A Perdida do Rei escrita por CutiePumpkin


Capítulo 4
Sabendo quem és


Notas iniciais do capítulo

Olha só consegui trazer hoje êêê. E é mais um grandinho.
Eu vi que no cap. 1 coloquei link pra capa da Parte 1. Acontece que, pelo menos no meu navegador, a foto não abria, então vou deixar o link do meu blog, caso queiram ver. Lá tem mais histórias também, mas todas (eu acho) tem aqui também.
palavras-escritas-palavras.blogspot.com.br



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Capítulo 3- Sabendo quem és

Je suis désolé, Victoire. - disse baixinho. - Sinto muito. Vamos indo.

O abrigo era no interior de uma escavação em um monte próximo. Elena e Victoria foram as últimas a entrar, sem serem percebidas pelos soldados. A criança se encostou em um canto e soltou o choro antes repreendido, escondida nas sombras da parte mais profunda. Até que identificou um vulto caminhando em sua direção.

–Talvez um pouco de luz não faça mal à ninguém. - disse a voz de criança que provinha do vulto, que logo se afastou e voltou com uma das tochas presas na parede, revelando então os cabelos escuros bagunçados, os cortes no rosto e o sorriso malandro do menino - Bem melhor, não acha?

A menina concordou, observando o que podia do desconhecido. A olhava como se conhecessem há anos, e não como recém-encontrados. Seu olhar não era característico de uma criança da idade que deveria ter, muito menos os arranhões, mais puxados da mandíbula ao centro do rosto.

–Eu soube de sua mãe... Não tenho muito o que dizer, além de je suis désolé. Sou Felix. E você...

Felix esperou por alguns segundos, e notando que tinha sido ignorado, colocou a tocha no suporte ao lado dos dois e se sentou a frente da menina. Tirou um cordão do pescoço, olhou bem o tal e o entregou a ela.

–Aqui, fique com isso. - disse, entregando-a a corda com o pingente feito de ferro, o desenho representava um arco em alto relevo. - Pode ajudar a te proteger de seus medos. Me ajudou quando meu grand-père morreu.

E se virou, com a intenção de voltar para seus familiares e simplesmente esperar a invasão cessar, para poderem medir os prejuízos.

Merci. - ela disse, o fazendo parar e se virar de volta. - À propósito, je m'appelle Victoria.

+++

A carroça sacodia a cada irregularidade da estrada. Victoria segurava com firmeza o pingente de ferro que não deixava em casa de jeito nenhum, estava apreensiva com o que podia acontecer, e até mesmo confusa com a nova informação. Detinha o título de Princesa Desaparecida da França. Como era possível? O risco de alguém manter um segredo como esse; a mãe deixara o restante da família à deriva e se sacrificou para manter esse segredo. Elena... Onde estava agora? Será que sabia que tinha sido pega? Será que Felix sabia de tudo isso?

Nem via o tempo passar com todas essas perguntas ecoando em sua mente, passou-se uma noite fria e, milagrosamente, silenciosa. Recostada nas grades da jaula improvisada, viu a forma do castelo Parisiense se tornar maior, a medida que se aproximavam. O castelo onde costumava morar a família real - que, com a nova descoberta até então, ela não estava incluída.

–Tenho direito a perguntas? - questiona a um dos soldados dentro da carroça. Este assentiu, e Victoria então prosseguiu a conversa - Por que eu? Por que vieram atrás de mim?

–Porque és a princesa. - responde, simples.

–Não. O rei com certeza tem outras filhas. Mais velhas, quem sabe mais bonitas. Alguma especificidade? - o homem suspirou, mas não viu motivos para não dizer a verdade.

–Quando você nasceu, Nossa Majestade ficou sabendo no mesmo instante...

+++

"-Senhor, a filha mais nova do Rei Francês acaba de nascer.

O castelo de Britânia recebia açoitadas da chuva, que mandava suas gotas de água com violência. A cada relâmpago, as vidraças coloridas mostravam suas formas, cedendo à iluminação. Mas tudo em que pensavam eram nos seus ataques fulminantes na guerra, que lhe renderam toda a parte costeira do inimigo, a partir da praia de Normandia.

–Então, existe um novo objetivo para nós. Quero fazer daquela garota minha escrava particular. Quero que seja minha antes mesmo de começar a andar. Tragam-na pela manhã!

Foi uma tempestade devastadora, uma das piores registradas naquela década. O breu dificultou a entrada no castelo, e impediu dos ingleses verem que dois vultos corriam pelos fundos sem destino certo.

Soldados morreram na manhã seguinte. Foram mortos por suposta incompetência, por não conseguirem a princesa. E tal passou a ser conhecida por todo país antes mesmo de saberem seu nome."

+++

Felix se torturava mentalmente a cada segundo que se lembrasse da cena do dia anterior. Por ter sido tão fraco; por não ter cumprido a tarefa de Elena, e por ter deixado que levassem Victoria daquele jeito. Se levantou rapidamente e começou a recolher provisões que lhe ajudariam em uma suposta jornada. No mesmo instante, sua mãe apareceu no quarto.

–Não se aborreça, querido. Saiba que nossa nação sempre consegue o que deseja, e no tempo certo.

–Sei disso, maman. Só não quero que seja tarde demais. Não vou apenas sentar e esperar. Vou atrás dela. - continuou guardando tudo que julgava necessário numa bolsa de couro firme - Me alistarei no exército.

Mon Dieu! Felix, no que está pensando? É uma guerra sanguinária!

–Victoria não terá uma volta gloriosa sozinha. - pôs as mãos nos ombros da mãe, procurando confortá-la. -E se essa for a única forma de proporcioná-la ao menos uma volta, assim farei.

Se abraçaram. A mãe começava a chorar pelo filho que tinha criado honra desde o primeiro passo que dera no chão. Foi quando Raul também aprendeu mais uma lição com o irmão mais velho.

+++

Por mais que a viagem não tenha sido nada agradável, e muito menos as informações acerca de seu futuro, nunca tinha visto construção tão grandiosa e cheia de caprichos quanto o Château Royal. Ouro e prata cobriam as quinas, as janelas, as portas e todo o trono, situado na primeira sala. Ainda que marcados pelas batalhas, o começo do uso da pólvora e a invasão recente, existiam murais de vidro coloridos, com imagens de reis antigos, nascimentos, e a paisagem de Paris. A sala era preenchida com as cores desses murais, atravessadas pela luz natural. O trono estava parcialmente chamuscado, e parecia que ninguém se sentava ali há anos.

–Vamos andando, nada de imaginar a vida que não teve. - disse um dos militares, segurando mais firmemente o braço de Victoria, empurrando-a entre corredores e escadas, todas levando para baixo.

As masmorras eram, de maneira geral, escavadas no subsolo. Tinham revestimento em pedra e ferro, com portas de aço trancando prisioneiros da guerra. Uma dessas portas, a última, mais exatamente, foi aberta e liberada para a jovem. No pequeno quarto frio e úmido encontrava-se um homem não tão velho, mas os cabelos já mudavam sua coloração. Victoria foi brutalmente empurrada para dentro depois de ter as cordas em seus pulsos cortadas.

–Então quer dizer que já estão tirando jovens de suas casas? - diz o homem. Sua voz passava amargura e desgosto. Assim que se virou para Victoria, a olhava como se a conhecesse.

–Talvez.- Responde, analisando os pulsos marcados pelas cordas. - A única coisa que sei é que me queriam prisioneira desde que nasci. Longa história que nem eu mesmo entendo.

–Bom, tempo é o que não nos falta. - disse, indicando a sala, já que não teriam muito o que fazer. Victoria sorriu, deu de ombros e começou.

–Acho que sou a última filha de nosso rei e...

O homem se levantou abruptamente e se aproximou. Analisou novamente o rosto da moça a sua frente, procurando algo que não levasse mais evidências. O rosto era sereno e exalava juventude, além de mostrar força, confusão e espanto. Pessoas sabiam mais de seu passado que si mesma.

–Victoria? É você mesmo?

Teve seu rosto segurado, e analisado pela terceira vez. Como o homem sabia seu nome era uma grande surpresa. Acenou em concordância. Então percebeu: Alguns traços próprios eram idênticos ao homem, que estava aos prantos com a descoberta.

–Sabia que te veria de novo. Não nessas circunstâncias. Você era tão pequena...

–Pai? - apenas disse, e o homem concordou. Ainda abismada, foi abraçada pelo pai, que não se cansava em pedir desculpas, e dizendo que não queria que fosse daquele jeito.

–E sua mãe? - pergunta. A resposta não saiu, e a expressão do rosto de Victoria se alterou. Segundos depois, o homem também tinha a expressão modificada. - Entendo... Você é igual a ela. Tão bonita quanto. Além disso, fracassei como comandante. Essa guerra já está perdida. Tudo por que sou um incopetente.

Com o pé ainda ferido, se sentou ao lado do rei e pôs uma mão em seu ombro.

–Conheci um homem na vila. Um pouco mais velho que eu, e virou sua atenção para mim quando ninguém me apoiaria em um momento de dor. Aprendi que tudo dá certo algum dia. É só preciso que demos o primeiro passo.

+++

Victoria era tratada muito bem enquanto presa. Era bem alimentada, não sofria agressão qualquer, e até lhe permitiam utilizar os lavatórios para se higienizar. Acontece que dias depois, esses soldados abriram a porta da cela e a arrastaram, amarrando suas mãos novamente.

–Onde pensam que a estão levando?! - bradou Carlos, que teve a porta fechada na sua frente.

–Você não achou que ela ia ficar em Paris para sempre, achou? Londres a espera.

Uma das piores coisas que acontecem na vida humana, é a perda de familiares. Principalmente os mais próximos, filhos, irmãos, pais... E quando isso acontece em diversas ocasiões, a dor se multiplica a cada vez.

Fim da Parte 1

Continua no Capítulo 4


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