Eu estava mais que feliz. Depois de mais de quatro meses, Sasuke-kun finalmente voltaria para casa. Eu estava bem curiosa com a reação de Sarada, que agora tinha sete meses, e já estava enorme. Seus cabelos agora caiam sobre seu rostinho oval, e ela já estava se pendurando pelos moveis, mas ainda não andava. As vezes tentava dar uns passinhos vacilantes, mas acabava caindo. Mesmo assim ela era persistente, e mesmo depois de cair, ela se pendurava novamente. O mais engraçado era a careta que ela fazia, franzindo o cenho e fazendo bico. Me perguntava de onde que ela aprendeu aquilo.

Dei uma última checada no espelho, conferindo minha aparência. Estava em preparando para encontrar o Sasuke-kun na entrada da vila. De acordo com Naruto, que me ligara desesperado para dar as notícias, ele chegaria às oito horas da noite. Nem preciso dizer que fiquei esperando ansiosamente o dia todo, não é? Alias, já espero por isso desde duas semanas atrás, quando fiquei sabendo que ele voltaria.

Mal dormi a noite, tanto por Sarada quanto pela ansiedade, mas mesmo assim tratei de deixar tudo perfeito para quando ele voltasse. Fiz até uma sopa de tomates, sua preferida, pois tenho certeza de que ele estará faminto.

Ouvi um barulho atrás de mim, e me virei vendo Sarada sentada no chão, com seu conhecido bico. Estava pendurada em minha cama, e acabou caindo. Sorte sua que a fralda amortecia a queda, se não seu bumbum já estaria roxo a essas horas. Ela já se levantava quando resolvi pega-la no colo.

E ela não gostou nem um pouco. Me olhou com a testa franzida, e reclamou, remexendo o corpo, tentando se largar.

– Ei, mocinha. Se acalme. Nós vamos passear...- eu disse, e ela logo prestou atenção. Era esperta.

–Hum...? – murmurou, os olhos negros me encarando fixamente. Sorri batendo o dedo em sua testinha.

– Vamos buscar o seu papai. Ele chega hoje de missão, se esqueceu? – Enquanto ia conversando com ela, fui andando para fora do quarto. – Tem um tempão que ele não vem para casa, mas está louco para ver a princesinha dele. – Peguei as chaves de casa, e calcei as sandálias. Sarada já estava calçada e pronta. – Então querida, quando ele chegar, dê um abração nele, tudo bem?

Ela me olhou compenetrada, como se estivesse decodificando minhas palavras. Sorri para ela, encostando o dedo em seu nariz, o que sempre a fazia rir.

– Dê esse sorrisão lindo para ele, sim? – disse, dando um beijo em sua testa. Comecei a andar pelas ruas iluminadas de Konoha, enquanto sentia os olhares das poucas pessoas passando sobre mim e Sarada. Era algo comum, afinal eu era Uchiha Sakura, pupila de Tsunade e casada com Uchiha Sasuke, um dos heróis da grande guerra. As pessoas me olhavam com admiração, e eu as ouvia dizer que minha filha seria um prodígio. Eu sentia orgulho, mas ao mesmo tempo não queria que minha filha crescesse com essa pressão em ser a melhor.

Sarada se recostou em meu ombro, e eu tive medo de que ela dormisse. Afinal, já era de noite, e logo seria sua hora de dormir. Fui caminhando calmamente, mas por dentro queria sair pulando de telhado em telhado para chegar mais rápido. Contudo, minha preciosa filha em meus braços me impedia.

Da minha casa, que ficava um pouco afastada do resto da vila, demorava uns quinze minutos andando até o portão. Quando estava chegando perto, com Sarada adormecida em meus braços, avistei a cabeleira loira de ninguém menos do que Naruto.

– Sakura- chan!- ele gritou ao me ver, o que assustou Sarada, que acordou com um pulo. Olhei feio para meu amigo, que balançava os braços para chamar minha atenção. Já Sarada começou a resmungar, enquanto se encolhia em meus braços, apertando o meu pescoço com uma força que um neném não deveria ter.

– Cale a boca, Naruto. Vai acorda-la. – falei para o loiro, tentando acalmar minha filha. O loiro me encarou confuso, mas eu não falei nada. – Alguma novidade?

– Bem, ele disse que chegaria às oito, e já são 19h40. É provável que já esteja perto. – eu assenti, ainda tentando acalmar Sarada, que se remexia. – Como ela está?

– Bem... – respondi, sorrindo. – Se pendurando em todos os moveis possíveis, caindo várias vezes de bunda no chão, e acordando bastante a noite.

Naruto soltou uma risada estrondosa, o que fez Sarada virar a cabeça para ele, franzido o cenho. Ao ver que era Naruto, ela franziu mais ainda a sobrancelha, o que me fez rir e Naruto soltar um muxoxo.

– E pelo visto continua sem gostar de mim... rum, igual ao pai. – ele disse, fazendo bico. Revirei os olhos. Acontece que Sarada era bem arisca com estranhos. E como ela raramente via Naruto, já que o mesmo trabalhava dia e noite como Hokage, ela acabava estranhando-o. E ela também não gostava da barulheira que o loiro fazia. Realmente igual ao pai.

– E como vai Boruto? Hinata? – perguntei, ajeitando-a nos meus braços. Ela voltara a se aninhar em meu pescoço. O rosto de Naruto iluminou ao ouvir falar de seu filho e esposa.

– Boruto está cada dia mais bagunceiro. Dá uma canseira na Hinatinha, tadinha... acontece que ele fica pulando para cima e para baixo, quer atenção o tempo todo. Ah! Ele falou a primeira palavra também... disse “Hoka” acredita? – disse rindo, e eu logo ri também. Tal pai tal filho. – Hinata ficou tão frustrada. Achou que ele diria “mama” pela primeira vez.

– Imagino... – eu disse, parando para pensar. Meu sonho era que Sarada dissesse mamãe pela primeira vez, mas do jeito que sou azarada é possível que ela fale algo como Boruto. – E como vai o trabalho como Hokage?

– Cansativo. – Ele resmungou, coçando a cabeça. – Eu sempre achei que ser Hokage era ser o ninja mais forte do mundo, e que teria ação o tempo todo. Mas tudo o que eu tenho são papeis para ler... – dessa vez eu ri.

Lembro-me perfeitamente quando Naruto fora finalmente indicado como próximo Hokage. O loiro ficou radiante, pulava de um lado para o outro e gritava para quem quisesse ouvir que seria Hokage. Agora ele mal tinha vida, as vezes ficava a noite inteira no escritório lendo relatórios, de acordo com o que Hinata me dissera. Sua sorte é que Kakashi tinha deixado tudo bem organizado para ele, se não teria ainda mais trabalho.

– Aposto que Shikamaru não larga do seu pé, não é? – eu disse rindo, sabendo que se não fosse pelo ninja mais inteligente de Konoha, Naruto estaria perdido.

– Sim. Ele é pior do que o Iruka-sensei, na época da academia. Não me deixa descansar nem por um segundo. Mas se não fosse por ele, estaria perdido.

Ri novamente, concordando. Senti um vento fresco, e apertei Sarada contra mim. Ela já dormia novamente. Ficamos mais algum tempo esperando, vinte minutos (sim, eu contei) até que vimos uma silhueta caminhando em direção a vila. Senti meu coração pular e meu estomago embrulhar. Sim, depois de tanto tempo ainda fico nervosa em vê-lo; sou uma boba apaixonada.

– Teme! – gritou Naruto, balançando os braços e, novamente, fazendo Sarada acordar. Minha filha resmungou, olhando feio para Naruto novamente.

A minha frente Sasuke vinha, com os cabelos um pouco mais longos, as roupas sujas de poeira, mas ainda assim lindo. Ele tinha o semblante sério, como sempre, mas pude ver um brilho em seus olhos assim que me viu com nossa filha, ignorando totalmente Naruto.

– Bem- vindo, Sasuke- kun. – eu disse, sorrindo. Ele veio em minha direção, e com um sorriso mínimo respondeu.

– Estou de volta, Sakura.

Ao ouvir a voz diferente, Sarada se virou, ainda sonolenta e com o cenho franzido. Quando viu Sasuke, encarou-o com curiosidade, afinal para ela, ele era uma pessoa nova. Sasuke, por sua vez, a encarou com aquela devoção já conhecida. Seus olhos brilhavam, mesmo que sua face permanecesse impassível. Os dois ficaram se encarando assim por alguns segundos, antes de Sarada fazer um bico e se grudar em meu pescoço.

– Ela está com sono. – eu disse, vendo a cara de confuso de Sasuke. Acho que meu marido esperava que ela pulasse em seus braços gritando “papai”. Não o culpo, afinal ele é tão novo nisso quanto eu. – Sarada.

Assim que a chamei, ela me olhou, novamente com o cenho franzido. Sorri, passando a mão por sua testa, como sempre fazia para acalma-la.

– Querida, este é o seu papai. – disse apontando para Sasuke. – Lembre-se do nosso combinado, hm?

Ela olhou para Sasuke novamente, dessa vez sem a carranca. Olhei para Sasuke e murmurei um “fale com ela” baixo. Ele ficou meio desconsertado, meio sem jeito. Mas resolveu falar depois de eu sorrir em sua direção, o incentivando.

– Olá, Sarada. – ele disse, se aproximando mais. Quando estava perto o suficiente, fez aquele gesto que, para alguns não significava nada, mas para ele significava tudo. Tudo o que ele não conseguia pôr em palavras, ou expressar de um jeito mais carinhoso. Encostou dois dedos na testa de Sarada, dizendo – Estou de volta.

Apesar de um pouco desconfiada, Sarada não fez careta. Só o olhou curiosa. Botei o dedo sobre o seu nariz, o que a fez sorrir, e Sasuke a olhou ainda mais admirado.

– Ela adora quando faço isso. – expliquei. Bem, depois de alguns outros olhares entre pai e filha, finalmente Sasuke viu Naruto ali. O loiro estava sorrindo abertamente, e disse para Sasuke que ele poderia ir para casa e fazer o relatório no outro dia. E assim fomos para nossa casa.

O caminho foi silencioso, com Sarada novamente aninhada em meu colo, mas não dormindo. Ela encarava Sasuke, como se tentasse entender o porquê dele estar ali conosco. Já Sasuke sustentava o olhar, mas não fazia nada. E eu só ria internamente, vendo aquela interação estranha, com um desconfiado e o outro sem jeito.

Quando chegamos em casa, resolvi dar o primeiro passo.

– Fiz sopa de tomates. – disse, sorrindo. – Vou por para esquentar. Segure-a para mim por um tempo.

Sasuke me olhou incerto.

– Mas eu estou sujo. – disse, olhando Sarada como se ela fosse quebrar ao seu toque.

– E qual o problema? Sujeira é só lavar... tome. – disse estendendo a neném. Ele a pegou da melhor forma que um braço poderia, e me encarou com os olhos arregalados. E eu ri. – Sasuke- kun, ela não vai quebrar, ok?

Me virei para Sarada, que já estendia os bracinhos em minha direção.

– Querida, comporte-se, hm? A mamãe vai por a comida no fogo.

E antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, sai em direção a cozinha. Logico que fiquei observando-os por detrás da porta. A tensão entre os dois era quase palpável. A sorte de Sasuke é que Sarada não era tão chorona, e parecia ter gostado dele. Porque com quem ela não gosta, ela abre o berreiro.

Esperei uns minutos antes de colocar a sopa para esquentar, e esperei. Estava silencioso. Ouvi Sarada resmungando, e não demorou para Sasuke aparecer com ela se remexendo em seu colo. Assim que me viu, estendeu os braços em minha direção. Sasuke parecia chateado.

– Sasuke-kun, vá tomar banho. Quando descer jantaremos juntos. – eu disse, tentando aliviar sua tensão. Ele assentiu, indo em direção ao banheiro.

Sentei Sarada em sua cadeira na cozinha, e me sentei de frente para ela.

– Sarada, seja boazinha com seu papai. Eu sei que você não se lembra dele, mas ele é muito legal e te ama muito.

– Hm hm... – Sarada murmurou, franzindo o cenho. Passei o dedo sobre sua testa, desfazendo a ruga.

– Sorria, flor do dia. – e fiz uma careta, arrancando uma risada dela. – Bem melhor.

Sasuke não demorou para descer, ainda um pouco vacilante. Sentou-se a mesa silencioso, e eu servi o seu prato com uma boa quantidade de sopa. Coloquei um pouco para mim e peguei uma mamadeira para Sarada, que ficou super feliz.

– Como você está, Sasuke- kun? – resolvi puxar assunto, dando uma colherada na sopa. Estava boa.

– Bem, um pouco cansado. E você?

– Estamos ótimas. – disse sorrindo. – Ainda estou de licença no Hospital, mas sempre que dá dou uma visitada lá, para ver o pessoal. Já Sarada está cheia de amiguinhos. – dei um sorriso para ela. – Mas ela não gosta muito de Boruto. Engraçado, não é? Quando ela o vê, sempre tenta puxar seus cabelos.

Sasuke sorriu orgulhoso, olhando para sua filha.

– Sempre vamos ao parque. Ela adora brincar na areia, e também gosta de come-la. – ri lembrando das vezes que tive que sair correndo para limpar a areia de sua boca. – Gosta também de cores, é muito curiosa... está sempre observando tudo ao seu redor. Quando vê alguém estranho, franze o cenho. Quando não consegue fazer alguma coisa, fica brava.

Sasuke ia ouvindo tudo sobre nossa filha, com bastante atenção. Quando a mamadeira de Sarada acabou, ela me estendeu e bocejou.

– Está cansada, não é? – perguntei, deixando minha sopa de lado. Nem estava com muita fome, para falar a verdade. Peguei-a no colo, e sentei a na mesa, a minha frente. – Ela também adora caretas. – fiz uma careta, ficando vesga, o que a fez rir.

Ouvi outro som, e olhei para Sasuke. Ele também estava rindo.

– Ela é bem adorável. – eu disse, sorrindo e colocando-a em meu colo. – Mas está caindo de sono. Vou leva-la até o quarto.

Levantei e sai da cozinha, indo até o quarto. Sarada já se aninhara em meu pescoço, e eu balançava-a para tentar faze-la dormir. Coloquei-a no berço, cobrindo seu corpo com a manta de bichinhos; passei a mão sobre os seus cabelos, sorrindo.

– Durma bem. – murmurei, mesmo sabendo que daqui umas horas ela acordaria aos berros. Só fui perceber que Sasuke estava atrás de mim quando me virei para sair do quarto. Ele me olhava com um sorriso de canto. – Oh, não sabia que estava aqui.

Sasuke se aproximou de mim, e quando fui ver já estava em seu abraço desajeitado. Ele respirava em meu pescoço, me fazendo arrepiar. Passei o braço pelo seu corpo, abraçando-o de volta.

– Senti falta de casa. – ele murmurou e eu sorri.