TODO CACHO CARACOL - Short-Fic escrita por Serena Bin


Capítulo 3
Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Oi Bebês, música do capítulo: Vejo uma porta abrir - do Frozen --- haha porque sim :)



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Os olhos negros e marcantes de Pérola pareciam ainda mais cintilantes naquela tarde de junho. Estava belíssima mesmo em roupas simples, uma beleza tão singela e ao mesmo tempo tão forte que faziam os olhos cinzentos de Júlio se perder num mar de emoção.

Eram pouco mais de quatro da tarde e a famosa rua XV de Novembro encontrava-se repleta de casais em busca do presente perfeito para o dia dos namorados. A atmosfera leve da paixão tomada o enorme calçadão de pedras da rua, de modo que em cada banco de praça era possível avistar algum casal aproveitando o vento suave do dia.

− Eu adoro o dia dos namorados − Pérola disse entrando em uma lanchonete − Principalmente por causa desse clima frio que existe aqui. Dá ainda mais vontade de abraçar alguém.

O sotaque carioca de Pérola era um detalhe a parte, sua voz rouca era para Julio a melodia mais bela, capaz ate mesmo de sobrepor ao barulho intenso da rua.

− Mas você tem o Rafael, certo? −Julio perguntou enquanto olhava o cardápio.

− Não. − respondeu rindo − Não tenho ninguém. O Rafael foi só aquela noite mesmo.

Uma das principais artimanhas para a conquista é saber usar as palavras, e Julio, mesmo sendo um rapaz calado e reservado, era bom orador.

− Que pena. Vocês formavam um belo casal.

− Sério? − Pérola perguntou.

− Sim, −o rapaz respondeu com desdém − Eu até comentei com o Raul sobre vocês, afinal ele é um cara bonitão e...

− Na verdade, o Rafael é um idiota − Pérola interrompeu − Além do mais, ele não faz meu tipo. Ele odeia animais.

− E você os ama − Julio completou.

− Ele é sedentário ao extremo − disse a garota.

− E você adora trilhas e esportes radicais − comentou o rapaz.

− Além de achar que toda carioca é passista de escola de samba. − Pérola disse irritada.

− Você nem sabe sambar! − Julio concluiu aos risos − É, realmente ele não faz seu tipo.

Julio riu da situação, porque de fato já sabia de tudo o que Pérola estava lhe contando. Pela amizade que tinham, Julio conhecia detalhes sobre a garota que ninguém mais sabia. Ele seu medo de escuro, sobre sua claustrofobia, sobre sua alergia severa à ameixas e até mesmo a marca do xampu que ela usava.

− Você me conhece tão bem, Julio − ela disse tocando as mãos do rapaz − Você é um cara muito legal. Queria que todos os homens do mundo fossem como você, com certezas haveriam mais mulheres contentes.

− A gente se completa como naquela musica, aquela do filme onde o príncipe quer casar com a princesa.

− Julio, o que mais existe são filmes de príncipes e princesas. Assim fica difícil − Pérola riu − Mas acho que sei de qual você esta falando, seria essa?

Pérola retirou o celular do bolso e compartilhou os fones de ouvido com Julio que imediatamente pode ouvir a musica a qual se referia.

Os dois se olhavam enquanto ouviam a canção, e sorriam um para o outro. Os raios de sol da tarde faziam à pele dourada de Pérola brilhar, hipnotizando o rapaz. A garota ria enquanto Julio apenas a admirava. Pérola começou de repente a acompanhar a musica com a voz rouca e afinada, um convite maravilho, como se fosse uma sereia, deixava seu talento nato invadir o ambiente.

Muitas portas se fecharam para mm sem razão

De repente eu encontrei você.

Eu passei a vida procurando emoção

Júlio ouvia atentamente a voz de Pérola que, mesmo em um volume tão baixo conseguia manter a graciosidade. Em determinado momento, o garoto fora pego a observando com uma expressão mais que boba. Todo o olhar apaixonado estava impresso ali.

− Canta comigo, Júlio − Pérola convidou rindo, em seguida desconversou − E pára de me olhar assim. Estou ficando sem jeito.

− Eu só estava te ouvindo cantar, Per. − respondeu Julio − Você tem uma voz tão bonita...Além de linda é cantora.

Pérola olhou para Julio e sorriu, então disse:

− Você é muito gentil.

O rapaz agradeceu ao elogio e ouviu Perola dizer quase muda:

− Às vezes eu acho que você seria o namorado perfeito. Só por causa desse seu charme e gentileza. A garota que namorar você vai ter muita sorte, Júlio.

As palavras de Pérola entraram na mente de Julio, e ele imediatamente lembrou da conversa que tivera com Raul a algum tempo, de como Pérola gostava dele. Julio passou a observá-la, os trejeitos e até mesmo os gestos simples em busca de qualquer sinal. Conseguiu captar um olhar brilhante ou um carinho em suas mãos. Não sabia ao certo se eram sinais verdadeiros, mas ele a conhecia e sabia que no mínimo Pérola estava nervosa.

− Acho que as garotas não pensam como você − ele disse.

− Ah, Julio − ela replicou − Vai dizer que nenhuma garota nunca lhe disse isso?

− Algumas, − ele respondeu brincalhão, em seguida, Julio olhou diretamente para os olhos negros de Pérola e entonando um ar sério continuou− Mas a que eu queria que dissesse isso, nunca disse.

Silencio. Era tudo o que havia naquele momento. Embora fosse um dia comum, a movimentada Rua XV parecia ter parado no tempo, porque naquele momento tudo o que se ouvia era a respiração acelerada de ambos. Mas houve um momento em que Julio tomou coragem e começou a cantarolar, quebrando então o silencio da ocasião:

É meio doido (o que?)

Você finaliza meus (sanduíches)
Era o que eu ia dizer!
Não conheci ninguém com meu

Jeito de pensar
Juntos, outra vez!
Parece sincronizado
Mas pode ser explicado

Você e Nós somos um par

Pérola observava Julio com um olhar calmo e quieto, como quem tenta entender uma situação. Via o amigo arriscando os versos da canção que nem sabia cantar. Sentiu-se feliz por estar com ele. Por um segundo Pérola interrompeu dizendo:

− Essa garota é uma boba, porque não sabe o que anda perdendo.

Julio parou por um instante para observar a amiga.

− Ela não é nenhum pouco boba, Per − Julio iniciou − Acho que o erro foi meu. Talvez se eu fosse menos otário, eu já teria dito a ela.

Pérola mantinha os olhos fixados nos de Julio, e pouco a pouco foram diminuindo a distancia.

− E o que te impede de dizer agora? − Pérola falou baixinho.

Julio então levou carinhosamente suas mãos ao rosto dela e concluiu:
− Porque um gesto as vezes vale mais do que palavras.

O que se seguiu foi como uma cena de filme. Um beijo suave, tímido no inicio, mas que fora ganhando força e voracidade ao longo do tempo. Um gesto cheio de carinho e desejo ao mesmo tempo. Não havia espaço para pensamentos. Tudo o que havia era o beijo.

Julio e Pérola beijaram-se pela primeira vez em meio a uma lanchonete lotada. E embora a rua tivesse voltado a ser tão barulhenta como sempre

a melodia cantada por dois atores de teatro não ofuscava em nada o teor das palavras que, mesmo em tom de brincadeira davam ao momento um ar especial, como se cada verso tivesse sido escrito para contar a história deles, de modo que nem Roberto Carlos, em todo seu romantismo poderia falar mais do que a letra encantada na canção que ainda ouviam pelos fones de ouvido. E naquela tarde fria e ensolarada de Junho, beijando Pérola, Júlio finalmente viu uma porta abrir.


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Notas finais do capítulo

Curiosidade:
A Rua XV de Novembro é um importante centro de comercio popular em Curitiba. Em todo seu trajeto, é revestida com calçamento e o transito é exclusivo para pedestres. Como se fosse um shopping a céu aberto, a XV de Novembro está para os curitibanos, o que é a 25 de Março para os paulistanos.


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XD
P.S: Me desculpem, mas a formatação do Nyah bugou o trecho da música e eu não consegui arrumar nem com remedio forte.
:(