Hell on us escrita por Sami


Capítulo 10
Não se preocupe crianças


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amados e amadas, hoje é sexta feira e dia de encher a cara com muito suco natural de laranja hahaha (ou não né).
Bom, primeiro quero dar as boas vindas aos novos leitores e dizer para que vocês sintam-se a vontade para criticar, elogiar ou não e dar a opinião de vocês nos capítulos. Aceito de tudo.
Segundo, quero dizer que esse capítulo foi um pouquinho maior do que de costume porque eu realmente não queria dividi-lo em duas partes. Espero que gostem e sem mais delongas, aproveitem o capítulo.



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Você sente frio e perdido em desespero,

Você constrói a esperança,

mas o fracasso é tudo que você conhece.

Lembre-se de toda a tristeza e frustração

E deixe-a ir.

 

[...]

 

Abri meus olhos ainda os sentindo pesados por causa do forte sono que eu sentia, ouvi uns resmungos baixos e querendo voltar a dormir fechei meus olhos novamente. Eu sabia que tinha que acordar mas, eu estava caindo de tanto sono e digamos que noite passada não foi assim tão fácil conseguir dormir por causa dos grunhidos dos mortos que vinham do lado de fora da casa em que estávamos.

Os resmungos se repetiram e torci mentalmente para que aquele som não fosse do ronco de Carl se fosse aquele menino projeto de xerife iria pagar caro por isso —. Senti algo um pouco duro bater no meu rosto e imaginei que seria Carl querendo me acordar, murmurei algo que nem eu mesma consegui entender direito o que foi e virei meu rosto para o lado oposto.

Novamente senti o objeto desconhecido bater em meu rosto e dessa vez senti um puxão forte no meu cabelo, abri meus olhos de um vez ficando já um pouco brava por causa daquela brincadeira tosca que Carl estava fazendo e logo me levantei da cama improvisada que fizemos na noite passada.

Vi o chapéu de xerife que Carl tanto usava no meu colo e ao meu lado estava Judith, olhei para o canto e o projeto de xerife ainda estava dormindo. Os resmungos foram um pouco mais baixos que antes e percebi que vinham de uma Judith brincalhona e espoleta.

Você quer brincar não é mesmo? — Cruzei meus pés ficando sentada e me virei ficando de frente para Judith, devolvi o chapéu de Carl para ela e a observei brincar com ele.

Era incrível como Judith possuía um dom de conseguir alegrar qualquer um que estivesse perto dela.

Judith era inocente demais para aquele mundo em que vivíamos, ela não merecia aquele tipo de mundo, não merecia crescer num mundo como aquele em que estávamos agora. Judith merecia muito mais do que caminhantes mortos e apodrecidos.

Ela merecia o mundo como era antes, livre daquelas coisas e livre do perigo que parecia ter se levantado com força total. Judith merecia muito mais que tudo aquilo.

Aproveitei que ela estava concentrada em apenas brincar com o chapéu marrom e sujo do irmão e arrumei o meu cabelo -que eu tinha certeza de que ele estava parecendo um monte de palha bagunçada na minha cabeça-, passei os dedos nos fios na tentativa de tirar um pouco do nó que se formou e tentei deixá-lo um pouco menos bagunçado que antes.

Olhei para Carl que ainda estava dormindo e decidi acordá-lo, não sabia que horas eram mas, se ele queria encontrar o grupo quanto mais cedo saíssemos de lá, mais cedo poderíamos encontrá-los. Assim que cheguei perto dele dei uma leve sacudida nele para que ele acordasse, Carl resmungou por causa disso e cobriu o rosto com os dois braços mostrando que não estava nem um pouco afim de acordar.

Minha última tentativa foi dar um beliscão nele, o que acabou dando perfeitamente certo.

Ai! Ele gritou se levantando e passando a mão no local onde ele havia sido beliscado. Por que fez isso sua louca?

Porque você não estava querendo acordar. Dei de ombros. Se quer encontrar o pessoal temos que começar logo com isso. Já perdemos tempo demais aqui.

Carl fez uma careta tampando o nariz e a boca uma mão enquanto usava a outra para abanar o ar.

Credo! Você está com bafo! Reclamou.

Eu acabei de acordar né seu idiota! Dei um empurrão nele. Você também tá com bafo e ainda pior que o meu, parece que morreu um bicho aí dentro.

Não estou não. Rebateu ainda com sua mão cobrindo o rosto. Seu bafo parece de errante morto!

Eu ri.

O seu então nem se fala né, parece que deixaram um errante preso aí dentro.

Carl me olhou arregalando os olhos um pouco e ficou em silêncio, paramos de ofender o outro nos encarando por alguns segundos até que começamos a rir juntos. Curiosa com o que estava acontecendo, Judith engatinhou até nós dois nos olhando sem entender nada.

Se me ofender desse jeito de novo é melhor correr. Ameacei tentando parecer seria mas não deu muito certo, ainda estávamos rindo do outro.

Foi bom rir um pouco, acho que nós dois estávamos mesmo precisando um pouco disso.

 

...

 

Depois de vasculhar quase toda a casa, encontramos duas mochilas que apareceram em boa hora. Usamos uma para colocar um pouco de comida que encontramos na cozinha da casa e a outra algumas roupas limpas para mim e a Carl tínhamos que lembrar de também procurar roupas limpas para Judith.

Saímos da casa tomando o máximo de cuidado possível para não encontrarmos nenhum errante por perto, andamos um pouco mais ficando não muito longe da casa e não muito longe de lá vimos dois errantes comendo algum animal. Não querendo chamar a atenção deles, corremos até conseguir nos afastar da casa e voltar para a rodovia que havíamos encontrado no dia anterior.

Agora que tínhamos uma Judith calma e já alimentada, nossa caminhada em busca do restante do grupo foi um pouco melhor do que a que tivemos ontem. A menina não abriu abriu boca para reclamar que estava com fome e nem havia resmungado desde que saímos daquela casa.

Ela resmungava algumas vezes mas era por causa da posição em que estava no meu colo, eu não era assim tão perita em cuidar de crianças -pelo menos não como a Beth cuidava dela-.

Judith começou a brincar com o meu cabelo dando leves puxões nele que logo pareceram ficar mais forte, claro que não era nada que estivesse me machucando, mas sentir alguém puxando seu cabelo mesmo que fosse alguém novo e pequeno como Judith doía. No último puxão que ela deu fui mais rápida e logo fiz com que ela o soltasse, ela não gostou claro, resmungou um pouco mas não fez birra. Pelo menos isso.

Durante a longa caminhada, Carl passou a maior parte do tempo calado, foi difícil ouvir alguma palavra diferente dele que não fosse 'cuidado' ou 'espere ai'. Carl era um garoto legal, assim como todo mundo na prisão. Mas suas mudanças de humor sempre me mostravam o contrário.

Não é fácil ser o rei da alegria quando se passa por uma experiência terrível como a do dia anterior -eu mesma sei bem como é passar por isso e tenho um longo histórico-, durante os dias que passei na prisão eu notei o quanto Carl se fechava para as pessoas ali. Enquanto todos estavam juntos, Carl ficava em um canto isolado de todos com sua cabeça baixa.

Seria tudo aquilo por causa da morte da sua mãe?

Algumas pessoas enlouquecem quando perdem parentes assim tão próximos, eu passei por isso quando perdi minha mãe e por muito pouco não acabei sendo morta. Levou um pouco de tempo até que eu pudesse me acostumar com a ideia de ter toda a minha família morta, acho que levou muito tempo até que eu pudesse aceitar de uma vez que ela não iria voltar.

Não podia dizer quanto tempo levaria para que Carl pudesse aceitar isso de uma vez, comigo foi de um jeito e com ele seria de outro totalmente diferente. Poderia levar mais algumas semanas, ou meses, não tinha como nenhum de nós saber disso. Só sabíamos que iria passar e só.

Resolvemos parar um pouco para descansar, como estava sol sentia um pouco de suor escorrer por minha testa e logo a limpei.

Paramos num lugar que era cercado por arbustos e árvores pequenas que já tinham suas folhas secas, sentamos em um tronco oco que estava caído no chão, ainda estávamos em total silêncio e isso começou a me incomodar profundamente. Eu sempre odiei ficar em silêncio por muito tempo e odiava quando as pessoas faziam isso.

Carl ficar em silêncio remoendo tudo o que havia acontecido não iria adiantar nada, ele tinha sorte e parecia não ter nenhuma noção disso. Havia perdido apenas seu lar, ele sabia que seu grupo continuava vivo e era por esse mesmo motivo que estávamos caminhando. Em um tipo de ataque como aquele que tiveram, muitas pessoas poderiam não ter saído com vida de lá.

Mas eles têm se mostrado um grupo forte e conseguiram sair.

Carl tinha muita sorte em saber que seu pai estava vivo e eu tinha total certeza de que ele também estava procurando por ele e Judith.

Que barulho foi esse? Carl se levantou num pulo apontando nossa única arma para o nada.

O que foi Carl? Perguntei ficando já um pouco assustada por não ter escutado absolutamente nada.

Ele fez um gesto para que eu me calasse e pareceu até um pouco rude o modo como ele me olhou e foi tão autoritário. Como me foi mandado eu me calei e permaneci sentada com Judith no meu colo, olhei para os lados buscando por alguém ou alguma coisa que tenha feito o suposto som que ele havia escutado e não vi nada.

Carl estava ficando paranoico já.

Eu olhei para o menino de chapéu de xerife que ainda se encontrava em posição de ataque e fiquei um pouco preocupada com ele, isso também me deixou um pouco frustrada. Estava torcendo para que não fosse nada de preocupante e comecei a querer sair logo dali, mesmo que não fosse nada perigoso que tivesse feito aquele som era melhor sairmos logo antes que se tornasse algo com o qual não poderíamos lidar.

Finalmente ouvi o som que Carl havia escutado, era um galho sendo quebrado e isso nos alertou que havia alguém ou alguma coisa se aproximando. Um grunhido baixo veio do lado esquerdo e Carl o seguiu se virando com rapidez e mantendo a arma apontada.

Se fosse apenas um errante vindo não tinha o porquê dele usar a arma, se atirasse iria chamar mais deles para onde estávamos e ai dele se atirasse.

O errante se aproximou indo diretamente para Carl que com a arma conseguiu derrubá-lo no chão. Ele não atirou! Ufa!

Sem dizer nada ele começou a bater no errante acertando sua cabeça primeiro e depois acertando o resto do corpo. O errante já estava com metade do seu corpo apodrecido e com aquilo que Carl estava fazendo ficou impossível saber que era um corpo caído ali.

Carl parecia estar com raiva, notei isso quando reparei no modo como ele estava olhando para o morto e no jeito violento que ele batia no errante. Eu chamei por ele umas três vezes e fui totalmente ignorada, sim, aquela atitude dele já estava começando a realmente me deixar muito preocupada com ele.

Me levantei deixando Judith no chão e me aproximei dele com cuidado para não acabar sendo acertada também.

Carl! Chamei novamente ele, mas ele tornou a me ignorar como havia feito antes. Carl! Para com isso agora, por favor!

Toquei seu ombro e por algum milagre divino ele parou e me encarou, seus olhos estavam cheios de lágrimas e então eu entendi o motivo daquela atitude quase insana dele.

Ei, eu fico com isso um pouco. Tirei a arma de sua mão e com a outra limpei o rosto dele, pareceu uma atitude que uma mãe faria pelo filho ou filha. E agora vamos respirar fundo. Um, dois... e três.

Carl me imitou parecendo ficar um pouco mais calmo que antes, tentou sorrir mas eu sabia que ele não queria fazer isso. Ele queria apenas aliviar tudo e descontou isso no errante.

Claro que, ele poderia ter me avisado que queria fazer isso. Quem sabe até não acabaria ajudando ele também.

Você leva a Judith agora está bem?

Carl assentiu um pouco envergonhado pelo que havia feito, mas não era culpa dele isso; ele precisava extravasar essa raiva que ele sentia. E o fez, até melhor do que muita gente.

Aham, tudo bem.

Ele então cedeu, concordando com minha sugestão.

 

...

 

Já estávamos na metade do dia e não encontramos nenhum sinal do resto do pessoal ou se que sabíamos se entrávamos perto de encontrá-los, nós nem mesmo sabíamos se estávamos seguindo a direção certa. Mas não iríamos desistir assim tão fácil.

Depois do pequeno surto que Carl teve, as coisas entre nós pareceram ficar um pouco melhores. De certa forma aquilo deu nele um leve up e ele parou de ser tão calado e fechado.

Passamos a trocar mais palavras do que antes e estávamos começando a nos dar um pouco melhor do que antes.

Isso só pode ser mentira Ayla! Carl me olhou duvidoso, estávamos contando sobre o errante mais estranho que já havíamos visto e era minha vez de contar. Ayla, você é uma mentirosa!

Eu não, seu nanico. Foi um pouco irônico chamar Carl de nanico quando mesmo ele sendo um ano mais novo que eu eu acho  ele ainda conseguia ser mais alto que eu. Eu estou falando sério.

Até parece. — Duvidou descaradamente. 

Eu juro, aquele errante era tipo, muito gordo mesmo e estava com o pescoço amarrado. Acho que ele tinha se matado ou coisa assim. Comecei. Eu ainda estava com o David quando o vi e quando tentamos tirar ele de lá ele partiu ao meio.

Eca! Carl exclamou rindo, era bom vê-lo sorrir depois do que houve. Eu não queria ter visto aquilo nem morto.

Foi ainda pior, as tripas dele caiu na gente e tivemos que tomar banho gelado pra nos limpar.

Fiz uma cara de novo ao me lembrar daquilo -que eu torcia para que nunca mais se repetisse.

Você parece mesmo gostar desse tal de David. Ele mudou de assunto muito de repente. Eu não gostava quando ele fazia isso.

Ele era um amigão e tanto. — Confessei. — Ele era muito mau humorado às vezes, mas fora isso era bom ter ele por perto.

Ele era tipo um Daryl então? Carl perguntou com humor em sua voz. Se o Daryl sozinho já é desse jeito imagina se ele encontrasse esse David então.

Carl começou a rir e aos poucos foi parando até voltar a ficar novamente em silêncio. Ele parou de andar parecendo um pouco surpreso com alguma coisa que ele olhava, segui o seu olhar e logo me surpreendi também.

Permanecemos parados um pouco mais olhando espantado para o grande veículo amarelo que tanto estávamos procurando.

Conseguimos!

Nós encontramos todo o pessoal! Encontramos eles!

Carl não esperou mais nenhum segundo, começou a correr com Judith ainda em seu colo na direção do ônibus. Eu o segui sentindo um grande alívio crescer dentro de mim em saber que não iríamos mais ficar sozinhos.

Encontramos eles!

Pai! Ouvi Carl gritar enquanto ele dava a volta pelo veículo, parei um pouco depois da traseira já me sentindo um pouco cansada por causa da corrida que fiz e deixei que ele se reencontrasse com seu pai.

Ouvi uma batida que fez eu me afastar um pouco do ônibus e me assustei um pouco com ela, olhei para as janelas um pouco sujas e tive outra surpresa nada boa. Mordi o lábio tentando não gritar ou fazer qualquer som alto que pudesse assustar Carl ou chamar mais errantes para lá.

Precisei piscar algumas vezes rapidamente para evitar que as lágrimas caíssem dos meus olhos, mas isso não adiantou de nada. Cobri minha boca com uma mão e comecei a chorar ao ver que o ônibus estava cheio de errantes dentro dele.

Estavam mortos, todos eles.

Eu realmente não estava acreditando naquilo, eu não queria acreditar que aquilo havia realmente acontecido com eles.

Não com aquelas pessoas que foram tão legais comigo e me deram um lar, não com eles.

Ayla?

 


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Notas finais do capítulo

Eai quem vocês acham que chamou pela Ayla???? Algum palpite? Haha


Bom meus queridos e queridas, espero que todos tenham gostado e saibam que eu já comecei a escrever o próximo capítulo e logo logo estarei postando ele para vocês.

Beijinhos da Sami e até o próximo capítulo meus lindinhos.



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