TODO CACHO CARACOL - Short-Fic escrita por Serena Bin


Capítulo 4
Parte 4


Notas iniciais do capítulo

Olá amores lindos.
Antes de tudo quero agradecer às lindas Zia Jackson e Lanna, que comentaram tão fofamente. :)
Alias, porque estão tão tímidos? kkkk Apesar da cara feia, eu sou bem bacaninha e adoro receber as opiniões de vocês. Por isso, fiquem à vontade. :)

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Esse é o penúltimo capítulo gente, e eu espero que vocês gostem, de verdade. :)
A musica de hoje é: De Janeiro à Janeiro - Roberta Campos e Nando Reis.

Boa Leitura.



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Os contos de fada nunca mentem quando dizem que o amor se sela com um beijo. Essa verdade, porém, é mal interpretada por muitas pessoas que se esquecem da magia do primeiro contato e partem logo para o que deveria ser o depois. Mas Julio e Pérola ainda mantinham frescas em suas memórias àquele momento: o beijo que deram naquela lanchonete, e mesmo depois de dias, ainda se encontravam lembrando com carinho da ocasião. Haviam ultrapassado a linha da amizade, de uma maneira ou de outra, alguma coisa mudaria, mas isso já não era importante porque Julio relembrava o toque suave e quente dos lábios dela e era como se pudesse recuperar toda aquela sensação novamente. Um beijo que abriu porta para outros vários.

Pérola e Julio mantinham desde então uma relação que não era mais apenas a cumplicidade de sempre. Havia algo mais, porém ainda não eram oficialmente um casal. Situação a qual Julio já tinha planos para mudar.

A manhã de sábado estava ensolarada e fria em Curitiba. Os termômetros da cidade marcavam 8°C, e o vento frio fazia com que as pessoas que caminhavam pelo Jardim Botânico se encolhessem em busca de preservar calor. Entretanto, nem mesmo as baixas temperaturas seguraram Pérola e Julio naquele dia.

Vestidos com roupas de corrida, a garota arrastara o rapaz para uma corrida pelos caminhos floridos do Jardim.

− Podemos dar uma parada? − Julio perguntou já visivelmente cansado.

− Nós mal começamos, Julio − a garota respondeu brincalhona − Ainda temos muito caminho pela frente.

− É o frio. − ele respondeu − Correr com essa temperatura cansa muito mais. Podemos caminhar?

Pérola jogou um olhar zombeteiro para Julio em seguida concordou, desde que caminhassem de maneira rápida.

− Você esta se saindo bem, Julio − Pérola disse rindo − Para um Curitibano nerd, até que você esta em forma.

− Eu tenho uma boa professora. − respondeu engraçado enquanto recuperava a postura ereta. Julio então segurou a mão esquerda de Pérola e começaram a caminhar.

− Eu não entendo − Pérola iniciou − Você me convida para correr no parque e é o primeiro a desistir?

− Você precisa ter paciência comigo, menina − Julio respondeu − Como você mesma disse, eu sou só um nerd analista de sistemas! Sedentarismo faz parte do meu trabalho.

O riso tomou os lábios de Pérola que achara engraçada a expressão seria de Julio.

− Você não existe, Julio − Pérola disse ainda rindo, mas o riso de repente fora interrompido por um garotinho que se mantinha parado bem a frente dos dois.

A expressão do menino era sorridente, mas ainda sim estranha. Pérola imediatamente recuou um pouco pensando se tratar de uma abordagem, mas surpreendeu-se ao receber das mãos do menino uma rosa vermelha.

O garoto entregou o singelo presente e imediatamente saiu correndo. Pérola mantinha no rosto uma expressão de dúvida, afinal por quais motivos o garoto lhe entregara a rosa?

− Uma rosa? − Pérola perguntou olhando para Julio que se mantinha quieto como se não entendesse nada do ocorrido.

− Vai ver foi uma gentileza −Julio comentou − Acho que é por isso que somos a Cidade Sorriso.

Pérola soltou um risinho. Continuaram caminhando e ao longo da trilha que percorriam mais rosa foram surgindo. De várias pessoas diferentes: de uma mulher com um bebê de colo; de um homem velho que lia o jornal; de uma garota que andava de patins; de um casal que tomava café; de uma velhinha que passeava com o cachorro...

De todas as partes do parque surgiam rosas vermelhas que formavam um enorme buquê nas mãos de Pérola que já desistira de entender o que estaria acontecendo. Julio por sua vez, se mantinha calado, apenas caminhava ao lado da amiga observando cada pessoa se aproximava para entregar uma nova rosa. E quando as rosas cessaram, uma nova onda de atitudes estranhas tomou conta do dia. Como se pudessem brotar das arvores, cartazes surgiam pelo caminho. Neles estavam escritos versos de amor, algum tipo de poesia contada pelos olhos de uma alguém extremamente apaixonado.

Pérola lia cada um deles com uma expressão cada vez mais surpresa. Em uma dos versos, identificou algo que fazia alusão aos seus volumosos cabelos cacheados, alias, as alusões à Pérola estavam por toda a parte nos cartazes: no batom cor-de-rosa; no vento nos cabelos; no olhar cintilante, na pele morena ou na voz poética. Versos que a descreviam com sendo um ser magnífico, visto pelos olhos de um admirador especial.

− Essa cidade ficou louca! −Pérola dizia tentando manter-se firme muito embora as lágrimas já estivessem tomando seus olhos. Olhou para Julio mas eventualmente não o encontrou ao seu lado. O rapaz havia sumido misteriosamente e deixado Pérola sozinha no meio de tantas pessoas, mas por muito pouco tempo, porque no instante seguinte, o mesmo menino que lhe entregara a primeira rosa surgiu novamente para guia-la por uma nova trilha, cercada de árvores e flores, mas havia algo mais, foi então que com os olhos já repletos de lágrimas, Pérola notou as fotos presas aos troncos das árvores. Fotos de momentos únicos, marcantes e belos. Ela estava por toda a parte. Com os lábios cor de rosa; com um vestido de estampas florais; com um laço de fita nos cabelos...Em cada registro, ele estava ao lado dela. Brincando com o cachorro, passeando pelas luzes de Natal, cantando no karaokê e na balada. Pérola já estava desarmada de modo que apertava as pequenas mãos do garotinho com força.

Pela primeira vez desde o começo de tudo, Pérola entendeu o que de fato estava acontecendo. Entendeu o que o beijo na lanchonete significava. Estava ali a prova de que tanto Julio falara no dia em que se beijaram pela primeira vez. Pérola finalmente entendeu quem era a garota dos versos escondidos, quem era de verdade a pessoa a qual Julio queria tanto se declarar. Naquele momento, se perguntava como era possível não ter sabido disso antes? Como pode negligenciar um sentimento tão importante? Como pode não perceber que era Julio?

Pérola não tinha como imaginar afinal de contas, porque Julio era quieto e reservado demais para deixar escapar qualquer coisa e por mais que lhe fosse insuportável guardar seu amor, toda vez que havia uma chance real de declaração, o jovem sempre recuava. Porém agora era diferente. Julio não só estava contando à Pérola, mas também para quem quisesse ouvir que ele a amava, muito mais que amigo.

− Julio? − Pérola perguntou quase como um sussurro − Julio eu...

A musica interrompeu as palavras da garota. Os versos cantados ao som de violão traziam em sua composição, palavras e jurar de amor eterno.

Não consigo olhar no fundo dos seus olhos

E enxergar as coisas que me deixam no ar

Deixam no ar

As varias fases e estações que me levam com

O tempo e o pensamento

Bem devagar

Outra vez, eu tive que fugir

Eu tive que correr

Pra não me entregar

As loucuras que me levam até você me levam ate você

Me fazem esquecer

Que eu não posso chorar

Embalado pela música de Nando Reis, Pérola chorava enquanto Julio surgia do meio das árvores com um laço de fita azul, o mesmo que Pérola usava em uma de suas fotos expostas.

A emoção estampada nos rostos de ambos era de longe a coisa mais bela do jardim.

Julio caminhava lentamente em direção à Perola que mantinha na face pura expressão de surpresa. O rapaz se aproximou e olhando nos olhos de sua amada cantou:

Olhe bem no fundo dos meus olhos

E sinta a emoção

Que nascera

Quando você me olhar

O universo conspira ao nosso favor

A conseqüência do destino é o amor

Pra sempre vou te amar

Mas talvez, você não entenda

Essa coisa de fazer o mundo acreditar

Que meu amor, não será passageiro

Te amarei de janeiro à janeiro

Até o mundo acabar

− Até o mundo acabar − Julio cantava enquanto amarrava com a fita azul o maço de rosas nas mãos de Pérola − Até o mundo acabar.

A musica continuou enquanto tudo o que os dois faziam era olhar um para o outro. Julio entrelaçou suas mãos nas de Pérola e quando a melodia cessou, sua voz se fez audível em palavras inéditas. Chegara à hora de dizer tudo que estava sentindo. Não havia volta.

− Pérola − ele começou − Eu trouxe você nesse parque porque fazia parte do plano. Venho planejando esse momento há muito tempo, fiz tudo isso por você. Eu queria poder ter dito isso antes, mas eu sou uma pessoa difícil, muitas vezes não sei lidar com o que sinto e por mais de um ano guardei esse sentimento dentro de mim. Talvez você não se lembre, mas desde a primeira vez que nos vimos, eu senti algo diferente. Eu nem imaginava quem você era quando comecei a te observar de longe, mas quando ficamos amigos, eu soube que o que eu queria não cabia na amizade.

Os olhos de Pérola brilhavam num misto de confusão e surpresa por ver seu amigo lhe declarando amor.

− Lembra de quando você ficou com o Rafael Fernandes? − Julio perguntou − Eu senti meu coração quebrar, porque te amava em segredo e não podia sequer manifestar qualquer onda de ciúme. Esses versos nos cartazes, eu os escrevi durante muitas madrugadas em que eu simplesmente perdia o sono pensando em você. Eu li e reli todas as suas mensagens e a cada novo recado eu vibrava. Pode parecer infantil, mas os momentos mais felizes de que me lembro ultimamente envolvem você. Cada abraço, cada carinho, mesmo que não intencional, servia para mim como uma almofada para meu coração apaixonado. E eu sei que é cedo, que só estamos ficando a algumas semanas, e que talvez eu possa estar jogando fora toda uma amizade, mas eu realmente precisava fazer isso. Precisava dizer que o que tenho guardado para você vai muito alem da amizade. Eu precisava dizer que te amo.

Julio ajoelhou-se lentamente olhando ainda nos olhos negros e lacrimosos de Pérola e segurando-lhe a mão direita depositou um beijo suave na mesma, então respirou fundo e disse:

− Pérola Andrade Maia, diante de todo esse jardim florido e diante de todas essas pessoas, você aceita namorar comigo?

Os rostos em volta dos dois ansiavam por uma resposta, de modo que todos se calaram de tal foram que era possível ouvir as batidas aceleradas dos corações dos dois jovens.

Julio olhava fixamente nos olhos de Pérola esperando um sim ou quem sabe um talvez, porém o tempo começou a passar, e cada vez mais as mãos de Pérola iam se soltando das do rapaz que teve tempo apenas para ouvir o som do buquê de rosas caindo no chão, enquanto via sua amada fugindo por entre as árvores do Jardim.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades:
Jardim Botânico: É um Jardim ...Botânico mesmo kkkkk Brincadeira, na verdade é um grande espaço turístico onde existe a famosa Estufa de Vidro. O jardim foi inaugurado em 1991 e contempla vários exemplares de plantas nacionais e internacionais.
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Obrigada por ler.
Bjinhus e até amanhã.