que seu ex-namorado volta para atormentar a sua vida e você descobre que ele é um procurado da polícia. — Comentei entre sincera e irônica, mas acho que o mais visível na minha voz era o cansaço.

— Sei que não, mas uma coisa que eu sei é que você vai ficar bem, Hina. Você é forte, vai passar por tudo isso. — Ela me confortou e essa foi a melhor coisa que alguém me disse desde que eu reencontrei Naruto e pelos olhares que eu recebia, iria ser a melhor coisa que eu ouviria pelo resto do dia também.

Felizmente aquele dia tinha tido um fim. Eu estava ansiosa para chegar em casa, tomar um banho e tentar fingir que nada daquilo estava acontecendo. Pelo canto do olho, vi um carro estacionado aparentemente vazio na calçada que dava para a entrada da floresta. Revirei os olhos irritada. “Como eles podiam ser tão óbvios?” Respirei, frustrada, e entrei em casa arrastando os pés, meu filho e minha mãe estavam no sofá vendo algum programa infantil na televisão. Tudo tão sossegado, tão em paz. Nem parecia que o meu mundo estava caindo do lado de fora daquelas portas.

— Estou em casa! — Anunciei deixando minha bolsa na bancada da cozinha e me dirigindo a sala.

— Mamãe! — Meu filho pulou do safá e se jogou em cima de mim feliz.

— Oi, meu anjinho. Como foi o seu dia? — Perguntei colocando o menino sentado em meu colo. Escutei atentamente a narração do seu dia nada agitado e ri das caretas que ele fazia ao contar sobre os legumes que tivera que comer no almoço. Assim ele era mais parecido com seu pai que chegava a ser assustador. “Naruto também odiava legumes...” Essa era uma coisa que eu nunca tinha parado para pensar até que ele voltou para a minha vida.

Depois de toda a narração sugeri que nós dois fizéssemos um bolo de chocolate, e animado ele saiu correndo para a cozinha.

Nesses poucos segundos a sós com minha mãe me virei para ela seriamente.

— Não saia com Boruto, nem mesmo o deixe perto das janelas, estamos sendo vigiados e ninguém sabe ainda que ele é filho de Naruto, mas assim que olharem para ele não será necessário muitos neurônios para perceberem isso. — Sussurrei inquieta.

Minha mãe engoliu a preocupação e assentiu, andamos com sorrisos falsos até a cozinha onde o meu filho já se preparava apara cozinhar.

Minha mãe foi embora enquanto o bolo assava. Tomei meu banho e dei banho no meu filho antes de juntos saborearmos o resultado do nosso trabalho. Depois de rir e sujarmos um ao outro, tomamos outro banho e eu me juntei a ele na cama antes da história.

— Mamãe, acha que meu papai vai voltar um dia? — Ele me perguntou sonolento já com o livro na mão e em baixo das cobertas.

Engoli o nó na garganta e detive as minhas lágrimas.

— Tenho certeza que sim, querido. — Respondi sem conseguir encará-lo. Gostaria de dar a ele outra resposta como “espero que ele fique bem longe de nós”, ou “pensar assim é muito perigoso”, ou ainda “ele está aqui e quer te conhecer, querido”, mas eu sabia que nenhuma dessas alternativas eram boas para dizer a ele. Não agora e talvez nunca.

— Será que ele ia gostar de mim, mamãe? — Ele me perguntou e eu via preocupação em seus curiosos olhinhos azuis.

Meu coração estava pesado e isso me incomodava. Mas pelo menos eu agora tinha uma resposta para aquela pergunta. Eu sabia que Naruto se importava.

— É claro que sim, Boruto. Mesmo sem te conhecer tenho certeza de que seu pai te ama e ele faria o possível e o impossível para te proteger, assim como eu. — Afirmei sentando ao seu lado e beijando sua testa.

Ele sorriu e estendeu o livro para mim que logo comecei a ler.

Esse foi um dia tão cansativo, que assim que Boruto dormiu, eu fui para a cama também. Só que não foi a cama a minha espera que eu encontrei ao entrar no quarto. A cama estava lá, mas em cima dela estava um homem loiro deitado com os braços atrás da cabeça encarando o teto de maneira pensativa.

— O que está fazendo aqui? — Eu quase gritei para ele, mas sabia que se gritasse ia alertar tanto os policiais do lado de fora quanto acordar meu filho, e isso seria a última coisa que eu gostaria, para a proteção de Boruto.

— Eu vim vê-lo, Hinata. Fazer isso é realmente tão absurdo assim? — Ele me perguntou ainda sem olhar pra mim. Eu imediatamente diminui a irritação, ele querer ver o filho não é realmente um absurdo.

“O absurdo é ele querer fazer isso depois de dois anos” pensei em seguida, mas logo joguei esse pensamento fora por lembrar que ele não soube do filho até ontem.

— Você nos põe em risco ao fazer isso. — Sussurrei em acusação. Ele finalmente se levantou e ergueu os olhos para me ver e seu olhar parecia torturado como se ele travasse uma batalha interna.

— Eu sei, mas está muito difícil me manter longe... — Ele admitiu entre um suspiro.

Eu fiquei quieta apenas o olhando. Afinal, se ele ficou e permitiu que eu o visse, era porque ele queria dizer algo.

— Diga a ele que eu já o amo. — Ele pediu e eu vi a verdade nua e crua em seu olhar, esse pedido derreteu todas as defesas que eu mantinha em pé quando o assunto era ele. “Como odiar alguém que ama meu filho?”

A emoção que tomou meu coração por um momento me fez esquecer tudo o que eu estava passando, mas logo eu consegui retornar a sanidade quando pensei no porque do meu filho não saber do amor do seu pai.

— Como você pode dizer isso depois de saber o perigo que está nos colocando? Eu nem quero pensar no risco que meu filho está correndo por sua causa, seu idiota. Se alguém descobri-lo... Eu nunca vou te perdoar se algo acontecer a ele, Naruto. Nunca, ouviu? Jamais... — Eu queria gritar, mas sabia que não podia, tudo que fiz foi dizer tudo aquilo num sussurro furioso andando até ele com passos firmes apontando o dedo no meio do seu rosto.

Ele ainda tinha a face torturada, mas assentiu.

Ficamos alguns minutos sem nos mexer, até que ele logo colocou a mão no bolso e tirou de lá uma pequena placa que me lembrou um extenso código de barra. Os números e os traços em harmonia no pequeno pedaço de papel me foi entregue e eu o olhei confusa.

— O que é isso? — Eu perguntei sem entender.

— Não se lembra mais do código que inventamos para conversar sem a professora saber? As barras são apenas para impedir que outros entendam o que é isso caso vasculhem a sua casa. — Ele contou um pouco sem jeito.

Assenti e olhei todos os números decodificando rapidamente.

— Isso é um endereço. Em Ohio. — Falei ainda sem entender.

— Boruto não estará protegido enquanto estiver aqui, Hinata. Esse lugar é longe o suficiente e acima de qualquer suspeita. — Ele falou incerto se afastando levemente de mim.

Fiquei o encarando em dúvida e todos os sentimento que senti hoje em relação ao meu filho voltaram de repente.

— Você quer que eu mande o meu filho para longe de mim? Para um lugar que só você conhece??? Eu não confio em você, Naruto, vamos deixar isso bem claro. Também tem o fato de que tudo o que está acontecendo é sua culpa! Você fez o inferno na minha vida anos atrás e parece ter voltado apenas para me infernizar de novo!!! — Mais uma vez eu me controlava para não gritar. Eu queria mesmo era dar um tapa bem dado naquele desgraçado e faria isso se ele não tivesse segurado meus punhos e os erguido para se proteger da minha ira.

— Respira... — Ele instruiu calmamente. — Eu peço desculpas novamente por tudo o que você está passando, mas eu também não tenho culpa de nada disso, Hinata. A única culpa que eu tenho é de ter aceitado ajuda alguns anos atrás, mas depois disso as coisas foram acontecendo até chegar um momento em que eu não poderia mais voltar atrás e nem ficar aqui sem te colocar em perigo. Você já tentou imaginar como eu me sinto em saber que estraguei a melhor coisa da minha vida? Que estou colocando uma corda no pescoço do meu próprio filho? Você não tem ideia do que eu estou passando, Hinata Hyuuga... Você sofreu quando eu fui embora? É... Agora esperimente a minha dor em lhe deixar, ainda mais agora por saber que eu te deixei esperando um filho meu. — Ele também quase gritava me segurando firmemente deixando a amostra seu sofrimento e a sua raiva.

Eu o encarava confusa, atordoada. Ele me largou e me deu as costas, mas eu ainda o encarava acariciando meus pulsos doloridos sem saber ou entender tudo o que ele falava.

Tantos segredos...

— Essa casa é a casa dos meus pais. Um pouco antes de ir embora descobri que eles estavam vivos, que haviam forjado a própria morte para poder esfriar a pista e me proteger das pessoas que estavam atrás deles e que tentaram matá-los. Acontece é que haviam essas e outras pessoas atrás de mim, então eu decidi que o melhor era eu ir embora antes que algo acontecesse e isso é tudo que poderei te dizer por enquanto. Não conte a ninguém, entendeu? Eu quero mandar Boruto para eles e gostaria de mandar você também, mas se você for embora, poderá levantar suspeitas demais, além de te causar muitos problemas com a justiça. — Ele parecia mais calmo, falava com cadência revelando um pouco mais sobre tudo o que estava acontecendo, mas eu ainda não era capaz de esboçar reações ou lidar com aquelas informações.

— Toma. — Ele tirou um aparelho celular do bolso e me entregou. — É descartável e irrastreável, também é uma linha segura. Se precisar falar comigo use esse telefone, se precisar pesquisar esse lugar na internet, use o telefone também. Eu estarei esperando sua resposta, Hinata. Cuide-se.

Terminando isso, eu o vi se aproximar da minha janela e desaparecer através das árvores que ficavam próximas a ela. Corri até lá para ver se alguém o viu, mas parecia que não, já que o carro continuava da mesma maneira que antes.

Voltei para dentro e apertei o celular na mão. Liguei e verifiquei que só havia um número gravado, não tinha nome, mas deveria ser o dele, conectei na internet e pesquisei o endereço que ele me deu. — Era algum lugar em Cleveland, no estado de Ohio, EUA. — A casa era bonita, lembrava vagamente a minha, mas talvez isso se devia ao fato das as duas terem sido feitas para o mesmo casal.

Comecei a pensar olhando para aquela foto e não percebi, mas no meio disso, meus pensamentos viram sonhos e eu estava o reino de Morfeu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quais são suas perguntas? Coloquem aqui e me ajudem a melhorar o enredo ao respondê-las.
Até o próximo!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Duas Faces Da Moeda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.