TODO CACHO CARACOL - Short-Fic escrita por Serena Bin


Capítulo 5
Parte 5


Notas iniciais do capítulo

FELIZ DIA DOS NAMORADOS!
Espero que gostem meus lindos e lindas.
Musica de hoje: De todos os loucos do mundo - Clarice Falcão.
Boa Leitura.



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O amor é uma chama traiçoeira. Há uma certa distancia, ele aquece. Mas se chegar muito perto, ele te queima até o ultimo fio de cabelo.

Nos dias seguintes ao fiasco apaixonado ocorrido no Jardim Botânico, Julio contrariava todas as teorias da invencibilidade masculina quanto ao choro, porque estava verdadeiramente deprimido. Apostara todas as fichas em um potencial relacionamento que fracassou miseravelmente. Mas mesmo assim, o coração ainda pulsava por ela. Não era burrice, era amor. Pérola, apesar de tudo ainda mexia com o rapaz, mas de nada adiantaram os recados deixados em sua caixa postal, ou as mensagens no facebook. Desde o ocorrido, não estavam se falando. Então, quando simplesmente parecia que não haveria mais nenhum recomeço, Julio decidiu que era hora de dar tempo ao tempo. E o tempo passou. O inverno finalmente chegara trazendo consigo geadas arrasadoras que volta e meia faziam as temperaturas despencarem. E foi em uma dessas noites frias que Julio ouviu um barulho vindo do lado de fora do prédio onde morava. Caminhou lentamente até a janela do quarto para ter umas das maiores surpresas de sua vida.

Ali, debaixo de um frio de quase 2° C, ela se encontrava apostos, agasalhada com roupas pesadas, mas ainda sim tremendo até os ossos. Julio não acreditava no que estava vendo, depois de dias de silencio, a voz de Pérola finalmente fez audível novamente.

No meio da nevoa pesada da noite e com um violão, ela cantava uma canção louca de Clarice Falcão. Talvez uma tentativa de apagar toda a confusão feita dias antes.

De todos os loucos do mundo eu quis você

Porque eu estava cansada de ser louca assim sozinha

De todos os loucos do mundo eu quis você

Porque a sua loucura parece um pouco com a minha

Você esconde a mão, diz que é Napoleão

Boa parte de mim, acredita que sim

Se eu converso com o ar

No meio do jantar, você espera a vez dele de falar

Pérola cantava olhando para a janela do quarto andar de onde Julio observava a serenata calado com uma expressão séria. A melodia seguia alegre de modo que até os vizinhos saíram para ouvi-la, mas eventualmente Pérola parou de cantar, porque quando voltou a observar a janela, ela já estava fechada, com as cortinas juntas e luzes apagadas. Pérola largou o violão e se calou sentindo o gosto amargo da rejeição. Estava recebendo o troco por todo o papelão que causara dias antes. Agora era a vez de Julio se vingar.

Pérola descia do pequeno banquinho que usara como apoio quando de longe observou a silhueta robusta e fortemente agasalhada de um homem jovem vindo em sua direção.

− Eu já estou indo embora, seu Antonio! − Pérola disse enquanto guardava o violão, mas foi interrompida ao ver que quem estava a sua frente não era o sindico e sim outra pessoa.

− Eu deveria ter jogado um balde de água fria em você − Julio disse fazendo com que Pérola levantasse o olhar. Os olhos de ambos se viram pela primeira vez depois do ocorrido no jardim. Era estranho para os dois e de certa forma doloroso.

− É, acho que eu mereço isso...Depois do que fiz, morrer congelada me parece uma bom castigo. - Pérola respondeu pesarosamente.

Os dois se olharam, Julio viu pela primeira vez em dias aqueles olhos negros de tanto gostava, porem, por mais que ainda os amasse, ele teve que perguntar:

− Porque você fugiu? Era só dizer não.

− Medo. − ela respondeu tristemente − Eu tive medo, Julio. Na verdade eu não sabia o que fazer, nós tínhamos uma amizade legal e de repente você me diz que esta apaixonado a mais de um ano...Eu fiquei confusa!

− Então, para não ficar confusa, resolveu fugir. − ele disse calmo − E porque você sumiu?

− Eu tive vergonha, Julio. Não tinha coragem de encara-lo depois de tudo.

− E o que te fez mudar de ideia e vir a essa hora cantar debaixo da minha janela?

− Você.

− Eu? −Julio indagou confuso − Você me dá o maior fora em rede nacional e depois diz que mudou de ideia por mim?

− Julio, − Pérola iniciou olhando dentro dos olhos de Julio − Eu sei que eu mereço todos os castigos e retaliações, mas eu nunca me apaixonei por alguém. Eu só tenho dezoito anos e ainda não sei lidar com certas coisas sobre o amor. Não sei lidar com o amor dos outros. Mas eu estou aqui para te pedir desculpas, você pode ficar me crucificando ou pode ser superior a mim e me perdoar. Gosto de você e não quero que se afaste.

Pérola segurava as lágrimas enquanto tentava conter sua fala agitada:

− Eu sei que talvez seja tarde demais para dizer isso, mas a verdade é que eu gosto de você. Gosto tanto que a possibilidade de te ter mais que amigo me deixou aterrorizada! Por que eu sei como é amar dessa forma, já perdi amigos incríveis porque me apaixonei por eles. Eu não queria que isso acontecesse com a gente! Foi por isso que fugi!

Julio ouvia surpreso as revelações de Pérola, e naquele momento soube que ela também pensava nele. Que ela também lhe guardava algum sentimento. E por mais magoado que estivesse, seu coração saltou em um misto de alegria e euforia e foi involuntário quando ele a tomou nos braços e beijou-lhe novamente. Um beijo cheio de lagrimas frias que se contrapunham com os lábios quentes de ambos. Um beijo tão desejoso e amável a qual ambos esperavam a muito tempo.

Naquele momento não havia mais nada a ser perdoado. Tudo estava sanado pelo sentimento recíproco de ambos. Eram os dois, Pérola e Julio. Uma joia e o lapidador. Pessoas tão diferentes que encontraram-se completos entre si.

Foi Pérola quem cessou o beijo para se ajoelhar aos pés de Julio, e por mais ridícula que fosse a cena, pegou-lhe uma das mãos e em alto e bom som gritou:

− Julio César, quer namorar comigo?

Os olhos arregalados da vizinhança se juntaram à surpresa de Julio que apenas disse em tom zombeteiro:

− Você sabe que esta fazendo papel de jaguara, certo?

− Eu não me importo − Pérola respondeu − E então, aceita ou não?

Julio pensou um pouco. Pensou em tudo o que passara até ali e quando finalmente ponderou, deu sua resposta.

***

O amor é um caso difícil. As vezes você precisa se submeter à situações embaraçosas, tendo que passar por cima de seus próprios medos, outras vezes você é surpreendido. Nem sempre dá certo essa coisa de amar, porque o amor não se nasce sabendo. Você precisa lutar por ele, certamente as vezes você terá que ser nocauteado antes de acertar, mas acredite, o amor é bom.

De todos os loucos do mundo eu quis você

Porque eu estava cansada de ser louca assim sozinha

De todos os loucos do mundo eu quis você

Porque a sua loucura parece um pouco com a minha

Os versos de Clarice Falcão estavam certos em dizer que uma loucura completa a outra, e da mesma forma que feijão completa o arroz, Julio completava Pérola e vice e versa.

E hoje, quase oito anos após o pedido de namoro mais louco da história, o curitibano reservado e a bela sorridente, comemoram três anos de um casamento repleto de loucuras, altos e baixos. Porque o amor é realmente algo muito bom, porém não existe perfeição nele. Na verdade ele é complicado, embaraçado e dá trabalho desembaraçar, assim como os longos cabelos cacheados de Pérola. Porque como as madeixas da carioca, o amor é assim: enrolado, como todo cacho caracol.

f i m


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.
Feliz dia dos namorados!!