A Perdida do Rei escrita por CutiePumpkin


Capítulo 5
Estadia Depressiva


Notas iniciais do capítulo

Heey, mais um capítulo.
Aqui começa a parte 2, então se quiserem ver a capa, não esqueçam de entrar no meu blog
Link: http://palavras-escritas-palavras.blogspot.com.br/p/a-perdida-do-rei.html



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/621236/chapter/5

Capítulo 4- Estadia Depressiva

Mesmo depois de muitos anos da peste negra, seus últimos indícios permaneciam com corpos espalhados num campo distante, próximos à base militar. E ainda que Felix não se sentisse acuado, ou apavorado, talvez aparentava estar.

–Se já estás receoso, meu conselho é que volte antes que chegue.

–Não estou. Apenas... Por que deixar tantos corpos ao relento? Como se sua importância fosse irrelevante?

–Não estive aqui para ver, graças a Deus. Mas diz a história que os cemitérios estavam lotados, e não existia lugar para um grão de areia sequer. Tenho pena de suas pobres almas... chegamos.

O acampamento era cercado por uma murada feita de troncos, com pontas esculpidas. Tinha lonas espalhadas por cima de camas improvisadas, caixotes com armas e suprimentos, além dos homens que caminhavam por entre os lugares. Ao fundo, um portão, levando à segunda divisão, onde existiam bonecos de madeira arranhados e atingidos por balas. Os dois homens desceram dos cavalos e Felix foi encaminhado ao treinamento. Recebeu uma espada e foi posicionado a frente de um dos canhões.

Nas primeiras semanas, conseguiu se acostumar com o canhão, mas não tinha o mesmo desempenho do que com a espada. Não treinava com arco, mas mantinha o seu. Era ágil nos ataques, e foi rapidamente reconhecido pelos superiores. Foi então convocado a lutar na próxima batalha que travariam. Como de costume, os soldados se reuniram na véspera dessa luta, contando suas histórias para quem não os conheciam.

–E você? Tem algo de interessante para contar? - diz olhando para Felix, terminando de comer sua parte da ceia. - Algum motivo para que se juntasse a essa guerra sem fim?

Felix suspirou, bebeu o resto da água, e respondeu sincero.

–Digamos que... os ingleses já tiraram demais de mim. Tiraram as pessoas mais importantes da minha vida.

Os homens à mesa riram. Não com desdém, mas como se estivessem acostumados a esse tipo de evento.

–Saiba que poucos sobreviveram tentando salvar alguém. Talvez você tenha mais sorte. - disse Johan, um dos soldados que ajudou Felix nos treinos. Era também com quem dividia tenda e curiosidades sobre as batalhas. Johan era bem mais velho, e lutou tão cedo quanto pôde, se juntando ao pai na época. - Saiba também. Que se for uma dama, e ela foi levada, pode começar a pensar que essa enfrentará um longo... longo trabalho. Ela precisará se forte.

O rapaz, mesmo que preocupado e determinado, conseguiu esboçar um singelo sorriso.

–Por isso que minha preocupação não é colossal.

+++

Após dias de viagem, fosse a navio ou a carroça, Victoria enfim chegara em Londres. O castelo inglês era tão majestoso quanto o francês, com torres e mais torres se erguendo ao lado do prédio principal. Mas antes que chegasse a construção, foi observada pela população. Era vista como uma oferenda. Os cabelos espalhados ao lado do rosto, as mãos amarrada atrás do corpo e a visão tanto assustada quanto confusa, como os animais trazidos dos países abaixo do Mar Mediterrâneo.

Passou por mais corredores de pedra, com adornos em ouro, prata e pedras preciosas. Não viu sequer sombra de gente, a não alguns empregados, que a olhavam com a mesma expressão das pessoas fora do palácio, com curiosidade e superioridade.

Foi levada para um outro calabouço, de mesma fundamentação do outro, além de cheirar do mesmo modo. Mas, dessa vez, estava solitária, apenas um cobertor fino, chão de pedra fria e uma tigela de porcelana. A porta foi novamente fechada de forma brutal às suas costas. Victoria se sentou encostada na parede, tentando não pensar no pior.

–Pressione e todos seus medos voarão janela afora; Indo embora, sim, logo agora.

Recitou a cantiga que pouco conhecia, criado em meio à floresta onde passara a infância. Agora, sentindo as costas esfriarem com o contato com a parede, começou a pensar em como tudo começou a fazer sentido. Era uma criança questionadora, e a mãe, na sua opinião, era a dona da verdade, e tinha as respostas para tudo. Além de que, qualquer resposta que desse, seria feito isso.

Maman, como será a vida em Paris?

–Não faço ideia, mon chérry. - disse-lhe. Os cabelos soltos seguiam o ritmo preguiçoso do vento de fim de tarde. - Talvez deva ser muito boa as vida das pessoas por lá.

–E aquele castelo? Muitos devem oferecer a vida, e mais um pouco, por cinco minutos ali dentro.

A mulher sorriu, arrumando os cabelos também claros da filha, por que sabia que era verdade. Sentia falta de casa. Mesmo que tudo fosse agradável e harmonioso naquela vila, sua família estava em Paris, se ainda sobrevivente.

Et vous? Gostaria de entrar na casa da Família Real?

Victoria sorriu e pôs a mão abaixo do queixo, como se fosse pensar. Mas seu sorriso não era de alguém confuso, mas o de alguém completamente certo da resposta.

Peut être... Não. Definitivamente não. Não sei se conseguiria deixar esse lugar, e é assim que sabemos que estamos no lugar certo. - hesitou, mas não se proibiu de perguntar - É isso mesmo?

–Sim. Vous êtes intelligent, Victoria. A inteligência é falha em grande parte dos homens que seguem principalmente a ganância que Deus abolia.

A mãe, que sempre fora altamente religiosa, ensinava à Victoria tudo que sabia, como se tivessem a rotina do palácio. A garota sabia ler e escrever grande parte das palavras, sabia um pouco de etiqueta e parte das artes. Nunca se perguntou ao certo como a mãe tinha habilidades tão refinadas e evoluídas. Achava tudo muito normal, tendo em vista que não conhecia nada diferente.

Tudo agora estava mais claro em sua mente, e outra dúvida que se surgia era como os soldados teriam aprendido tão rapidamente seu idioma. Talvez teria tempo para pensar.

+++

–Ainda não me acostumo com esses canhões. - Felix desabafava com o amigo Johan, antes de saírem para o campo de batalha.

–Nunca tive uma certa afinidade com o arco, devo confessar. Os ingleses nos passaram nesses anos de guerra por que tinham canhões em quantidade. Mas gostava dos arqueiros. Já salvaram muito a minha vida. Mas estamos em 1450, oras, precisamos acabar logo com essa guerra que já completou 100 anos!

Felix riu. Concordou finalmente com o argumentos dos canhões, mas não deixou seu arco na tenda. Garantiu que não atrapalharia e levou consigo. Estavam preparados e deixaram a tenda, se juntando aos outros soldados em direção a Formigny.

Sentia-se incluído nas histórias que Victoria conseguia ler. Não entendiam grande parte das palavras, mas entendiam tudo que acontecia; mas imaginavam se algum dia isso se tornaria uma realidade, por que tudo parecia muito incrível. Não sabiam que a realidade era amarga e atingiria ambos.

+Tempo depois+

A marcha do exército recentemente unificado por Joana D'arc seguia até avistarem um dos fortes improvisados surgirem atrás da montanha. Já perto da barricada avistam não canhões, mas fileiras de arqueiros com os arcos preparados para qualquer ataque. Era uma espécie de prédio, com os muros feitos de troncos e um portão grande de madeira no centro. Os arqueiros estavam no último andar, espalhados em todo o perímetro.

–Talvez devêssemos ter o nosso protetor. - diz Johan a Felix, apreensivo.

–Não sei se devo... Eles são muitos. - Felix, mesmo achando isso já observava onde estariam todos os homens, montando uma estratégia caso estivesse usando o arco.

–Não vamos vencê-los com poucos canhões. Você parece ser o único que pode nos salvar sem ser visto. Vá, deixe o comandante comigo, vá!

Foi empurrado, e andou por entre os homens, até se aproximar do início da floresta. O amigo tinha iniciado a discussão com o superior do exército. Ocultou seu rosto por trás de um arbusto, puxou a corda da flecha com um arco preparado, apontou, e atirou.

Continua no Capítulo 5


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!